quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amor por Contrato



Sinopse: A família Jones se muda para um bairro de alto padrão. A vida aparentemente perfeita que eles levam nada mais é do que uma farsa ensaiada. Na verdade, eles são um grupo de vendedores contratados para divulgar produtos.

Ficha Técnica
Amor por Contrato (The Joneses)
Roteiro e Direção: Derrick Borte
Elenco: David Duchovny, Demi Moore, Amber Heard, Ben Hollingsworth, Gary Cole, Glenne Headly, Lauren Hutton
Duração: 96 minutos
País: EUA


Família vende tudo
 por Edu Fernandes


(Spoilerômetro: )

Muitas pessoas ficarão no mínimo confusas depois de assistir a Amor por Contrato (The Joneses). O filme é uma clara crítica à cultura consumista do povo estadunidense, mas não perde oportunidades de fazer propaganda de produtos. O que poderia soar hipócrita só reforça a mensagem do filme com cenas caricatas de publicidade – uma boa saída para acomodar a mensagem dentro do orçamento da produção, que depende do merchandising.

O título nacional soa como uma comédia romântica em que um casal se odeia, tem de conviver por um motivo maior e acaba enamorado. No entanto, o filme é uma comédia dramática, que até tem seus momentos engraçados, mas foca-se mais na crítica da postura competitiva de consumo.

Esse comportamento chega a níveis infantis (“meu carro é mais barulhento que o seu, ó!”) e o filme consegue capturar a essência desses absurdos. O contexto da “crise” mundial cai como uma luva na história da família Jones e a produção ganha mais importância.

O roteiro, depois da surpresa inicial das verdadeiras motivações dos personagens, é de modo geral bem previsível e simples. Felizmente há algumas surpresas aqui e ali, mas o todo segue a cartilha dramatúrgica de Hollywood. Esse formato consagrado (e até batido) é usado em favor do filme. O enredo é apenas um pretexto para passar a mensagem e, por isso, não há necessidade de grandes inovações na contação da história.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

72 Horas



Sinopse: John e Lara vivem felizes até ela ser acusada e presa por um assassinato. Depois de três anos atrás das grades e muitos recursos da Justiça, as chances de Lara terminaram. John decide que é hora de bolar um plano para conseguir fugir com sua esposa.


Ficha Técnica
72 Horas (The Next Three Days)
Direção e Roteiro: Paul Haggis
Elenco: Russell Crowe, Elizabeth Banks, Michael Buie, Jason Beghe, Aisha Hinds, Ty Simpkins, Olivia Wilde, Liam Neeson
Duração: 122 minutos
País: EUA


Por cima dos erros
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Em seus dois últimos filmes, o diretor Paul Haggis destilou muita crítica social. Crash, sobre a forma como os humanos se relacionam atualmente, e No Vale das Sombras, sobre consequências domésticas da Guerra do Iraque, discutem questões importantes. Com 72 Horas (The Next Three Days), Haggis continua com a investigação criminal de seu trabalho anterior, mas foca-se mais na emoção de um thriller de ação com a intensidade correta.

Trata-se do remake do francês Pour elle, e o título dessa nova versão pende mais para o lado da ação do que do amor que o protagonista sente pela esposa, a força-motriz do enredo. A contagem explícita de tempo, algo tão crucial em planos do tipo que é bolado para a fuga de Lara, aumenta a adrenalina. Outro ponto para a construção do suspense está no roteiro, que acompanha todos os passos (e erros pelo caminho) do plano de John.

Outro elogio a ser feito ao roteiro está em não deixar claro se Lara é realmente culpada ou inocente. Uma decisão corajosa, já que o faz o espectador torcer pelos personagens apenas com base no amor entre eles.

Infelizmente a coragem dramatúrgica tem limite e o final explica-se demais. Com isso, perde-se a oportunidade de deixar a questão em aberto.

Alguns erros factuais no roteiro também são evidentes por quem tiver um pouco mais de informação em algumas áreas de conhecimento, mas as qualidades técnicas de 72 Horas tornam o filme um ótimo thriller... que poderia ser mais do que isso.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tron – O Legado



Sinopse: Kevin Flynn, principal executivo de uma empresa de software, desaparece misteriosamente por 20 anos. Seu filho Sam, em vez de assumir os negócios,  faz intervenções marginais e espetaculares, tentando resgatar a imagem do pai diante de uma diretoria ganaciosa. Tudo muda quando um amigo de Kevin recebe um bip num aparelho desativado desde o desaparecimento do executivo.


Ficha Técnica
Tron – O Legado (TRON: Legacy)
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Adam Horowitz, Edward Kitsis
Elenco: Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Bruce Boxleitner, Olivia Wilde, Michael Sheen, James Frain
Duração: 127 minutos
País: EUA


Antes da Matrix havia a Grade

 por Alvaro Domingues

(Spoilerômetro: )

Os roteiristas e  o de diretor de Tron – O Legado (TRON: Legacy) tinham a responsabilidade de criar algo à altura do primeiro filme. TRON (1982), apesar do roteiro simples, foi revolucionário na ideia, ao criar um mundo virtual, e na técnica, com efeitos visuais e o uso massivo de computação gráfica na construção dos cenários, veículos e roupas dos personagens.

Esperar algo revolucionário de novo numa sequência seria demais, mas o risco de produzir algo sofrível era muito grande. A direção se preocupou em manter a forma original do cenário, das roupas e veículos, incrementando-os com mais detalhes e mobilidade, sem que o fãs do filme original e os que o desconheciam se decepcionassem. Foi mantido também o humor em cima do jargão técnico na medida certa, de forma a não aborrecer os que os leigos.

A trilha sonora do Daft Punk está primorosa, bem como os efeitos sonoros. O roteiro, um pouquinho mais denso que o primeiro filme, mas sem ser filosófico demais, garante um a boa diversão. Há também referencias a outros filmes, como Matrix (que é posterior ao TRON original), Guerra nas Estrelas (com uma piada estragada pelo trailer) e O Mágico de Oz. Alusões ao fime original também existem, colocando alguns detalhes, como Bit, como um objeto de decoração (como se nos dissessem: “nós não esquecemos, viu?”).

O que decepciona um pouco, sem comprometer a qualidade geral, é o uso da tecnologia 3D. Com tantos objetos virtuais, poderiam ter ousado um pouco mais.

No enredo merecem destaque o uso de conceitos de IA (Inteligência Artificial) para explicar determinados comportamentos das entidades virtuais em oposição os seres humano, sobretudo no final e o desenvolvimento de “vida” virtual paralela a partir de código espúrio (os ISO).

Curiosidades:

No filme, TRON é o nome de um personagem que representa uma rotina de ajuda ao usuário. O termo é uma abreviatura de TRACE ON, uma instrução do BASIC (linguagem de computação popular nos anos 80) e permite ao programador acompanhar o que está acontecendo a cada instrução que executada, mostrando seu resultado em tela, em forma de texto.

As referencias a O Mágico de Oz são várias, porém os roteiristas tentaram deixar mais marcado colocando o mundo real em 2D e o virtual em 3D (como no filme com Jud Garland: preto e branco versus colorido).

Há referencia também ao jogo de Go, originário da China, que é jogado sobre uma grade, colocando-se as pedras nos pontos de junção entre duas linhas. Kevin luta contra o vilão como se estivesse jogando Go (há um tabuleiro em sua sala), usando a estratégia de esperar o movimento do adversário, colocando-se indefinidamente em defesa. Isso normalmente irrita o adversário e o faz se precipitar.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cine-Retrospectiva 2010: Abril

Com certeza 2010 é um ano para ser lembrado pelo cinema nacional e o mês de abril deu provas de que estamos produzindo e exibindo dois tipos de filmes que fazem muito bem a nossa cinematografia.


Tivemos no mês o lançamento de um filme inteligente com apelo popular em As Melhores Coisas do Mundo (vale ler esse artigo). Também entrou em cartaz um filme muito autoral e com proposta estética diferenciada em Os Famosos e os Duendes da Morte.





A história angustiante de A Estrada certamente fez falta nos indicados ao Oscar, mas esteve no circuito de cinema brasileiro. Outro grande nome do cinema que não estava na premiação da Academia em 2010 foi Woody Allen, que lançou em abril Tudo Pode Dar Certo, um dos melhores filmes que ele fez nos últimos tempos.



Duas produções bem sombrias e muito interessantes também deram as caras nas salas de cinema brasileiras no mês de abril. Em um momento com tantos vampiros de gel no cabelo e sem “pegada”, os coreanos nos lembraram a essência do mito com uma visão nova em Sede de Sangue. Outro filme de estética sombria é uma animação em stop-motion (massinha) que arrancou lágrimas de muita gente grande. Mary e Max precisa ser assistido por quem ainda acha que animação é coisa de criança.

Como é de costume, em todo final de abril a Marvel lança um filme de super-herói para comemorar o meu aniversário. Em 2010 foi a vez de Homem de Ferro 2, o único superpoderoso dos gibis a entrar em cartaz no ano. Os fãs do gênero agradecem a fartura que acontecerá nos anos vindouros.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Estreias da Semana


Amor por Acaso — Ela atravessou o continente para resolver um problema financeiro e arrumou um problema para o coração.

As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada (The Chronicles of Narnia: The Voyage of The Dawn Treader) — Volte à magia. Volte à esperança. Volte à Nárnia.

Enterrado Vivo (Buried) — Paul Conroy não está pronto para morrer.

Machete X — Ontem ele era um homem decente com uma vida decente. Agora ele é um selvagem bruto que deve aniquilar para permanecer vivo.

Meu Mundo em Perigo — Três histórias, mas nenhuma saída visível.

A Sétima Alma (My Soul To Take) — Apenas um tem o poder de salvar a alma de todos.

Tetro — Toda família tem um segredo.


X Texto do Cinepop

Meu Mundo em Perigo



Sinopse: Elias é um fotógrafo que está lutando para manter a guarda de seu filho. Ele se refugia em um hotel decadente, onde conhece uma misteriosa garota.


Ficha Técnica
Meu Mundo em Perigo
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: José Eduardo Belmonte, Mario Bortolotto
Elenco: Eucir de Souza, Rosanne Mulholland, Milhem Cortaz
Duração: 92 minutos
País: Brasil


Conhecer um cineasta ao contrário
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: trailer)

Quando se vai ver um novo filme de um diretor que se aprecia, a expectativa é alta. Foi com esse espírito que assisti a Meu Mundo em Perigo, de José Eduardo Belmonte. Depois do que tinha experimentado com Se Nada mais Der Certo, confesso que achei que ele foi mais feliz em seu filme lançado anteriormente, mesmo com sua personalidade cinematográfica estampada nos fotogramas.

No entanto, essa constatação não é para se ficar triste, já que Meu Mundo em Perigo é mais antigo do que Se Nada mais Der Certo e prova que Belmonte está em ascensão. Depois de três anos de “geladeira”, o filme chega aos cinemas e mostra em suas histórias exatamente  o que promete o título.

Elias fica sem chão quando perde a guarda do filho. Fito experimenta esse sentimento de perdição depois que seu pai morre de forma trágica. Até a história de Isis tem a ver com o tema, mas merece ficar em segredo antes de se assistir ao filme.

O mérito está em conseguir agrupar essas jornadas semelhantes em um mesmo roteiro sem forçar a barra. Os multiplots latinos temáticos que estão tão em voga no cinema atual, sendo Destinos Ligados o último deles, por vezes não conseguem criar uma unidade tão coesa quanto Belmonte.

Em um ano em que comemoramos recordes de público nos blockbusters nacionais, precisamos de cineastas mais intimistas para criar um quadro mais completo em nossa cinematografia.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Amor por Acaso



Sinopse: Ana acaba de perder o pai e herdar uma dívida enorme. Para equilibrar as finanças, decide viajar para a Califórnia e vender uma propriedade que era de sua avó. O problema é que o recém-divorciado Jake está transformando a casa em uma pousada e ela terá de despejá-lo.


Ficha Técnica
Amor por Acaso (Bed & Breakfast)
Direção: Márcio Garcia
Roteiro: Leland Douglas
Elenco: Juliana Paes, Dean Cain, Julian Stone, Eric Roberts, Bill Engvall, Rodrigo Lombardi, Zilah Mendoza, Meredith Bishop, Kimberly Quinn
Duração: 80 minutos
País: EUA, Brasil


Sucessão de pequenos erros
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: trailer)

Amor por Acaso (Bed & Breakfast) é uma comédia romântica em que um casal que tem tudo para ser inimigos acaba se apaixonando. Esse casal é interpretado por dois atores que já provaram seu carisma no decorrer de suas carreiras. Então como uma fórmula eficaz em diversas títulos do gênero acaba em um filme fraquinho?

Os erros do roteiro estão nos detalhes. O filme começa nos Estados Unidos para que o público de lá assista às primeiras cenas sem ler legendas e comece a se envolver com a história. Depois, a ação dirige-se para o Rio de Janeiro com falas em português. Nesse ponto, os falantes de inglês já estarão integrados com os personagens e não terão tanta resistência a um idioma estranho.

O problema está a partir desse ponto, em que se força a barra para que haja o maior número possível de diálogos em inglês. Assim, sem qualquer motivo aparente, o advogado (Julian Stone) de Ana (Juliana Paes) é britânico e ela fala em inglês até com o labrador de estimação de Jake (Dean Cain).

A direção de Márcio Garcia corre bem na maior parte do tempo, mas em algumas oportunidades ele abusa dos movimentos de câmera. Novamente sem motivo aparente, a não ser que se espere deixar o espectador marejado.

Com participação brasileira na produção, o filme não utilizou leis de incentivo para bancar a empreitada. Para isso, contou-se com patrocinadores e a aparição das marcas é mais um exemplo dos erros e acertos do longa. Enquanto a loja em que Ana trabalha está bem posicionada, Amor por Acaso tem uma cena após os créditos que entrará para a história de piores merchandisings já vistos.

Finalmente, demora muito para que o casal de protagonista se envolva de verdade. Os dois momentos de carinho que estão no cartaz são os dois únicos beijos entre eles.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Enterrado Vivo



Sinopse: Paul Conroy é um motorista de caminhão que trabalha no Iraque, prestando serviço para o Exército. Ele é capturado por terroristas que o colocam em um caixão. Para ser liberto, a Embaixada Americana precisará pagar US$ 5 milhões.


Ficha Técnica
Enterrado Vivo (Buried)
Direção: Rodrigo Cortés
Roteiro: Chris Sparling
Elenco: Ryan Reynolds
Duração: 95 minutos
País: Espanha, EUA, França


Clautrofobia
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: último parágrafo)

Em 2002, o irregular diretor Joel Shumacher surpreendeu com a tensão de Por um Fio. O espanhol Rodrigo Cortés leva a premissa a outro nível ao restringir mais o cenário em Enterrado Vivo (Buried).

Na produção estrelada por Colin Farrell toda a ação acontece dentro de uma cabine telefônica, mas a situação se desenvolve de uma maneira que vemos policiais, a esposa e a amante do protagonista. No filme com Ryan Reynolds, ele é o único em cena, dentro de um caixão. Ele interage com outros personagens apenas por um telefone celular.

Quem sofrer de claustrofobia pode não resistir a escalada de emoções de Enterrado Vivo. O roteiro consegue trazer elementos novos a todo momento, mesmo sem sair do caixão. Mais do que isso, o filme cumpre seu papel como thriller e ainda faz crítica à Guerra do Iraque e à diplomacia dos Estados Unidos.

Por se tratar de um combate cheio de absurdos, todos os absurdos que acontecem com o pobre Paulo Conroy são muito verossímeis. O único problema está no desfecho, que tenta fugir do clichê máximo apenas para cair no clichê secundário, o que é ainda pior. Tem de ver para entender.


As Crônicas de Nánia - A Viagem do Peregrino da Alvorada



Sinopse: Três anos depois da última aventura em Nárnia, Edmundo e Lúcia voltam para o país fantástico. A missão deles nessa jornada é ajudar o Rei Caspian a desvendar o mistério de uma névoa sobre o mar que causa o desaparecimento de muitas pessoas.


Ficha Técnica
As Crônicas de Nánia - A Viagem do Peregrino da Alvorada (The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader)
Direção: Michael Apted
Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely, Michael Petroni
Elenco: Georgie Henley, Skandar Keynes, Ben Barnes, Will Poulter, Gary Sweet, Liam Neeson, Simon Pegg
Duração: 115 minutos
País: EUA


Uma franquia em risco
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Os grandes lucros da indústria cinematográfica atual vêm de produções em série que atraem grandes multidões de fãs para as salas de projeção. Nesse formato incluem-se Harry Potter e A Saga Crepúsculo. Outro título que tem todos os ingredientes para estar nessa lista endinheirada são os filmes da franquia As Crônicas de Nárnia, mas a série nunca emplacou com a mesma intensidade dos exemplos acima.

Por essa razão, depois da segunda tentativa, a Disney desistiu de produzir as adaptações dos demais livros de C.S. Lewis. Antes que Aslam e os irmãos Pevensie tivessem o mesmo triste destino de Eragon e A Bússola de Ouro, a Fox entrou na jogada e garantiu a produção de As Crônicas de Nánia - A Viagem do Peregrino da Alvorada (The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader).

A nova produtora, contudo, tratou de tomar as devidas precauções e adotou o raciocínio automático que povoa a mente dos executivos dos grandes estúdios. Se é preciso garantir receitas, lança-se o filme em 3D. Não importa se o resultado final não seja uma fração do que se obtém quando uma produção é pensada para esse tipo de projeção desde o começo. Esse é o caso da nova aventura em Nárnia, por isso é aconselhável prestigiar as sessões em 2D, mais econômicas.

O filme em si mantém o nível de seu antecessor – que é um belo salto do primeiro filme, com batalhas fracas – e tem efeitos especiais de primeira linha. A saga chega ao seu terceiro episódio para mostrar personalidade própria: batalhas, magia, referências bíblicas e emoção gerada pela amizade entre os personagens.

A esperança é que agora os bastidores de Nárnia estejam mais pacíficos e a produção dos demais episódios seja mais tranquila.


A Sétima Alma



Sinopse: Um serial killer retorna a sua cidade natal depois de 16 anos de sua provável morte. Ele persegue sete jovens que nasceram na noite em que ele matou pela última vez.


Ficha Técnica
A Sétima Alma (My Soul to Take)
Roteiro e Direção: Wes Craven
Elenco: Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker, Zena Grey, Nick Lashaway, Paulina Olszynski, Jeremy Chu, Emily Meade
Duração: 107 minutos
País: EUA


A Hora do Pânico 
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Desde 1994 que o diretor Wes Craven não filme um roteiro próprio. Os fãs do cineasta responsável por A Hora do Pesadelo (1984) e Pânico (1996) poderão conferir a nova criação dele em A Sétima Alma (My Soul to Take). O problema é que o filme dá todos os sinais de ser ruim antes mesmo de pisar na sala de cinema.

Vamos às pistas. Nos Estados Unidos, a crítica não pôde assistir ao longa antes da estreia para avaliá-lo. A estreia em si foi adiada em quase um ano na terra do Tio Sam. Em pós-produção, foi decidido que o filme seria lançado em projeções 3D, uma tática recorrente para tentar salvar um produto de qualidade baixa. Por fim, A Sétima Alma tem o recorde de pior bilheteria na semana de lançamento para um filme 3D.

Todos esses indícios acabam por gerar uma visão exagerada da situação real. É fato que a produção não é excelente e está bem abaixo do que Wes Craven já apresentou, mas no final das contas A Sétima Alma é apenas mais um suspense/terror juvenil genérico, sem grandes astros no elenco.

Ao analisar a história, percebe-se uma tentativa por parte de Craven de unir os ingredientes de suas maiores obras. Um grupo de jovens percebe que há um assassino entre eles, como em Pânico, e as mortes estão relacionadas a algo do passado que foi despertado, como na saga de Freddy Krueger. O plano infalível não foi feliz e o resultado é mediano demais.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cine-Retrospectiva 2010: Março

Passado os lançamentos de Oscar, o circuito de cinema entrou em um belo marasmo em março. Muitas estreias medianas e fracas em qualidade acompanham o final do verão. Felizmente há algumas exceções.

Atrasado na estreia, Coração Louco entrou em cartaz depois dos prêmios da Academia. Essa tática é muito perigosa, pois se o Oscar não vai para o filme, o espectador pode ser afastado. Quem sai de casa para ver “o filme X em que o Fulano está bem, mas não tanto quanto o Ciclano no filme Y”?

Em março também estreou um título com chances de abocanhar algumas indicações na próxima cerimônia de entrega das estatuetas douradas. Ilha do Medo mostra Martin Scorcese em plena forma como diretor. Seu thriller psicológico é ímpar e traz atores em ótimas performances.

Fugindo da onda de prêmios, março premiou os cinéfilos com uma comédia ímpar. Os Homens que Encaravam Cabras não se leva a sério e tem um tipo de humor que poucos conseguem apreciar. Esse filme está na lista do CineDude de melhores do ano, mas não é surpresa se estiver na lista de piores de outro crítico.

Dogma



Sinopse: Os anjos Loki e Bartleby descobrem um jeito de voltar para o céu de onde foram expulsos pelo próprio Deus. Só que a volta deles implicaria na destruição do universo. Para impedir que isso aconteça foi pedida a ajuda Bethany Sloane que em sua jornada será auxiliada por dois profetas e pelo 13° apostolo Rufus que não é citado na bíblia por ser negro. 


Ficha Técnica
Dogma
Roteiro e Direção: Kevin Smith
Elenco: Ben Affleck, Matt Damon, Linda Fiorentino, Jason Mewes, Kevin Smith, Chris Rock, Alan Rickman, Jason Lee, Salma Hayek, George Carlin, Ethan Suplee, Barret Hackney, Alanis Morissette, Bud Cort, William Hutchings
Duração: 130 minutos
País: EUA


por Wellington Carneiro

(Spoilerômetro: )

Se você mora com a sua avó católica é melhor não assistir a Dogma, pois a velhinha pode não entender a mensagem que filme quer passar e acabar julgando-o errado.Essa produção é pura sátira para cima da Igreja Católica (exatamente por isso a vovó não iria gostar).

Além de escrever e dirigir direitinho o filme, Kevin Smith teve muita coragem ao abordar um tema tão polemico como é igreja e religião. Além de tocar nesse assunto, ele ele ainda apontou fatos bíblicos que mostram algum tipo de preconceito por parte da instituição religiosa e até da Bíblia.

No conjunto, o filme é uma mistura de aventura, religião, comédia e fantasia que foram muito bem distribuídos ao longo do enredo. O únco problema é que o filme é bem longo, com duração de 130 minutos. Isso o torna um pouco cansativo, mas nada que afete o bom andamento da história. 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Desenrola



Sinopse: Olívia Torres é a protagonista Priscila, de 16 anos, que se vê pela primeira vez sozinha em casa: a mãe viajou e vai passar 20 dias fora. É nesse curto espaço de tempo que sua vida passa por grandes mudanças e diversas “primeiras vezes” acontecem.


Ficha Técnica
Desenrola
Direção: Rosane Svartman
Roteiro: Rosane Svartman, Juliana Lins
Elenco: Olivia Torres, Lucas Salles, Juliana Paiva, Kayky Brito, Marcelo Novaes, Letícia Spiller, Pedro Bial
Duração: 90 minutos
País: Brasil


 por Daniel Kroll

(Spoilerômetro: )

Escrito para um publico jovem, o filme retrata a vida sexual iniciante de uma garota de 16 anos. Totalmente narrado em primeira pessoa, ele força uma identificação do publico com a heroína do filme, ou poderia até dizer a princesa em busca do príncipe encantado. Aí se encaixa o famoso clichê dela achar ser uma pessoa (o garoto mais velho e galã) e ser outra (não darei mais spoilers).

Na parte técnica o filme é bem feito, seguindo o padrão Globo Filmes, porem isso para mim se torna um problema. Toda a parte criativa fica engessada, deixando o longa com cara de um episódio comprido de Malhação, só que um pouco mais arrumado.

A escolha do elenco para os personagens principais foi muito bem feita, foram usados atores e atrizes da idade dos personagens, diferente de alguns filmes onde usam maiores de 18 anos para interpretar menores de idade para falar da sexualidade do adolescente. Mas sempre com atenção e respeito.

O mundo utópico criado pela direção do filme e a qualidade técnica, aliado a um roteiro claramente escrito pelos moldes de um sexólogo moderno atingem o publico alvo de uma maneira comercial. No entanto deixa-se de lado a importância do cinema como meio de reflexão, principalmente na hora de tratar de assuntos polêmicos que merecem ser discutidos.


Demônio



Sinopse: Cinco pessoas ficam presas em um elevador. Eles percebem um presença demoníaca entre eles.


Ficha Técnica
Dmônio (Devil)
Direção: John Erick Dowdle
Roteiro: Brian Nelson
Elenco: Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O'Hara, Bojana Novakovic, Bokeem Woodbine, Geoffrey Arend, Jacob Vargas, Matt Craven
Duração: 80 minutos
País: EUA


Resultados interessantes
 por Paulo Costa

(Spoilerômetro: )

Demônio (Devil) é o exemplo de suspense que não precisa de muitos artificios (sangue, violência, tortura...) para prender a atenção da plateia e causar vários sustos e muitas reviravoltas.

Como divulgado em seu cartaz "Da mente de M. Night Shyamalan", o longa é apenas produzido pelo consagrado diretor de obras fascinantes e de muitas reviravoltas como O Sexto Sentido (1999), A Vila (2004), A Dama na Água (2006) e até mesmo do mais recente, porém não tão bom quanto os citados O Último Mestre do Ar, o que deixa bem claro que Shyamalan nasceu para dirigir, roteirizar ou apenas produzir filmes de suspense psicológico. A história foi concebida pelo diretor indiano e o longa tem roteiro de Brian Nelson responsável pela adaptação do excelente filme 30 Dias de Noite.

A direção ficou nas mãos de John Erick Dowdle, este que roterizou e dirigiu a versão americana do ruim Quarentena baseado no espanhol REC, porém aqui ele acerta, faz bonito e o resultado é muito bom e bem convincente.

Na trama, de acordo com algumas passagens da bíblia que diz que "Quando alguém comete suicidio abre-se uma porta para o demônio" o ponto pé inicial é justamente um suicidio. Um policial com passado perturbador tenta resolver o mistério desta morte, porém horas mais tarde nesse mesmo edíficio, cinco pessoas distintas e desconhecidas ficam presas dentro de um elevador, e eventos bizarros e assustadores começam a acontecer, revelando que umas delas ali dentro não é quem aparenta ser.

Shyamalan imaginou uma crônica interessante, pois vale deixar explicado que o longa pertence a uma série que se der certo será denominada "The Night Chronicles" ou para nós "Crônicas Noturnas", o único erro do filme é que em determinadas porém poucas cenas falta um pouco de dinamismo, mas não o suficiente para fazer o espectador desistir do longa e se surpreender com um final verdadeiramente digno, como já diz o slogan já citado: "Da Mente de M. Night Shyamalan".



Texto originalmente publicado no blog Cine e Cia

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cine-Retrospectiva 2010: Fevereiro


No cinema, por décadas o discurso anti-belicista se concentrava em produções que retratavam o fiasco da Guerra do Vietnã. Passada a Guerra Fria e o 11 de setembro, os roteiros de cinema puderam se debruçar em outro confronto para criticar: a Guerra do Iraque.


A entrega dos Oscars desse ano tinha dois representantes desse grupo entre seus indicados. Outra coincidência os une: eles estrearam no Brasil no mês de fevereiro. Guerra ao Terror já estava à venda em DVD por muitos meses, quando a Imagem Filmes recebeu com surpresa os prêmios e indicações que o filme estava recebendo ao redor do mundo. Com os olhos na estatueta dourada, Guerra ao Terror teve um lançamento tardio nas telonas. Depois o filme conquistou o Oscar de Melhor Filmes, deixando para trás Avatar (também conhecido como Pocahontas no Espaço).

O Mensageiro fala das cicatrizes, físicas e psicológicas, da guerra. Com atuações soberbas dos atores principais, passou quase despercebido nos cinemas, mas merece ser apreciado em DVD.


 Outro filme com atuações elogiadas que estreou em fevereiro foi Preciosa. O filme conta uma história com muito sofrimento em seus personagens e muitas lágrimas em seus espectadores. A produção tinha o apoio até da Oprah e conseguiu se destacar no Oscar.


Na categoria Melhor Filme Estrangeiro, a maioria esmagadora das apostas estava sobre A Fita Branca, ganhador da Palma de Ouro. A produção alemã foi suplantada pelo argentino O Segredo dos Seus Olhos e surpreendeu muita gente que acompanhava a premiação. Os dois concorrentes entraram em cartaz no Brasil no mês de fevereiro.


Para não dizer que não falei de cinema brasileiro, Os Inquilinos foi um dos melhores títulos da safra recente e estreou em fevereiro. Sergio Bianchi coloca sua crítica social até nos detalhes de cena de seu trabalho. A violência urbana, tema tão recorrente em nossa cinematografia, é analisada com um olhar diferenciado.

Estreias da Semana


Abutres (Carancho) — Enquanto uns querem salvar vidas, outros querem explorá-las.

Film Socialisme — A nova obra de Jean-Luc Godard.

O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy) — Quando jovem, tudo que John Lennon precisava era de amor.

Megamente (Megamind) — E se o malvado vencesse?

A Rede Social (The Social Network) — Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos.

Skyline – A Invasão (Skyline) — Se você acha que pode se esconder... se você acha que pode resistir... se você acha que pode sobrebviver... Você não viu a luz.

Film Socialisme



Sinopse: Uma sinfonia em três andamentos. “Coisas como”: Uma viagem pelo Mediterrâneo. Várias conversas, em várias línguas, entre os passageiros quase todos em férias. “Nossa Europa”: À noite, uma menina e seu irmão mais novo convocam seus pais para sua corte de sua infância. Eles exigem sérias explicações de temas como liberdade, igualdade e fraternidade. “Nossas Humanidades”: Visita seis sítios de mitos falsos ou verdadeiros: Egito, Palestina, Grécia, Odessa, Nepal e Barcelona.


Ficha Técnica
Film Socialisme
Roteiro e Direção: Jean-Luc Godard
Elenco: Catherine Tanvier, Christian Sinniger, Jean-Marc Stehlé, Patti Smith, Robert Maloubier, Alain Badiou, Nadège Beausson-Diagne, Élisabeth Vitali, Eye Haidara, Quentin Grosset, Olga Riazanova
Duração: 101 minutos
País: Suíça, França


Traje inadequado
 por Edu Fernandes


(Spoilerômetro: )

A sinopse acima é copiada da que foi oferecida pela distribuidora nacional de Film Socialisme. Assim, se alguém achar o novo trabalho de Godard mais confuso do que de costume não poderá culpar esse crítico. Aliás, “filme de Godard” já é sinônimo de filme-cabeça-incompreensível para os fãs de Legião Urbana e Os Paralamas do Sucesso.

A ideia do projeto do cineasta francês é recolher texto literários diversos e ler trechos dos tais textos enquanto imagens diversas são projetadas na tela, como uma colagem audiovisual. Com imagens de arquivos e cenas captadas, a proposta seria uma boa experiência para uma instalação de museu, vídeo-arte ou curta metragem. Quando Godard leva sua ideia para um filme com mais de 100 minutos de duração, o resultado testa os limites do torturante.

Um aviso importante: há duas versões de legendas para Film Socialisme no circuito de cinema. Uma delas segue as diretrizes dadas pelo próprio Godard, com apenas algumas palavras soltas traduzidas. O que já é complicado de acompanhar torna-se uma missão impossível para quem não entende o idioma francês. É recomendável conferir as legendas tradicionais da outra versão.

O longa só é indicado para um público bem restrito. Grandes fãs do diretor, com certeza, uma vez que claramente esse filme só conseguiu ser lançado por causa da grife nouvelle vague a ele atrelada. Exceto esse grupo, apenas amantes doentes de literatura que estejam dispostos a ver esse exercício criativo de Godard podem curtir.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Megamente



Sinopse: O vilão Megamente finalmente conseguiu derrotar seu rival, o super-herói Metro Man. Depois da vitória, ele não acha mais motivos para seus planos.


Ficha Técnica
Megamente (Megamind)
Direção: Tom McGrath
Roteiro: Alan Schoolcraft, Brent Simons
Elenco: Will Ferrell, Brad Pitt, Tina Fey, Jonah Hill, David Cross, Ben Stiller, J.K. Simmons
Duração: 95 minutos
País: EUA


Heróis fora do gibi
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Os leitores de quadrinhos estão acostumados com histórias do tipo “E se..?”. Esse gênero especula o que aconteceria no universo dos super-heróis se algo acontecesse de forma diferente. Partindo da premissa “e se o Lex Luthor derrotasse o Superman?”, o filme Megamente (Megamind) conta uma história muito engraçada.

Como não havia de ser diferente, muitas referências ao mundo dos super-heróis estão contidas na animação. Seja na origem dos poderosos, nos uniformes ou nos detalhes das cenas, os amantes dos quadrinhos encontrarão muito o que comentar depois da sessão. Quem conhece os heróis apenas pelas adaptações cinematográficas também encontrará alusões aos filmes.

A trilha musical é muito boa, com uma releitura instrumental de “Only You” nos momentos mais dramáticos e muito rock’n’roll clássico nas cenas de mais ação. A tática roqueira já se mostrou positiva na franquia Homem de Ferro.

O elenco das vozes na versão original é repleto de grandes astros da comédia, mas quem for parar em uma sessão dublada não economizará nas risadas. Os dubladores nacionais fazem um trabalho muito bom e a adaptação do texto funciona.

A história do vilão que se vê tentado a trocar de lado foi vista recentemente em Meu Malvado Favorito, mas em Megamente as referências pop dão um tempero muito especial.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Abutres



Sinopse: Sosa é um advogado que trabalha com vítimas de acidente de trânsito. Ele envolve-se amorosamente com o outro lado da questão quando começa a namorar a socorrista Luján.


Ficha Técnica
Abutres (Carancho)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Alejandro Fadel, Martín Mauregui, Santiago Mitre, Pablo Trapero
Elenco: Ricardo Darín, Martina Gusman, Carlos Weber, José Luis Arias, Loren Acuña, Gabriel Almirón, José Manuel Espeche
Duração: 107 minutos
País: Argentina, Chile, França, Coreia do Sul


Scorsese sul-americano
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: trailer)

Depois de usar uma penitenciária como cenário em Leonera (2008), o diretor Pablo Trapero resolveu explorar as brigas judiciais de acidentes de trânsito para mostrar a podridão do ser humano em Abutres (Carancho). Ele foi bem-sucedido, já que depois de lançado seu filme foram realizadas alterações nas leis argentinas de seguro-saúde.

O título, tanto em português quando em espanhol, faz referência às várias formas de as pessoas se aproveitarem do sistema. O exemplo mais claro no filme é a empresa para a qual o personagem principal (Darín) trabalha.

A firma representa vítimas do trânsito em processos muito polpudos. No final dos acertos, quem foi verdadeiramente lesado pelo acidente fica com uma pequena parcela da indenização, enquanto o caixa da empresa embolsa a maior parte. Há outros casos de comportamento questionável, não apenas na esfera jurídica, mas deixemos algumas surpresas para a sessão.

Com o esquema da divisão desigual da indenização se repetindo no filme, o espectador precisa estar preparado para sentir muita raiva dos aproveitadores retratados em Abutres. A direção firme de Trapeiro, com muitas tomadas longas e ágeis, aumenta a carga de emoção e adrenalina da fita – por isso a comparação no título deste texto.

O principal problema do enredo, contudo, está na personagem Luján (Gusman) que exagera no papel de "donzela em perigo" e não convence. Uma mulher que mora sozinha, estudou Medicina e trabalha em um ambiente em que situações extremas são rotineiras não poderia ser tão desequilibrada emocionalmente.

A culpa dessa falha não é da atriz, mas do roteiro, já que a personagem precisa ser assim para que a dramaturgia funcione. O desfecho é outro problema. O melhor a se fazer é focar-se nas abundantes qualidades da fita e esquecer da maneira esquisita com que a trama se encaminha para o desfecho.


O Garoto de Liverpool



Sinopse: John Lennon é um jovem estudante que mora com seus tios. Depois da morte do tio, ele começa a entrar em contato com sua mãe, que abandonou John quando ele era criança. Ela o ensina a tocar bandolim e ele resolve montar uma banda de rock.


Ficha Técnica
O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy)
Direção: Sam Taylor-Wood
Roteiro: Matt Greenhalgh
Elenco: Aaron Johnson, Kristin Scott Thomas, David Threlfall, Ophelia Lovibond, Anne-Marie Duff, Thomas Brodie-Sangster, Sam Bell
Duração: 98 minutos
País: Reino Unido, Canadá


The Beatles Begins
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy) conta a história da adolescência de John Lennon, antes de formar os Beatles. Por essa razão, os fãs da banda não poderão ouvir as famosas canções do quarteto britânico para acompanhar o enredo. Mesmo assim, há algumas referências a elas nas falas.

Apesar de o trailer mostrar o envolvimento de John com uma colega de escola, o foco do filme está na formação do homem que seria o ídolo do rock. A conturbada relação dele com a mãe é o principal conflito da fita.

A cinebiografia chega a exagerar na ênfase do assunto e distorce algumas das composições de Lennon, como se fossem dedicadas a sua mãe. A falta materna foi realmente sentida por ele, o que explica a forma como ele viria a se relacionar com Yoko anos depois. O lado bom é com esse enfoque o cinema ganha um belo drama.

No entanto, não é só a formação psicológica de John Lennon que o filme trata. Suas vastas influências musicais são abordadas pela produção e nesse ponto os fãs mais dedicados do músico poderão se deleitar.

O Garoto de Liverpool não se dedica muito ao assunto Beatles, mas quando o faz é com muita sinceridade. A amizade entre os jovens Paul e John, que renderia em uma frutífera parceria musical, é mostrada de forma tocante. O roteiro é fiel ao mostrar que Lennon era um grande piadista e que McCartney era quem realmente estudava música e era a mente criativa na banda.

George aparece muito pouco e, como o filme só chega ao começo de carreira dos Beatles, Ringo não é citado. Essa ausência chega a ser engraçada, já que o baterista é o beatle menos favorito da maioria dos fãs e é conhecido como “o sortudo de Liverpool que sabia batucar”.


terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Rede Social



Sinopse: Mark é um estudante de Harvard que desenvolve um site em que as pessoas com dificuldade em ser popular consiguem arrumar novos amigos. O problema é que ele se vê no meio de dois processos judiciais milionários sobre a autoria das ideias que levaram a criação do Facebook.


Ficha Técnica
A Rede Social (The Social Network)
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer
Duração: 120 minutos
País: EUA


Conexão de banda larga
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A primeira cena de A Rede Social (The Social Network) oferece um bom exemplo de como apresentar o protagonista. Com poucos minutos de duração, a tal cena necessitou de quase cem tomadas para ser filmada.


Tudo isso por causa da fala ligeira que Mark Zuckerberg fala. Por ter um raciocínio muito mais rápido do que a maioria das pessoas, ele dispara um número absurdo de palavras por minuto. Sua inteligência é inversamente profissional a suas perícias sociais. Todas essas características, e o talento do ator Jesse Eisenberg (O Solteirão), estão presentes nessa pequena cena.

O desenvolver do filme está alinhado ao raciocínio de seu protagonista. Por isso, a história vai rapidamente para frente e para trás, tentando acompanhar os depoimentos nos dois processos em que Mark participa sobre a real paternidade do Facebook. O conselho para o leitor é que se foque no núcleo da trama e não tente entender todos os detalhes técnicos de cada acontecimento para não se perder nessa tempestade cerebral.

Como fez em Zodíaco, David Fincher prova que é capaz de colocar emoção ao narrar uma história real em seus filmes. Sabe-se o tamanho e a importância das redes sociais no mundo de hoje, mas o diretor foca-se no humano, principalmente nas obsessões de seu personagem principal.

A Rede Social não tem mocinhos e bandidos claros – todos têm motivações compreensíveis para suas ações. O único efeito colateral será controlar a vontade de ficar offline por tempo indeterminado depois de terminada a sessão do filme.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cine-restrospectiva 2010: Janeiro



O dia 1 de janeiro já se tornou uma data consagrada para lançamentos de filmes nacionais. Em 2008 e 2009 estrearam nesse exato dia duas produções brasileiras que depois se tornariam grandes sucessos de bilheteria: Meu Nome não É Johnny e Se Eu Fosse Você 2. Apostando nessa fórmula, Lula – O Filho do Brasil queria arrebentar em quantidades de ingressos.

A cinebiografia do Presidente chegou aos cinemas cercada de polêmica por 2010 ser um ano eleitoral e com expectativa de mais de 5 milhões de espectadores. Com a cafonice da direção de Fábio Barreto e um roteiro sem unidade narrativa, Lula – O Filho do Brasil suou para conseguir perto de um quinto dessa projeção.


O começo do ano também é marcado pela estreia de títulos que mais adiante estarão presentes nas principais premiações do cinema, como o Globo de Ouro e Oscar. Nesse sentido, a comédia de Jason Reitman Amor sem Escalas e o drama real de Clint Eastwood Invictus são os exemplos do mês. Reitman reafirma sua proposta de cinema com seu filme e Clint continua impecável.

Outras comédias marcaram o circuito de cinema em janeiro e aproveitaram temas que fazem sucesso em outros gênero. Zumbilândia faz piada com os mortos-vivos e apresentou para o mundo Jesse Eisenberg.

Enquanto isso, Sherlock Holmes pega carona na boa fase de Robert Downey Jr. e não deixa dúvidas para os fãs do seriado House de onde vem a inspiração para o médico sarcástico.

Não são só de risadas que se faz a magia do cinema. Muitos espectadores se entregaram às lágrimas com Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze, e sua história cheia de emoção e imaginação.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Centurião



Sinopse: Uma legião de soldados romanos está além das linhas inimigas na Bretanha. Eles tentam sobreviver, enquanto são caçados por uma tribo de nativos.


Ficha Técnica
Centurião (Centurion)
Roteiro e Direção: Neil Marshall
Elenco: Michael Fassbender, Andreas Wisniewski, Dave Legeno, Axelle Carolyn, Dominic West, Noel Clarke, JJ Feild, Lee Ross, David Morrissey, Ulrich Thomsen, Paul Freeman, Olga Kurylenko
Duração: 97 minutos
País: Reino Unido


Frases de efeito colateral
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A Nona Legião retratada no filme Centurião (Centurion) realmente existiu, mas seu destino final é um mistério para a História. A produção dá uma possível resposta para o que aconteceu com os combatentes romanos, mas a tônica geral é mais realista.

Por essa razão, qualquer referência a magia, tão comuns a épicos desse tipo, é tomada como misticismo. O melhor exemplo dessa característica são os talentos de rastreadora de Etain, que poderia muito bem ser uma ranger em uma aventura de RPG. Suas habilidades tidas como sobrenaturais são, na realidade, conhecimento e sensibilidade aguçada.

A autenticidade também chega às cenas de batalhas e aos ferimentos. A violência de Centurião está acima da média dos filmes de seu gênero, mas não cai na sanguinolência gratuita. Um olhar interessante no tema, com certeza.

Uma atração especial é a longa perseguição que praticamente domina a metade final da fita. Não chega a ser tão frenética quanto em Appocalypto, exatamente pela preocupação realista. Mesmo assim, a tensão de que os protagonistas podem ser atacado a qualquer momento existe.

Porém, nem tudo são maravilhas. O maior problema do filme está em seus diálogos, apesar do roteiro merecer elogios por não ser maniqueista. A história é empolgante, mas algumas frases de efeito proferidas pelos personagens são bem desencorajadoras. Parece uma boa aventura de RPG, com um narrador mais entusiasmado do que os jogadores.


Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos



Sinopse: Alfie separa-se de Helena para perseguir sua juventude. Ela apela para os conselhos de uma mística. A filha deles também enfrenta problemas em seu próprio casamento. Sally desenvolve uma paixão por seu chefe, enquanto o marido flerta com a vizinha.


Ficha Técnica
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger)
Roteiro e Direção: Woody Allen
Elenco: Gemma Jones, Pauline Collins, Anthony Hopkins, Naomi Watts, Josh Brolin, Freida Pinto, Antonio Banderas
Duração: 98 minutos
País: EUA, Espanha


Des-envolvimento
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: trailer)

Com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger), o diretor Woody Allen prova que sua atual produção é bem irregular. Depois do bem-sucedido Tudo Pode Dar Certo, o cineasta continua na comédia, mas traz para as telas personagens sem um décimo do carisma de Boris, o protagonista rabugento de seu filme anterior.

O tema agora são as frustrações e enganações da vida. Alfie sente o peso da velhice e engana a si mesmo com hábitos saudáveis e uma namorada com metade da sua idade. O escritor Roy não consegue igualar o sucesso de seu livro de estreia e paquera a vizinha. Aliás, o jogo amoroso entre um homem maduro com uma mulher mais jovem é uma mania de Woody Allen.

A parceria entre frustração e enganação não para nos personagens masculinos. Helena, ex-pesposa de Alfie,
não suporta a separação e procura pelos conselhos de uma vidente. Mais adiante, outras pessoas também caem em suas armadilhas psicológicas, mas não vou estragar o enredo.

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos certamente tem um elenco de maior apelo popular do que Tudo Pode Dar Certo, com atores mais conhecidos. No entanto, o que o filme tem de elenco lhe falta em envolvimento. O roteiro faz tudo como manda a cartilha da dramaturgia, mas não parece preocupar-se em cativar a plateia.

Confesso que, quando assisti ao longa, depois de uma hora de projeção, peercebi que se acabasse a força no cinema, não ficaria irritado ou triste. Eu não estava nem um pouco interessado em saber o destino daqueles personagens insossos. Não havia raiva, amor ou curiosidade, apenas uma total indiferença – o que não é aconselhável em filme algum.


sábado, 20 de novembro de 2010

Um Homem Misterioso



Sinopse: Jack é um matador de aluguel e construtor de armas que se esconde numa pequena cidade no interior da Itália para realizar um ultimo trabalho antes de se aposentar.


Ficha Técnica
Um Homem Misterioso (The American)
Direção: Anton Corbijn
Roteiro: Rowan Joffe
Elenco: George Clooney, Paolo Bonacelli, Violante Placido, Irina Björklund
Duração: 105 minutos
País: EUA


  por Daniel Kroll

(Spoilerômtero: )

O titulo que esse filme ganhou no Brasil deixa uma idéia certa do que se trata o filme, a construção do personagem principal. Jack (George Clooney) é uma incógnita durante boa parte de Um Homem Misterioso (The American), não se sabe o objetivo do personagem, nem sua história, e isso é o gancho principal que nos prende a história.

Por fora da narrativa do filme o titulo estadunidense libera outras leituras e interpretações para o filme como a relação entre os EUA e sua população com o mundo, não é por acaso que Jack vende armas.

Na área técnica é muito bem feito, a fotografia utiliza bem as sombras e a iluminação noturna num labirinto de pedras formado por uma cidade do interior da Itália, dando um clima perfeito para as cenas de perseguição. A trilha sonora acompanha bem o clima do filme, e também nos situa no interior da Itália.

No geral a película é boa, Clooney mantém seu nível de atuação, e a direção é bem feita. Para quem gosta de filmes mais mentais e com personagens interessantes, essa obra ira proporcionar um bom espetaculo.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1



Sinopse: Harry Potter tem a difícil missão de encontrar as horcruxes para derrotar Voldemort. Mas Dumbledore também deixou pistas de itens que podem ajudar Harry nessa batalha contra as trevas.


Ficha Técnica
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1)
Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Alan Rickman, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter
Duração: 146 minutos
País: Reino Unido, Estados Unidos


 por Guilherme Kroll e Carla Bitelli

(Spoilerômetro: )

Finalmente a saga de Harry Potter e Voldemort chega ao apoteótico final no cinema. Os fãs sem preguiça já conhecem o desfecho há muito tempo, pois o livro em que esse filme é baseado foi lançado em 2007. Para dar conta de uma história repleta de detalhes, os produtores dividiram a última aventura em duas partes. Ou seja, o Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1) será lançado agora e a parte final, no meio de 2011.

Apesar da clara intenção de ganhar mais dinheiro, fica também evidente que não seria possível a redução do último livro em apenas um filme. Nesta primeira parte, muito da narrativa original foi devidamente enxugado, evitando detalhes pouco importantes que derivassem em longas explicações. O diretor David Yates e o roteirista Steve Kloves privilegiaram a relação entre os personagens principais e optaram por excluir diversos momentos emotivos, de redenção e culpa, envolvendo personagens secundários — por exemplo, o pedido de desculpas de Duda, bem como a discussão com Lupin sobre o papel de um pai.

Fãs puristas podem sentir falta dessas passagens, mas é justamente a exclusão delas que abre importantes minutos para trabalhar a tensão entre o trio principal: o medo da morte e o peso da liderança em Harry, a questão do papel feminino e do saber formal em Hermione, o apelo emocional e a forte relação familiar em Rony. Há ainda algo mais: uma ligeira tensão erótica entre Hermione e Harry, algo nunca explorado por J. K. Rowling.

E toda essa sedimentação das relações conduz os espectadores para o esperado confronto entre Harry e Voldemort — que virá apenas na segunda parte —, entremeando metáforas sobre amadurecimento e chegada à vida adulta. Não passam batidos os paralelos entre a história dos bruxos e a História, como as ditaduras e a supressão das liberdades civis.

O clima da narrativa, como não poderia deixar de ser, é ainda mais sombrio. Yates, diretor que introduziu esse elemento na série cinematográfica, usa isso com maestria. Já experiente na série (é dele A Ordem da Fênix e O Enigma do Príncipe), ele nos brinda com lindas imagens da paisagem da região, apresentando planos abertos que intensificam a solidão em que vivem os personagens naquele momento.

As atuações de Emma Watson (Hermione) e Rupert Grint (Rony) estão ótimas e convincentes. Daniel Radcliffe como Harry fica um pouco abaixo dos colegas, mas segura a onda.

O corte da história é um pouco à frente da metade do livro, mas também um dos únicos possíveis. O gancho para o próximo filme é empolgante e vai deixar os fãs ainda mais ansiosos. O filme retrata bem a história contada por Rowling e reduz um pouco a sensação de adeus que a autora consciente ou inconscientemente impregnou no livro.

Adolescentes que cresceram lendo a série terão arrepios. De fato, o evento de uma geração chega ao fim.