sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Redenção X Compramos um Zoológico: Realidades opostas

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Chegam às salas de cinema brasileiras em dezembro dois filmes com histórias reais de salvadores. Apesar dessa proximidade temática, os públicos das produções serão bem distintos.

Redenção (Machine Gun Preacher) conta a história de Sam Childers (Gerard Butler, de Caçador de Recompensas), um ex-criminoso que encontra um novo caminho pela religião. Antes de ser um filme gospel sobre superação pela fé, a fita tem muitas cenas de ação inseridas a dedo no desenrolar do seu enredo para manter o ritmo acelerado.

Depois que funda uma igreja, Sam decide ajudar órfãos no Sudão e se envolve ativamente na guerra civil que assola o país por décadas a fio. A postura do protagonista é polêmia e o filme faz questão de mostrar todos os desafios que o estilo de vida de Sam acarreta.


Se Childers não hesita para colocar o dedo no gatilho contra os rebeldes, o protagonista de Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo) pena para sacrificar um animal moribundo. A produção é dedicada a toda a família e conta a história de Benjamin Mee (Matt Damon, de Contágio).

Ele é um jornalista viúvo que resolve mudar de casa para que consiga ter uma vida nova ao lado de seu casal de filhos. O imóvel que ele adquire é um zoológico que precisa de muitos reparos. Portanto, para salvar os animais e sua própria família, Benjamin terá de usar muito jogo de cintura.

A combinação de um herói carismático, um elenco infantil que esbanja fofura e muitos animais em cena formam a receita de um leve filme para toda a família. A trilha musical com pitadas de rock'n'roll casa com as cenas e dá uma dinâmica diferenciada à fita.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Noite de Ano Novo: Emoção sobre razão

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Para aproveitar Noite de Ano Novo (New Year's Eve), o espectador precisa seguir o mesmo conselho para o restante da cinematografia do diretor Garry Marshall (Idas e Vindas do Amor): deixar o coração falar mais alto até deixar o cérebro surdo. Só assim para aceitar as liberdades que o roteiro toma para contar suas diversas histórias de amor.

A proposta deste texto é analisar uma a uma pelo viés racional. Primeiramente, é o jeito que eu melhor vejo a vida. Segundo, se você curte os filmes do Marshall, não importa o que eu escrever que não vou fazer o leitor mudar de ideia. Portanto, vamos a elas

Ingrid pede demissão e resolve contratar um office-boy para cumprir todas suas resoluções de ano novo no dia 31 de dezembro. Até parece que alguém consegue fazer mais do que três coisas no mesmo dia em uma grande metrópole engarrafada como Nova York.


Trânsito também não é problema para Sam. Ele conheceu uma mulher misteriosa no ano passado e não para de pensar nela. Isso acontece mesmo, mas o que não é possível é entrar em Nova York, enfrentar o congestionamento, dar uma passadinha em uma festa e ainda ter tempo de ir a uma pizzaria antes da meia-noite.

Stan é um paciente terminal de câncer que compartilha seus sentimentos com uma enfermeira ultra-dedicada. Se ele estivesse tão mal assim, não conseguiria fazer metade do que o personagem faz. Ainda na ala hospitalar, dois casais se encontram na maternidade e disputam quem terá o primeiro bebê do ano. Uma disputa tão acirrada em um momento tão estressante e ninguém passa mal?

Laura foi abandonada pelo músico Jensen um ano atrás. Arrependido, ele tenta se reaproximar dela. Nesse caso, o que não dá para entender é como um artista consegue agendar uma apresentação em uma festa privada e um micro-show (e ponha micro nisso) na Times Square na mesma noite. No mundo real, é aposta certa de que um dos dois eventos será prejudicado.

Randy odeia o Ano Novo e está determinado a passar a noite no apartamento. Quando desce para tirar o lixo, fica preso no elevador com Elise. Quem coloca o lixo na rua no dia 31 de dezembro?


Com 15 anos de idade, Hailey quer passar a virada do ano na Times Square e beijar sua paixonite, mas sua mãe tem outros planos. Totalmente crível, exceto pelo papo entre as amigas sobre como é o primeiro beijo. Essa conversa acontece bem antes do colegial.

Claire é a responsável pela bola que anuncia a chegada do Ano Novo em Times Square. Quando a máquina quebra, ela tem de improvisar um discurso em uma coletiva de imprensa. Erro duplo. Ela fala de forma tão tocante um texto que ela nunca ensaiou que muitos personagens do filme usam suas palavras como o estopim para mudar de ideia. Depois de terminado o discurso, ela sai da sala e nenhum jornalista presente tenta fazer uma pergunta inteligente, do tipo: O que aconteceu com a porcaria da bola, mulher?


Noite de Ano Novo (New Year's Eve)
Direção: Garry Marshall
Roteiro: Katherine Fugate
Elenco: Michelle Pfeiffer, Zac Efron, Robert De Niro, Halle Berry, Jessica Biel, Seth Meyers, Sarah Paulson, Til Schweiger, Carla Gugino, Katherine Heigl, Jon Bon Jovi, Sofía Vergara, Ashton Kutcher, Lea Michele, Sarah Jessica Parker, Abigail Breslin , Josh Duhamel, Hilary Swank, Ludacris
Duração: 118 minutos
País: EUA

Nota: 5

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Para Poucos: Libertinagem

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Em 2011, Hollywood lançou três comédias românticas em que se explora o limite da libertação sexual que o gênero engessado permite. O Amor e Outras Drogas, Sexo sem Compromisso e Amizade Colorida trazem heroínas que sabem muito bem o que querem entre quatro paredes e não têm medo de admitir suas necessidades sexuais. Mesmo assim, há pouco avanço na discussão sobre a libido.

Para se aprofundar no assunto, o leitor terá de abandonar os yankees e visitar a cinematografia francesa. Para Poucos (Happy Few) fala sobre troca de casais. Vincent (Nicolas Duvauchelle, de Minha Terra África) e Teri (Élodie Bouchez, de Perigosa Obsessão) são um casal desde o final da adolescência e estão dispostos a apimentar a relação com a ajuda dos amigos casados Rachel (Marina Foïs, de Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar) e Franck (Roschdy Zem, de Fora da Lei).

Como nas comédias românticas citadas acima, a curtição sexual se complica quando sentimentos começam a aparecer onde não deveriam, segundo as regras do acordo adotado pelos personagens no começo da conversa.


Nas produções hollywoodianas, as complicações sentimentais servem para introduzir o romantismo entre os protagonistas e ajustar a história para a fórmula do gênero que encaminha para o desfecho previsível. Em filmes como Para Poucos, os sentimentos aparecem para dar espaço a discussões sobre questões delicadas.

Por mais que as cenas de sexo do drama francês sejam gradualmente mais ousadas, as discussões se alongam com o desenrolar do enredo. Assim, o roteiro se esforça para trazer novos elementos e garantir a dinâmica dramática, mas acaba forçando a barra.

Portanto, Para Poucos consegue incutir assuntos que apimentam conversas depois da sessão, mas não escapa de alguns deslizes narrativos.


Para Poucos (Happy Few)
Direção: Antony Cordier
Roteiro: Antony Cordier, Julie Peyr
Elenco: Marina Foïs, Élodie Bouchez, Roschdy Zem, Nicolas Duvauchelle
Duração: 103 minutos
País: França

Nota: 5

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Gato de Botas: De olho no lucro

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Em 2004, a melhor aquisição para o elenco de Shrek 2 em comparação ao filme original foi a participação do Gato de Botas, com voz de Antonio Banderas (A Pele que Habito). O personagem fez tanto sucesso que o felino ganhou um filme próprio.

O projeto nasceu pensado para ser lançado diretamente em DVD, mas a Dreamworks decidiu apostar no carisma do bichano. Gato de Botas (Puss in Boots) foi replanejado para um grande lançamento em cinemas, com direito a efeitos 3D de alta qualidade.

Para contar as origens de seu personagem principal, o roteiro não se priva de usar outros exemplos de sucesso. Assim como o Gato, Jack Sparrow surgiu como coadjuvante de Piratas do Caribe, roubou a cena e depois foi elevado ao posto de protagonista de filmes bilionários. Por também ser um mulherengo com grande talento para entrar em encrencas, não é muito difícil aproximar o pirata do felino. Principalmente se os realizadores da animação estiverem de olho no baú do tesouro das bilheterias.


Assim, Gato de Botas traz uma mistura equilibrada de aventura, romance e comédia. Nesse último quesito, a animação mantém-se na mesma linha de humor dos filmes de Shrek. Portanto, o espectador pode esperar algumas piadas mais ásperas, boas referências à cultura pop e uma dose de pastelão.

Já na parte de romance e aventura, Jack Sparrow volta a ser um exemplo a ser seguido, Como no último filme do pirata, Gato tem interesse romântico por uma latina com o mesmo estilo de vida dele e um temperamento volátil. Kitty recebe a voz de Salma Hayek (Gente Grande) e vive uma relação de amor e ódio pelo protagonista durante todo o enredo – da mesma maneira que Angelica faz com Sparrow.

Com tantas inspirações em outras produções, Gato de Botas segue a fórmula perfeita para agradar. A única exigência é que não se espere muita originalidade no roteiro e a diversão é garantida.


Gato de Botas (Puss in Boots)
Direção: Chris Miller
Roteiro: Will Davies, Brian Lynch, David H. Steinberg, Tom Wheeler, Jon Zack
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Zach Galifianakis, Billy Bob Thornton , Amy Sedaris, Constance Marie
Duração: 90 minutos
País: EUA

Nota: 6

domingo, 4 de dezembro de 2011

As Flores de Kirkut X O Dublê do Diabo: Visões do Iraque

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Há pouco tempo falei de dois documentários que mostram a triste situação atual do Irã, com censuras e manobras eleitorais estranhas. O vizinho Iraque também é tema de filmes recentes, mas para narrar acontecimentos de décadas passadas, quando Saddam Hussein estava no poder. Outro elemento que une esses dois títulos de ficção é que se tratam de coproduções estrangeiras, sem a participação direta de iraquianos.

As Flores de Kirkuk (Golakani Kirkuk - The Flowers of Kirkuk) conta a história de Najla (Morjana Alaoui), uma médica que volta para o Iraque em 1988 depois de estudar na Itália. Seus valores são bem diferentes daqueles praticados para as mulheres iraquianas, o que gera muitos conflitos. No cenário político, os curdos são perseguidos pelo governo Hussein e Najla se posiciona contra essa situação.


Essa produção ítalo-suíça tem em sua história potencial para criar uma experiência emocionante e informativa, mas suas falhas técnicas atrapalham o resultado final. Os diálogos e algumas atuações transparecem amadorismo e impedem que o espectador se envolva com a história.

Tudo parece um apanhado aleatório de cenas de uma telenovela fraca. Em sua maioria, os personagens são ocos e as conexões dos acontecimentos são confusas. Quem poderia se destacar é o tenente Mokhtar (Mohamed Zouaoui), um personagem um pouco mais complexo que os demais que é desfavorecido por uma atuação fraca.


Para conferir uma ótima atuação em uma história no mesmo período histórico é preciso ir atrás de outro filme. Em O Dublê do Diabo (The Devil's Double), Dominic Cooper (Capitão América: O Primeiro Vingador) interpreta um militar que é escalado pelo filho de Saddam Hussein para ser seu sócia. Dessa forma, o protagonista entra em contato com as excentricidades e brutalidades que fazem parte da rotina Uday Hussein.

Nessa produção entre Bélgica e Holanda o espectador tem o prazer de ver Dominic entregar três atuações impressionantes: como Uday, como o sócia e como o sócia imitando Uday. O filme percebe que sua história real é suficiente para garantir uma experiência impactante para o público. Com isso, a direção não tenta se sobressair e comprometer a fita.

Esses dois filmes prestam o serviço de contar um período histórico recente que precisa ser lembrado. A importância de revisitar essa época se prova porque as consequências do governo Hussein podem ser sentidas no Oriente Médio, e no mundo, até hoje.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Margin Call: Terror financeiro


 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Se nos deixarmos levar pelas manchetes dos jornais, a crise econômica que agora se vê especialmente na Europa ganha ares de um apocalipse financeiro. O filme Margin Call – O Dia antes do Fim (Margin Call) mostra como toda essa atual onda de medo econômico começou, em 2008.

A história do filme se concentra em analistas de risco de mercado que descobrem que tempos difíceis se aproximam. Altas horas da noite, conforme a notícia alcança os altos escalões do banco, uma reunião acontece. Durante toda a madrugada, os personagens discutem o que farão no dia seguinte, como irão escapar da situação.

Quando assuntos complexos são abordados em um filme, corre-se o risco de que a compreensão total não seja possível por todos os espectadores. Como em A Rede Social, é aconselhável que se assista a Margin Call sem a necessidade de entender todos os detalhes. A única coisa que é preciso ter em mente é que os grandes investidores farão de tudo para saírem de um barco condenado antes que as outras pessoas percebam a gravidade da situação.


Esse é o teor das discussões que os personagens do filme travam antes que o mercado comece suas atividades. Nessas conversas também se percebe as aspirações e problemas pessoais desses homens que dedicam suas vidas à carreira financeira.

Depois de terminada a sessão de Margin Call, fica a reflexão sobre as consequências das ações desses mega investidores. Se um miserável rouba comida de um mercado e dá um pequeno prejuízo para o dono do comércio, o ladrão vai para a cadeia. Por outro lado, se um banqueiro faz de tudo para salvar seus próprios investimentos (com mentiras, especulações e outras manobras) e causa a perda de muitos empregos, ele recebe ajuda do governo para reerguer seu império. No mínimo, questionável...



Margin Call – O Dia antes do Fim (Margin Call)
Roteiro e Direção: J.C. Chandor
Elenco: Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Penn Badgley, Simon Baker, Mary McDonnell , Demi Moore, Stanley Tucci
Duração: 107 minutos
País: EUA

Nota: 6

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Guerra dos Sexos: Forma e conteúdo

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


A proposta de multiplots temáticos* é criar um panorama amplo sobre um determinado assunto. Guerra dos Sexos (Maschi contro femmine) fala sobre as diferentes aspirações de homens e mulheres quando o assunto é sexo e amor. Em sua empreitada, o filme conta histórias clichês e outras com questões um pouco mais complexas.

Entre as tramas convencionais pode-se usar de exemplo o caso de Diego (Alessandro Preziosi, de O Primeiro que Disse), um garanhão que percebe que precisa mudar seu estilo de vida depois de ser recusado por sua vizinha Chiara (Paola Cortellesi). Já nas história com temas mais profundos, há espaço para discutir diversidade sexual e adultério.

O que a princípio parece um descompasso é que todos esses enredos são contados de forma simples e até inocente. Os diálogos e as piadas são primários e a câmera não faz movimentos ousados.


Esse aparente desequilíbrio entre forma e conteúdo pode ser considerado algo positivo. Com uma estética e narrativa simples, Guerra dos Sexos é um filme acessível ao espectador mais iniciante. Com isso, pessoas que não estão habituadas a esses temas serão expostas a questões que, de outra maneira, provavelmente não fariam parte de suas conversas.

Portanto, o filme dificilmente passará despercebido por quem assisti-lo. Os cinéfilos mais exigentes podem até torcer o nariz diante à simplicidade de Guerra dos Sexos, mas a produção fomentará discussões praticamente inéditas em espectadores mais ligados às convenções estéticas e narrativas.



Guerra dos Sexos (Maschi contro femmine)
Direção: Fausto Brizzi
Roteiro: Fausto Brizzi, Massimiliano Bruno, Valeria Di Napoli, Marco Martani
Elenco: Paola Cortellesi, Fabio De Luigi, Lucia Ocone, Francesco Pannofino, Alessandro Preziosi, Paolo Ruffini, Carla Signoris, Nicolas Vaporidis, Giorgia Wurth, Claudio Bisio, Nancy Brilli, Giuseppe Cederna
Duração: 113 minutos
País: Itália

Nota: 6

* Multiplots temáticos são filmes que usam uma série de tramas paralelas com o mesmo tema.