quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eclipse

Leia a resenha do filme clicando aqui.

Sinopse: Enquanto a cidade vizinha de Seattle está sendo devastada por uma onda de violentos crimes sem solução, Bella continua na mira de Victoria, uma vampira em busca de vingança. Em meio a esse turbilhão, Bella terá de escolher entre a amizade de Jacob Black e o amor de Edward Cullen.

Ficha Técnica
Eclipse
Autor: Stephenie Meyer
Tradutor: Rita Vynagre
Editora: Intrínseca
Páginas: 464
Ano: 2009


A escolha de cada um
  por Bia Nunes de Sousa

(Spoilerômetro: indicado no texto)

Eclipse, ainda inédito no Brasil*, é o terceiro volume da série escrita por Stephenie Meyer, sequência de Crepúsculo e Lua Nova e infinitamente superior aos dois. O primeiro livro foi algo lento, com descrições excessivamente longas e detalhadas. Meyer acelerou um pouco o ritmo em Lua Nova e definitivamente atingiu o auge em Eclipse.

O tema ainda é o mesmo: o amor de Bella e Edward e todas as dificuldades que eles enfrentam por serem tão diferentes um do outro. Nesse terceiro volume, Bella tenta convencer Edward a torná-la imortal, mas o rapaz não tem a mesma certeza de que seria uma boa idéia e vai impor algumas condições para que o desejo de Bella se realize. O tema do amor imortal, do amor que tudo supera e tudo vence, se repete pelas mais de mil páginas somadas de todos os três volumes, o que testa a paciência do leitor. Mesmo assim, é neste Eclipse que os personagens se mostram menos deslumbrados e mais questionadores, mas ainda meio chorões.

Continuam as comparações entre a história de amor de Bella e Edward e romances literários. O escolhido desta vez é O Morro dos Ventos Uivantes, a história de amor de Cathy e Heathcliff, que transcende vida e morte, que supera obstáculos morais e materiais, que é envolta em amargura e vingança. Não é uma história que particularmente admiro.

Durante o livro, episódios do passado são revelados e o enredo se enriquece com detalhes que ajudam o leitor a formar quadros mentais mais nítidos de cada personagem. Ficamos sabendo, por exemplo, como Jasper e Rosalie se tornaram vampiros e também sobre as origens, lendas e a tradição dos habitantes de La Push, reserva florestal vizinha a Forks. Aliás, é impossível não simpatizar muito mais com a missão desses personagens do que com a existência sem propósito do clã de vampiros.

A narrativa se desenrola com muito mais ação, embora Bella ainda insista em fazer digressões. É compreensível que algumas passagens tenham esse cunho intimista, já que o livro é narrado em primeira pessoa. Bella continua tentando se fazer de mártir, tentando atribuir a si toda a culpa pelo que acontece em Forks, o que me irrita profundamente desde Lua Nova e me fez saltar alguns parágrafos durante a leitura. Na mesma esteira, Edward, que antes era bastante racional quanto ao relacionamento, passa também a se culpar pelos riscos que Bella corre. Em alguns momentos, tive vontade de oferecer um chicotinho para que a autoflagelação fosse completa.

Por outro lado, que grata surpresa é a evolução de Jacob Black. Taí um cara bacana. O personagem foi introduzido em Lua Nova como um amigo de família de Bella. Dois ou três anos mais jovem que a protagonista, o primeiro retrato de Jacob foi o de um adolescente bastante brincalhão e feliz com a atenção que recebia de Bella. Neste Eclipse, passou da condição de ombro amigo tapa-buraco para o motivador de um triângulo amoroso sobrenatural.

Jacob é passional, forte, um entusiasta pela vida, bem-humorado e... humano. O livro mostra como a amizade de Jacob por Bella aos poucos se transforma em um amor intenso, real, possível, uma alternativa para Bella. É a primeira vez que ela percebe que ela tem uma escolha, que ela pode continuar vivendo em vez de morrer nos braços de Edward para começar de novo.

Algumas coisas me parecem pouco verossímeis em toda a saga Crepúsculo como, por exemplo, o amor reciprocamente incondicional de Bella e Edward. Talvez se explique pela pouca idade dos dois – quer dizer, tecnicamente, Edward tem 107 anos, mas ela parou nos 17 –, mas justamente por isso é que acho que o tom é exagerado. A verdade é que tendo a acreditar em algo que minha tia-avó dizia: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Acho que falta a Bella e a Edward senso de realidade, falta pé-no-chão, qualidades que abundam em Jacob Black. O rapaz adapta-se impressionantemente rápido e fácil à sua nova condição de lobisomem e consegue enxergar racionalmente todos os aspectos da situação em que o amor que sente por Bella o colocou.

Outro aspecto é a relutância de Edward em fazer sexo com a namorada. Tudo bem, o rapaz nasceu e foi criado no começo do século 20, época em que sexo deveria ser apenas marital e para fins reprodutivos. No entanto, cem anos depois, é de se esperar que o pensamento dele tenha se ajustado à contemporaneidade. A presença marcante desse tipo de obrigação moral, no entanto, pode tem origem nos valores religiosos da autora, que é mórmon.

A terça parte final, porém, compensa todos os senãos apontados anteriormente. O ritmo da narrativa se intensifica e o embate entre os vampiros da família Cullen, o grupo de lobisomens de que Jacob faz parte e o exército de criminosos que estava apavorando Seattle é o ponto alto do livro e deixa os leitores ansiando pelo desfecho que só virá em Amanhecer, o último livro da série.

*Atualização: a edição brasileira de Eclipse foi lançada no dia 16 de janeiro de 2009.


Dudeshop:
• Livro Eclipse, de Stephenie Meyer (Ed. Intrínseca)
• Coleção de livros Crepúsculo em 4 volumes, de Stephenie Meyer (Ed. Intrínseca)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Horas de Verão





Sinopse: Três irmãos se veem diante da decisão sobre o destino que devem dar aos bens da família, herdados da mãe. Adultos e independentes, cada um encara de forma diversa a situação, que para eles implica principalmente na frágil ligação com as memórias da infância.


Ficha Técnica
Horas de Verão (L' Heure D'Été)
Roteiro e Direção: Olivier Assayas
Elenco: Juliette Binoche, Charles Berling, Jérémie Renier, Edith Scob
Duração: 103 min


 por Thaíse Costa

(Spoilerômetro: )

Ao começar a ver Horas de Verão (L' Heure D'Été), o expectador tem a impressão de que algo interessante está por vir mas, ao longo da filme, ele é apenas levado por várias cenas que compõem um enredo fraco e desinteressante. Pequenos detalhes da narrativa, que poderiam ser desenvolvidos e apresentar um trabalho conciso, são apenas "pincelados". Falando em pinceladas, talvez seja essa a idéia da produção, já que no plano visual a fita é estonteante: é como um quadro que se movimenta, recortes de um acontecimento familiar.

Ainda que a ideia seja "bonita", a falta de foco do filme é muito cansativa – 90 minutos transformam-se em 180 facilmente. A beleza visual não é capaz de salvar a situação, tampouco a trilha musical, que também não deixa a desejar. Um outro detalhe que chama a atenção é a presença da atriz Juliette Binoche (Invasão de Domicílio), mas o caro leitor não deve se enganar: o papel por ela representado é bastante simples e não apresenta nada de tão significativo que justifique sua presença.

Mas, mesmo com tantos tropeços na fita, algumas atuações merecem destaque, como a de Edith Scob (A Questão Humana) como a mãe Hélène e Isabelle Sadoyan como a devota doméstica Éloïse. Há também na fita algumas (poucas) cenas tocantes e que mostram uma pitadinha do que o filme deveria ser no todo, mas que fica só na promessa.

Para aqueles que ainda possam ter alguma dúvida, e que talvez pensem que essa resenha é contra filmes mais "introspectivos", sugiro que se sentem e esperem a vontade passar. Ainda assim, se ela persistir, basta ir a uma das sessões da Mostra e comprovar a total falta de objetividade e subjetividade, no que se refere a enredo, em Horas de Verão. Mas (ainda bem!) o caro leitor tem opções melhores de filmes.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Silêncio de Lorna





Sinopse: Lorna é uma imigrante albanesa que deseja conquistar a cidadania belga. Para isso, ela casou-se com um drogado e o plano é o fazer ter uma overdose.



Ficha Técnica
O Silêncio de Lorna (Le Silence de Lorna)
Roteiro e Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Elenco: Arta Dobroshi, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Alban Ukaj
Duração: 105 minutos


Frio europeu
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O cinema de arte contemporâneo traz uma tendência a contar histórias vazias, beirando a inutilidade. Aparentemente a moda vale a pena, já que O Silêncio de Lorna (Le Silence de Lorna) foi laureado em Cannes – um dos festivais mais respeitados – por seu roteiro. Com o argumento, o filme poderia discutir a questão dos imigrantes, o complexo de culpa e muitas outras questões densas e emocionantes. Pelo contrário, o enredo não gera discussões depois da projeção.

O andamento é bem lento, com os diretores abusando de tomadas longas. Algumas cenas chegam a ser totalmente desnecessárias e a duração poderia facilmente ser abreviada em, pelo menos, 15 minutos. Se bem que se faz necessária uma reflexão: qual cena pode ser considerada desnecessária em uma produção que não tem propostas de discussões?

A atuação de Arta Dobroshi é de longe o ponto técnico que merece ser destacado positivamente. No papel da protagonista a atriz consegue cumprir o maior desafio que sua profissão pode propor: fazer a bendita “cara de nada”. Ela tem de processar todas as emoções que Lorna está vivendo e só transparecer o mínimo necessário para o entendimento do que está se passando em seu coração.

Para quem está apreciando a nova onda do cinema europeu, O Silêncio de Lorna é um prato cheio. Por outro lado, quem está procurando por fortes emoções achará a fita uma chateação.