quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Onde os Fracos não Têm Vez



Sinopse: Llewelyn encontra uma mala cheia de dinheiro junto a traficantes de drogas mortos no deserto. Para ficar com a fortuna, ele deve fugir de um misterioso e perturbado assassino.


Ficha Técnica
Onde os Fracos não Têm Vez (No Country for Old Men)
Roteiro e Direção: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin
Duração: 122 minutos


Expectativas infundadas
 por Edu Fernandes

(Spoilierômetro: )

Há grande expectativa em torno de Onde os Fracos não Têm Vez (No Country for Old Men) devido ao enorme número de premiações concedidas ao filme, mas todo o frisson não está à altura do resultado final. O enredo poderia render um agitado thriller na mão de um diretor mais comercial, mas soa estranho sob a tutela dos respeitados irmãos Cohen (Fargo).

Com certeza há méritos para o título, como a atuação memorável de Javier Bardem (Sombras de Goya). O ator espanhol está usando um penteado bizarro – como ele próprio pôde constatar –, mas que combina com seu personagem. Ele testa a todo o momento o limite do caricato e explora todo o espaço que o matador psicótico pode lhe oferecer.

O ritmo do filme é bem lento, chegando a ser tedioso em várias partes e a falta de trilha musical só acentua o andamento arrastado da ação. Os diretores merecem congratulações por conseguirem criar uma atmosfera bem tensa e fazer o coração do espectador bater mais forte em tal cenário.

Os diálogos são bem estranhos, quase como uma tentativa fracassada de copiar Tarantino. Há furos no roteiro, já que há várias oportunidades onde o caçador sabe magicamente onde está sua caça, durante a perseguição que ocupa a maior parte do enredo. Se fosse adotado o viés comercial, as falhas seriam perdoadas em nome da ação; mas como se trata de um "filme sério", não há espaço para concessões.

Igualmente estranho é o desfecho. A impressão que se tem é que o filme acaba uns 20 minutos antes de realmente aparecerem os créditos finais. O roteiro quis ser bem fiel ao livro que o originou, com diálogos e cenas remontadas iguais às escritas no romance, palavra por palavra. O resultado é uma tortura injustificada que só frustra ainda mais a plateia.

Meu Monstro de Estimação





Sinopse: Durante o período da Segunda Guerra Mundial, um solitário garoto encontra um ovo que guarda uma criatura escocesa lendária.



Ficha Técnica
Meu Monstro de Estimação (The Water Horse)
Direção: Jay Russel
Roteiro: Robert Nelson Jacobs
Elenco: Bruce Allpress, Eddie Campbell, Ben Chaplin, Alex Etel
Duração: 111 minutos


 por Guilherme Kroll

(Spoilerômetro: )

O infantil Meu Monstro de Estimação (The Water Horse) pode ser definido como uma boa opção para o clássico programa televisivo "Sessão da Tarde".

O filme, narrado em off por um velhinho escocês para dois turistas visitando o lago Loch Ness, conta a história de um menino que conviveu com a solidão durante o período da Segunda Guerra Mundial após perder o pai. Mas, em companhia de uma criatura lendária celta, o Cavalo d’Água, aprende a sorrir novamente. Na verdade, uma versão para a famosa lenda do Monstro do Loch Ness.

O filme é uma fábula sobre amizade, responsabilidade e lições típicas de filmes infantis. É também uma história de um garoto em busca de um pai e de reatar seu relacionamento com a mãe. Além de ser um filme de fantasia.

A direção é tranqüila, não compromete nem se destaca, do tipo feijão-com-arroz. O mesmo pode se dizer das atuações dos atores mirins. Já os adultos, de um segundo escalão de atores, definitivamente não chamam atenção.

Entretanto, é inevitável notar que o filme é feito totalmente na onda de um ótimo filme de fantasia que fez muito sucesso em 2007, O Labirinto do Fauno. Como todos sabem, é de praxe em Hollywood procurar histórias de sucesso para adaptar ou, quando não é possível fazer isso, copiar descaradamente. Essa segunda opção é o caso de Meu Monstro de Estimação em relação a O Labirinto do Fauno.

As semelhanças são muitas. O período da história é semelhante (Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial). Tanto Ofélia em O Labirinto do Fauno quanto Angus em Meu Monstro de Estimação são crianças solitárias, órfãos dos respectivos pais, e cujas criaturas mágicas são sua válvula de escape. Em ambos os filmes, tropas de comandantes autoritários estão aquarteladas na casa das crianças. Para terminar, o espanhol do filme mexicano foi substituído por um sotaque escocês no americano.

Outro detalhe, o Loch Ness é um lago de águas escuras e sem saída para o mar. No filme, o lago é retratado com águas límpidas e há saída para o mar.

Assim, Meu Monstro de Estimação é uma opção agradável para se ir com crianças. Mas apenas isso.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Signo da Cidade



Sinopse: Teca trabalha em uma rádio dando conselhos para os ouvintes e joga tarô em casa. Seu pai, que a abandonou na infância, está no hospital. Ela quer ajudá-lo, apesar das opiniões das pessoas a sua volta.



Ficha Técnica
O Signo da Cidade
Direção: Carlos Alberto Riccelli
Roteiro: Bruna Lombardi
Elenco: Bruna Lombardi, Malvino Salvador , Juca de Oliveira, Graziela Moretto, Luis Miranda
Duração: 95 minutos


Realidades e pontos de vista
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O tamanho da cidade de São Paulo é muito bem retratado em O Signo da Cidade. Com diversas tramas correndo paralelamente, percebe-se as diferentes realidades da metrópole. Todos os conflitos são apresentados, desenvolvidos e concluídos na curta duração do filme – um mérito do roteiro da atriz Bruna Lombardi (O Príncipe). Ela também dá vida à Teca, um personagem muito bem construído.

O público brasileiro já está acostumado a acompanhar nas telenovelas vários personagens co-ligados, com cada um vivendo uma jornada própria. Aproveitando-se disso, o filme apresenta vários dramas igualmente interessantes entre si sem criar confusão.

Vários temas são abordando e é impossível, especialmente para os habitantes de grandes cidades, não reconhecer várias das situações apresentadas. Desde homossexualismo e consumo de drogas, passando por infidelidade e desonestidade, o filme alcança até assuntos como aborto, depressão e esoterismo.

As atuações são outro ponto positivo, com destaques para Sidney Santiago (Os 12 Trabalhos), como a travesti Jose; e Juca de Oliveira, como o enfermo pai de Teca. A direção de Carlos Alberto Riccelli é consistente: não força estilo e não perde o ritmo.

O Signo da Cidade não é o melhor filme já produzido em terras brasileiras, mas com certeza é um ganho para a cinematografia nacional.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Garoto Cósmico



Sinopse: Cósmico, Luna e Maninho são crianças de um mundo futurista, onde tudo é meticulosamente programado. Uma noite, para conseguir uma melhor pontuação na escola, eles fogem dos dormitórios e acabam descobrindo o Circo Giramundos, bem diferente do planeta onde vivem.


Ficha Técnica
Garoto Cósmico
Direção: Alê Abreu
Roteiro: Alê Abreu, Sabina Anzuategui, Daniel Chaia, Gustavo Kurlat
Elenco: Aleph Naldi, Bianca Rayen, Mateus Duarte, Raul Cortez, Wellington Nogueira
Duração: 75 minutos


Um mundo musicalmente colorido
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A característica mais marcante da animação nacional Garoto Cósmico são suas cores fortes, o que não é de se surpreender, já que o universo circense é um dos temas principais da fita. Por seu visual lúdico e até ousado, as editoras infantis têm a chance de lançar um livro muito interessante para os pequenos.

Os créditos iniciais são criativos e empolgantes. Através de um trem (daqueles que trazem o circo na cidade) dirigido pelo carismático Giramundos, a equipe técnica é anunciada com adjetivos bacanas – a acrobática produção, os cintilantes efeitos sonoros, etc. Tudo isso ao som da ótima música-tema do filme. Assim o circo se instala e prepara as crianças para a aventura musical que está começando.

Além do circo, outras temáticas fazem-se presentes, como a importância de não se apegar tanto aos planejamentos e ter liberdade sobre a vida. Para tratar dos assuntos, o filme tem ótimas referências: desde a literatura de Admirável Mundo Novo até o videoclipe de "Another Bick in the Wall" (Pink Floyd).

Não se pode deixar de lado a parte musical de Garoto Cósmico. As músicas são muito bem produzidas e cheias da sonoridade brasileira, em um tempo em que a criançada não tem mais ídolos do calibre que foram Trem da Alegria e Balão Mágico.

As canções são interpretadas por nomes importantes, como Arnaldo Antunes e Vanessa da Mata. O cantor e compositor Belchior faz uma ótima participação, com direito a uma auto-piada. Já é possível prever que o DVD será um sucesso de vendas.

Mesmo para quem não gosta de filmes infantis ou musicais, a fita é um marco: trata-se do último trabalho de Raul Cortez. Uma forma muito bonita de encerrar sua bela carreira.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

P.S. Eu Te Amo





Sinopse: Holly perde seu marido Gerry, um jovem músico irlandês vitimado por um tumor no cérebro. Para ajudá-la a recuperar-se de sua morte, ele escreveu cartas para ela que serão entregues postumamente.


Ficha Técnica 
P.S. Eu Te Amo (P.S. I Love You)
Direção:
Richard LaGravenese
Roteiro:
Richard LaGravenese, Steven Rogers
Elenco:
Hilary Swank, Gerard Butler, Lisa Kudrow, Gina Gershon, Kathy Bates, Harry Connick Jr.
Duração:
126 minutos


Amor além da vida
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O personagem vivido por Gerard Butler (300) tem apenas uma cena para conquistar os corações da platéia. Depois disso ele morre, e P.S. Eu Te Amo (P.S. I Love You) iria por água abaixo se sua missão não fosse tão bem realizada. O ator escocês ainda aparece em alguns momentos, através de memórias de sua esposa, ou aparições que felizmente não são explicadas – podem ser apenas produto da saudade da viúva, uma experiência mediúnica ou até alucinações.

Outro fator importante para a composição da emotividade no filme é a química perfeita entre Butler e Hillary Shwank (A Colheita do Mal). A atriz que está acostumada a interpretar personagens maltratados pela vida convence em um romance mais tradicional. É por ela que toda a emoção que atingirá os público é passada e as lágrimas nos olhos de quem assistir ao filme são prova do sucesso da empreitada.

Mesmo sendo um filme de menina – pelo enredo e a presença de galãs, como o próprio Butler e Jeffrey Dean Morgan (Grey’s Anatomy) –, não há motivo para que os homens também apreciem a fita. Há momentos de humor com os personagens vividos por Harry Connick Jr. (Will & Grace) e Lisa Kudrow, para quem sentia falta de Phoebe, do seriado Friends; além de uma ótima cena entre os protagonistas em um videokê.

Logo no começo do filme pode-se pensar que o desfecho de P.S. Eu Te Amo será totalmente previsível, como é comum no gênero. Felizmente para todos o final não é exatamente o que se espera, mas sem desagradar aos corações femininos de todas as idades.

Coisas que Perdemos pelo Caminho




Sinopse: Audrey acaba de ficar viúva e convida Jerry, o amigo problemático de seu finado marido, para viver com ela e seus filhos. Enquanto Jerry a ajuda a passar pelo luto, Audrey o ajuda a vencer seu vício pela heroína.


Ficha Técnica
Coisas que Perdemos pelo Caminho (Things We Lost in the Fire)
Direção: Susanne Bier
Roteiro: Allan Loeb
Elenco: Halle Berry, Benicio Del Toro, David Duchovny, Alexis Llewellyn, Micah Berry, John Carroll Lynch
Duração: 119 minutos


"Aceite o bom"
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Em Depois do Casamento, a cineasta dinamarquesa Susanne Bier consegue criar personagens nórdicos com grande carga emotiva. Seguindo com o tema familiar, Coisas que Perdemos pelo Caminho (Things We Lost in the Fire) não poderia ser diferente: quem gosta de exageros emocionais ficará satisfeito com as cenas fortes oferecidas na fita.

Bier explora enquadramentos diferenciados e sofre com os dois gumes. Se, por um lado, imagens interessantes são obtidas, há planos em que ela erra a mão e a câmera fica estranha. Essa pequena falha não compromete a beleza do filme como um todo, além de valer a pena como tentativa.

A atuação de Benicio Del Toro (Sin City) é impressionante. Ele convence como o drogado Jerry, testando o limite em que o público simpatize com seu drama sem acabar odiando suas fraquezas. Nas cenas envolvendo o uso de drogas ele transmite seus sofrimentos, enquanto nos momentos de intimidade ele mostra seus sentimentos mais belos.

No começo do filme o enredo é totalmente não-linear. Várias cenas acontecem com o espectador já sabendo do desfecho, revelado anteriormente, e o sucesso está em conseguir manter a emoção sob tal circunstância. O problema é que depois de passada a primeira fase do roteiro, o restante se segue em ordem direta. Há vários momentos em que flashbacks poderiam ser inseridos para manter a fórmula que funciona tão bem no início.

O final de Coisas que Perdemos pelo Caminho não é previsível, mas nem por isso a emotividade se perde. O drama se mantém sem decair para a pieguice e depois da sessão é possível que bata uma enorme vontade de abraçar as pessoas que amamos.