segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Silêncio na Neve: Mais do que história

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Em muitas ocasiões, professores de História indicam a seus alunos alguns filmes. A ideia é que a ajuda visual fixe os conhecimentos na mente dos pupilos. Silêncio na Neve (Silencio en la Nieve) não é um exemplo de recomendação de professor, apesar de seu enredo se passar durante a Segunda Guerra Mundial.

Não há atores na pele de figuras históricas ou a dramatização de batalhas decisivas. O filme segue a investigação de Arturo (Juan Diego Botto, de Roma, Um Nome de Mulher), um ex-policial que virou soldado no conflito. Ele deve revelar quem assassinou outro soldado espanhol. Na pele do cadáver foi entalhado “Deus está olhando” no peito.


A investigação é a mola propulsora do filme, mas há também o objetivo de mostrar os bastidores da guerra, na visão dos combatentes anônimos. Por essa razão, há algumas cenas desnecessárias, principalmente às que narram o caso amoroso que Arturo tem com uma russa, moradora da região em que os espanhóis e alemães estão acampados.

Por outro lado, o roteiro mostra inteligência ao abordar essas questões secundárias de forma leve no começo de Silêncio na Neve. Conforme a trama principal se desenvolve, é dado mais espaço para as cenas desnecessárias aparecerem. Assim, garante-se que o espectador estará atento enquanto percebe que uma guerra é mais do que apenas o combate.

No entanto, a missão do longa seria totalmente falha se não houvesse interesse pela investigação criminal. Felizmente cada nova pista para solucionar o caso é bem colocada no roteiro para manter o nível de curiosidade calibrado. Dessa forma, Silêncio na Neve entretém ao mesmo tempo em que seu discurso é entregue.

Silêncio na Neve (Silencio en la Nieve)
Direção: Gerardo Herrero
Roteiro: Nicolás Saad
Elenco: Juan Diego Botto, Carmelo Gómez, Víctor Clavijo, Alex Spijksma, Andrés Gertrúdix, Francesc Orella, Adolfo Fernández, Javier Mejía
Duração: 114 minutos
País: Espanha, Lituânia

Nota: 6

Silêncio na Neve foi visto na Mostra 2012.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

As Vantagens de Ser Invisível: Potencial triplo

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Além das qualidades de roteiro e trilha de As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower), destaca-se o trio de atores principais. Todos são jovens talentos e espera-se que estejam no time A de Hollywood nos próximos anos.

Logan Lerman

O rapaz interpreta o protagonista, um jovem que acaba de chegar a uma nova escola. Charlie está no primeiro ano do ensino médio e todo o ambiente lhe é estranho.

:Logan ficou famoso como o personagem-título de Percy Jackson e o Ladrão de Raios, depois de pequenos papéis em grandes filmes e grandes papéis em pequenos filmes. Para não ficar marcado eternamente pelo semideus, o rapaz segui os passos de Harrison Ford depois de Han Solo: entrou em outro projeto de grande porte. Com Percy e D'Artagnan de Os Três Mosqueteiros no currículo, ele garante que não será ator de um papel só.

No entanto, nenhum dos dois títulos emplacou para valer. Aí Logan toma a decisão de assumir o protagonista deste filme independente. Charlie passa por problemas mentais, o que o torna um desafio de atuação.

Emma Watson

A franco-britânica muda de sotaque para viver Sam, uma veterana que decide proteger Charlie das ameaças que um colégio pode apresentar a um rapaz tímido. Foi com sua interpretação em Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005), em que Hermione sofre uma desilusão amorosa, que a atriz chamou a atenção do escritor-roteirista-diretor Stephen Chbosky (Rent).

Depois do turbilhão Harry Potter, Emma segue o mesmo caminho que agora é traçado por Logan: papéis em filmes menores, para provar o talento. Depois de uma coadjuvante em Sete Dias com Marilyn, ela encara a mocinha por quem o herói se apaixona. É claro que ela prefere o carinho de um mal-caráter.

Ezra Miller

O rapaz surpreendeu o mundo como o sinistro adolescente violento de Precisamos Falar sobre o Kevin, um papel que poderia marcar um ator mal agenciado. Para afastar o fantasma do passado, Ezra escolhe um personagem que é o oposto do anterior.

Patrick é simpático, falador e carismático. Ele é “meio-irmão” de Sam – na verdade do pai dele se casou com a mãe dela e todos vivem na mesma casa. Na escola, todos sabem de sua homossexualidade, mas ele precisa esconder sua vida amorosa, já que seu namorado teme sair do armário.

É com essa trinca de bons personagens que As Vantagens de Ser Invisível consegue criar uma numerosa série de cenas sensíveis. Tudo isso sem ficar piegas.


As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower)
Roteiro e Direção: Stephen Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Johnny Simmons, Paul Rudd, Melanie Lynskey, Dylan McDermott, Kate Walsh
Duração: 103 minutos
País: EUA

Nota: 8

Festival do Rio 2012

Quando? de 27 de setembro a 11 de outubro
Onde? Rio de Janeiro (RJ)

Lista de títulos vencedores* - da Première Brasil


Filmes avaliados

Algumas Horas de Primavera (Quelques heures de printemps), de Stéphane Brizé (108 min., França, 2012)

Aluga-se*, de Marcela Lordy (15 min., Brasil, 2012)

Argo, de Ben Affleck (120 min., EUA, 2012)

Augustas*, de Francisco César Filho (83 min., Brasil, 2012)

Barbeiros, de Luiz Ferraz e Guilherme Aguilar (15 min., Brasil, 2012)

A Busca*, de Luciano Moura (96 min., Brasil, 2012)

A Coleção Invisível*, de Bernard Attal (89 min., Brasil, 2012)

O Colecionador*, de Günter Sarfert (15 min., Brasil, 2012)

Colegas, de Marcelo Galvão (103 min., Brasil, 2012)

A Dama do Estácio*, de Eduardo Ades (15 min., Brasil, 2012)

Dino Cazzola - Uma Filmografia de Brasília, de Andrea Prates e Cleisson Vidal (71 min., Brasil, 2012)

Disparos*, de Juliana Reis (82 min., Brasil, 2012)

Dores de Amores*, de Raphael Vieira (77 min., Brasil, 2012)

Éden*, de Bruno Safadi (73 min., Brasil, 2012)

Entre Vales*, de Philippe Barcinski (80 min., Brasil/Uruguai/Alemanha, 2012)

Eva no Verão - Um Filme Tremido de Amor*, de Dodô Azevedo (15 min., Brasil, 2012)

A Floresta de Jonathas*, de Sérgio Andrade (98 min., Brasil, 2012)

Funeral à Cigana*, de Fernando Honesko (15 min., Brasil, 2012)

Gonzaga - De Pai para Filho*, de Breno Silveira (120 min., Brasil, 2012)

O Gorila*, de José Eduardo Belmonte (90 min., Brasil, 2012)

Uma História de Amor e Fúria*, de Luiz Bolognesi (75 min., Brasil, 2012)

Janaína*, de Anna Azevedo (5 min., Brasil, 2012)

Maçã*, de Pedro Paulo de Andrade (11 min., Brasil, 2011)

Magic Mike, de Steven Soderbergh (110 min., EUA, 2012)

Meu Pé de Laranja Lima*, de Marcos Bernstein (97 min., Brasil, 2012)

Open Road*, de Márcio Garcia (85 min., EUA/Brasil, 2011)

Palhaços não Choram*, de Luisa Mello (15 min., Brasil, 2011)

Penas*, de Paulinho Caruso (18 min., Brasil, 2012)

Primeiro Dia de um Ano Qualquer*, de Domingos de Oliveira (85 min., Brasil, 2012)

Realejo*, de Marcus Vinicius Vasconcelos (13 min., Brasil, 2011)

Singelos Envelopes*, de Bruno Vaks (14 min., Brasil, 2012)

O Som ao Redor*, de Kleber Mendonça Filho (131 min., Brasil, 2012)

Super Nada*, de Rubens Rewald (94 min., Brasil, 2012)

Uma Vida Inteira*, de Bel Ribeiro e Ricardo Santini (15 min., Brasil, 2012)

* Textos publicados fora do Cine Dude (nos sites SaraivaConteúdo e BRCine).

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Algumas Horas de Primavera*: A arte de se conter

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Algumas histórias trazem em si emotividade tamanha, que para tocar o coração do ouvinte não é necessária muita ajuda. Quando esses enredos se desenvolvem no escurinho do cinema o cuidado que se deve tomar é de não extrapolar e passar do ponto com trilha lacrimosa ou flashbaks redundantes. Algumas Horas de Primavera (Quelques heures de printemps) não cai em nenhuma dessas armadilhas.

Alain (Vincent Lindon, de A Criança da Meia Noite) acabou de sair da prisão e vai morar com sua mãe idosa (Hélène Vincent, de O Sol sobre as Nuvens). A convivência é difícil e brigas homéricas acontecem com muita frequência. O elemento emotivo aparece quando é revelado que Yvette sofre de um câncer agressivo.


Com já foi feito pelo britânico Quando Você Viu Seu Pai Pela Última Vez? (2007) e pelo italiano A Primeira Coisa Bela, a mensagem da fita francesa é de que família só se dá bem quando há aceitação das falhas de caráter de seus membros. Nos três filmes, essa consciência se dá no leito de morte. Assim, tanto Alain quanto Yvette tomam atitudes que seriam consideradas dramaticamente imperdoáveis fora do discurso de aceitação.

O que difere Algumas Horas de Primavera dos outros exemplos é que o filme discute o delicado assunto da eutanásia. Esse é mais um aspecto complicador, que poderia render em apelação total mais para o desfecho.

A saída encontrada foi escolher muito bem quando colocar trilha musical. Outro recurso de contenção emotiva foi a decupagem (posições de câmera e número de cortes). Com tomadas longas com uma câmera que se resume a acompanhar a ação sem afetações, o trabalho de emocionar fica todo para a força do enredo e para o talento dos atores. Com essa receita, tem-se um drama de primeira linha.


Algumas Horas de Primavera (Quelques heures de printemps)
Direção: Stéphane Brizé
Roteiro: Stéphane Brizé, Florence Vignon
Elenco: Vincent Lindon, Hélène Vincent, Emmanuelle Seigner, Olivier Perrier
Duração: 108 minutos
País: França

Nota: 8

* Algumas Horas de Primavera foi visto no Festival do Rio 2012. Quando foi lançado nos cinemas, recebeu o título de Uma Primavera com Minha Mãe.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Magic Mike X O Lutador: Meu palco, minha vida

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


A vida dos performers causa facínio e, por isso, é tema de filmes. Em Magic Mike, o cotidiano de strippers masculinos é usado para contar um drama pessoal ao mesmo tempo em que se garante o interesse do público pelo corpo dos galãs.

A autenticidade é obtida porque o roteiro é inspirado em experiências de Channing Tatum (À Toda Prova). Antes de ser astro de cinema, o ator trabalhou como stripper. O que se transmite é que, apesar do palco ser apenas um ganha-pão para Mike, é ali que as coisas dão mais certo para ele. Sua vida pessoal é mais complicada, com sonhos a serem perseguidos e frustrações amorosas.


A rotina de apresentações de Mike e seus colegas de trabalho é mostrada no filme por numerosas montagens musicais, com uso da linguagem de videoclipe. Essa opção cai no gosto do público-alvo, mas alonga demais o tempo para quem estiver interessado nos dramas pessoais.

Existe esse risco porque o personagem-título é simpático, graças a relação que ele mantém com Adam (Alex Pettyfer, de O Preço do Amanhã), jovem que Mike adota como pupilo. A partir do rapaz, ele conhece Brooke (Cody Horn, de Rescue Me), irmã de Adam. Ela representa uma nova opção de vida, que o deixa balançado.


Sem montagens musicais, em O Lutador (The Wrestler) as batalhas encenadas pelo protagonista são mostradas pelos bastidores. Vemos como Randy (Mickey Rourke, de Os Mercenários) se relaciona com os adversários e como ele trata dos ferimentos. Essa opção aumenta a conexão com o público, que fica mais íntimo do personagem.

O filme também mostra de maneira mais intensa a diferença da vida de Randy nos ringues, onde é um ídolo, e em sua vida pessoal, onde nada dá certo. Assim, o amor por uma profissão pouco prestigiada gera momentos de emotividade.

Magic Mike
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Reid Carolin
Elenco: Matthew McConaughey, Channing Tatum, Olivia Munn, Alex Pettyfer, James Martin Kelly, Cody Horn
Duração: 110 minutos
País: EUA

Nota: 5

Magic Mike foi visto no Festival do Rio 2012.

O Lutador (The Wrestler)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Robert D. Siegel
Elenco: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Mark Margolis, Todd Barry
Duração: 109 minutos
País: EUA, França

Nota: 9

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Argo: Os gêneros de Affleck

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Muitos cineastas constroem suas carreiras em apenas um gênero cinematográfico. Há outros que são mais versáteis e conseguem abraçar produções de diferentes categorias. Com Argo, Ben Affleck mostra se encaixar melhor no segundo tipo.

O filme conta a história real de um grupo de diplomatas estadunidenses que são retirados do Irã no final dos anos 1970. O inusitado é que Hollywood ajudou a CIA na missão. O grupo era procurado por rebeldes armados e foi usada a farsa de que eles eram uma equipe de produção de cinema à procura de locações no país.

Em Atração Perigosa, seu trabalho anterior como diretor, Ben Affleck entregou um belo filme policial, com todas as características inerentes ao gênero. Agora ele faz o mesmo com Argo, um thriller dinâmico e bem humorado. A premissa absurda casa muito bem com a comicidade da fita.


A caracterização de época nos personagens está incrível, por causa do belo trabalho de figurino, cabeleireiro e maquiagem. A direção de arte colabora para recriar cenas históricas no filme.

A produção reconhece os feitos dassas áreas durante os créditos finais. Nesse momento, imagens reais da época são comparadas com quadros de Argo. As semelhanças mostram o apuro técnico do filme.


Argo
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Bryan Cranston, Ben Affleck, Taylor Schilling, Kyle Chandler, John Goodman, Zeljko Ivanek, Alan Arkin, Chris Messina, Clea DuVall, Adrienne Barbeau, Tate Donovan, Titus Welliver, Victor Garber, Bob Gunton, Rory Cochrane
Duração: 120 minutos
País: EUA

Nota: 8

Argo foi visto no Festival do Rio 2012