sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Baby Love





Sinopse: Manu é um pediatra que gostaria de adotar uma criança, mas as leis da França impedem que um homossexual seja pai. Ele tentará várias formas de burlar as regras e conseguir realizar seu sonho.



Ficha Técnica
Baby Love (Comme les autres)
Roteiro e Direção: Vincent Garenq
Elenco: Lambert Wilson, Pilar López de Ayala, Pascal Elbé, Anne Brochet
Duração: 90 minutos


Leveza para assuntos sérios
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Com o passar do tempo e o avanço da humanidade, várias produções cinematográficas discutem os direitos que os homossexuais merecem ter em uma sociedade verdadeiramente igualitária. Baby Love (Comme les autres) chega para discutir a paternidade de gays e seu diferencial positivo está na leveza. Através de uma comédia a adoção de crianças é apresentada sem sobressaltos, em vez de apelar com cenas dramáticas fortes ou incitar a indignação do público.

Apesar de ser classificada como uma comédia, a carga de drama do roteiro é grande. Não é para se esperar a mesma experiência de fitas estreladas por ícones cômicos, mas uma emoção sincera. Não é à toa que o filme foi inspirado por experiências de vida reais que aconteceram com um amigo do diretor e roteirista Vincent Garenq. O realismo fará com que identificações com pessoas e situações aproximem a ficção da vida real – quem não conhece uma mulher que praticamente só tem amigos gays?

As partes mais engraçadas são aquelas em que Manu tenta de todas as maneiras possíveis e imagináveis – com ênfase em todas – conseguir ter seu bebê. Com uma edição clássica, montagens sintetizam a determinação do pediatra.

Por razões óbvias, Baby Love é altamente recomendável para pessoas que param de fazer qualquer atividade porque um bebê está gargalhando por perto (presente!). O amor que o protagonista nutre pelas crianças é muito bem expresso pelo ator Lambert Wilson (Missão Babilônia) e fará aflorar emoções bonitas na plateia.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Musicagen






Sinopse: Documentário que investiga a música e suas vertentes, da criação à distribuição, através do confronto de opiniões de músicos, empresários, acadêmicos, artistas eruditos e populares.


Ficha Técnica
Musicagen
Roteiro e Direção: Edu Felistoque, Nereu Cerdeira
Elenco: Fernando Sardo, André Abujamra, Bira Azevedo
Duração: 76 minutos


Viagens musicais
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Os realizadores de Musicagen não se decidiram se o título do documentário é uma oxítona ou uma paroxítona. A indecisão faz sentido depois que se assiste ao filme. Se for uma oxítona, a ênfase recai no “gen” e uma das questões abordadas é a origem da música, fugindo dos instrumentos tradicionais – no melhor estilo Stump. Por outro lado, se o título for uma paroxítona, Musicagen soa muito mais como uma brincadeira musical – uma forma muito apropriada para resumir a essência desse documentário.

A primeira seqüência é uma associação de notas musicais a cores. Eis a primeira de muitas viagens que o espectador verá. Esse papo artístico permeia toda a duração do filme e é um fator decisivo para sua aceitação. Os músicos e demais artistas não terão problemas na imersão musical, mas quem tiver os pés mais fixos ao solo se sentirá perdido e irritado.

Essas viagens dão espaço para digressões, tanto nos depoimentos quanto na linguagem cinematográfica. A falta de foco pode ser outro elemento que torna Musicagen uma produção emética.

Uma das discussões do filme que mereceria um enfoque maior é o papel social que a musica pode desempenhar. Se houvesse uma maior insistência nessa questão – no exemplo de Favela Rising –, o fita teria um apelo muito mais amplo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Casa da Mãe Joana




Sinopse: Quatro malandros que sobrevivem à custa de pequenos golpes conseguem arrancar 100 mil reais das mãos de um joalheiro. Na verdade, a vítima é um traficante violento que tem uma joalheria para lavar o dinheiro. Quando um dos cafajestes trai os colegas e foge com o dinheiro, os outros terão de arrumar formas de reaver o dinheiro.


Ficha Técnica
Casa da Mãe Joana
Direção: Hugo Carvana
Roteiro: Paulo Halm
Elenco: Paulo Betti, José Wilker, Pedro Cardoso, Antonio Pedro
Duração: 95 minutos


Ação entre amigos
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O título dessa crítica faz referências à trama, mas também serve para classificar a forma de realização do filme. Casa da Mãe Joana é mais um triste exemplo de como algumas produções são tocadas de forma errada no cinema nacional. A “ação entre amigos” funciona assim: um cara que tem nome no meio artístico – nesse caso Hugo Carvana – resolve que vai fazer um filme e nem cogita a ideia de teste de elenco. Para a escolha dos atores, ele chama seus amigos, que também são nomes respeitáveis, para o elenco. Como o primeiro sujeito é uma pessoa bacana, ninguém tem coragem de recusar-se a participar do projeto furado.

Por causa da tal ação entre amigos, em alguns momentos da fita parece que se está vendo o humor de peça de teatro ou de vídeo do Ensino Médio – aqueles projetos de final de ano de Educação Artística ou Redação. O que era para ser engraçado chega a ser triste, principalmente quando se percebe que a intimidade entre os atores tentando consertar a fraqueza das piadas, apenas para deixar transparecer os deslizes do roteiro.

Hugo Carvana já deu provas de seu talento para comédias em Se Segura, Malandro (1978), mas atualmente sua tentativa de reviver os grandes momentos da década de 70 mostra um humor ultrapassado. A ideia original, com o mesmo elenco, poderia render uma ótima comédia se o roteiro sofresse um novo tratamento, aos cuidados de alguns dos inúmeros bons humoristas que temos em nosso país.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mamma Mia! – O Filme


Sinopse: A jovem Sophie está noiva e quer descobrir quem é seu pai. Para isso, convida para a festa de casamento os três homens com quem sua mãe, Donna, pode tê-la concebido. Sam, Harry Bright e Bill Anderson são os homens que Donna jamais conseguiu esquecer e que, inesperadamente, voltam à sua vida. O filme é embalado por canções do grupo Abba.


Ficha Técnica
Mamma Mia! – O Filme (Mamma Mia! – The Movie)
Direção: Phyllida Lloyd
Roteiro: Catherine Johnson
Elenco: Amanda Seyfried, Stellan Skarsgård, Pierce Brosnan, Colin Firth, Meryl Streep, Julie Walters, Christine Baranski
Duração: 108 min

 por Thaíse Costa

(Spoilerômetro: )

Mamma Mia! – O Filme (Mamma Mia!) é baseado em um musical que já foi visto por milhões de pessoas e rodou vários continentes desde seu lançamento em 1999 na cidade de Londres. As músicas do Abba são o combustível da vez: somente músicas do grupo sueco são cantadas pelos atores.

Assim, o caro leitor que for ao cinema já deve ir preparado para ver muita gente pulando e back-vocals a balde. E, acreditem, isso é executado muitíssimo bem na fita: o que não falta é bom-humor. Mamma Mia! é um filme-musical muito divertido justamente por assumir toda a sua breguice da forma mais descarada possível. É claro que há cenas um pouco mais dramáticas, mas tudo sempre se encaminha para a descontração.

Para proporcionar tal resultado, nada melhor que um elenco de peso. Veteranos como Maryl Streep no papel de Donna, Pierce Brosnan e Colin Firth como os possíveis pais de Sophie dão simplesmente um show de atuação e, cantando e dançando como “só-Deus-sabe”, fazem a alegria do expectador. Já imaginou a Maryl Streep de macacão jeans dançando a clássica "Dancing Queen"? Destaque para a atuação de Julie Walters (Harry Potter e a Ordem da Fênix), que vive Rosie, a amiga “dos bons tempos” de Donna.

Visualmente, o filme é de uma beleza incontestável: as tomadas externas foram filmadas em paradisíacas ilhas da Grécia. Mas o mais bacana é que trata-se de um filme muito mais divertido do que se poderia esperar – com boas doses de um certo espírito hippie. Para quem gosta de musicais despretensiosos, é um prato cheio.

Ensaio sobre a Cegueira



Sinopse: Uma epidemia de cegueira assola a humanidade. Um oftalmologista é afetado pela doença e, assim como todos os outros cegos, terá de ser mantido em quarentena em abrigos improvisados. A esposa do doutor resolve se declarar cega para poder acompanhar seu marido no isolamento.


Ficha Técnica
Ensaio sobre a Cegueira (Blindness)

Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Yusuke Iseya
Duração: 120 minutos


Em terra de cego
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A idéia de um cego que guia outros cegos produz imagens e emoções perturbadoras e é bem recorrente (ver pintura ao lado). A partir dessa premissa, o português José Saramago escreveu o livro Ensaio sobre a Cegueira. No romance, o escritor não nomeia os personagens para que eles fossem autênticos retratos de pessoas igualmente anônimas quanto reconhecíveis. Seguindo o raciocínio, Saramago exigiu que no filme Ensaio sobre a Cegueira (Blindness) não houvesse qualquer referência em relação à cidade em que os acontecimentos narrados acontecem. Para tanto, locações no Canadá, Brasil e Uruguai abrigaram as filmagens.

O lirismo de Saramago está em propor uma cegueira branca, como o que acontece quando todas as luzes de uma sala são acesas repentinamente. Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel) usa diversos truques para amplificar a sensação da brancura total. Com muitos enquadramentos desfocados, aliado a uma direção de fotografia que estoura a luz, o cineasta conseguiu o que parecia impensável: passar a sensação de falta de visão através da expressão visual que é o cinema. O visual da atriz Julianne Moore (Filhos da Esperança) colabora para a branquidão da fita. Ela abdicou de seus cabelos ruivos e os deixou bem descoloridos. Utilizando figurinos claros, a única pessoa que enxerga nessa terra de cegos parece “uma anjo”, nas palavras do próprio diretor.

Explorando situações-limite, o roteiro quer demonstrar o que há de melhor e pior no ser humano. Por isso, algumas sequências são altamente desaconselháveis para os corações mais sensíveis. O estado dos habitantes do manicômio vai gradativamente piorando, chegando a circunstâncias absurdas. Nesse caos total é que as atitudes mais variadas são provocadas.

Fugindo do óbvio, a trilha musical traz um pouco mais do sabor brasileiro. As canções que conduzem as emoções contidas no enredo são executadas pelo grupo Uakti, que utiliza instrumentos musicais diferenciados, confeccionados pelos próprios músicos utilizando os mais diversos materiais.

Com Ensaio sobre a Cegueira, Fernando Meirelles consegue desempenhar mais um feliz passo em sua já tão prestigiada carreira.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Linha de Passe





Sinopse: Cleuza é uma mãe solteira que trabalha como empregada doméstica para sustentar seus quatro filhos. Os jovens têm maneiras diferentes encarar a vida e de alcançar seus sonhos.


Ficha Técnica
Linha de Passe
Direção: Walter Salles, Daniela Thomas
Roteiro: George Moura, Daniela Thomas, Bráulio Mantovani
Elenco: Sandra Corveloni, João Baldasserini, Vinícius de Oliveira, José Geraldo Rodrigues, Kaique Jesus Santos
Duração: 108 minutos


Micro representando o macro
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Através dos quatro filhos de Cleuza, Linha de Passe consegue criar uma família que é um bom resumo da vida na periferia de São Paulo. Dênis trabalha como motoboy e seu parco salário só é suficiente para pagar a prestação de sua motocicleta, sobrando pouco para deixar para que sua ex-namorada consiga sustentar o filho que eles tiveram. Dario segue o sonho da maioria dos garotos: ser um jogador de futebol. Dinho encontrou em um culto evangélico a paz de espírito. E Reginaldo passa os dias andando de ônibus, na esperança de encontrar o pai que nunca conheceu.

O cineasta Walter Salles volta a trabalhar com o jovem Vinícius de Oliveira, que ele descobriu enquanto selecionava garotos para Central do Brasil (1998). Mais uma vez, Salles prova seu bom olho para descobrir jovens talentos, já que todos os irmãos são estreantes e apresentam performances muito convincentes. Destaque merecido para Kaique Jesus dos Santos no papel de Reginaldo, um garoto encantavelmente encrenqueiro.

Seguindo os passos de Tropa de Elite, a classe média não é perdoada pelo roteiro. A esperança é de que o filme sirva como estopim para atitudes, para que algumas pessoas consigam perceber o grande poder que têm em suas mãos. Que tomem consciência de que existem pessoas batalhadoras abaixo da classe consumista e que esses trabalhadores merecem uma chance de se beneficiar de suas virtudes e de seus talentos. Eis o comovente drama de Dario.

O roteiro é inteligente e não subestima o público. Através de sugestões bem-posicionadas todo o passado dos personagens é conhecido sem que flashbacks didáticos sejam necessários. Na mesma medida em que o brilhantismo em dramaturgia deixa claro o que já se passou, no final da sessão, cada um poderá ter a sua versão do que aconteceu depois que o último fotograma é projetado.