sábado, 28 de abril de 2012

Paraísos Artificiais: Filme de sensações

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Depois da Retomada, o cinema brasileiro demorou para dar atenção ao público jovem. Nos últimos anos, produções para essa faixa etária aumentaram. O resultado são longas sem muita ousadia, exceto por um discurso mais honesto sobre drogas e sexo.

Nesse sentido, Paraísos Artificiais dá um passo a frente. Sexo e drogas continuam como parte importante do roteiro, mas há uma estética diferente. Outro avanço está em deixar para trás a onda pudica que assombra nossos filmes contemporâneos.

O enredo conta a história de amor entre Nando (Luca Bianchi, de Tropa de Elite 2) e Érica (Nathalia Dill, de Feliz Natal). Os dois se conhecem em Amsterdam, onde ela trabalha como DJ e ele passa férias. Entretanto, o real objetivo da viagem de Nando é trazer drogas em sua volta para o Brasil.


Como a narrativa não segue a ordem cronológica dos acontecimentos, sabe-se logo na primeira cena que a missão do rapaz o levará para a cadeia. Esse não é o único ponto da história que o público sabe antes de o filme acabar. Aspectos que poderiam compor um elemento-surpresa provam-se previsíveis.

O lado positivo é que Paraísos Artificiais deixa a narrativa de lado para focar-se em dividir com o público as sensações vivenciadas pelos personagens. Esse objetivo está claro nas longas cenas em que há experiências envolvendo sexo e/ou drogas. A estética abusa das imagens e do som para cumprir essa tarefa sensorial.

Antes que se fale em apologia ao crime, o roteiro faz questão de deixar claro os diversos malefícios das drogas. A mensagem torna-se mais sincera exatamente por mostrar os dois lados da questão: a sedução prazerosa e as pesadas consequências.



Paraísos Artificiais
Direção: Marcos Prado
Roteiro: Pablo Padilla, Cristiano Gualda, Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro , Divana Brandao, Emílio Orciollo Neto, Roney Villela, Cadu Fávero
Duração: 96 minutos
País: Brasil

Nota: 7

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Slovenian Girl: Protagonista problema

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


O que se espera de um protagonista é que se possa torcer por ele e que se simpatize com seus objetivos, mesmo quando se trata de um anti-herói. Slovenian Girl (Slovenka) não é bem-sucedido nesse quesito.

A protagonista do filme é Aleksandra (Nina Ivanisin), uma estudante que ganha a vida como garota de programa. Prostitutas são frequentemente tratadas como heroínas em vários filmes (em livros e outros meios também). O problema da jovem é que ela usa o sexo (ou apenas a sedução) para tirar outras vantagens além dos seus encargos.

A ideia do filme é mostrar que há mais tipos de prostituição do que a tradicional “mulher da vida”. Ao passar essa mensagem com uma protagonista manipuladora, que não parece estar realmente disposta a resolver seus outros problemas, cria-se antipatia no público.


No momento em que não se consegue torcer pelo personagem principal, acontece o inevitável: o espectador direciona sua simpatia para um coadjuvante. Nessa situação, o sortudo é o pai de Aleksandra.

Edo (Peter Musevski) é um senhor de meia idade que foi abandonado pela mulher. Ele mantém uma relação saudável com sua filha, mas não sabe que ela faz programas para ganhar dinheiro. Ele se reúne com seus amigos e decide reviver a banda de rock que tinham juntos.

Edo é tão eficiente na tarefa de conquistar a plateia que chegamos a ficar com vontade de que ele fosse o verdadeiro protagonista de Slovenian Girl.


Slovenian Girl (Slovenka)
Direção: Damjan Kozole
Roteiro: Damjan Kozole, Matevz Luzar, Ognjen Svilicic
Elenco: Nina Ivanisin, Peter Musevski, Primoz Pirnat, Marusa Kink, Uros Furst, Dejan Spasic, Aljosa Kovacic
Duração: 90 minutos
País: Eslovênia, Alemanha, Sérvia, Croácia, Bósnia Herzegóvina

Nota: 4

terça-feira, 24 de abril de 2012

As Idades do Amor: Ordem dos fatores

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)



Por não ser uma ciência exata, o cinema tem resultados distintos se a ordem dos fatores por alterada. As Idades do Amor (Manuale d'am3re) prova ter inteligência ao ordenar suas histórias de maneira a manter o espectador interessado em saber o que vem a seguir.

A primeira história de amor apresentada traz um elenco jovem e atraente. Roberto (Riccardo Scamarcio, de O Primeiro que Disse) é um advogado que está prestes a se casar. Ele vai a uma pequena cidade durante uma viagem de trabalho e fica maravilhado pelo local. O coração de Roberto é conquistado pelo estilo de vida da população e especialmente fascinado por Micol (Laura Chiatti, de Um Lugar Qualquer).

O rapaz envolve-se nesse caso adúltero, mas não é julgado pelo roteiro. A mensagem de As Idades do Amor é que o coração não segue as mesmas regras que a sociedade. Segundo o filme, o ser humano não tem controle total sobre suas ações e sentimentos.

A segunda história também traz o adultério como tema. Fabio (Carlo Verdone, de Grande, Grosso e Verdone) é um âncora de televisão que se envolve com a instável Eliana (Donatella Finocchiaro, de Baarìa), apesar de ser um homem casado. A esperteza está em deixar o enredo mais fraco exatamente no meio do filme, quando o público já sabe que é possível melhorar.


Finalmente, As Idades do Amor termina com uma história mais sentimental e menos sexual, além de contar com os nomes mais conhecidos do elenco. Adrian (Robert De Niro, de Os Especialistas) é um americano que está morando na Itália. Ele se apaixona por Viola (Monica Bellucci, de A Informante), filha de seu amigo. O amor entre os dois floresce independente da diferença de idade entre eles.

Os grandes astros funcionam como isca e, por isso, ficam no final da projeção. Se a ordem dos enredos fosse inversa, boa parte do público logo perderia o interesse e abandonaria a sala de cinema depois do primeiro terço do filme.


As Idades do Amor (Manuale d'am3re)
Direção: Giovanni Veronesi
Roteiro: Ugo Chiti, Giovanni Veronesi
Elenco: Robert De Niro, Monica Bellucci, Riccardo Scamarcio, Michele Placido, Laura Chiatti, Donatella Finocchiaro, Valeria Solarino, Carlo Verdone, Marina Rocco
Duração: 125 minutos
País: Itália

Nota: 4

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Vida em um Dia: Fotografia mundial

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


A globalização cada vez mais intensa possibilita eventos impensáveis no passado. Fazer um documentário coletivo com vídeos produzidos simultaneamente ao redor do mundo seria uma tarefa hercúlea antes do advento da internet. Por essa razão que A Vida em um Dia (Life in a Day) é um retrato do nosso tempo.

Em um dia de 2010, o YouTube convocou pessoas de todo o mundo para fazerem um vídeo sobre como é seu dia e postá-lo no site. Alguns deles foram selecionados e compões as cenas do filme.

A pluralidade é a força motriz do documentário. Algumas poucas histórias são retomadas no decorrer do filme, mas há inúmeras pequenas inserções que tentam mostrar como é um dia comum para a humanidade. Encontrar o inusitado no corriqueiro é o que enriquece o longa.

Dessa maneira, as emoções experimentadas ao assistir a A Vida em um Dia são tão sortidas como os seres humanos mostrados nas cenas do filme. Há histórias engraçadas, emocionantes, trágicas, tristes, tediosas... Um pedido de casamento convive com óbito, descobertas são vizinhas de confissões.

Portanto, o que não se pode exigir do filme é profundidade. Sua proposta é exatamente oposta a essa demanda. O que o documentário almeja é mostrar que é possível maravilhar-se com as coisas mais ordinárias.



A Vida em um Dia (Life in a Day)
Direção e Roteiro: Kevin Macdonald e outros
Elenco: -documentário-
Duração: 95 minutos
País: EUA, Reino Unido

Nota: 7

A Vida em um Dia foi assistido no É Tudo Verdade 2011.

Os Vingadores: Gênero em profusão

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Daqui algumas décadas, o meio acadêmico irá olhar para o começo do século XXI como o período no qual o filme de super-herói se consolidou como gênero cinematográfico. Nesses estudos, Os Vingadores (The Avengers) será apontado como um marco importante, no qual a linguagem dos quadrinhos dialoga muito bem com a gramática do cinema.

A reunião dos super-heróis que a Marvel prepara desde 2008, com Homem de Ferro, acontece da mesma maneira que nos quadrinhos. Há uma ameaça à humanidade que um herói sozinho não consegue dar conta, assim é preciso juntar forças contra o mal. O encontro dos personagens gera momentos de tensão (que muitas vezes se concretizam em briga) e de cooperação, exatamente como acontece nos crossovers as HQs.


Na apoteótica batalha final há outro exemplo do feliz casamento de linguagens. O que seria desenhado como uma página dupla transforma-se em plano-sequência (sem cortes) que passeia pelo combate e mostra as habilidades de cada membro do grupo. Isso só é possível graças a efeitos visuais que trazem ferramentas da animação para o live action.

Finalmente, todo filme deveria se esforçar para se destacar de seus irmãos de gênero. O caminho escolhido por Os Vingadores é a comédia. A mistura de humor com ação dinamiza a experiência. Mal o espectador acaba de rir de uma piada, já começa uma luta empolgante.

No final das contas, a única preocupação que tenho com Os Vingadores é sobre algo que não se pode ver ou ouvir na sala de cinema. Espero apenas que os estudos futuros sobre filmes de super-herói lembrem-se de que nem todos os críticos atuais estão contra o gênero.



Os Vingadores (The Avengers)
Roteiro e Direção: Joss Whedon
Elenco: Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Cobie Smulders, Jeremy Renner, Robert Downey Jr., Chris Evans, Samuel L. Jackson, Tom Hiddleston, Mark Ruffalo, Gwyneth Paltrow, Stellan Skarsgård, Clark Gregg
Duração: 142 minutos
País: EUA

Nota: 9

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Flor da Neve: Armadilha emotiva

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Há filmes cujos temas são tão atraentes que o público se esquece de analisar mais a fundo outros aspectos da obra. Flor da Neve e o Leque Secreto (Snow Flower and the Secret Fan) é um exemplo de como disfarçar um produto simples em algo maior.

O filme conta duas histórias paralelas, ambas sobre o papel da mulher na sociedade e sobre a força da amizade. Tais assuntos parecem ideais para comover, mas também são facilmente extrapolados para a pieguice.


Nos dias atuais, Nina (Bingbing Li, de O Reino Proibido) é uma mulher bem-sucedida profissionalmente com uma oportunidade de se mudar para os Estados Unidos para assumir um cargo importante na empresa onde trabalha. Um dia ela recebe a notícia de que sua melhor amiga está em coma. Nina e Sophia (Gianna Jun, de Blood: O Último Vampiro) haviam se afastado nos últimos tempos por causa de um desentendimento.

Nina descobre entre os pertences da amiga que ela escrevia um livro sobre Flor da Neve e Lily, suas antepassadas. As mulheres contemporâneas e as chinesas do século XIX são interpretadas pela mesma dupla de atrizes. Essa opção quer mostrar que Nina e Sophia se enxergam com o mesmo laço de amizade das antepassadas. No entanto, a repetição das atrizes enfatiza os paralelismos primários de Flor da Neve e o Leque Secreto.

Depois da sessão, a plateia ficará dividida em dois grupos distintos. De um lado, aqueles que aceitam a história e abraçam a mensagem positiva do filme. Do outro, os espectadores que se incomodam com a simplicidade das metáforas. O problema é se o membro de um grupo tentar conversar com alguém do outro bando.


Flor da Neve e o Leque Secreto (Snow Flower and the Secret Fan)
Direção: Wayne Wang
Roteiro: Angela Workman, Ronald Bass, Michael Ray
Elenco: Bingbing Li, Archie Kao, Gianna Jun, Coco Chiang, Hu Qing Yun, Shi Ping Cao, Ruijia Zhang, Vivian Wu, Hugh Jackman
Duração: 104 minutos
País: China, EUA

Nota: 4

Americano: Filme-nepotismo

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Seguir a carreira da família é comum em diversas atividades profissionais. Americano mostra essa tendência no meio artístico, já que a própria premissa do filme vem de família. Trata-se de uma espécie de sequência de Documenteur (1981), filme de Agnés Varda, mãe de Mathieu Demy, diretor de Americano.

Para completar, o elenco do filme traz vários atores com sobrenomes ilustres.

Mathieu Demy (Tomboy) – Além de diretor e roteirista, ele protagoniza o longa. Martin é um francês que vai aos Estados Unidos cuidar da herança de sua mãe. Ela deixou sua casa para Lola, uma amiga que Martin fez quando morou coma sua mãe na infância. Mathieu é filho do diretor Jacques Demy.

Geraldine Chaplin (O Lobisomen) – A filha de Charles Chaplin interpreta Linda, uma amiga da mãe de Martin. Ela não gosta de Lola.

Chiara Mastroianni (Não, Minha Filha, Você não Irá Dançar) – A filha de Marcelo Mastroianni e Catherine Deneuve vive Claire, a namorada do protagonista. Ela quer um filho, mas ele não está tão certo disso. Quando Martin vai para os Estados Unidos, Claire fica na França.

Carlos Bardem (Che 2) – Martin descobre que Lola trabalha como stripper em Tijuana, em uma casa noturna gerenciada por Luis, papel do irmão de Javier Bardem. Ele não gosta do assédio do francês sobre sua funcionária.

Salma Hayek (Gente Grande) – A atriz mais famosa no elenco de Americano interpreta Lola. Martin fez uma longa viagem para encontrá-la, mas ela não parece interessada em conversar com ele. Apesar de não ter parentes ilustres, Salma vem de família artística. Sua mãe era cantora de ópera.






Sobrenome não quer dizer qualidade. O filme tem seus méritos, mas o roteiro é muito inocente. Se o espectador conseguir relevar esse defeito, poderá se envolver na história de um homem sem identidade.


Americano
Roteiro e Direção: Mathieu Demy
Elenco: Mathieu Demy, Salma Hayek, Geraldine Chaplin, Chiara Mastroianni, Carlos Bardem, Jean-Pierre Mocky, Pablo Garcia, André Wilms
Duração: 90 minutos
País: França

Nota: 4

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Eu Receberia: Engajamento contagioso

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Uma crítica frequente que se faz ao cinema nacional contemporâneo é sua falta de comprometimento, seja em apresentar uma estética com personalidade, seja em abordar questões importantes de maneira contundente. Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios é um exemplo oposto, onde cenas com teor social acabam se tornando um excesso ao conjunto.

A adaptação do livro homônimo de Marçal Aquino (O Invasor) conta a história de um triângulo amoroso ambientado no Norte do Brasil. Lavínia (Camila Pitanga, de Saneamento Básico) é uma ex-prostituta da cidade grande que foi salva pelo pastor Ernani (Zé Carlos Machado, de Estamos Juntos), com quem se casa. O casal muda-se para o Pará, onde ela conhece o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado, de Bruna Surfistinha), com quem tem um tórrido caso amoroso.


O trio de atores segura a trama com interpretações fortes. Há ainda uma excelente participação de Gero Camilo (Assalto ao Banco Central) como um jornalista. Para comprovar a qualidade do elenco, Camila Pitanga foi merecidamente premiada durante o Festival do Rio 2011 por seu trabalho no filme.

Eu Receberia poderia se focar apenas no conflito de sentimento dos personagens e explorar o rico cenário onde se passa a história. Se essa fosse a opção adotada, o longa já estaria acima da média da produção nacional atual. Contudo, as questões sociais locais foram envolventes demais para os realizadores. Com isso, o filme traz cenas de cunho social inegavelmente importante, mas que não se relacionam harmoniosamente ao enredo principal.

Em um tempo em que as produções nacionais são tão insípidas é até difícil dar tanta importância para tais momentos excessivos. As cenas sobram no filme, mas faltam ao cinema brasileiro.


Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios
Direção: Beto Brant, Renato Ciasca
Roteiro: Beto Brant, Renato Ciasca, Marçal Aquino
Elenco: Gustavo Machado, Camila Pitanga, Zé Carlos Machado, Gero Camilo
Duração: 100 minutos
País: Brasil

Nota: 7

Eu Receberia foi visto no Festival do Rio 2011

Diário de um Jornalista Bêbado: Adaptação e desapego

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Quando um romance (quadrinhos, peça de teatro,...) é adaptado para o cinema, cortes e alterações na história original precisam ser feitos para que o enredo se encaixe na mídia. A adaptação cinematográfica Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary) tem essas manipulações que causam a ira dos fãs mais extremistas. Mesmo assim, o resultado final é uma história que não se adéqua às telonas.

O que há de melhor no filme são as atuações. Os atores conseguem despertar os sentimentos corretos na plateia, sejam eles positivos ou negativos. Torcemos por um jornalista alcoólatra que vai a Porto Rico atrás de trabalho (Jonnhy Depp, da série Piratas do Caribe), odiamos um especulador que quer construir um hotel (Aaron Eckhart, de Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles) e somos seduzidos pela femme fatale (Amber Heard, de Fúria sobre Rodas). Nesse time merece destaque Giovanni Ribisi (Avatar), como o excêntrico repórter Moberg, a melhor atuação de sua carreira.


Se sobra talento no elenco, falta à produção uma boa dose de desapego no roteiro e na direção. A principal vítima desse descuido é a edição. A montadora Carol Littleton (A Outra) tenta remendar um material carente de coesão.

Na direção falta desapego a alguns enquadramentos forçados. A impressão que se tem é que o diretor quer deixar sua marca em Diário de um Jornalista Bêbado, mesmo que ela seja deselegante. No roteiro, em diversas oportunidades, um grupo de cenas poderia ser fundido em uma única cena mais completa. Em uma sequência, quando se pula de uma cena para outra e se percebe que a ação dos personagens é a mesma, há uma suspensão no mergulho do espectador na história.

Uma possível solução para que esses fragmentos ganhassem coesão na tela seria adentrar na mente etílica do protagonista. Se houvesse a proposta de fazer o público sentir-se embriagado como o jornalista Kemp, os pulos entre as cenas faria sentido. Há pequenas tentativas nesse sentido, mas são em pontos bem isolados do filme.


Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary)
Roteiro e Direção: Bruce Robinson
Elenco: Johnny Depp, Aaron Eckhart, Michael Rispoli, Amber Heard, Richard Jenkins, Giovanni Ribisi
Duração: 120 minutos
País: EUA

Nota: 4

American Pie: O Reencontro: Perdido no tempo

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


O quarto filme da série American Pie (não dá para aceitar os spin-offs) certamente foi lançado tarde demais. Para começar, é inserida no roteiro uma desculpa para justificar uma reunião dos personagens 13 anos depois de formados. Entretanto, os problemas não param por aí em American Pie: O Reencontro (American Reunion).

Logo na primeira cena, ouve-se uma balada de R.Kelly, uma música que de cara não se associa a comédias. A aparente disparidade pode ser vista nos atuais filmes do gênero, como os produzidos pela turma de Todd Phillips (Se Beber, não Case) e Judd Apatow (Superbad). Por aí, e em outros momentos, percebe-se que a produção flerta com a evolução da comédia desde que a franquia estreou.


Se a substituição das músicas jovens dos filmes anteriores causa preocupação, os fãs podem ficar tranquilos que o longa mantém-se fiel a outras características da série. Muitos personagens conhecidos fazem participações e há referências aos acontecimentos passados. Esses elementos funcionam como uma homenagem a quem acompanhou a série. Felizmente não há necessidade de ver os spin-offs.

O que faz falta em American Pie: O Reencontro é a ausência das “situações-bola-de-neve” vivenciadas por Jim (Jason Biggs, de Amigos, Amigos, Mulheres à Parte). As cenas mais hilárias dos filmes anteriores eram as enrascadas extremas nas quais o protagonista se metia. No novo enredo, há momentos constrangedores para ele, mas as situações são solucionadas sem grandes problemas, ao contrário do que estávamos acostumados a ver.

Para finalizar, mais uma vez os conflitos de Kevin (Thomas Ian Nicholas, de Sentimento de Culpa) são os mais desinteressantes de todo o filme.


American Pie: O Reencontro (American Reunion)
Roteiro e Direção: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
Elenco: Jason Biggs, Alyson Hannigan, Chris Klein, Thomas Ian Nicholas, Tara Reid, Seann William Scott, Mena Suvari, Eddie Kaye Thomas
Duração: 113 minutos
País: EUA

Nota: 5

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sete Dias com Marilyn: Sorriso no escuro

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Uma atriz-problema é dirigida por um cineasta vaidoso. Com essa premissa, Sete Dias com Marilyn (My Week with Marilyn) garante conflitos explosivos. O desafio do filme é equilibrar personagens tão fortes em cena. 

Para isso, a história é contada pelo ponto de vista de um protagonista enfraquecido: o herdeiro de uma família rica com sonhos cinematográficos. Colin Clark (Eddie Redmayne, de Morte Negra) é o terceiro assistente de direção de O Príncipe Encantado (1957). O filme de Laurence Olivier (Kenneth Branagh, de Operação Valquíria) marcou a estreia de Marilyn Monroe (Michelle Williams, de Namorados para Sempre) no cinema britânico. Nele, ela tenta afirmar-se como grande atriz e não apenas um símbolo sexual.


Pelos olhos de Colin, o espectador pode apreciar as incompatibilidades entre a musa loira e o diretor shakespeariano. Os personagens são retratados com suas virtudes tão grandes quanto seus defeitos. Essa sinceridade insere o público dentro do set de O Príncipe Encantado, que na época da gravação se chamava O Príncipe Adormecido

Muito já se especulou sobre a mente de Monroe. Sete Dias com Marilyn a pinta como uma mulher depressiva e dramática. É como se os versos da canção “Only Happy When It Rains” (cujo um dos versos inspira o título deste texto), da banda Garbage, fosse escrita pelo próprio espírito da atriz. 

Nas cenas do filme, Marilyn atrasa as gravações, dá chilique, faz exigências e causa diversos problemas. A personagem parece gostar de complicar as situações e poderia ser facilmente rejeitada pela plateia. Felizmente tem-se o talento de Michelle Williams para que o espectador apenas fique fascinado pela presença e hipnotizado pela personalidade de Monroe. A sensação é de estar diante do sorriso de Monalisa.


Sete Dias com Marilyn (My Week with Marilyn
Direção: Simon Curtis 
Roteiro: Adrian Hodges 
Elenco: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Julia Ormond, Kenneth Branagh, Toby Jones, Dougray Scott, Dominic Cooper, Judi Dench, Zoë Wanamaker, Emma Watson 
Duração: 99 minutos 
País: Reino Unido, EUA 

Nota: 7

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Barbeiros X Limbo: Rotinas antigas

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)



O cinema, assim como o jornalismo, normalmente ocupa-se de apresentar situações inusitadas. Então, como é possível fazer filmes cujos temas são rotinas? Dois documentários em curta-metragem brasileiros empenham-se nessa tarefa, que faz sentido porque tratam de rotinas antiquadas.

Barbeiros mostra o cotidiano de um profissão em vias de extinção. Antigamente qualquer homem de direito tinha compromissos frequentes com seu barbeiro. Dizia-se até que um homem é mais fiel a seu barbeiro do que a sua esposa. Atualmente tal hábito se perdeu e esse trabalhador está mais escasso.


O documentário colhe depoimentos no local mais apropriado possível: no salão, enquanto os personagens desempenham seu ofício, representando o hábito dos clientes de conversar com o barbeiro enquanto ele corta o cabelo.

A câmera de Barbeiros explora os objetos dos salões em planos que retratam a decadência elegante e antiquada que se relaciona com a profissão. Já o curta Limbo, como o título sugere, us imagens de não-espaços.


O intuito do curta é mostrar o fim da rotina social do interior do Rio Grande do Sul. Isso é obtido com planos de paisagens, como de playgrounds nos quais os brinquedos balançam ao sabor do vento, mas estão vazios. Para aumentar a sensação fatalista, não há personagens no filme.

Assim, Limbo leva o fim dessas tradições gaúchas para dentro da mente do espectador, que vislumbra os espaços vazios ou com pouca dinâmica. Dessa maneira, o curta força seu público a abandonar o ritmo acelerado da vida urbana e impõe a lentidão rural. O incômodo causado é a prova de que se vive em um tempo diferente daquele que se vê na tela.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

À Toda Prova: Os grandes homens de Gina Carano

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Uma das marcas da filmografia de Steven Soderbergh (Contágio) é a presença de um elenco estelar na tela. Em À Toda Prova (Haywire), a protagonista é vivida por Gina Carano, desconhecida do grande público, mas uma figura forte no mundo do MMA. Para não escapar da tradição do cineasta, o elenco masculino traz muitos atores de renome.

Gina interpreta Mallory, uma mercenária traída pelo seu próprio patrão, que também é seu ex-namorado. Ela tenta descobrir quem mais está envolvido no plano de eliminá-la enquanto é procurada por crimes que não cometeu. Nessa jornada frenética de Mallory, Gina contracena (normalmente na base da porrada) com atores bem conhecidos.

Coblenz (Michael Douglas, de Wall Street 2) e Rodrigo (Antonio Banderas, de A Pele que Habito) contratam a empresa de Kenneth para resgatar um homem sequestrado em Barcelona. A única exigência da dupla é que Mallory esteja envolvida. Essa é a última missão da protagonista antes de começar a perseguição mortal.

Aaaron (Channig Tatum, de Querido John) conhece Mallory em Barcelona, onde serão parceiros de missão. Mais adiante ele a perseguirá, a mando do patrão.

Dono de uma empresa de mercenário, Kenneth (Ewan McGregor, de Nanny McPhee e as Lições Mágicas) teve um relacionamento amoroso com Mallory, apesar de ser seu patrão. Ele concorda que ela participe do resgate em Barcelona, mas depois trai a ex-namorada e encomenda a morte dela.

Paul (Michael Fassbender, de Shame) é um mercenário free-lancer britânico. Ele é contratado por Kenneth para forjar uma missão em Dublin com Mallory. O real propósito é eliminar Mallory.






Gina Carano enfrenta o desafio de dividir a cena com atores de alto calibre. A lutadora consegue levar adiante o enredo dinâmico de À Toda Prova e firma seu nome como grande estrela feminina de filmes de ação. A inversão de sexos é uma tendência contemporânea no gênero acostumado a heróis másculos e Carano é uma boa aquisição.


À Toda Prova (Haywire)
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Lem Dobbs
Elenco: Gina Carano, Michael Angarano, Channing Tatum, Michael Douglas, Antonio Banderas, Ewan McGregor, Maximino Arciniega, Michael Fassbender
Duração: 93 minutos
País: EUA, Irlanda

Nota: 7

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como Agarrar Meu Ex-Namorado: Coleção de clichês

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Fórmulas cinematográficas existem e são usadas constantemente porque já se provaram eficientes para contar certos tipos de histórias. Com uma determinada fórmula em mãos, cabe aos realizadores imbuir o filme de personalidade para que o título não se torne esquecível. É isso que falta a Como Agarrar Meu Ex-Namorado (One for the Money).

A comédia romântica é estrelada por Katherine Heigl (Noite de Ano Novo), um rosto mais do que conhecido no gênero. Ela interpreta Stephanie, uma moça endividada que arruma um emprego de caçadora de recompensas para sair do vermelho. Sua missão é capturar um ex-namorado (Jason O'Mara, de Terra Nova), que agora é procurado pela justiça.

A história do filme é apenas um pretexto para um desfile de personagens e situações clichês. A todo momento parece que se está reencenando alguma cena de outro filme.


A própria família da protagonista é um amontoado de figuras recorrentes em outras produções. A mãe de Stephanie (Debra Monk, de Damages) é ultra-protetora e um tanto paranoica. Uma geração acima, a avó (Debbie Reynolds, de Will e Grace) é uma velhinha desbocada e mais ousada do que todos os outros parentes.

Stephanie não tem experiência como caçadora de recompensas. Em seu treinamento-relâmpago, recebe a ajuda de Ranger (Daniel Sunjata, de 12 Horas), um homem que está sempre alerta, com armamento pesado e colete à prova de balas de prontidão.

Enquanto investiga o paradeiro do ex-namorado, um policial que alega ter sido incriminado, a mocinha dá de cara com outros personagens nada originais. Entre os informantes há prostitutas agressivas e um traficante drogado.

Para finalizar a série de clichês, os créditos finais são embalados ao som de Colbie Caillat, a mais nova cantora de músicas de menininha.


Como Agarrar Meu Ex-Namorado (One for the Money)
Direção: Julie Anne Robinson
Roteiro: Stacy Sherman, Karen, Liz Brixius
Elenco: Katherine Heigl, Jason O'Mara, Daniel Sunjata, John Leguizamo, Sherri Shepherd, Debbie Reynolds, Debra Monk
Duração: 91 minutos
País: EUA

Nota: 3

O Príncipe do Deserto: Anacrônico

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Quando escrevi sobre Cavalo de Guerra, defendi o fato de personagens franceses e alemães sempre falarem inglês no filme. Na direção de Spielberg tudo remete ao passado e a opção faz sentido. O Príncipe de Deserto (Black Gold) se passa em terras árabes e todos seus personagens falam inglês, mas falta coesão para sustentar a liberdade linguística.

O enredo é sobre o começo da exploração petrolífera na região no início do século XX, e sobre os conflitos que surgiram entre tribos locais na época. Por se tratar de um tema histórico com reverberações nos dias de hoje, o filme poderia optar uma abordagem antiquada ou mais moderna. Entretanto, o longa fica no meio do caminho, com elementos estéticos e narrativos atuais e outros retrôs.


Os personagens não falam árabe porque os atores que os interpretam não são de origem árabe. Os dois sultões rivais são vividos pelo espanhol Antonio Banderas (A Pele que Habito) e pelo inglês Mark Strong (John Carter). A indiana Frieda Pinto (Imortais) foi escalada como mocinha. Pelo menos o protagonista tem algum sangue árabe nas veias: o francês Tahar Rahim (O Profeta) é descendentes de argelinos.

A trilha musical mescla momentos em que é bem tradicional e outras situações em que chega a ser engraçadinha. O mesmo acontece com o roteiro, que ainda traz cenas desnecessárias.

Como o filme não se decide por qual linha estética adotar, o espectador também fica perdido. Assim, a imersão essencial para se envolver com a história fica comprometida.


O Príncipe de Deserto (Black Gold)
Direção: Jean-Jacques Annaud
Roteiro: Menno Meyjes
Elenco: Tahar Rahim, Mark Strong, Antonio Banderas, Freida Pinto
Duração: 130 minutos
País: França, Itália, Catar, Tunísia

Nota: 4