quarta-feira, 15 de junho de 2011

FilmeCultura 54: Como cultivar a inovação?


A revista FilmeCultura 54 traz como tema de seus artigos inovação e vanguarda. Em uma entrevista bem interessante, o crítico Kléber Eduardo (curador de festivais de cinema mineiros) fala sobre o assunto. Ele diz: “A inovação é para poucos”. Concordo totalmente.

O que faltou discutir é exatamente como fazer que esses poucos escolhidos que conseguem ser inovadores possam dar vazão a sua genialidade nas telas. Se considerarmos os inovadores como craques de cinema, podemos comparar como o processo acontece nos esportes.

Vejamos então um fenômeno esportivo relativamente recente: a transformação do Brasil em uma potência do voleibol mundial. Antes dos anos 90, nossa maior conquista foi uma medalha de prata nas Olimpíadas de 1988 e ninguém dava bola para o esporte. Depois da medalha de ouro de 92, as coisas mudaram e agora a seleção brasileira é sempre forte candidatas a títulos mundiais e seus jogos lotam ginásios.

Será que aconteceu uma mágica de lá para cá? Claro que não. O que aconteceu foi a popularização do esporte, hoje o segundo mais popular no Brasil. Com isso, mais pessoas (especialmente as crianças) arriscam-se a dar umas cortadas e assim talentos podem ser descobertos.

Como adaptar isso para o cinema, para que nossos filmes sejam cada vez mais bem vistos e que possamos ter mais diretores reconhecidos por seus talentos? Da mesma forma, se mais pessoas apreciam filmes nacionais, mas aspirarão fazer seus próprios filmes. Com um campo amostral maior, o surgimento de gênios é favorecido.

Parece simples, mas há alguns desafios (até dentro da própria classe de realizadores, como veremos a seguir) a serem superados.

A TV Brasil, com o programa Tela Digital, faz sua parte: semanalmente curtas nacionais são exibidos em rede nacional e os espectadores são convidados a enviar suas próprias produções. (Veja a entrevista em vídeo que fiz com a idealizadora do projeto aqui.)

O que poucos gostam de admitir é que os blockbusters nacionais têm um papel importante nessa equação. O problema é que nem todos os grandes sucessos de bilheteria têm a qualidade de Tropa de Elite 2.


Fazer um cineasta mais ousado ver a importância de filmes como Se Eu Fosse Você ou Divã é algo muito difícil... O ego (que algumas vezes é pura inveja por não conseguir sucesso com suas próprias realizações) é uma parede que não deixa que o outro lado seja visto.

A verdade é que muitos moleques de escola só terão a mínima vontade de fazer cinema depois de assistir a As Melhores Coisas do Mundo, apesar de Antes que o Mundo Acabe e Os Famosos e os Duendes da Morte terem muito mais poesia em suas cenas.

domingo, 5 de junho de 2011

8 Mulheres: Peça prova criatividade de Ozon


Assistir à peça 8 Mujeres, atualmente em cartaz em Buenos Aires, depois de conferir o filme 8 Mulheres (8 Femme) de François Ozon prova o ecletismo do cineasta francês.

A história parece tirada da obra de Agatha Christie e gira em torno do mistério do assassinado de Simon, dono da mansão onde o enredo se desenvolve. As tais mulheres do título são as únicas que teriam a chance de cometer o crime. Elas estão presas na casa por causa de uma nevasca e precisam descobrir qual delas é a matadora.

O diferencial do filme são os números musicais, um para cada personagem. Essas cenas acontecem sem qualquer tipo de preparação e tomam o público de assalto. No começo, chegam a surpreender e até assustam, mas depois nos acostumamos com a estrutura narrativa nada convencional.

Os tais números musicais são criações da adaptação cinematográfica, uma vez que eles não existem na peça original. No lugar deles, há tocantes monólogos, como se fossem poesias.

Na sessão da peça em que eu estava presente, duas personagens (as empregadas domésticas) tiveram tal privilégio intimista .Convido os leitores que tiveram a chance de ver o espetáculo a relatar se as outras damas também têm seus monólogos em outras sessões.

Se esse for o caso, é uma pena. Todos os monólogos poderiam dividir o palco na mesma noite, já que a peça tem menos de 90 minutos.

Outro ponto de contato ente a peça e o filme na atual montagem argentina está nos figurinos, que são bem parecidos até nas cores dos tecidos. A mistura de comédia, drama e mistério também é mantida; apesar de a peça ter menos momentos dramáticos.