quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lula – O Filho do Brasil



Sinopse: A vida de Lula, desde sua infância no sertão até sua consagração como líder sindical.


Ficha Técnica
Lula – O Filho do Brasil
Direção: Fábio Barreto
Roteiro: Fernando Bonassi
Elenco: Rui Ricardo Dias, Glória Pires, Juliana Baroni, Cléo Pires, Milhem Cortaz
Duração: 128 minutos


Marca dispensável
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Política não é o foco por aqui, por isso nos damos o direito de não discutir o quanto o lançamento de Lula – O Filho do Brasil pode influenciar o resultado das urnas. Neste texto iremos apenas discutir as qualidades cinematográficas do filme.

O livro no qual o roteiro foi baseado dá muito enfoque para Dona Lindu, mãe de Lula. Na fita percebe-se que ela é um personagem forte e muitas vezes até mais interessante do que seu filho. A competente interpretação de Glória Pires (É Proibido Fumar) colabora para que prestemos mais atenção para seu papel.

O roteiro não consegue escapar de um frequente obstáculo de cinebiografia, a falta de unidade narrativa. A impressão que se dá é que havia um checklist dos eventos importantes da vida de Lula que precisavam estar na tela e não houve preocupação de construir uma melhor amarração entre tais acontecimentos.

Em muitos detalhes, Lula – O Filho do Brasil se preocupa em ser fiel à realidade. Por isso, muitas imagens de arquivo são inseridas em meio à ação encenada. Pode-se ver reportagens televisivas e imagens de documentários, como Linha de Montagem, mostrando como a transposição por vezes é muito fiel.

O ponto alto do filme é a trilha musical composta por Antonio Pinto (À Deriva) que toca os corações dos espectadores. Por outro lado, a direção de Fábio Barreto (A Paixão de Jacobina) compromete todos os momentos-chave da trajetória de Lula. Pode-se contar que sempre que um evento de suma importância é apresentado, Fábio colocará a câmera em uma posição estranha que atrapalha o envolvimento emocional com a cena.

Pela temática bem brasileira, a identificação com os desafios do protagonista acontecerá com muitos dos que assistirem ao longa. Esse será o elemento principal para garantir o sucesso da produção.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ervas Daninhas



Sinopse: Georges encontra ao lado de seu carro uma carteira perdida, que na verdade foi roubada de Marguerite. Depois que ele consegue devolver o objeto para a dentista, começa a se interessar por ela.


Ficha Técnica
Ervas Daninhas (Les herbes folles)
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alex Reval, Laurent Herbiet
Elenco: André Dussollier, Sabine Azéma, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric, Anne Consigny
Duração: 104 minutos


Menos história
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O diretor Alain Resnais tem uma longa e premiada carreira e com Ervas Daninhas (Les herbes folles) ele conquistou o prêmio especial do júri no Festival de Cannes. Tal honraria se deve ao belo trabalho visual que o cineasta apresentou em sua mais nova obra. Há enquadramentos muito plásticos, como o close na bolsa roubada ao vento.

De semelhante com Medos Privados em Locais Públicos, parte do elenco volta a trabalhar com Resnais. O casal de protagonistas, por exemplo, já tinha participado do projeto anterior do realizador. Além desses atores, quem está acostumado a conferir a cinematografia francesa poderá verificar vários rostos conhecidos, um atrativo a mais.

Por outro lado, diferentemente de Medos Privados... o roteiro se concentra em apenas um enredo, ao invés das tramas paralelas formando o retrato social interessante do trabalho anterior. E mesmo concentrando-se em menos personagens, a narrativa passa a ser um elemento menos importante, principalmente da metade para o fim de Ervas Daninhas – apesar de se tratar da adaptação cinematográfica de um romance.

Se o interesse do espectador é ver uma bela história bem contada, esse não é o filme procurado. Entretanto, se os arrebates visuais e alguma ousadia na linguagem forem os objetivos, a produção passa a ser a opção perfeita.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sempre ao Seu Lado





Sinopse: Parker é um professor universitário que decide adotar um cachorro abandonado. Depois de já ter criado sua filha, ele recebe de braços abertos esse novo amigo.


Ficha Técnica
Sempre ao Seu Lado (Hachiko: A Dog’s Story)
Direção: Lasse Hallström
Roteiro: Stephen P. Lindsey
Elenco: Richard Gere, Sarah Roemer, Joan Allen
Duração: 93 minutos


“But I still come back to you”*
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A história real na qual foi baseado o roteiro de Sempre ao Seu Lado (Hachiko: A Dog’s Story) se passou no Japão – em 1987 já foi realizado um filme por lá sobre isso. Para homenagear a origem real dos personagens o roteiro do remake faz referências ao Japão, um hábito comum em outras produções que refilmaram roteiros orientais, como Imagens do Além e O Grito.

A parceria entre o ator Richard Gere e o diretor sueco Lasse Hallström é retomada depois do interessante O Vigarista do Ano. Dessa vez, o objetivo não é apresentar um carismático anti-herói. Nesse drama, o enredo é mais tradicional e a emoção é alcançada com personagens íntegros.

Na mesma linha de Marley & Eu, Sempre ao Seu Lado é mais um filme que reafirma a força do amor entre um homem e seu cachorro, uma relação única no reino animal. Para os amantes e simpatizantes dos caninos, lágrimas podem ser esperadas no desfecho, em que se permite um pouco de fantasia para alavancar as emoções.

O problema mais grave dessa fita é o trailer. Não houve capacidade de quem pensou nessa peça de fazê-la de forma que mostre a emotividade do produto sem adiantar muitos acontecimentos da história. Quem prima pela surpresa dentro da sala de cinema deve evitar o trailer a qualquer custo.

* Verso da música “You’re my best friend”, da banda Queen.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Poder do Soul






Sinopse: Documentário sobre um grandioso festival de música que aconteceu no Zaire em 1974.



Ficha Técnica
O Poder do Soul (Soul Power)
Direção: Jeffrey Levy-Hinte
Roteiro: -documentário-
Elenco: Muhammad Ali, James Brown, B.B. King, Don King
Duração: 93 minutos


Além da música
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Quando se trata de um documentário musical, o gosto do espectador para as canções apresentadas é um fator importante para que a aceitação do filme seja positiva. Em O Poder do Soul (Soul Power) essa situação é imperativa, ou as apresentações musicais que permeiam o filme serão um grande fardo. Para os amantes de funk (da época em que não se falava em batidão e tchutchuca), a experiência musical será muito satisfatória.

Além da música, o documentário mostra os bastidores por vezes caótico da organização do evento. Tem-se uma clara impressão da complexidade que é realizar um festival tão grande, com estrelas do calibre de B.B. King e James Brown entre os convidados.

A ideia original desse evento era realizar uma luta de boxe entre Muhammad Ali e George Foreman valendo cinturão, além dos show. Por problemas médicos, Foreman não pôde ir para a África e a parte esportiva do evento ficou comprometida. Mesmo assim Ali estava por lá e dá alguns depoimentos, sobre os mais variados temas.

O objetivo do festival era homenagear o Continente Negro, com expressões artísticas e esportivas de seus descendentes estadunidenses lado a lado com apresentações de artistas locais. Por essa razão, O Poder do Soul inclui passagens em que se vê a dureza da vida naquela terra castigada e também a alegria e expressividade de seu povo, sabendo equilibrar realidade dura com beleza artística.

Com todos os elementos somados, o documentário fará os fãs do gênero musical curtir boas apresentações que nos intervalos serão convidados para reflexões.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Avatar



Sinopse: Jake Scully, ex-fuzileiro paraplégico, embarca em uma missão ao planeta Pandora. Nesse planeta, uma companhia mineradora explora um raro mineral, que está concentrado em áreas habitadas pelo povo autocne. A missão de Jake e de outros recrutados para o mesmo fim é “pilotar”, avatares que são cópias dos habitantes do planeta, com o objetivo de “diplomacia” (ou melhor, espionagem).


Ficha Técnica
Avatar
Roteiro e Direção: James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang
Duração: 162 minutos


 por Alvaro Domingues

(Spolerômetro: segundo e terceiro parágrafos)

A primeira coisa que se nota no filme é que não são só os avatares que são cópias, mas o enredo e algumas cenas parecem uma colcha de retalhos mal-costurados de cópias. Em primeiro lugar, um paraplégico que volta a andar habitando um avatar ou ambiente propício lembra Pequenos Espiões 3 e Lost. Os pilotos quando acordam tem seus olhos focalizados lembrando... Lost. A conexão lembra Matrix. Os avatares lembram os Evas de Evangelion (a única diferença é que a conexão é exterior, e não interior).

Tem os estereótipos também: o Coronel que acaba se tornando o vilão principal é o milico de sempre, truculento, que só sabe lutar; a cientista brilhante e dedicada, mas tão ingênua que não percebe que está sendo usada; o executivo que só pensa em lucro (que ultimamente tem substituído o antigo cientista louco como vilão de plantão) e o herói que resolve tudo.

E enredos “manjados”: o infiltrado que resolve mudar de lado ao simpatizar com os nativos, mas acaba sendo rejeitado como traidor por ambos os lados. O envolvimento com a mocinha, já prometida a outro da tribo, etc. Ou o povo tecnologicamente superior que despreza e destrói os supostos selvagens (será que é dor de consciência dos americanos?).

O filme poderia ter uma duração um pouco menor, visto que acaba cansando o espectador. No meu ponto de vista, a ação demora a acontecer, com cenas desnecessárias no começo do filme que poderiam ser abreviadas. Por exemplo, o “drama” da morte do irmão do protagonista pouco acrescenta à história e poderia ser suprimido.

Como ponto positivo, o filme tem algumas boas sacadas, como os cabelos em trança que terminam em pequenos tentáculos que se conectam a qualquer ser vivo, como um verdadeiro cabo USB biológico.

Avatar também apresenta uma boa caracterização de uma biologia extraterrestre, com soluções interessantes para o voo (há um lagarto que voa como um helicóptero, girando a cauda; repteis alados com dois pares de asas) e um bom conjunto de predadores e montarias. As cenas de ação também são bem construídas e emocionantes.

Os efeitos especiais em 3D são muito bons, bem ajustados às cenas. Os produtores introduziram legendas, novidade em exibições de filmes 3D. Uma boa inovação, se bem que em algumas cenas fica difícil a leitura.

Também foi bem caracterizada a visão xamânica do mundo, que seria um contraponto perfeito para a visão tecnicista tanto dos cientistas quanto dos executivos mineradores, não fosse o excessivo maniqueísmo do filme.

Em suma: vale (muito) pelos efeitos e pela ação. Esqueça a trama e personagens mal feitos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Princesa e o Sapo

por Carla Bitelli

Sinopse: Tiana trabalha duro para conseguir abrir seu sonhado restaurante, sem nunca sonhar com seu príncipe encantado (quanto mais com um sapo). Mas, no dia em que seu sonho será realizado, um sapo aparece em sua vida e muda tudo.


Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog)
Direção: Ron Clements e John Musker
Roteiro: Ron Clements
Duração: 97 minutos


Em 1995, a Disney, em parceria com a Pixar, lançou o longa-metragem de animação 3D Toy Story. O sucesso indiscutível (e merecido) fez o estúdio acreditar que as clássicas animações tradicionais não tinham mais vez, ainda mais se musicais. Os fãs viram então mais alguns sucessos 2D – Mulan e Hércules –, e depois a retirada sutil das partes musicais (tendo Tarzan como primeiro da série). Foi com muito pesar de uma parte do público que a mesma Disney anunciou que não faria mais animações tradicionais. Depois do péssimo Nem que a Vaca Tussa em 2004, parecia que ninguém ia lamentar...

Mas não é que mudaram de ideia? E foi com muita publicidade que a Disney retornou de vez aos clássicos musicais. A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog) foi o primeiro desta nova fase, que já tem a promessa de um Rapunzel.

A nova animação tem muitos pontos positivos. Tiana é a primeira princesa Disney negra – e conta com o príncipe mais bonito da Disney (o Aladdin ficou pra trás!) –, o que gerou muita polêmica. A escolha do local, Nova Orleans, e do ritmo, jazz, também marcaram muito a espera do longa.

Os desenhos, a coloração e a iluminação são maravilhosos e chegam a tirar o fôlego do espectador em algumas passagens. Os personagens são muito bem construídos, cada um interpretando o papel devido na narrativa. Os anseios e dúvidas de Tiana giram em torno da melhoria de vida por meio do trabalho e do sacrifício do amor para conquistar o sonho material. É quando ela tenta atingir seu objetivo por meios fantasiosos que tudo vai abaixo, então ela terá de escolher entre o trabalho sacrificante e o verdadeiro amor. Enquanto Tiana tenta fazer sua escolha, outro personagem se vê à frente do mesmo dilema.

Ainda sobre os personagens: de uma forma ou de outra, todos têm o seu momento de comicidade – todos, sem exceção, são bastante atraentes para o público. A dublagem em português está bastante profissional, como quase sempre podemos esperar da Disney.

Nem tudo é perfeito, no entanto. Tenho dois poréns em relação à obra, mesmo que não afetem minha opinião do filme como um todo. Em primeiro lugar, a movimentação dos personagens humanos lembra demais o péssimo “efeito geleia”, o que pode incomodar alguns olhos.

Em segundo lugar, a parte musical do filme deixa a desejar, apesar de assinada pelo experiente Randy Newman, compositor com sucessos como os Toy Story e Monstros S.A.. Os números musicais têm pouca força e não se destacam. Com a promessa de uma trilha de puro jazz, na verdade temos algumas pouquíssimas músicas com um ritmo como se o tal “puro jazz” tivesse sido digerido para ouvidos sensíveis.

Mas os problemas não reduzem nem um pouco a importância e a beleza de A Princesa e o Sapo. Se a música não é tão marcante quanto a de A Bela e a Fera, os desenhos compensam cada minuto.

Os fãs que haviam ficado órfãos dos musicais da Disney podem comemorar e não devem, de jeito nenhum, perder a oportunidade de assistir esta animação nas telonas do cinema.

Uma Vida sem Regras







Sinopse: Art está em uma crise existencial depois do fim de seu namoro. Ele decide convocar um escritor de autoajuda canadense a viajar para a Inglaterra e ajudá-lo.


Ficha Técnica
Uma Vida sem Regras (How to Be)
Roteiro e Direção: Oliver Irving
Elenco: Robert Pattinson, Powell Jones, Mike Pearce, Johnny White, Alisa Arnah
Duração: 85 minutos


“Não dá pra ser legal, só pode ficar mal!”*
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
Atualmente Robert Pattinson é um grande astro e apenas seu nome no elenco já é suficiente para atrair público para um filme. No entanto, antes do lançamento de Crepúsculo, o rapaz que só era conhecido como o Cedrico de Harry Potter 4 filmou Uma Vida sem Regras (How to Be), uma produção inglesa de pequeno porte.

O tamanho colossal que o nome do jovem ator atingiu é a única razão plausível para a estreia desse filme nas salas de cinema. Se fosse considerada apenas a qualidade da fita, provavelmente a chance de lançamento no mercado desse título seria diretamente em DVD.

O protagonista é um jovem em crise por ter sido abandonado pela namorada. Ele então se junta a dois amigos tão inúteis quanto ele e monta uma banda. O tema do roteiro são os conflitos psicológicos desses personagens nada carismáticos.

Ronny mora sozinho em um apartamento porque a vida em família tornou-se impraticável depois que seu pai construiu uma nova família. Ele morre de medo de deixar sua fortaleza da solidão. Já o problema de Nikki é a autoafirmação. Traumatizado por uma adolescência difícil, ele escapa tentando conquistar todas as garotas ao seu alcance.

O problema do filme está na falta de diálogo com o público brasileiro. Vendo as mazelas desse trio e comparando com as dificuldades corriqueiras de um brasileiro típico, parece que os personagens estão reclamando de barriga cheia. Eles não precisam se preocupar com assalto, desemprego, ônibus lotado, enchente... Se há uma razão para indicar Uma Vida sem Regras para alguém, esse motivo pode ser a curiosidade de ver Robert Pattinson em um papel totalmente diferente de Cedrico ou Edward.

* Verso da canção “Rebelde sem Causa”, do Ultaje a Rigor. Uma saída para não intitular o texto como “Vá lavar uma louça!”.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal






Sinopse: Desde a infância, Katie sempre foi assombrada por algum tipo de ser sobrenatural. Quando ela começa a morar com seu namorado Micah, ele resolve comprar uma câmera para registrar os estranhos eventos.



Ficha Técnica
Atividade Paranormal (Paranormal Activity)
Roteiro e Direção: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs
Duração: 86 minutos


Medo no detalhe
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O orçamento para a produção de Atividade Paranormal (Paranormal Activity) foi de US$ 11 mil, um valor irrisório perante as megaproduções milionárias hollywoodianas. Os custos foram tão baixos por causa de um elenco restrito e a locação gratuita, já que se trata da casa do diretor. Mesmo assim, o filme já bateu a marca dos US$ 100 milhões, tornando-se a fita proporcionalmente mais rentável da História.

Pelo fenômeno nas bilheterias e pela premissa de um pseudodocumentário de suspense, é impossível não compará-lo com A Bruxa de Blair (1999). Para quem achou que a produção mais antiga fica se arrastando por muito tempo com os protagonistas perdidos a maior parte do enredo, a boa notícia é que o novo filme não sofre desse mesmo mal, tendo uma gradação mais bem construída.

Atividade Paranormal aposta que é muito mais assustador o sugerido do que o explícito. Dessa forma, pequenos detalhes como um barulho distante ou uma sombra quase imperceptível fazem os músculos dos espectadores se tencionaram. Com essa abordagem mais minimalista, a história contada na tela fica muito mais próxima dos causos de mistério que ouvimos como sendo reais.

Com o desenrolar das coisas, torna-se necessária a participação de efeitos especiais e eles cumprem muito bem a missão. Nesse tipo de filme, o menor erro por parte dessa área poderia pôr tudo a perder.

Para checar se seus nervos estão em dia, essa é uma ótima opção.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Abraços Partidos






Sinopse: Harry Caine é um escritor cego cujo assistente está debilitado. Enquanto faz uma visita ao jovem, Harry reconta como era sua vida antes de perder a visão, quando era diretor de cinema.


Ficha Técnica
Abraços Partidos (Los abrazos rotos)
Roteiro e Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez
Duração: 127 minutos


O universo de Almodóvar
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Em Abraços Partidos (Los abrazos rotos), o diretor espanhol Pedro Almodóvar (Volver) mostra-se cinematograficamente em forma. Diversas cenas plasticamente bem concebidas atestam porque ele ainda conta com uma legião de fãs e é elogiado por seu talento. Destaque para os tons de vermelho em vários elementos.

Para quem é familiarizado com sua filmografia, há diversas autorreferências nessa nova produção. Começando pelo elenco, com rostos familiares de seus outros filmes, há até a repetição de alguns objetos de cena de fitas anteriores. Vale conferir uma auto-homenagem: o filme dentro do filme, chamado Garotas e Malas, é uma clara alusão a Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988).

Por outro lado, quem é apenas mais um amante da sétima arte também tem motivos para assistir a Abraços Partidos. Além da ótima direção de arte antiquada do filme dentro do filme, Almodóvar usa e abusa de Penélope Cruz, sua musa. Em uma ótima cena, ela experimenta alguns figurinos e faz homenagem a Marilyn Monroe e Audrey Hepburn.

O roteiro é cheio de mistério e altamente psicológico, sem com isso ser tedioso. A razão da agilidade na dramaturgia está em algumas piadas bem colocadas e personagens muito interessantes.

Com Abraços Partidos percebe-se que esse grande nome do cinema ainda tem muito a nos oferecer.

É Proibido Fumar







Sinopse: Baby é uma professora de violão que vive sozinha em seu apartamento. De meia-idade, ela percebe a esperança de um novo amor quando Max muda-se para o apartamento ao lado.


Ficha Técnica
É Proibido Fumar
Roteiro e Direção:
Anna Muylaert
Elenco:
Glória Pires, Paulo Miklos
Duração:
89 minutos


Autêntico por ser estranho
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Depois de Durval Discos (2002), Anna Muylaert afastou-se da direção cinematográfica para focar-se em sua faceta roteirista. Durante esses anos, ela presenteou o cinema brasileiro colaborando em textos elogiáveis, como O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e Quanto Dura o Amor?.

Em É Proibido Fumar, ela volta a comandar as câmeras e se sai muito melhor do que sua tentativa anterior, quando era necessário ler o cartaz do filme para entendê-lo. Dessa vez seu trabalho está mais maduro e foi muito premiado no Festival de Brasília.

A protagonista do enredo é uma solteirona típica, cujo único companheiro é o cigarro. Todos nós temos alguém na família, no prédio ou na vizinhança que se assemelhe a Baby. Seus defeitos, e até uma dose de paranoia, não são disfarçados ou amenizados pela trama.

Quando há personagens tão autênticos, o trabalho de ator é crucial. Felizmente, pode-se contar com o talento de Glória Pires (Se Eu Fosse Você 2) e com a espontaneidade de Paulo Miklos (vocalista dos Titãs). Os diálogos parecem soltos e as atuações se encaixam muito bem nas situações propostas.

O casal é formado por uma professora de violão e um músico de bar; portanto, a trilha musical é de suma importância. Com muito bom gosto na seleção das canções, o que acaba de destacando é a cena em que Paulo Miklos canta um samba – gênero bem diferente do qual o consagrou.

Para finalizar, o desfecho é de qualidade. Sem ser didático demais, Anna confia na inteligência de seu espectador para que ele perceba como tudo termina.

O Fantástico Sr. Raposo

 por Edu Fernandes

Sinopse: Raposo muda-se com a família para uma nova casa, perto de três fazendas humanas. Ávido por aventura, ele volta à vida de roubos de sua juventude. Os fazendeiros não ficam contentes com o sumiço de sua produção e resolvem sair à caça.


Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox)
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, Noah Baumbach
Elenco: George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Bill Murray, Willem Dafoe, Owen Wilson
Duração: 87 minutos


Personalidade em novo gênero

O que o diretor Wes Anderson (Viagem à Darjeeling) fazia no meio do mato, em um sótão ou no subsolo com alguns atores que já tinham trabalhado com ele anteriormente? O cineasta levou os profissionais para todas essas locações para a gravação das vozes dos personagens de O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox), a primeira animação comandada por ele.

No quesito elenco, o destaque fica para George Clooney (Queime Depois de Ler) como o protagonista. Não dá para imaginar outra pessoa para dar voz a um malandro carismático do que o astro mais malandro carismático da atualidade.

Para quem já acompanha a filmografia de Anderson pode parecer estranho que ele se envolva com uma animação. A boa notícia para os fãs é que o humor estiloso de seus trabalhos passados continua afinado como sempre. Nunca é demais avisar que esse não é um título para levar as crianças para assistir.

O Fantástico Sr. Raposo é mais uma adaptação cinematográfica da obra de Roald Dahl (A Fantástica Fábrica de Chocolate); portanto, o politicamente incorreto se faz presente no roteiro. Para quem conhece a literatura de Dahl vale lembrar que outras fontes influenciaram no enredo, entre elas um curta-metragem russo. Então, alterações podem ser esperadas em relação à obra original, garantindo surpresas a todos.

No quesito animação, esse stop-motion* apresenta muita agilidade nos movimentos dos personagens. Eles pulam, dançam, brigam e correm com muita fluidez.

Por suas qualidades, o filme atrai e agrada a uma plateia numerosa e variada. Fãs de Wes Anderson, fãs de Roald Dahl, fãs de animação e fãs de bons filmes e boa música terão suas expectativas satisfeitas.

* Stop-motion é a técnica de animação de objetos (bonecos de massinha, por exemplo)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cidadão Boilesen







Sinopse: Documentário sobre Henning Boilesen, presidente da Ultragás que ajudou financeiramente o regime militar no Brasil. Sua participação na tortura de presos político e um plano para assaniná-lo.


Ficha Técnica
Cidadão Boilesen
Roteiro e Direção: Chaim Litewski
Elenco: -documentário-
Duração: 92 minutos


Contra o esquecimento
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )
 
Os horrores cometidos pelos militares durante a ditadura já foi muito explorado pelo cinema brasileiro nesses 25 anos de redemocratização. De forma mais dramática (Zuzu Angel) e até mais inocente (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) o tema não chega a ser novidade nas telas.

O documentário Cidadão Boilesen consegue escapar da mesmice por abordar uma vertente esquecida da questão. O regime totalitário seria impraticável e insustentável sem a ajuda da elite, que atualmente não apoia militares. Um desses financiadores da ditadura foi a dinamarquês naturalizado brasileiro Henning Boilesen.

Um dos maiores méritos do filme é de tratar de um assunto tão sério sem ser entediante e ainda com atrativos sonoros e visuais. Infelizmente sabe-se que essa postura ainda é minoritária, com a infeliz ideia que seriedade não pode ser enfeitada. (Fica o recado para a visualmente hedionda coleção de livros Debates)

A pesquisa para o longa foi muito bem realizada, com matérias de jornais, cenas de filmes ficcionais sobre o assunto e até o contato com documentos confidenciais. As fotos de arquivo ganham animação, mas acabam ficando um tanto repetitivas mais para o final. No lado auditivo, a trilha musical animada não deixa a peteca cair.

Outra característica importante de Cidadão Bolesen é dar voz aos vários lados da questão, com pontos de vista muitas vezes conflitantes entre os depoimentos. O filho de Henning, revolucionários esquerdistas da época, políticos atuais e até militares reformados contam suas histórias.

Esse documentário é uma obra ímpar, que não deixa que a memória de nossa História seja deteriorada.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Polícia, Adjetivo






Sinopse: Cristi é um policial investigando um caso de tráfego e consumo de drogas. Seus problemas acontecem por não concordar com seu superior de como será a melhor forma de conduzir o caso.


Ficha Técnica
Polícia, Adjetivo (Politist, Adjectiv)
Roteiro e Direção: Corneliu Porumboiu
Elenco: Dragos Bucur, Vlad Ivanov, Irina Saulescu, Ion Stoica, Marian Ghenea
Duração: 115 minutos


Investigação e paciência
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O título de Polícia, Adjetivo (Politist, Adjectiv) pode parecer bem estranho para qualquer pessoa com noções básicas de gramática. Na verdade, o que aconteceu foi um problema na tradução dessa produção romena. O mais adequado seria chamar o filme "Policial, Adjetivo".

A sinopse também pode levar o espectador desavisado a acreditar que se trata de um filme de ação policial com muitos tiroteios, ou um drama que discuta a questão das drogas na sociedade. O filme de fato fala do trabalho policial, mas não da forma romântica que estamos acostumados com o cinema mais popular. O objetivo desse longa é mostrar que a rotina dos detetives é bem diferente das ficções, precisando de muita paciência para conseguir seus objetivos.

O próprio público necessitará de uma grande dose de paciência para tolerar quase duas horas de uma narrativa extremamente arrastada. Logo na primeira cena, vê-se o trajeto do protagonista até a delegacia. Ele anda por muitas ruas, sem qualquer necessidade para o desenvolvimento da história. Nem mesmo os créditos iniciais são apresentados nessa cena.

O elenco, a direção e o roteiro merecem elogios por conseguirem inserir muitos assuntos desconexos na mesma situação. Por exemplo, em um jantar ou reunião de trabalho (filmada em plano-sequência*) os personagens podem falar de temas importantes para o que estão vivendo e rapidamente descambar para ameninades com extrema facilidade. Turismo, música e gramática fazem parte das falas, enquanto o cerne da questão é deixado de lado.

Polícia, Adjetivo experimenta em várias frentes, quem estiver acordado poderá ver.

* sem cortes

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Anticristo







Sinopse: Depois da morte do filho de 2 anos em um acidente, um casal retira-se para uma casa de campo para se recuperar do trauma.


Ficha Técnica
Anticristo (Antichrist)
Roteiro e Direção: Lars von Trier
Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg
Duração: 109 minutos


Jornada à insanidade
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro:)


Para quem conhece o tamanho do ego do diretor Lars von Trier, Anticristo (Antichrist) será uma lufada de ar renovado no currículo do dinamarquês. Exceto pelos créditos iniciais, compostos apenas pelo nome do filme e o nome do cineasta, ele se comporta. Enquanto no fracasso de O Grande Chefe ele chega a narrar a história, dessa vez ele deixa que o enredo flua livremente com posicionamentos de câmera interessantes.

No entanto, o maior mérito de Trier nesse filme está na forma como ele consegue convidar seu espectador de forma gradativa a adentrar na loucura na trama. Conforme avançam os capítulos, vamos nos aprofundando na psique dos personagens até chegarmos à nebulosa e torturante (no bom sentido) sequência final.

Para se ter uma noção da diferença gritante entre o começo e o final de Anticristo, basta comparar as sensações que esses momentos opostos geram. A primeira cena é altamente plástica, com uma bela direção de fotografia assinada por Anthony Dod Mantle (O Último Rei da Escócia), em câmera lenta e com uma tocante trilha de fundo – uma daquelas passagens únicas em experiência cinematográfica. Por outro lado, ao final da exibição muitos estômagos estarão doendo e muitos corações ficarão inquietos. A tensão permanecerá na mente do espectador mesmo depois de sair do cinema.

Finalmente, em um filme com um elenco composto praticamente por apenas dois atores, o trabalhos desses profissionais é uma peça-chave para o valor geral da obra. Será suficiente dizer sobre o assunto que Charlotte Gainsbourg (A Noiva Perfeita) foi premiada em Cannes e que Willem Dafoe (Um Segredo entre Nós) não fica para trás.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Beyond Ipanema – Ondas Brasileiras na Música Global






Sinopse: Documentário que perpassa a História da música brasileira e suas influências nos EUA.


Ficha Técnica
Beyond Ipanema – Ondas Brasileiras na Música Global (Beyond Ipanema – Brazilian Waves in Global Music)
Direção: Guto Barra
Roteiro: Guto Barra, Béco Dranoff
Elenco: -documentário-
Duração: 90 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

 “O quê é que a baiana tem?” já perguntava a portuguesa mais brasileira do século XX, Carmem Miranda. E o que é que o brasileiro tem pra despertar tanta curiosidade e fascinação nos gringos, mesmo com a Amazônia sendo devastada e helicópteros sendo derrubados nas favelas do Rio? Segundo David Byrne, é a cultura e, mais especificamente, a música, que é exportada como um produto de qualidade, assim como o café e o açúcar.

Beyond Ipanema – Ondas Brasileiras na Música Global (Beyond Ipanema – Brazilian Waves in Global Music) é um documentário que traça uma ponte Rio-NY e desenha um panorama da difusão da música nacional em terras internacionais. Desde os balangandãs de Carmem Miranda, que fazia questão de ter falas e algumas músicas em português em seus filmes, até os anos 2000.

Com a Internet e o compartilhamento de vídeo e música cada vez mais acessíveis hoje em dia, fica fácil para bandas de qualquer país ficarem conhecidas em outro lugar. Mas nas décadas passadas, quando Mutantes e Novos Baianos começaram a ganhar destaque no mercado norte-americano, não era tão fácil achar informação ou discografia disponível nos EUA. Ou mesmo aqui no Brasil, como contam entrevistados como David Byrne, Nelson Motta, Ruy Castro, Caetano Veloso, Tom Zé, e Gilberto Gil (inexplicavelmente falando apenas em inglês e pronunciando coisas como “hair” ao invés de “her” e “cowture” ao invés de “culture”).

Passando pela bossa nova, traça-se paralelo deste gênero com o jazz norte-americano. Com a Tropicália, ressalta-se a rebeldia e a contracultura (apesar de não falar palavra sobre a Ditadura) que encantaram os gringos e levaram ao retorno dos Mutantes em 2006. Há ainda Bebel Gilberto, Seu Jorge, Cansei de Ser Sexy e até “escola de samba” no Harlem! E o documentário vai além dos nomes canônicos, enveredando também pelo funk carioca e o forró nas noites nova-iorquinas.

O mix de estilos, o tempo todo ressaltado como característica da cultura nacional (Gil chega a lembrar da antropofagia da Arte Moderna) se dá também nas imagens captadas em super-8, 35mm e digital.

Entre um tópico e outro, surgem mulatas, Carnaval e praias estampando a tela e cristalizando as imagens gravadas na retina e no imaginário coletivo estrangeiro. Isso poderia classificar o filme como “para inglês ver” ou para brasileiro que necessita de reconhecimento externo se valorizar. Mas não há muito como fugir de estereótipos, já pavimentados lá trás por Carmem Miranda.

Prova disso se dá com Adriano Sintra e Lovefoxx, do CSS, afirmando que só perceberam que suas letras falavam de sexo quando a crítica internacional alertou sobre isso. Ou quando os integrantes da banda Garotas Suecas comentam que só passaram a conhecer mesmo música brasileira em Nova York.

É interessante também ver que Bebel Gilberto, famosa pelos seu mix musical, torcia o nariz pra música tecno e eletrônica até conhecer o Towa Tei, ex-integrante da banda Deelite, com quem fez parceria.

O espectador pode sentir falta de nomes como Maria Bethânia e Chico Buarque, que segundo o co-produtor Béco Dranoff, não foram mencionados por não terem tido tanta repercussão nos EUA. Outro fenômeno da música nacional que rodou o mundo, a lambada, liderada pelo Kaoma, também não é abordado. Para Dranoff, o estilo não agradou tanto aos norte-americanos quanto os europeus e asiáticos e por isso também ficou de fora.

No geral, vale assistir. Seja para constatar que o modo como nos veem lá fora é endossado por nós mesmos em alguns pontos, seja para conhecer um pouco mais da trajetória de nossa própria produção musical, solapada, muitas vezes, pela cultura deles, os gringos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Besouro





Sinopse: Bahia, 1929. A escravidão acabou, mas o preconceito racial ainda exite na sociedade. Besouro é um capoeirista determinado a vingar a morte de seu mestre e para isso conta com a ajuda mística dos orixás.


Ficha Técnica
Besouro
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Roteiro: João Daniel Tikhomiroff, Patrícia Andrade
Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jessica Barbosa, Flavio Rocha
Duração: 120 minutos
 
 
Desafios vencidos
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
O cinema brasileiro tem tido um crescimento sensível com o passar dos anos, mas alguns desafios ainda estão no caminho dos nossos filmes. Besouro consegue superar alguns desses obstáculos de forma sublime e só por isso já seria um ganho, mas ainda há outras qualidades no longa.

O primeiro desafio é a criação de um super-herói brasileiro sem que a história fique forçada – tal dificuldade também reside nos quadrinhos. Por lutar contra injustiças sociais e ter seus poderes associados aos orixás, Besouro é uma saída para adaptar a realidade do país ao enredo de super-herói. Com isso, o problema do cinema de gênero também é solucionado. Não podemos ficar marcados como o país que só faz filme de tiro e favela se quisermos ter relevância na produção audiovisual mundial.

Todo mundo que já teve aula de História com a ajuda de vídeos educativos sabe que normalmente o que deveria ser divertido acaba, na melhor das hipóteses, sendo uma experiência sonolenta. A boa nova para os estudantes é que Besouro pode ser uma opção divertida para os alunos aprenderem um pouco sobre a história dos negros, que sofriam preconceito mesmo depois da Abolição e, infelizmente, até hoje.

Tudo isso é muito legal, mas o que conta é a qualidade técnica dessa aventura. As cenas de luta são bem coreografadas e as câmeras, posicionadas de forma que parece estarmos diante de uma grandiosa produção de algum país que já tenha tradição em filmes de luta. A razão de tal competência foi a contratação de profissionais estrangeiros, com know-how apropriado, para ajudar na pancadaria e no uso de cabos para suspender o capoeirista voador.

Quem gosta de assistir a todos as produções de super-heróis que invadem o circuito de cinema todo ano não pode perder a chance de ver Besouro. Trata-se de um gênero que já tem uma legião de fãs, mas com elementos nacionais que só abrilhantam a fita.

Coco antes de Chanel

por Carla Bitelli

Sinopse: Cinebiografia de Gabrielle Bonheur Chanel, estilista francesa que revolucionou a moda do início do século XX, criadora da marca Chanel.


Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel)
Roteiro e Direção: Anne Fontaine
Elenco: Audrey Tautou, Alessandro Nivola, Benoît Poelvoorde
Duração: 105 minutos


E depois?

Biografias são sempre complicadas e os realizadores (seja um livro ou um filme) podem cometer vários pequenos erros que comprometem a obra. Um deles é, por exemplo, impregnar a biografia de fanatismo pela obra do biografado. Outro é recortar demais um período de vida. Um terceiro é reduzir fatos e torná-los causais. Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel) tem esses dois últimos.

O início mostra a dura vida de Gabrielle e sua irmã num internato. (Aqui faço uma nota: a legenda insiste em chamar de orfanato, mas a biografia da artista prova que o pai deixou as filhas no internato após a morte da mãe delas.) A seguir, as irmãs tentam buscar uma vida digna como artistas, mas não são bem-sucedidas. O interessante deste trecho é descobrir como Gabrielle se tornou Coco.

Quando se vê sozinha, Coco decide se mudar: vai até a casa de um comerciante que conhecera, onde passa a morar e a conhecer a alta sociedade francesa. Nessa etapa, Coco se apaixona pelo inglês Arthur Boyle. Seu romance, no entanto, tem final triste.

O problema da obra é reduzir à genialidade de Coco a uma rebeldia injustificada. A narrativa leva o espectador a crer que sua sobriedade na moda (o uso de calças e de preto) é antes um capricho que uma contestação da posição da mulher na época. Ainda, há uma supervalorização do amor entre Coco e Boyle, como se fosse essa a única motivação dela para criar sua linha que se tornaria uma das mais famosas e influentes do mundo. Como em Amor e Inocência, cinebiografia de Jane Austen, é preciso ver o filme com uma certa reserva, sem tomá-lo como uma reprodução fiel da verdade.

Audrey Tatou é carismática e interpreta Coco excelentemente. O envelhecimento da personagem (mais amadurecimento) é retratado menos com maquiagem e mais com atuação.

O ponto alto da obra é a trilha musical, assinada por Alexandre Desplat (Julie & Julia). Ela é marcada e combina perfeitamente com o filme.

Por fim, o grande problema de Coco antes de Chanel é justificado pelo título: ao restringir a biografia até o momento antes da marca Chanel, não mostra o trabalho de Coco na criação da marca, que certamente é algo que os entusiastas pela estilista procuram.

Mesmo assim, o filme é imperdível. Um retrato de uma mulher além de seu tempo, que revolucionou a moda e, com isso, o papel da mulher na sociedade.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

This Is It





Sinopse: Antes de sua morte, Michael Jackson estava se preparando para apresentações que deveriam realavancar sua carreira. O documentário mostra os ensaios para o show que ele faria em Londres.



Ficha Técnica
This Is It
Direção: Kenny Ortega
Roteiro: -documentário-
Elenco: Michael Jackson
Duração: 112 minutos



Vida longa ao rei!
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O documentário This Is It é uma tentativa de remontar, usando imagens dos ensaios, como seriam as apresentações em Londres. Para isso, as canções são executadas do começo ao fim com a banda tocando e Michael cantando, para a alegria dos amantes de boa música pop.

Para os fãs que nunca poderão usar os ingressos do show, o filme serve como prêmio de consolação. No entanto, esse prêmio de consolação foi construído graças a grandiosa criatividade de Michael Jackson. Como a morte dele aconteceu poucos dias antes do primeiro concerto, toda a produção estava bem adiantada e a reconstituição consegue transmitir uma bela ideia do que aconteceria naquele palco.

Nas coreografias e atrações programadas, Michael mostra que não tem reservas em tocar em clássicos, tornando-os novos sem perder a qualidade do original. O objetivo do show era fazer os que estavam assistindo dizer "uau" praticamente o tempo todo, com inovações surpreendentes. Nesse item não estão apenas as luzes e pirotecnia de praxe, mas vídeos e outras novidades estonteantes.

Pelos breves depoimentos da banda e equipe que permeiam as canções, é possível perceber a extensão da devoção que todos nutrem pelo Rei do Pop. Em outros momentos, em que Jackson apega-se a detalhes para que os arranjos fiquem exatamente do seu agrado, são expostos o perfeccionismo e a sensibilidade desse artista.

Mesmo com quase duas horas de duração, a carreira de MJ é longa e muitas canções ficam de fora. Seriam necessárias mais horas para que todas as peças importantes do repertório fossem contempladas. Por isso, não vale reclamar que faltou aquela música, a seleção da playlist abriga vários sucessos

Depois de terminada a sessão os fãs sentirão um misto de alegria e tristeza. O sentimento positivo pelo reencontro com o ídolo fica mesclado pela triste constatação que esse mestre do entretenimento teria muito mais para oferecer.

sábado, 24 de outubro de 2009

A Todo Volume








Sinopse: Três gerações de guitarristas (Led Zeppelin, U2 e White Stripes) se reúnem para falar sobre guitarras.


Ficha Técnica
A Todo Volume (It Might Get Loud)
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro: -documentário-
Elenco: Jimmy Page, The Edge, Jack White
Duração: 100 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

A Todo Volume (It Might Get Loud) é um documentário sobre rock, estilos, influências, processos criativos e muito barulho. Muito som. Para ter vontade de sair do cinema e ir direto colocar o mp3 player ou pôr o som do carro ou de casa pra tocar.

O premiado diretor Davis Guggenheim (Oscar por Uma Verdade Inconveniente) reúne três grandes músicos de diferentes gerações para uma conversa sobre seus instrumentos de trabalho/diversão/paixão, a guitarra. O encontro é apenas um pretexto para repassar a carreira de cada um, suas relações com suas bandas e o que cada artista trouxe de novo para o mundo do rock. Com direito aos três tocando músicas uns dos outros.

Das décadas de 60 e 70, Jimmy Page (The Yardbirds e Led Zeppelin), conta que quando garoto, chegava a carregar seu violão para a escola para tocar durante o recreio. Aos 64 anos, ainda com jeito de garoto, comenta contentemente seu vinis em uma sala empanturrada de CDs e LPs.

Dos anos 80 e 90, The Edge (U2) mostra todo seu encantamento pelos aparatos eletrônicos e as sintetizações que eles causam no som da guitarra. Belo exemplo disso ocorre quando ele toca o riff de "Elavation" com e sem os efeitos do pedal.

Finalmente, um inseguro e observador Jack White (The Raconteurs e White Stripes) parece se sentir perdido ao lado de dois artistas que colocaram seu nome na história do rock. Sua relação com os instrumentos é o oposto da de The Edge, preferindo os sons puros e a experimentação não-eletrônica.

As horas e horas ouvindo música e produzindo som ao longo da juventude, resultaram no acúmulo de inspiração aos três, que só poderia reverter em criatividade e subsequente sucesso. E o mais interessante é ver que esse sucesso veio, justamente, porque cada um quis, como todo jovem rebelde, produzir algo diferente da geração anterior.

A contraposição de estilos e de personalidades fica evidente em momentos como os depoimentos de cada um sobre sua primeira guitarra. Enquanto Jack White ganhou uma guitarra velha pelo serviço de frete que prestou a seu irmão, Jimmy Page e The Edge compraram as suas.

Ao longo do filme, os suportes utilizados pelo diretor para ilustrar os diferentes momentos das carreiras também tornam patentes as diferenças sociais pré-fama. Fotos ajudam a contar a história de The Edge, enquanto animações e reconstituições completam a de Jack White. Jimmy Page é o único que teve recursos para ter filmagens da época.

Não podiam faltar cenas memoráveis de início de carreira, como um “James” Page, ainda adolescente, em um programa de TV, dizendo que queria ser biólogo ou uma performance do U2, um tanto cômica, à la Rolling Stones (com direito a Bono Vox de roupas justinhas e requebrando no estilo Mick Jagger).

Para muita gente, o rock e a guitarra ainda são apenas barulho. Este recorte das carreiras desses três caras mostra que é isso mesmo que eles querem fazer. Barulho. E fazem muito bem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tyson









Sinopse: Documentário que relata a vida pessoal e a carreira de Mike Tyson, ex-campeão de boxe.


Ficha Técnica
Tyson
Roteiro e Direção: James Toback
Elenco: Mike Tyson
Duração: 90 minutos


Retrato de uma fera
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Mike Tyson é uma das celebridades mais polêmicas das últimas décadas, com as acusações de estupro e seu comportamento em combates aparecendo nas manchetes da imprensa. O documentário Tyson aborda todas as questões imagináveis em que ele esteve envolvido, dentro e fora do ringue.

Para tal missão, uma consistente pesquisa de imagens de arquivo foi desempenhada. Fotos da infância do pugilista, quanto ele era gordinho e era importunado por valentões; seus treinamentos na juventude; a escalada para a unificação dos cinturões dos pesos pesados; entrevistas concedidas para a televisão;... tudo está presente no filme.

A história de vida de Mike é contada por ele mesmo, em ordem cronológica. Para não ficar monótono, de tempos em tempos há boas digressões sobre como o atleta vê o mundo. A forma de tratar as mulheres, o desejo que sente por elas, sua concentração antes de uma luta, a importância de seu primeiro treinador. Com essas pequenas divagações – por vezes acompanhadas de lágrimas – consegue-se ter uma visão mais clara do funcionamento da mente do protagonista.

O objetivo de Tyson é mostrar como o próprio Mike se enxerga. Por essa razão, ele é o único depoente, além de assinar como produtor executivo. Para ilustrar a confusão que pode ser interpretar o raciocínio e as atitudes de um ser humano, a edição coloca vários quadros na tela e até sobrepõe o discurso de diferentes momentos.

Por não se focar totalmente nos altos e baixos da carreira do boxeador, o documentário consegue conquistar uma plateia mais abrangente. Mesmo quem não tem muito interesse por esportes de combate pode aproveitar esse filme humano.

Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo






Sinopse: Geólogo viaja pelo sertão nordestino a trabalho enquanto divaga sobre seu relacionamento com a ex-esposa.


Ficha Técnica
Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo
Direção: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz
Roteiro: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, Eduardo Bernardes
Elenco: Irandhir Santos
Duração: 75 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

 Fazer um vídeo longo apenas com off é complicado. A falta de uma pessoa que conduza a história requer um roteiro bem amarrado e muito bem casado com as imagens.

No caso de Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo, as imagens são uma colcha de retalhos. Captadas por meio de vários suportes (câmera de vídeo digital, super 8, 35mm e até máquina fotográfica), elas vão ilustrando a história do protagonista que cruza o sertão. Geólogo, o personagem principal está em viagem de trabalho para analisar o terreno que será cortado pela transposição das águas de um rio. Seu nome é José Renato e tem 35 anos. Mas isso pouco importa, uma vez que não o vemos em nenhum momento do filme. O personagem principal é a viagem em si. Tudo é mostrado apenas a partir do relato de seu trabalho ou do ponto de vista do geólogo.

A profissão do protagonista justifica a viagem. O excesso de dados técnicos a respeito da geologia dos lugares, porém, às vezes incomoda.

Com jeito de documentário, em função do relatório de trabalho, o filme acompanha a travessia solitária e melancólica do geólogo pela paisagem monótona da caatinga. Mergulhado em sentimentos de saudade e de raiva pela ex-esposa, o protagonista torna a viagem cada vez mais entediante e depressiva. A paisagem vazia e parada faz com que ele se pergunte como alguém pode morar ali. Os próprios moradores se questionam isso, como fica latente no “depoimento” de uma prostituta que sonha em se livrar da vida sofrida que leva ali para ter, nas palavras dela, “uma vida-lazer”, que ela acredita que pessoas ricas tenham.

O geólogo se perde na “viagem” (tanto no sentido literal quanto no sentido figurado da palavra). Uma profusão de cenas desfila na tela, desde os encontros sexuais dele até feiras fervilhantes e devoções ao Padim Ciço (padre Cícero) que ele encontra pelo caminho.

Esse ponto de vista particular da narrativa leva a uma imersão no agreste, na viagem pessoal dos dois diretores nordestinos por suas raízes e pela cultura peculiar do semiárido. Este foi o motivo inicial de montar o filme, motivo este que permeia a carreira de Karim Aïnouz (O Céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus).

As imagens do filme foram produzidas ao longo de quase uma década pelos diretores em viagens pelo sertão. O trabalho de amarração a uma história é o ponto forte do filme e lhes rendeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Fotografia no Festival do Rio de 2009.

O roteiro foi reescrito várias vezes para que se chegasse ao tom de narrativa desejado pelos diretores. Em muitos momentos o filme é apenas uma narração, seja do trabalho do geólogo, seja da paisagem, seja das cenas presenciadas. Mas, algumas vezes, nos momentos em que deveriam ser apenas divagações do personagem, análises dele sobre a vida e sua saudade da ex-esposa, o tom do ator continua narrativo.

O filme é quase um média-metragem, mas o tempo, tanto para o protagonista, como para quem assiste, se arrasta. Assim como se arrasta para as pessoas que vivem no sertão.

O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus




Sinopse: Dr. Parnassus é o dono de uma companhia teatral decadente. Conforme o aniversário de 16 anos de sua filha se aproxima, ele teme que tenha de pagar uma dívida diabólica.

Ficha Técnica
O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus)
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Charles McKeown
Elenco: Christopher Plummer, Heath Ledger, Johnny Depp, Colin Farrell, Jude Law, Lily Cole, Tom Waits, Andrew Garfield
Duração: 122 minutos

Show de imagens
 por Edu Fernandes 

(Spoilerômetro: )

O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus) é um grandioso deleite para os olhos, já que o filme aproveita todas as oportunidades que o roteiro oferece para apresentar ousadias visuais. Muitas vezes com computação gráfica, mas em outros momentos recorrendo para os bons e velhos cenários concretos; a identidade visual do projeto está muito alinhada. As outras áreas visuais, além da cenografia, também favorecem a atmosfera onírica do longa. Os figurinos, a maquiagem e a iluminação parecem saídos de outro mundo.

O teor fantástico da história está apoiado em elementos que já fazem parte do imaginário coletivo aliados com uma criatividade inovadora. Isso começa com o próprio espelho que serve de portal para o mundo imaginário, remetendo ao livro Alice no País do Espelho, continuação do País das Maravilhas.

Tudo o que acontece quando os personagens entram no tal mundo imaginário parece ter sido tirado da mente de um artista surrealista, com alegorias e simbolismos profundos – além de bem-vindas alusões a outras obras fantasiosas, como o musical Mary Poppins (1964).

Mesmo com suas qualidades, o que mais gera curiosidade em torno de O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus é o fato de ser o último trabalho de Heath Ledger (O Cavaleiro das Trevas). O que é ainda mais triste é que ele novamente esbanja talento e relembra os cinéfilos por que ele deixa tantas saudades. Felizmente o roteiro foi muito bem reescrito e as entradas dos substitutos de peso não ficaram forçadas.

A fantasia do filme é tão forte que quem se interessa por esse tipo de produção ficará com vontade de assisti-lo novamente para absorver mais conteúdo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bons Costumes





Sinopse: Jovem inglês retorna de viagem pela França para casa da família casado com uma piloto de corridas norte-americana. Instala-se, então, uma batalha de culturas entre a sogra e a nora.


Ficha Técnica
Bons Costumes (Easy Virtue)

Direção: Stephan Elliott
Roteiro: Stephan Elliott, Sheridan Jobbins
Elenco: Jessica Biel, Ben Barnes, Kristin Scott Thomas, Colin Firth
Duração: 97 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

“Maravilhoso!” “Escandaloso!” “Brilhante!” Adjetivos assim são usados desde os anos dourados do cinema por críticos norte-americanos na tentativa de resumir uma obra em uma palavra. Mas Bons Costumes (Easy Virtue), que se passa na década de 1920, pode ser classificado como “maravilhoso” (pelas paisagens e pela reconstituição de época), “escandaloso” (pela batalha entre os costumes) e “brilhante” (pelo roteiro ágil).


Misture a aristocracia conservadora britânica – muito apegada às tradições – das obras de Jane Austen ou de Henry James no contexto de uma comédia romântica. É mais ou menos essa a impressão que se tem no início do filme, apesar de ser esta uma comédia de costumes.

A história se passa um século depois das obras de ambos os escritores, mas retrata uma Grã-Bretanha recém-saída da Era Vitoriana e da Belle Époque e ainda se recuperando da Primeira Guerra Mundial. Neste cenário, o jovem inglês John Whittaker (Ben Barnes, o príncipe Caspian, de As Crônicas de Nárnia), conhece em uma viagem pelo Sul da França, a piloto de carros de corrida Larita Huntington (Jessica Biel, de O Ilusionista). Ela é norte-americana e mais velha que ele. Os dois se apaixonam, intempestivamente se casam e ele a leva para a casa de campo de sua família, no interior da Inglaterra.

O filme logo engata e cedo começa o choque de costumes, de gerações, de culturas. A austeridade e o conservadorismo da sogra ante o comportamento avant-gard de Larita. A tradição contra a inovação. O velho contra o novo. A Inglaterra (o Velho Mundo) contra o os Estados Unidos (o Novo Mundo). A família, parada na soleira do casario para receber os recém-casados, já da o tom dos atritos culturais: uma das irmãs diz que não está a fim de sorrir para o casal, ao que o pai (Colin Firth) arremata “Você é inglesa, querida. Finja.”

A estética procura ser impecável, das belas paisagens das colinas inglesas ao figurino de inverno. Da ótima trilha sonora, com swing e tango, à beleza do casal protagonista.

John é o retrato do bom moço: bonito, rico, bem vestido e de boa família. Espontâneo e imaturo como um garoto, mas atencioso e sedutor com a amada, devotando-lhe canções cantaroladas aqui e ali. Larita é a audácia em pessoa, de seu cabelo às suas roupas provocantes e sua língua afiada; o arquétipo da mulher moderna e madura daqueles tempos. Enquanto a sogra traja saias compridas, Larita usa calças. A sogra aprecia o clássico, o cuidado com as plantas da estufa. Larita, como muitas das mulheres passavam a fazer, aprecia livros, além de música e arte modernas. E, aos poucos, a moça vai introduzindo novas idéias no velho cottage dos Whittaker e gerando o conflito.

Kristin Scott Thomas (Há Tanto Tempo que Te Amo) está ótima no papel da sogra, demonstrando desprezo pela nora mesmo quando nada fala, apenas com gestos ou com olhar cortante. Quando a moça se apresenta à sogra, ela responde com sorriso amarelo: “Oh, você é norte-americana...”. Colin Firth (Marido por Acaso) no papel do pai entediado, mas munido de muito sarcasmo, também se sai muito bem.

Os diálogos francos na família geram boa parte das piadas, ágeis e afiadas. Para o espectador contemporâneo, este é um filme de época, mas, na verdade, o roteiro é uma adaptação da peça homônima de Noël Coward, de 1926, e que já teve uma primeira versão para as telas ainda como filme mudo, dirigida por ninguém menos que Alfred Hitchcock em início de carreira.

A outra parte da graça fica por conta da direção de Stephan Elliot (Priscilla – A Rainha do Deserto), que salpica o filme com jogo de reflexos, metaforizando as aparências, e abusa das interpretações e de cenas rápidas. Como afirma Larita à cadelinha da família quando ela interrompe a intimidade do casal: “Querida, timing é tudo.”

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

por Edu Fernandes


Sinopse: Os Bastardos são um grupo de soldados de origem judaica na Segunda Guerra Mundial. O objetivo deles é matar nazistas, o que eles fazem com requintes de crueldade. 

Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)
Roteiro e Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl
Duração: 153 minutos


Tarantino vai à guerra

Apesar de ter como pano de fundo um evento histórico (a Segunda Guerra Mundial), o realismo de Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) é bem limitado. Portanto, não importa quantos livros de História foram lidos pelo espectador, o final é fantasioso – assim a surpresa é mantida. Mesmo assim, pode-se ver um pouco de autenticidade na presença de figuras históricas e no uso dos idiomas corretos dos personagens.

A guerra é o tema, mas muito do gênero faroeste é explorado pelo filme. O protagonista – em um ótimo trabalho de Brad Pitt (Benjamin Button) – é originário do sul estadunidense, com direito a sotaque marcado. Outra característica do Velho Oeste é a coleção de escalpos e muito do exagero das cenas de tiroteio.

Outro membro do elenco que merece ser congratulado é o austríaco Christoph Waltz em seu primeiro trabalho hollywoodiano – antes disso, ele se envolveu muito com projetos em televisão. Waltz já foi reconhecido por sua atuação nesse filme com uma premiação em Cannes.

A violência é uma constante na carreira do diretor Quentin Tarantino (Kill Bill), mas levando em conta tudo o que já fez, pode-se até considerar que ele pegou leve em Bastardos. Entretanto, não custa lembrar que ainda é uma obra assinada por Tarantino!

O enfoque da campanha de divulgação é o grupo de soldados que dá nome ao filme. Não é possível perceber pelas peças de publicidade que na verdade há várias tramas paralelas, com o encontro de todas apenas na sequência final.

Considerando que A Prova de Morte ainda não estreou oficialmente no Brasil, os cinéfilos daqui estão órfãos de Tarantino desde 2004 – a não ser os sortudos que já viram seu trabalho anterior em alguma mostra especial ou no exterior. Quem pertence ao grupo dos menos favorecidos perceberá que valeu a pena esperar por esse reencontro com o cineasta.

Dude Fato: Brad Pitt e Diane Kruger já contracenaram em Troia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Matadores de Vampiras Lésbicas




Sinopse: Jimmy acaba de ser dispensado por sua namorada. Fletch foi demitido. Esses dois amigos decidem ir para uma localidade isolada para esquecer seus problemas. O problema é que nesse local todas as garotas transformam-se em vampiras lésbicas ao completarem 18 anos.


Ficha Técnica
Matadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers)
Direção: Phil Claydon
Roteiro: Paul Hupfield, Stewart Williams
Elenco: Mathew Horne, James Corden, MyAnna Buring
Duração: 88 minutos


Rindo da fórmula
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O terror é um dos mais amplos gêneros cinematográficos. Existem filmes que testam os limites do espectador ([REC]), outros que exageram propositalmente nas passagens nojentas (Arraste-me para o Inferno) e os que nos fazem rir. Esse último grupo normalmente são produções trash que podem ou não se levar a sério, mas o riso sempre está associado à precariedade dos efeitos.

Matadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers) não pertence a qualquer um desses grupos, já que essencialmente se trata de uma comédia que explora a fórmula do terror para encaixar piadas. Essa estrutura em uma produção britânica remeterá prontamente para outro título igualmente hilário: Todo Mundo Quase Morto.

Tecnicamente, o filme também homenageia o gênero com uma história absurda e com o letreiro usando as clássicas letras sangrentas que estavam na moda em décadas passadas. Uma assinatura visual interessante é a aceleração de trechos de algumas cenas, usada na medida certa para ser marcante sem ser cansativo.

Apesar do título altamente apelativo para os rapazes, as namoradas não precisam ficar bravas de acompanhá-los para as salas de cinema. É obvio que cenas sensuais estão presentes, mas o que ficará marcado são as ótimas piadas inseridas no roteiro. Risadas garantidas para todos que se dispuseram a aceitar a proposta absurda de Matadores de Vampiras Lésbicas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tá Chovendo Hamburguer



Sinopse: Flint Lockwood é um inventor que sonha criar algo que melhore a vida das pessoas. Mas, na cidadezinha pacata em que vive, tem fama por seus inventos desastrosos. Tudo muda quando o prefeito da cidade percebe o potencial das invencionices de Flint para tornar o lugar um polo turístico.


Ficha Técnica
Tá Chovendo Hamburguer (Cloudy with a Chance of Meatballs)
Direção: Phil Lord e Chris Miller
Roteiro: Phil Lord e Chris Miller, baseado na obra de Judi Barrett e Ron Barrett
Elenco: Bill Hader, Anna Faris, James Caan, Bruce Campbell
Duração: 90 minutos


 por Thaíse Costa

(Spoilerômetro: )

Tá Chovendo Hamburguer (Cloudy with a Chance of Meatballs) tem arrecadado boas cifras nas bilheterias norte-americanas. Inspirado no best-seller infantil homônimo de Ron e Judi Barrett, a história faz sucesso há mais de três décadas – refletido na grande aceitação do público nos cinemas. Mas, é claro, não é só isso: sem perder a linha, a nova animação da Columbia/Sony Pictures adota a estratégia de segurança para o sucesso – uma técnica de animação 3D rigorosa aliada a uma narrativa que cumpre seu papel, sem grandes experimentações.

Na história, a grande invenção do jovem Flint é capaz de converter água em comida, e isso resulta em chuva de hamburguer, sorvete, macarronada e o que mais a criatividade der conta de pensar. Ao mesmo tempo em que acredita estar resolvendo o problema da falta de comida na cidade em que vive, Flint percebe que isso pode não ser assim tão bom quanto parece à primeira vista. Com a ajuda da “garota do tempo” Sam, ele tenta reverter o desastre que se forma, graças à ganância de alguns, mas também resultado da própria vaidade do jovem inventor.

Um fator interessante é que o filme trabalha a “moda nerd” em voga. É claro que Flint é um nerd de plantão, com direito a bullying na infância e tudo mais... mas a repórter Sam também tem problemas – é muito inteligente e apaixonada por fenômenos meteorológicos, porém se sente obrigada a manter a aparência padrão de “bonitinha e simpática”. O difícil relacionamento de Flint com o pai também é explorado de maneira simples e bela na fita.

Considerando certo enxugamento de animações para crianças que sigam uma linha mais clássica, sem piadas que só os adultos entendem, talvez aí more a principal razão para o sucesso de Tá Chovendo Hamburguer. Seu tom leve e bem-humorado não deverá decepcionar os pequenos.

Julie & Julia



Sinopse: Julie Powell odeia seu trabalho. Ela decide cozinhar todas as receitas do livro de receitas de Julia Child em um ano e postar a experiência diariamente em um blog. Julia Child vai morar na França por causa do trabalho de seu marido. Lá ela começa um curso de gastronomia.



Ficha Técnica
Julie & Julia
Roteiro e Direção: Nora Ephron
Elenco: Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci, Chris Messina
Duração: 123 minutos



Bon apetit!
por Edu Fernandes


(Spoilerômetro: )


O primeiro conselho a ser dado para quem quiser se deliciar com Julie & Julia é o de fazer uma boa refeição antes de entrar na sala de cinema. Caso contrário, é bem provável que o espectador saia de lá com um apetite descomunal, por causa das vistosas receitas preparada pelas protagonistas. O mesmo acontece com outros filmes em que muitas cenas acontecem na cozinha, como A Garçonete.

O roteiro é a adaptação de dois livros, cada um escrito por uma das personagens. Sinal dos tempos, é a primeira grande produção baseada em um blog – vale lembrar que o nacional Nome Próprio conta as experiências de uma blogueira, mas é um filme pequeno. Adaptando-se com a real estatura de Julia Child (1,85 m), alguns truques foram utilizados: adaptação nos cenários, figurino e ângulos de câmera.

Para viver essas duas mulheres reais, duas atrizes do maior talento foram convocadas. Para Julie, a simpatissíssima Amy Adams; e para Julia, Meryl Streep em uma atuação precisa, chegando quase a ser caricata, mas totalmente convincente.

Apesar de alguns pratos bem pesados serem servidos no decorrer das aventuras gastronômicas dessas adoráveis mulheres, a tônica do filme é levíssima, como claras em neve. Para combinar com o tom, a trilha musical composta por Alexandre Desplat (Benjamin Button) é empolgante e engraçadinha. Ainda nesse mérito, há uma hilária cena ao som de "Psico Killer", canção da banda Talking Heads.

Dude Fato: Antes de Julie & Julia, Meryl Streep já trabalhou em outros filmes com Amy Adams (Dúvida) e Stanley Tucci (O Diabo Veste Prada).

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Deixa Ela Entrar






Sinopse: Oskar é um garoto solitário de 12 anos que é sempre incomodado por garotos valentões em sua escola. Sua solidão acaba quando ele conhece Eli, sua nova vizinha. Ela também tem 12 anos, há séculos...


Ficha Técnica 
Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in)
Direção:
Tomas Alfredson
Roteiro:
John Ajvide Lindqvist
Elenco:
Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar
Duração:
115 minutos


"I'd say you were within your rights to bite"*
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O primeiro amor é um tema que muitas pessoas gostam de ver no cinema (e nos livros, e na televisão,...), mas é algo muito difícil de ser transmitido com sinceridade. Além da idade difícil que os atores precisam ter, trata-se de uma questão delicada e sutil, sendo muito fácil passar do ponto e o conteúdo acabar de mau-gosto, forçado ou esquisito. Antes de ser um filme sobre vampiro, Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in) é uma obra linda por conseguir falar do primeiro amor da forma correta.

Os dois jovens protagonistas se conhecem aos poucos e os laços se estreitam gradativamente. O que pode agradar principalmente as meninas de temperamento forte é que nessa relação é Eli que está encarregada de proteger Oskar, uma forma de relacionamento poucas vezes abordada na ficção. A sutileza do sentimento deles pode ser traduzida pelo fato de que eles costumam se comunicar com batidas na parede que divide os apartamento em que moram, usando código morse para recadinhos amorosos.

No quesito vampiresco do roteiro também existem diferenciais, que vão além do fato de que se trata de um casal formado por uma vampira e um mortal. Algumas facetas sobre a vida dessas criaturas da noite são melhor explicadas (como o fato de os vampiros precisarem ser convidados para entrar em um local), enquanto outras questões recebem um tratamento mais aprofundado do que em outros meios.

Para quem é fãs dos vampiros, boas cenas assustadoras podem ser esperadas. Eli pode ser uma criatura aparentemente fofa, mas lembrem-se que ela tem necessidade de sangue humano. Não há espaço para o "vegetarianismo" da saga Crepúsculo!

* Verso da música "Let the right one slip in", de Morrissey, que pode ser traduzido por "Eu diria que você estava no seu direito de morder". A música inspirou o nome do romance e do filme.