quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Terra Vermelha



Sinopse: Nádio é o cacique de uma tribo localizada em uma reserva que não tem estrutura para sustentar a todos. Os índios decidem mudar de lugar, indo acampar em um solo sagrado. O problema é que este solo sagrado fica ao lado de uma fazenda.


Ficha Técnica
Terra Vermelha (BirdWatchers - La Terra Degli Uomini Rossi)
Direção: Marco Bechis
Roteiro: Marco Bechis, Luiz Bolognesi
Elenco: Claudio Santamaria, Alicélia Batista Cabreira, Chiara Caselli, Abrísio da Silva Pedro, Leonardo Medeiros
Duração: 104 minutos


Quintal desconhecido
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A missão de Terra Vermelha (BirdWatchers - La Terra Degli Uomini Rossi) é mostrar traços da realidade indígena no Brasil que são desconhecidos até para os próprios brasileiros. O primeiro fato é a alta taxa de suicídio entre os nativos e esse triste acontecimento é apresentado logo no início do filme, para já demonstrar a força que será marcante em toda a sua duração.

Para aliviar um pouco o tom, o andamento é lento e pode desagradar quem precisa de velocidade para apreciar cinema. O desenvolvimento das tramas que seguem paralelamente é bem devagar, com os personagens lentamente se relacionando. Com isso, não há como se confundir com as diversas histórias a serem narradas para mostrar um retrato interessante da questão indígena.

Por ser uma produção ítalo-brasileira, provavelmente foi mais fácil não tomar partido. O preconceito que os índios sofrem e o alcoolismo são mostrados, mas o povo não é idolatrado como heróis, fugindo da tendência inaugurada pelos escritores românticos. Por outro lado, o fazendeiro não é um homem cruel e ganancioso que quer passar sobre os índios para conseguir seus objetivos. Assim, o filme consegue instruir sem doutrinar.

Tecnicamente impecável, vale destacar a música composta por Andrea Guerra (À Porcura da Felicidade) com tempero de cânticos religiosos, remontando à época colonial dos jesuítas, onde toda a problemática teve origem. A cenografia de João Bueno (Carandiru) contribui para a realidade buscada pelo longa.

A mistura de atores não-profissionais com nomes de talento, como Leonardo Medeiros (Nossa Vida não Cabe num Opala) e Matheus Nachtergaele (Baixio das Bestas), é um desafio totalmente superado por Terra Vermelha. Com isso, tem-se um título sólido que merece ser apreciado e discutido.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Romance



Sinopse: Pedro é um autor, produtor e intérprete de teatro montando a peça Tristão e Isolda. Durante os testes, ele conhece Ana e ao lado dela dividirá o palco e uma tórrida relação amorosa. Quando ela é convidada para estrelar em telenovelas, o ciúme atrapalha o namoro.

 
Ficha Técnica
Romance
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes, Jorge Furtado
Elenco: Wagner Moura, Letícia Sabatella, Vladimir Brichta, Andréa Beltrão, José Wilker
Duração: 105 minutos
 
 
Receita de bom gosto
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
Quando Guel Arraes resolve apresentar alguma obra cinematográfica é quase certo que o resultado será um blockbuster – não importa que seja um repeteco reeditado do que já foi transmitido pela TV, como O Auto da Compadecida (2000). Em Romance, o cineasta mostra mais uma vez ser conhecedor do que atrai o grande público. Seu maior mérito está em agradar às massas sem ferir os sentimentos dos cinéfilos mais exigentes.

Guel acerta em chamar novamente para ajudá-lo no roteiro o agradável Jorge Furtado (Saneamento Básico). A agilidade do humor de Furtado poderá ser percebida em quase todas as cenas do filme, com destaque para o timing cômico de Andréa Beltrão (A Grande Família). As piadas não são chulas e conseguem captar a essência dos sentimentos em questão. Quem tiver qualquer tipo de vivência com o meio artístico terá o fator da identificação de situações para tornar a experiência ainda mais engraçada.

Com um título desse, o lado romântico do filme tem de ser discutido. As cenas de sexo são muito bem dirigidas e retratam com autenticidade o desejo daqueles dois personagens. Com ares shakespearianos permeando o enredo, a força do sentimento precisa ter tal magnitude para convencer e comover.

Em Romance fica provado que a parceria Arraes-Furtado é capaz de reascender a esperança de um cinema brasileiro que alie qualidade técnica e dramática e que agrade as mais diversas parcelas sociais. Os dois ensinam uma lição que merece ser apreciada: entretenimento e qualidade podem sim andar de mãos dadas.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

[REC]




Sinopse: Uma jornalista e seu cameraman estão fazendo uma matéria sobre o Corpo de Bombeiros. Ao acompanhar os soldados em uma chamada que parece rotineira, eles deparam-se com uma situação terrível.


Ficha Técnica
[REC]
Direção: Jaume Balagueró, Paco Plaza
Roteiro: Jaume Balagueró, Luis Berdejo, Paco Plaza
Elenco: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Jorge Serrano, Pablo Rosso
Duração: 85 minutos


De dar medo
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Os espectadores brasileiros estão acostumados a ver filmes de terror das mais diversas procedências. Além das produções hollywoodianas, o cinema oriental está ganhando cada vez mais terreno nesse gênero. Fugindo do lugar-comun, [REC] é um longa espanhol que merece destaque. Exceto por poucas tentativas, como O Orfanato, é raro que terrores latinos ganhem expressividade internacional. Prova do sucesso alcançado é a produção de uma remake nos EUA tão pouco tempo depois de finalizado o filme espanhol.

[REC] é montado como se fosse a fita com o material bruto de uma reportagem televisiva. Portanto, pode ser classificado como um terror em primeira pessoa – seguindo os passos de A Bruxa de Blair (1999) e Cloverfield. O começo, como é de se esperar, é calmo e mostra a jornalista entrevistando os bombeiros no quartel. A tática para conseguir intimidade entre a protagonista e a platéia é inteligente: conforme Ángela conversa com o cameraman, fazendo acertos de como deve ficar a reportagem final, vê-se os bastidores da reportagem. É como se, com os segredos das gravações revelados, o público tivesse a obrigação de estabelecer uma proximidade com a repórter.

O roteiro é muito bem construído. Depois da calmaria para a apresentação dos personagens, a situação torna-se cada vez mais tensa, em uma gradação calculada com exatidão. O suspense é tão grande no desfecho que é necessário deixar um conselho ao leitor: depois de acabada a sessão do filme, é uma boa ideia permanecer na poltrona durante os créditos finais. Se você levantar-se imediatamente após a última cena, corre o risco de sentir as pernas trêmulas e terá dificuldades para descer as escadas da sala de cinema.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei





Sinopse: Documentário que conta a vida e a carreira do cantor Wilson Simonal. Seu suposto envolvimento com a ditadura militar e o ostracismo injusto que sofreu.


Ficha Técnica
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Roteiro e Direção: Cláudio Manoel, Micael Langer, Calvito Leal
Elenco: -documentário-
Duração: 96 minutos


Lembrança merecida
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Poucas pessoas com menos de 40 anos sabem quem é Wilson Simonal. Como pode um nome que teve tanta importância na música brasileira ser totalmente apagado da lembrança cultural coletiva? Para responder a essa pergunta e prestar uma merecida homenagem é que foi realizado o documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei.

Para dar uma ideia para os leigos, Simonal tinha uma voz extremamente afinada e muita musicalidade no sangue. Sua presença de palco era marcante, conseguindo manipular como poucos a platéia que lotava os estádios na década de 70. Os ouvidos do espectador será premiado com as canções mais populares, do gênero cafajeste (como "Mamãe Passou Açúcar" em mim e "Nem Vem que não Tem"), e até duetos com nomes importantíssimos da música internacional. Cantando em português ou inglês Wilson mostra sua habilidade em imagens de arquivo.

Além das apresentações de Simonal nos mais diversos palcos, há depoimentos de outros artistas, dos filhos famosos, da viúva e de muitas outras pessoas que conviveram com ele. Entremeando as diversas imagens há vinhetas muito bem feitas, com animações das fotos e grafismo colorido.

Um tema delicado não poderia ser deixado de lado pelo filme: o suposto envolvimento do cantor com os militares, durante a época da ditadura. Simonal foi mais uma das vítimas desse vergonhoso período da História do Brasil. Seu único pecado foi ser inocente demais e uma perda irreparável foi sofrida pela MPB (com muita ênfase no Popular).

Se a intenção do documentário, co-dirigido pelo “casseta” Cláudio Manuel, é fomentar a criação de novos fãs para Wilson Simonal, pelo menos da minha parte, a missão está cumprida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Orquestra dos Meninos







Sinopse: Mozart sempre foi um amante da música lírica. Ele decide criar uma orquestra formada por crianças da cidade onde mora, mas a comoção por ele gerada causará a inveja de políticos locais.


Ficha Técnica
Orquestra dos Meninos
Roteiro e Direção: Paulo Thiago
Elenco: Murilo Rosa, Priscila Fantin, Othon Bastos
Duração: 106 minutos


Famigerado
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Assistindo ao trailer de Orquestra dos Meninos é possível se esperar por um filme com fortes emoções. Baseado em uma história real, a luta de Mozart para dar uma oportunidade para os jovens é uma jornada notável. No final do trailer, quem conseguir associar o nome do diretor Paulo Thiago (O Vestido) a suas obras anteriores começará a ficar temeroso.

Pois bem, Paulo reafirma sua fama de estragar todo e qualquer tipo de história. Com uma direção preguiçosa, ele parece apoiar-se demais na história para tentar emocionar. Some o desempenho do cineasta a um roteiro mal-escrito e já se pode ter idéia do teor do longa.

A dramaturgia falha pela falta de foco. Tentando dar conta de todos os aspectos do enredo, o roteiro fica insípido. A sujeita da política brasileira, as desigualdades sociais, a história de amor entre os protagonistas... nada disso é bem explicado. Não é possível precisar, por exemplo, quando Mozart e Creuza começam seu relacionamento amoroso.

Outro deslize gritante é a falta de preocupação de ambientação cronológica. As cenas se passam no decorrer de três décadas e, entre os anos 80 e 90, não há qualquer mudança nas feições dos personagens. As crianças não crescem e Mozart exibe a mesmíssima barba no passar de dez anos!

Elogios são merecidos para a atuação de Murilo Rosa (Desejo Proibido) que expressa muito bem seu comprometimento com o papel. Por outro lado, Priscila Fantin (Sete Pecados) tem uma interpretação regular, mas sua figura – com cabelos meticulosamente desgrenhados, bronzeamento artificial e vestida com figurino “agreste chique” – destoa totalmente do restante da orquestra, composta por não-atores da região.

Por causa do tema, é imprescindível decorrer sobre a música. Esse é o aspecto mais próximo de tocar o coração da platéia. O objetivo só é alcançado se o espectador não se importar de se emocionar com clichês musicais, como "Jesus Alegria dos Homens" e "Trem Caipira".