quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dino Cazzola X Ser Tão Cinzento: Registros censurados

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Em uma época em que militares da reserva comemoram o Golpe de 1964 que amputou liberdades do povo brasileiro, relembrar os males da ditadura é urgente. Dois documentários, um de longa-metragem e um curta, trazem em seu conteúdo imagens censuradas enquanto discutem consequências do totalitarismo.

Dino Cazola – Uma Filmografia de Brasília segue seu personagem-título desde o final da década de 1950, quando Dino acompanhou a construção de Brasília. Depois de inaugurada a nova capital federal, o imigrante italiano continuou na cidade produzindo imagens para matérias jornalísticas.


Dino sofreu as reverberações da tomada de poder pelos militares, mas nesse ponto o documentário perde seu foco. O protagonista é deixado de lado por tempo demais enquanto se constrói na tela um retrato do contexto da Brasília dos anos 1960. Felizmente o rumo é retomado mais adiante.

Grande parte de Uma Filmografia de Brasília é formada por filmagens que Dino guardou em sua residência. Por não ter as condições ideais de armazenamento, muitos rolos de filme se perderam com o desgaste do tempo. Contudo, se não fosse pelo amor do cinegrafista por seu trabalho, não haveria restado qualquer material, pois tudo teria sido destruído pelos militares.

Esses poucos exemplos de valentia são responsáveis pelas memórias visuais que ficam para a posteridade dos Anos de Chumbo. Com título-trocadilho, o curta Ser Tão Cinzento relembra o filme censurado Manhã Cinzenta, de Olney São Paulo. Cenas da fita são projetadas em paredes de celas para dar poesia para a obra.

Como trata da linguagem artística na ditadura, o lirismo é bem vindo e a estética funciona. Em algumas paredes brota água, como se as imagens sangrassem. De maneira semelhante, as feridas deixadas pelo totalitarismo continuam sem cicatrização.

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