sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo






Sinopse: Geólogo viaja pelo sertão nordestino a trabalho enquanto divaga sobre seu relacionamento com a ex-esposa.


Ficha Técnica
Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo
Direção: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz
Roteiro: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, Eduardo Bernardes
Elenco: Irandhir Santos
Duração: 75 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

 Fazer um vídeo longo apenas com off é complicado. A falta de uma pessoa que conduza a história requer um roteiro bem amarrado e muito bem casado com as imagens.

No caso de Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo, as imagens são uma colcha de retalhos. Captadas por meio de vários suportes (câmera de vídeo digital, super 8, 35mm e até máquina fotográfica), elas vão ilustrando a história do protagonista que cruza o sertão. Geólogo, o personagem principal está em viagem de trabalho para analisar o terreno que será cortado pela transposição das águas de um rio. Seu nome é José Renato e tem 35 anos. Mas isso pouco importa, uma vez que não o vemos em nenhum momento do filme. O personagem principal é a viagem em si. Tudo é mostrado apenas a partir do relato de seu trabalho ou do ponto de vista do geólogo.

A profissão do protagonista justifica a viagem. O excesso de dados técnicos a respeito da geologia dos lugares, porém, às vezes incomoda.

Com jeito de documentário, em função do relatório de trabalho, o filme acompanha a travessia solitária e melancólica do geólogo pela paisagem monótona da caatinga. Mergulhado em sentimentos de saudade e de raiva pela ex-esposa, o protagonista torna a viagem cada vez mais entediante e depressiva. A paisagem vazia e parada faz com que ele se pergunte como alguém pode morar ali. Os próprios moradores se questionam isso, como fica latente no “depoimento” de uma prostituta que sonha em se livrar da vida sofrida que leva ali para ter, nas palavras dela, “uma vida-lazer”, que ela acredita que pessoas ricas tenham.

O geólogo se perde na “viagem” (tanto no sentido literal quanto no sentido figurado da palavra). Uma profusão de cenas desfila na tela, desde os encontros sexuais dele até feiras fervilhantes e devoções ao Padim Ciço (padre Cícero) que ele encontra pelo caminho.

Esse ponto de vista particular da narrativa leva a uma imersão no agreste, na viagem pessoal dos dois diretores nordestinos por suas raízes e pela cultura peculiar do semiárido. Este foi o motivo inicial de montar o filme, motivo este que permeia a carreira de Karim Aïnouz (O Céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus).

As imagens do filme foram produzidas ao longo de quase uma década pelos diretores em viagens pelo sertão. O trabalho de amarração a uma história é o ponto forte do filme e lhes rendeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Fotografia no Festival do Rio de 2009.

O roteiro foi reescrito várias vezes para que se chegasse ao tom de narrativa desejado pelos diretores. Em muitos momentos o filme é apenas uma narração, seja do trabalho do geólogo, seja da paisagem, seja das cenas presenciadas. Mas, algumas vezes, nos momentos em que deveriam ser apenas divagações do personagem, análises dele sobre a vida e sua saudade da ex-esposa, o tom do ator continua narrativo.

O filme é quase um média-metragem, mas o tempo, tanto para o protagonista, como para quem assiste, se arrasta. Assim como se arrasta para as pessoas que vivem no sertão.

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