Sinopse: Documentário com partes dramatizadas, realizado com poucos recursos por um jovem diretor malaio disposto a contar um caso que abalou a sociedade de seu país em 1987.
Ficha Técnica
O Grande Durião (The Big Durian)
Direção: Amir Muhammad
Roteiro: Mike Thompson, Brandon Camp
Elenco: Ghafir Akbar, Soo Boon Tat, Amir Muhammad
Duração: 73 minutos
País: Malásia
O Grande Durião (The Big Durian)
Direção: Amir Muhammad
Roteiro: Mike Thompson, Brandon Camp
Elenco: Ghafir Akbar, Soo Boon Tat, Amir Muhammad
Duração: 73 minutos
País: Malásia
por Marcelo Rafael
(Spoilerômetro: •)
Alguns acontecimentos, por diferentes razões, causam impacto na sociedade, ganham repercussão nacional e entram para a história particular de um povo. É o caso dos fatos analisados em O Grande Durião (The Big Durian), de Amir Muhammad, que integra uma mostra de cinema malaio contemporâneo no CineCesc, em São Paulo, e fez parte da seleção do Festival de Sundance, nos EUA.
Por meio de entrevistas reais e outras encenadas pelos amigos do próprio diretor, o semi-documentário tenta reconstruir os fatos que ocorreram em 27 de outubro de 1987, em Kuala Lumpur, capital da Malásia. O caso gerou pânico na população e teve desdobramentos políticos que ficaram conhecidos como Operação Lalang.
O incidente de outubro de 1987 pode ser resumido pela palavra local “amok”, que seria algo como “ataque de fúria”, em português. Naquele dia, um soldado de etnia malaia dirigiu ensandecido por um bairro de maioria chinesa e começou a atirar. Apesar de ser um fato isolado, o medo tomou conta da cidade fechando escolas, serviços públicos e outros estabelecimentos por dias. A população temia que os distúrbios sectários de maio de 1969, quando chineses e malaios entraram em confronto, resultando em centenas de mortes, estivessem prestes a acontecer novamente.
Seria, em termos brasileiros, como se o pânico e a tensão do seqüestro da linha de ônibus 174, em 2000, no Rio de Janeiro, e os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), no Dia das Mães de 2006, em São Paulo, fossem narrados por pessoas que viveram o medo e o terror daquelas situações e tivessem o contexto social destrinchado pela figura de um narrador.
E aí reside o mérito do diretor, que mesmo com poucos recursos e uma edição não muito primorosa, tenta inserir o espectador no contexto da tensão étnico-religiosa e na delicada política interna da Malásia. Como em algum dos livros da historiadora Mary del Priore (O Príncipe Maldito, A Condessa de Barral), que biografa algum personagem histórico, ao mesmo tempo que fornece um panorama da sociedade e política da época, o documentário utiliza o incidente do soldado enfurecido para ir, aos poucos, contando uma parte da História local. Pessoas simples vão argumentando sobre a complicada forma de governo do país, uma monarquia eletiva democrático-parlamentar, e sobre a difícil convivência entre as maiores etnias locais: chineses, indianos e os próprios malaios. E o filme vai prendendo a atenção de quem se interessa por História ou por política internacional.
Para quem não gosta de cinema independente nem de História, o filme pode soar complicado. Ainda mais pelo fato de tratar de algo tão distante da realidade brasileira como lutas políticas, motivadas por religião e etnia, e um governo que ainda impõe facilmente sua vontade sobre o povo.
Por sua temática, dois dos documentários de Amir Muhammad, que também é escritor, foram proibidos de ser veiculados em seu país.
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