terça-feira, 13 de abril de 2010

No Meio do Rio, entre as Árvores


Filme exibido no É Tudo Verdade 2010.


Sinopse: Documentário sobre populações que vivem no Alto Rio Solimões, no Amazonas, realizado, em parte, por eles próprios com a ajuda da produção do filme.


Ficha Técnica
No Meio do Rio, entre as Árvores
Direção e Roteiro: Jorge Bodanzky
Elenco: -documentário-
Duração: 70 minutos
País: Brasil




 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

Para a maioria dos brasileiros, a Amazônia ainda é um recanto longínquo, terra de mistérios, de índios e de animais selvagens. Isso em termos de experiência pessoal; nada que não tenha sido visto no cinema, na TV, na internet. Os cidadãos urbanos conhecem a mata. E os cidadãos da floresta sabem o que são as “modernidades” da cidade. Os povos de lá (ou “daqui”, depende de onde se está lendo isso, graças à ubiquidade da internet), sejam ribeirinhos ou tribos indígenas, sabem como é a vida na “cidade grande”.
É preciso ter isso em mente quando se faz cinema. Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão já não são suficientes pra abarcar o tema desde que os irmãos Villas-Boas fundaram e estudaram o Parque Indígena do Xingu, em 1961.

Este é o problema de No Meio do Rio, entre as Árvores, de Jorge Bodanzky, que, desde o início, parte da premissa de documentar, do ponto de vista dos próprios amazonenses, o dia-a-dia de comunidades que vivem longe das sedes de seus municípios, ligando-se a eles apenas por via náutica, pelos os rios da região.
Na era da internet, quando índios do Xingu andam de moto e outros em diferentes comunidades começam a acessar a rede mundial de computadores, é preciso ter a humildade de não subestimar as populações ribeirinhas e achar que um notebook e uma câmera digital são a faca e o espelho dos portugueses de 500 anos atrás.

São mundos diferentes, ok. Cidade grande e floresta. Percebe-se isso pelas cenas do escovar dos dentes à beira do rio, pela nomeação, por duas crianças, de todos os peixes que pescaram, pelo relato de um jovem sobre seu encontro com uma onça na adolescência, do qual escapou ileso. Mas, do mesmo modo que os habitantes da cidade sabem disso, os habitantes da floresta sabem o que é água encanada e bala perdida. Sabem o que são cinema, fotografia e computador, mesmo sem terem estado à frente de qualquer um desses. Assim, fica estranho ver o operador de câmera falar a uma plateia que faz “cara de paisagem” e perguntar-lhes, como se falasse a crianças, se todos sabem o que é cinema.

Nem a tentativa de metalinguagem, uma vez que uma parte do documentário foi filmada pelos próprios ribeirinhos após terem aprendido como usar o equipamento, salva o filme da falta de um roteiro conciso, claro. Alguns temas abordados – como a preservação dos tracajás, a questão da saúde e a falta de apoio financeiro sentida pelos voluntários que ajudam as comunidades com a preservação do meio-ambiente – são mal retratados, inseridos subitamente, quase como flashes da vida na Bacia Amazônica. Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo provou que, mesmo com recortes e cenas soltas, é possível fazer uma história acontecer.

No caso de No meio do rio..., uma cena sucede à outra. E assim o documentário caminha, como um clipe longo sobre o modus vivendi da Amazônia. Nada que um Globo Rural, um A’uwê (TV Cultura) ou da própria TV Navegar (projeto da qual faz parte o vídeo) já não tenham apresentado de forma mais aprimorada.

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