quinta-feira, 1 de março de 2012

Poder sem Limites x Projeto X: Câmera da moda

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Em 1999, A Bruxa de Blair deu o pontapé inicial em uma tendência cinematográfica que reverbera até hoje: o uso de câmera operado por um dos personagens do filme. A ideia é dar maior grau de realismo para a história, mesmo quando lida com fantasia. Atualmente esse recurso estético-narrativo foi empregado em dois filmes para platéias jovens.

Em Poder sem Limites (Chronicle), a câmera ativa é apenas mais um dos ingredientes da receita vamos-pegar-tudo-que-faz-sucesso-e-colocar-em-um-filme-só. A história é sobre três estudantes que adquirem poderes de telecinese.

Andrew (Dane DeHaan, da série In Treatment), o personagem principal, sofre nos corredores da escola com o assédio dos outros alunos. Quando chega a sua casa, a situação não melhora: a mãe (Bo Petersen, de Frente a Frente com o Inimigo) sofre de câncer e o pai (Michael Kelly, de Os Agentes do Destino) é um alcoólatra.


Na primeira cena imaginamos que a razão pela qual Andrew carrega sua câmera para todo lado seja exatamente para colher provas contra seu pai agressivo. No entanto, o jovem faz gravações até no colégio, sem qualquer explicação do porquê do registro.

Poder sem Limites desperdiça toda sua energia criativa para explicar porque há uma câmera presente em cada uma de suas cenas. Com isso, não sobra fôlego para contar uma boa história ou investir em personagens interessantes.

Projeto X – Uma Festa Fora de Controle (Project X) usa a câmera documental em uma típica comédia juvenil. O filme se passa no aniversário de Thomas (Thomas Mann, de Se Enlouquecer, Não Se Apaixone) e sua festa é a razão pela qual as câmeras estão ligadas.


Dessa vez há um motivo, mas a estética não se preocupa em manter o realismo. As edições de imagem e de som não condizem com um registro feito em tempo real. Portanto, fica claro que se trata de uma obra de ficção – o que é irônico, uma vez que a fita é inspirada em uma festa real que aconteceu na Austrália.

O número de convidados é bem maior do que Thomas esperava e não demora muito para a festa sair do controle. Por esse motivo, quem tem mania de limpeza e organização deve passar longe de Projeto X.

No fim das contas, os dois filmes poderiam ter sido realizados sem o uso da câmera diegética (que faz parte da história). Aparentemente a escolha dessa linguagem é meramente uma ânsia de entrar na moda, de maneira semelhante a dos programas televisivos que copiam fórmulas da concorrência (seja números de dança ou uso de vídeos da internet) sem qualquer adaptação para suas particularidades.

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