quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Percy Jackson e o Ladrão de Raios
Sinopse: Adaptação do primeiro da série de cinco livros sobre garoto que se descobre filho do deus grego dos mares e das tempestades, Poseidon, e suas aventuras para salvar o mundo.
Ficha Técnica
Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief)
Direção: Chris Columbus
Roteiro: Craig Titley
Elenco: Logan Lerman, Brandon T. Jackson, Alexandra Daddario, Jake Abel, Pierce Brosnan, Uma Thurman.
Duração: 119 minutos
por Marcelo Rafael
(Spoilerômetro: •)
Um garoto com problemas familiares é retirado de sua casa e levado a um lugar secreto, não conhecido ou sequer visto pela maioria das pessoas comuns. Neste lugar, descobre que é um menino especial, com poderes mágicos que serão úteis para salvar o mundo. Tá, este é o plot de Harry Potter e a Pedra Filosofal. Mas aqui estamos falando de Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief ), adaptação de uma outra série de livros para o cinema.
Saem de cena as ruas calmas e os trens de Londres de Harry Potter para dar lugar aos cenários frenéticos de Las Vegas, Los Angeles e Nova York, com carros em alta velocidade pelas highways estadunidenses. Saem as culturas céltica, germânica e escandinava, e entra a cálida cultura mediterrânea. Ao invés de um castelo-escola, surge um acampamento-refúgio. No lugar da bruxaria, entram os poderes divinos dos deuses da Mitologia Clássica.
Escrita pelo ex-professor do Ensino Fundamental, Rick Riordan, a história conta as aventuras de um garoto que descobre ser um semideus, filho do deus grego Poseidon (Kevin McKidd) com uma mortal. Portador de dislexia e DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção), Percy Jackson é uma homenagem ao filho de Riordan, que possui essas condições. Enquanto no filme, porém, o garoto tem 17 anos, nos livros, originalmente, Percy tem apenas 12. Essa diferença permitiu ao diretor do longa abordar alguns temas (como dirigir carros), que seriam impossíveis com aquela idade.
A batalha (de ego) entre os deuses gregos sempre foi motivo para inúmeras histórias desde os tempos de Homero, na Antigüidade, até os dias de hoje, passando por Shakespeare e Camões, no Renascimento, e por Cavaleiros do Zodíaco, nos anos 90. Este último angariou inúmeros fãs adolescentes, assim como os livros Riordan lograram nos anos 2000.
O conflito divino, aqui, se dá quando o raio, a arma mais poderosa de Zeus (Sean Bean), desaparece e Percy Jackson (Logan Lerman) é acusado de tê-lo roubado em favor de seu pai. Para complicar ainda mais as coisas, Hades, o deus do mundo dos mortos, rapta a mãe do garoto e exige o tal raio como resgate. Com a ira divina em sua cola, o garoto conhece sua origem celestial e vai parar em um acampamento no meio da floresta, onde outros descendentes de seres míticos treinam tácticas de combate. Lá, recebe a ajuda de Quirão (Pierce Brosnan) – o mesmo centauro mentor de Héracles (ou Hércules, para os romanos) –, da filha de Atena (Alexandra Daddario) e de um sátiro (Brandon T. Jackson) para salvar sua mãe e recuperar o raio.
Monstros e outros entes mitológicos surgem na tela, colocando-se no caminho do herói e gerando boas seqüências de ação, como o ataque do Minotauro. Uma pitada de cultura pop, não presente em Harry Potter, aparece da trilha sonora à indumentária de Hades, do videogame ao All Star voador usado pelo deus Hermes. Há até referência aos males das drogas, quando o trio de heróis vai a um cassino em Las Vegas.
Os problemas de se adaptar um livro de 400 páginas para um longa de quase duas horas surgem, e os fãs da série podem torcer o nariz para a diferença de idade do protagonista, a ausência do deus Ares e o fato de Percy desenvolver seus poderes muito rapidamente, movendo facilmente colunas de águas que, duas semanas atrás, não sabia que conseguia mover. Mas a história prende a atenção, graças à mão do diretor Chris Columbus (o mesmo de Harry Potter e a Pedra Filosofal, e a Câmara Secreta).
Algumas incongruências mitológicas, no entanto, irritam um pouco mais. Perséfone (Rosario Dawson), por exemplo, não é negra e nem está morta. Os negros, na Grécia Antiga eram considerados estrangeiros (metecos) e Perséfone permanece viva no Hades, tendo direito a sair por seis meses do mundo dos mortos para visitar sua mãe, o que origina a primavera e o verão. Medusa, ao contrário, foi morta há séculos, decapitada por Perseu. Mas Uma Thurman está excelente no papel do monstro, numa versão modernosa e estilosa da górgona, cheia de empáfia.
A explicação para o nome da capital grega também está errada. O povo não aclamou Atena como sua patrona, como o filme afirma. Ela e Poseidon competiram pelo patronato da pólis até que os deuses decidiram pela vitória da deusa da sabedoria.
O maniqueísmo, conceito não presente na Mitologia Grega, acentua as divergências, separando os deuses entre o Bem e o Mal. Talvez este seja o maior problema de um filme que trata de deuses com índole humana (e, portanto, imperfeitos), como são os gregos. A mentalidade cristã também se faz presente, associando o deus Hades à figura do Demônio, e transformando sua morada num verdadeiro Inferno (algo, que na realidade mitológica, estaria mais para o Tártaro).
Pelo menos a mitologia de Riordan é toda grega, valendo-se dos nomes e dos conceitos gregos, não romanos, como, muitas vezes, acontece com obras modernas.
Estas questões, porém, não atrapalham a diversão da garotada e tornam-se irrelevantes frente ao estímulo dado à cultura Clássica. É o maior mérito de Percy Jackson: tirar a rica mitologia dos livros de História e trazê-los à vida, à ação, mantendo o interesse das novas gerações pelo tema.
Dudeshop:
• Livro O Ladrão de Raios, de Rick Riordan (Ed. Intrínseca)
• O Livro de Ouro da Mitologia, de Thomas Bulfinch (Ed. Martin Claret)
Dudenet: Leia a resenha do livro.
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