quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Khamsa
Sinopse: História de um garoto de origem cigana que orbita entre mundos marginalizados na periferia da cidade francesa de Marselha, na Europa contemporânea.
Ficha Técnica
Khamsa
Roteiro e Direção: Karim Dridi
Elenco: Marc Cortes, Raymond Adam, Tony Fourmann, Simon Abkarian, Magalie Contreras, Maéva Fertier, Mehdi Laribi
Duração: 75 minutos
País: França
por Marcelo Rafael
(Spoilerômetro: •)
Nós, brasileiros, de certa forma, acostumamo-nos a ver a pobreza de nosso próprio país não só nos jornais, mas também através da lente da arte, desde O Cortiço, de Aluísio Azevedo, até Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Fica fácil esquecer, então, que outros países também têm suas quotas de violências e miséria.
Em Khamsa, de Karim Dridi, o cenário do flagelo social é a cidade de Marselha, na bela Riviera Francesa, onde se passa a história de Marco, garoto de 11 anos mestiço de cigano. Assim como nos filmes de favela do Rio de Janeiro, as belezas naturais, o glamour e a badalação das praias são solapados por cenários de decadência e abandono da periferia marselhesa. No lugar do tráfico de drogas e do crime organizado, estão grupos historicamente marginalizados na Europa: ciganos e árabes.
Acampamentos de trailers ciganos, prédios abandonados, rinhas de galo e beiras de estrada, compõem o mundo por onde o garoto transita. De um lado, a origem cigana, enfatizada por meio do cantarolar de canções em espanhol e pelo desejo nômade do menino de ir à Espanha. Do outro, o contato com os árabes, marcado pelo colar que Marco carrega no peito, o khamsa (ou hamsá), símbolo místico daquela cultura. Neste interstício, Marco vive em desamparo, num mundo dominado pela violência, que serve de resposta para tudo, de simples brigas familiares até vinganças pessoais e crueldade contra animais.
Sem mãe e com um pai relapso, o menino fica entregue à própria sorte e à companhia de amigos deliquentes. Enquanto os adultos, meros coadjuvantes, tentam dar conta de suas próprias vidas caóticas, as crianças ficam soltas para realizarem o que bem entenderem, da iniciação sexual precoce até assaltos à mão armada. A falta de estrutura familiar fica patente em uma cena onde uma criança de 3, 4 anos insiste por cerveja, até que lhe entregam uma garrafa para beber, para que pare de chatear e possam assistir à TV.
Neste ambiente, e rumando da infância para a adolescência, Marco se vê diante do dilema presente em qualquer situação em que haja miséria: ter uma vida regrada ou entregar-se ao lucro fácil e ao crime. Nos breves momentos de pedido de ajuda, Marco continua sozinho e, aos poucos, suas decisões vão pesando no caminho que vai traçando.
Filmes como o de Dridi mostram que não é necessário sangue jorrando ou tortura de personagens, como ocorre em filmes de terror ou de investigações criminais, para mostrar a barbárie do ser humano. Às vezes, basta uma história triste, contada de forma crua para mostrar pessoas com histórias trágicas se posicionando diante da violência.
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