sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Ladrão de Raios





Sinopse: Depois de ser expulso de várias escolas, Percy Jackson realmente está se esforçando para conseguir ficar na Academia Yancy. Uma grande confusão precede a descoberta mais importante da vida de Percy: ele é um semideus.


Ficha Técnica
O Ladrão de Raios (The Lightning Thief)
Autor: Rick Riordan
Coleção: Percy Jackson & Os Olimpianos
Páginas: 400
Editora: Intrínseca
Ano: 2008


por Carla Bitelli
(Spoilerômetro: )

Antes de falar deste livro em especial, acho importante falar da série. Percy Jackson & Os Olimpianos é uma série de cinco livros escrita por Rick Riordan, um ex-professor americano. Ele se tornou um consagrado autor de livros juvenis — dentre eles, o desenvolvimento da série The 39 Clues, da qual assina o primeiro livro, O Labirinto dos Ossos.

A ideia de Percy Jackson é genial. A mitologia grega possui personagens e possibilidades de história suficientes para fazer da série um sucesso. Bom, ela é de fato um sucesso, então temos aí a prova. No entanto, Riordan conduz a narrativa de maneira decepcionante para leitores um pouco mais criteriosos. Vamos aos fatos.

Percy é um jovem de 12 anos cujo maior problema é a dislexia. A doença escolhida foi para homenagear o filho de Riordan, mas ela faz sentido para além disso. A literatura juvenil deve criar personagens com que os leitores possam se identificar, e todos sabemos que o mundo de hoje está repleto de crianças e jovens disléxicos. Interessante, certo? Mas então Riordan joga uma explicação sofrível para a dislexia de Percy.

Outra característica de Percy é ser invocado. Ele tem sempre respostas atravessadas na ponta da língua e não deixa de dizer o que pensa. Mas o autor peca no timing das tiradas e até das reações. O problema é que, por causa disso, os personagens perdem muita força.

Ainda nos personagens, a relação básica do trio não é tão bem construída. Dos três personagens centrais — os semideuses Percy e Annabeth e o sátiro Grover —, é Grover quem se destaca: é inteligente, leal e busca um sonho com afinco. Annabeth se atém a uma rivalidade com Percy por causa da rivalidade entre seus pais; sempre que ela justifica sua antipatia com a mitologia, o leitor pode pensar “e daí?”.

Um dos maiores problemas do livro, na realidade, é optar pela ação em detrimento dos personagens. Com isso, conhecemos muito superficialmente Percy e seus amigos, mas temos de ler páginas e páginas seguidas de ataques de diferentes monstros. No último monstro da sequência, Percy age de maneira tão imbecil que ofende o leitor — outro ponto a menos para Riordan.

E não quero entrar em detalhes, mas a profecia de Percy e o Cassino Lótus são dois pontos que realmente desmerecem a inteligência do leitor. O primeiro pela facilidade com que entendemos a profecia (enquanto os personagens não); o segundo, com o recurso fácil e totalmente desnecessário para criar mais suspense.

Todos esses problemas e eu nem comecei a falar das características copiadas de séries juvenis bem-sucedidas, em especial Harry Potter. Neste sentido, prefiro comentar apenas que, ao fechar este primeiro livre da série, a sensação é exatamente a mesma quando terminamos Harry Potter e a Pedra Filosofal. Exatamente a mesma.

Saindo da narrativa e falando da edição brasileira, vale apontar a boa qualidade gráfica da obra. Manter a capa original foi uma boa escolha, e o papel e a fonte tipográfica escolhidos deixam a leitura mais fluente. Mas (e aparentemente neste livro sempre existe um “mas”) a tradução deixou muito a desejar. O texto por vezes emperra por motivos bobos, que uma edição mais cuidadosa poderia dar cabo. Há expressões mal escolhidas, frases invertidas (e por isso estranhas)... Mas é possível atribuir esse defeito à própria editora; quem já leu outros livros da Intrínseca sabe que esse é um problema recorrente em seus livros (cito aqui a série Twilight e A Menina que Roubava Livros).


Em suma, são 400 páginas de ação repetitiva e personagens superficiais. A extensão do livro pediria por mais profundidade e mesmo um enredo mais complexo. Mas (este é meu último “mas”), você se pergunta, por que então O Ladrão de Raios está fazendo tanto sucesso? Como eu disse, a mitologia grega dá pano pra manga suficiente para tornar uma história interessante. E, apesar de falhar nesta narrativa, Riordan sabe bem como delinear uma história seriada.


Dudeshop:
• Livro O Ladrão de Raios, de Rick Riordan (Ed. Intrínseca)

Dudenet: Leia a resenha do filme.

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