domingo, 20 de novembro de 2011

A Pele que Habito

 por Vanessa Santos

Spoilerômetro: (?)


Babushkas são aquelas bonecas tchecas que se encaixam umas dentro das outras. A criança abre a primeira e encontra em seu interior outra semelhante, mas menor. Abre essa boneca menor e encontra uma terceira, ainda menor, e assim por diante até a última, pequenínissima, de madeira maciça - que não se abre. O briquedo parece ter por objetivo provocar a surpresa, mas como provocar a surpresa ad infinitum? Basta deixar a boneca fechada; o que há no interior do corpo? Um outro corpo, ainda. O que há no interior deste novo corpo? Também um novo corpo.

Esse paragrafo do livro Metaficção de Gustavo Bernardo resume muito bem A Pele que Habito (La piel que habito), o novo filme de Almodóvar. O longa se divide basicamente em três atos: apresentação dos personagens, suas histórias e de como se tornaram o que são.

Primeiro vemos os personagens no presente e lentamente vemos como chegaram até ali através de flashbacks. Em cada ato parece que abrimos uma daquelas bonecas, mas ao contrário delas cada vez que abrimos temos desagradaveis surpresas sobre personagens complexos, deturpados e aterrorizantes. Mas a surpresa é infinita.


Como não havia visto o trailer e ao menos lido a sinopse, estranhei a classificação do filme dentro do gênero de terror. Mas vendo hoje percebi o porquê. Não é um filme de terror propriamente dito. Não há sustos fáceis ou explícitos, na verdade o que há é o terror do mal estar: o mal estar causado pelo comportamento doentio do personagem de Banderas,o afiar de lâminas (só vendo para entender),o uso do sexo como arma e até mesmo um rabo de tigre (de novo: só vendo para entender).O terror está em sua totalidade, no contexto.

Em A Pele que Habito, Almodóvar se despede das cores fortes, cenários kitsch e personagens femininas fortes. Aqui há homens doentes e vingativos e personagens duplos.

“Um bom filme é aquele capaz de prender a atenção do espectador de tal forma que ele esqueça que está em um cinema”. Billy Wilder estava certo ao fazer essa declaração. Pois mesmo Almodóvar suscitando questões valiosas como evolução da ciência e do homem, o ponto que a ciencia chegou no intuito de criar o super homem, bioética e sexualidade; ele na verdade é um excelente contador de histórias que nos segura na poltrona até chegarmos ao fim da sessão.




A Pele que Habito (La piel que habito)
Roteiro e Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Blanca Suárez, Jan Cornet, Marisa Paredes
Duração: 117 minutos
País: Espanha

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