quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Histórias que só Existem...: Para gostar de um filme lento

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


As primeiras cenas de Histórias que só Existem quando Lembradas servem para estabelecer a rotina repetitiva da pequena comunidade onde a história se desenrola. O status quo só será desafiado com a chegada da fotógrafa Rita no local.

Até aí, os espectadores mais impacientes já estarão enfurecidos e as pessoas mais sensíveis podem ser vítimas do tédio. A missão desse texto é achar uma interpretação para apreciar essa escolha arriscada da diretora Julia Murat de empregar um ritmo lento em seu filme.

Madalena sempre acorda no meio da madrugada para preparar os pães que serão consumidos pela comunidade de velhinhos noVale do Paraíba. Ela nem gosta de comer pão, mas sua missão nessa sociedade é essa e ela a desempenha sem reclamar.


O sol nasce e Madalena vai até uma pequena venda local para entregar os pães. Ela trava uma discussão diária com o proprietário do pequeno comércio e depois, do lado de fora da venda, chia da qualidade do café que o sujeito faz.

As únicas oportunidades de convívio social são as missas e os almoços diário nos quais os moradores se reúnem. A ordem social é colocada em crise com a chegada da jovem rita. Mochileira e fotógrafa, ela não se encaixa no cenário, mas traz em sua bagagem elementos que ajudam o espectador a entender a dinâmica do filme.

Além de uma moderna câmera digital, Rita tem uma câmara obscura, uma espécie rudimentar de câmera feita por uma lata fechada com apenas um pequeno orifício que, quando aberto, deixa entrar um feixe de luz que imprime a fotografia.


Para usar uma câmara obscura é preciso paciência, já que a formação da imagem não é instantânea. Os modelos precisam ficar parados por alguns segundos para que a imagem se fixe.

Da mesma maneira, o espectador de Histórias que só Existem..., tão estranho àquela localidade quanto Rita, precisa se paciente. Como se esperasse que uma imagem fotográfica se fixasse na câmara obscura, o público precisa dar tempo para que a história do filme se cristalize.

Para os bravos dispostos a enfrentar tão nobre missão, a recompensa é a possibilidade de apreciar uma obra com sensibilidade ímpar.





Histórias que só Existem quando Lembradas
Direção: Júlia Murat
Roteiro: Maria Clara Escobar, Júlia Murat, Felipe Sholl
Elenco: Lisa Fávero, Sonia Guedes, Ricardo Merkin, Luiz Serra
Duração: 98 minutos
País: Brasil, França, Argentina

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Entrevista com a diretora Júlia Murat (SaraivaConteúdo);

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