quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Isto não É um Filme X Dias Verdes: Algo podre no reino

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro: (?)


Se as declarações polêmicas sobre judeus e homossexuais proferidas pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad fossem o único problema do Irã, as coisas seriam mais fáceis. Dois documentário que estavam na programação da Mostra 2011 mostram que há muito mais a ser averiguado em relação ao país.

Isto não É um Filme (In film nist) mostra a perseguição que a classe artística sobre no Irã. O cineasta Jafar Panahi (Fora do Jogo) foi condenado a seis anos de prisão e a uma proibição de fazer filmes ou sair do país por vinte anos. Nada na sentença o proíbe de ler roteiros já existentes ou de dar depoimentos para um documentário.

Assim, Jafar descreve um filme que ele faria. Para isso, usa apenas seu apartamento como locação e traça com fita adesiva a planta da locação no tapete de sua sala. Nesse momento, Dogville (2003) vem à cabeça.


No meio da descrição das cenas, Panahi deixa transparecer suas frustrações. Outro ponto interessante nessas digressões é a forma como o diretor usa experiências de seus filmes anteriores para conectar suas idéias e argumentos. A consciência de Jafar sobre sua própria obra é comovente.

A perseguição e a censura no Irã são tristes, mas o amor à arte dos perseguidos é muito maior. Prova disso é a repercussão mundial de Isto não É um Filme.

Esse cenário infeliz é apenas uma conseqüência das atitudes do governo de Ahmadinejad. O que aumenta a indignação é perceber que a eleição desse presidente aconteceu de forma no mínimo estranha.


O documentário Dias Verdes (Ruzhaye Sabz) mostra as vésperas das polêmicas eleições. As ruas estavam tomadas por simpatizantes do candidato da oposição e todos estavam confiantes na vitória. Para a tristeza geral (e posteriores protestos), Ahmadinejad virou o resultado no final da apuração. Ou as eleições foram fraudadas, ou algo muito estranho aconteceu.

Mahmoud deve ter um grande número de apoiadores silenciosos, que foram às cabines de votação sem serem percebidos pelos eleitores do outro candidato (eleitores de Mahmoud até foram ouvidos pelo documentário, mas eram difíceis de ser encontrados). Coincidentemente, a esmagadora maioria desses votos calados foi computada no final da apuração. O mais estranho em toda essa situação é a disposição da comunidade internacional em aceitar essa segunda teoria.

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