quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Amantes






Sinopse: Leonard ficou muito devastado depois do fim de seu noivado. Dois anos depois, morando novamente com seus pais, ele se vê dividido entre duas mulheres. Sandra, filha de amigos da família, é a certeza de um futuro. Michelle, sua nova vizinha, é muito volátil e fascinante.


Ficha Técnica
Amantes (Two Lovers)
Direção: James Gray
Roteiro: James Gray, Ric Menello
Elenco: Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vanessa Shaw
Duração: 110 minutos


"Vencido está de amor"*
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Sempre que uma distribuidora nacional altera muito o título de um filme e o resultado é desastroso, faço questão de ressaltar esses tristes acontecimentos em meus textos. Nada mais justo do que parabenizar quando o oposto acontece. Esse é o caso de Amantes (Two Lovers), que poderia ser traduzido como “Dois Amantes”, mas que recebeu por aqui um nome mais apropriado já que vários de seus personagens entregam-se totalmente ao amor.

A forma intensa como eles se atiram a esse sentimento acaba fazendo com que atitudes estúpidas sejam tomadas. O que poderia ser uma falha que afastaria os espectadores acaba sendo um aspecto positivo do filme, uma vez que dessa forma seus personagens parecem-se mais com pessoas reais, que cometem erros e tomam decisões equivocadas.

Tratando de sentimentos e relacionamentos entre pessoas, o papel dos atores é essencial. Joaquin Phoenix – reprisando a parceria com o diretor James Gray de Os Donos da Noite – consegue transmitir os problemas e conflitos que acontecem na mente do protagonista. O elenco feminino também merece elogios, mas o fato de Amantes ser (a princípio) a última atuação de Joaquin acaba fazendo com que prestemos mais atenção nele.

Mesmo com tantos aspectos positivos, uma pequena falha recorrente no cinema estadunidense pode ser apontada no roteiro dessa produção: tentar explicar demais e fechar todas as questões. Infelizmente o deslize está bem no final do filme, quando há uma cena a mais, passando do que seria o ponto ótimo para acabar essa história cheia de coração.

* Verso de Camões.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os Normais 2



Sinopse: Vani percebe que o noivado com Rui não está em sua melhor fase. Para reacender a chama do relacionamento, ela está disposta a participar de um ménage a trois.

 
Ficha Técnica
Os Normais 2
Direção: José Alvarenga Jr.
Roteiro: Fernanda Young, Alexandre Machado
Elenco: Fernanda Torres, Luís Fernando Guimarães, Cláudia Raia, Daniel Dantas
Duração: 75 minutos


Humor a qualquer preço
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Assistindo ao trailer de Os Normais 2 já é possível ter uma ideia de como será a impressão que se terá depois de assistir ao filme.

Para sacar as piadas não é necessário usar muito do intelecto. Algumas piadas inteligentes seriam definitivamente bem-vindas. O humor do filme usa de preconceitos para tentar fazer rir. Enquanto em Borat ou Bruno as piadas servem como crítica e denúncia dos preconceitos, no filme nacional tais preconceitos são apenas uma saída fácil e baixa para criar situações cômicas que por vezes beiram o absurdo.

Outro fator apelativo em Os Normais 2 é a sexualidade contida no roteiro, como também se percebe pelo trailer. Antes que os mais saidinhos se empolguem, fica o aviso: não há cenas de nudez no longa. O conteúdo erótico é apenas mais uma ferramenta para atrair o público sem de fato oferecer algo. Com essa atitude, consegue-se ser atraente (por razões questionáveis) ao mesmo tempo em que se mantém a classificação etária bem acessível.

A música de fundo do trailer é uma estranha versão de "Living la Vida Loca", famosa na voz de Ricky Martin. Essa releitura é interpretada pelos protagonistas na cena de abertura. Se o espectador passar dessa sequência sem sentir vergonha alheia, há uma chance de o filme agradar.

O que não dá para saber pelo trailer é a duração da fita. Com seus 75 minutos e muitas cenas dispensáveis em um roteiro nada coeso, o filme poderia ser facilmente transformado em um par de episódios da série televisiva original. E estariam longe de ser os melhores episódios.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Manhã Transfigurada





Sinopse: A família de Camila está afundada em dívidas e ameaçada de perder suas terras, no Rio Grande do Sul do final do século XIX. Para salvar a situação, a moça aceita casar-se com um rico estancieiro.


Ficha Técnica
Manhã Transfigurada
Direção: Sérgio de Assis Brasil
Roteiro: Marcelo Esteves
Elenco: Manuela do Monte, Rafael Sieg, Paulo Saldanha, Denise Copetti
Duração: 104 minutos
 
 
Cine-amador
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
Sem ler a sinopse acima, o espectador não sabe muito o que esperar de Manhã Transfigurada. Pelo título, pode achar que se trate daqueles filmes em que um belo dia o protagonista acorda com uma forma bizarra, como nas produções estreladas por Rob Schneider. Pelo cartaz também não dá pra saber muita coisa.

O que se pode adiantar prontamente ao leitor é que as atuações e muitas áreas técnicas são problemáticas. A edição é muito brusca na troca de cenas e a fotografia deixa algumas cenas com a coloração e granulação de um vídeo amador.

Com a história se passando no final do século XIX, tendo como personagem principal uma jovem casada que trai seu marido, é difícil não comparar com outras obras, como Lady Chatterley, O Primo Basílio ou Madame Bovary. Tais exemplos são clássicos da literatura e colocá-los ao lado desse filme (que também é uma adaptação cinematográfica de um livro) é uma grande covardia.

Para termos uma base de comparação mais justa, um exemplo que pode ser selecionado é a co-produção A Ilha da Morte – que também tem suas falhas. O veredicto resultante do enfrentamento desses dois filme é que A Ilha da Morte pode até ser inocente e romântico demais, mas muitos aspectos de Manhã Transfigurada são amadores. Quando se dá risada na sala de cinema, mas não há uma comédia em cartaz, é porque algo deu errado.

A Onda



Sinopse: O professor Rainer Wenger, adepto de pensamentos anarquistas, é encarregado de dar aulas sobre ditaduras. Então, entre os alunos, surge uma questão sobre o que leva as pessoas a apoiarem este tipo de governo. Partindo desta ideia, ele decide submeter os alunos a uma experiência pouco ortodoxa. Mas ela acaba saindo do controle. Baseado em fatos.


Ficha Técnica
A Onda (Die Welle)
Direção:
Dennis Gansel
Roteiro:
Dennis Gansel, Peter Thorwarth
Elenco:
Juergen Vogel, Jennifer Ulrich, Frederick Lau, Max Riemelt
Duração:
107 minutos

 por Eliezer Abrantes Rodrigues

(Spoilerômetro: )

Em 1º de setembro de 2009 irá se completar 70 anos que o exército alemão invadiu a Polônia, desencadeando a Segunda Guerra Mundial, sendo contada e recontada à exaustão no cinema, tornado-se um quase certo sucesso de bilheteria.

Mais do que as questões militares e todo o imaginário construído sobre essa guerra, o que mais fascina as pessoas ao redor do mundo que tem o mínimo de noção de história são as atrocidades cometidas pelo nazi-fascismo sempre seguida pela pergunta: “como isso pode acontecer?” Não é uma pergunta com uma reposta simples, ou com apenas uma resposta, mas o filme A Onda (Die Welle) faz uma reflexão sobre o assunto de forma interessante.

Baseado em uma experiência desenvolvida por um professor de história de Cubberley High School, em Palo Alto, Califórnia, no ano de 1967, este relato foi transformado em livro e em filme para TV americana nos anos 1980. Agora, às vésperas dos 70 anos da ofensiva alemã contra a Polônia, o caso é transportado para a Alemanha do século XXI que dá atualidade ao tema.

O ponto positivo dessa produção alemã, além do excelente elenco, é a busca de não demonizar explicitamente o nazismo, mas levar o expectador a pensar sobre o porquê de muitas ditaduras serem referendadas pela população.

A primeira impressão que algum desavisado pode ter seria de que este tipo de governo pode trazer alguma solução aparentemente imediata, mas vale ressaltar que o filme ao demonstrar os discursos vazios, as palavras de ordem e os símbolos possuem a função de manipular as pessoas para que um determinado grupo tenha o Poder.

Outra coisa legal do filme é a trilha sonora: logo no começo o diretor Dennis Gansel opta por fazer uma interessante ironia enquanto filma a seqüência de Jürgen Vogel se encaminhando à escola ao som de "Rock ‘n’ Roll High School", dos Ramones.

A Onda, mais do que um exercício sobre a história é também uma reflexão bastante coerente com o que tem ocorrido em nossa época, no qual fatos como os plebiscitos de Hugo Chaves, o Patriot Act nos Estados Unidos, o golpe militar em Honduras leva a outra questão: até que ponto apenas um homem ou um pequeno grupo se mantém no poder se não tiver o aval alienado da população?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Se nada mais Der Certo






Sinopse: Os caminhos cruzados de três personagens em São Paulo: um jovem desempregado vindo de Brasília, um taxista e uma menina andrógina que sobrevive traficando droga. Sem opções em vista, eles partem para o crime.


Ficha Técnica
Se nada mais Der Certo
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: José Eduardo Belmonte, Luis Carlos Pacca
Elenco: Cauã Reymond, Caroline Abras, João Miguel, Luíza Mariani, Milhem Cortaz
Duração: 80 minutos


Criticando com consciência
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O maior elogio que se pode fazer a Se nada mais Der Certo é a crítica social que está em seu roteiro. Como se pode ver no trailer, o filme questiona a política, o uso de drogas, e outras situações urbanas. Os diálogos são bem escritos e conseguem associar momentos de reflexão profunda com outros bem diferentes, como quando os personagens estão embriagados e têm um típico "papo de bêbado".

O elenco é muito talentoso, garantindo que as falas funcionem em cada cena. Caroline Abras foi premiada no Festival do Rio por seu trabalho, mas Cauã Reymond (Divã) e João Miguel (Estômago) também merecem elogios às suas atuações. Além de estar diante das câmeras, Cauã encarou com primazia o desafio de narrar o filme.

Uma das armas da crítica social de Se nada mais Der Certo é a ironia, como observado nas passagens em que a trilha da peça Os Saltimbancos é usada. As canções ainda podem levar a entender que se está comparando o comportamento dos personagens a animais.

Visto que a história se passa com representantes da classe média habitando o submundo, a crítica é indireta. Ainda estamos para ver a produção nacional que mostrará as falhas da elite estando dentro da própria elite.

O longa metragem é para público restrito, mas quem se identificar com sua causa tem a satisfação garantida. Não sendo voltado para as massas, com pessimismo e muita política em seu roteiro, tem-se uma opção diferenciada de cinema.

Tempos de Paz




Sinopse: Clausewistz é um polonês chegando ao Brasil em 1945, fugindo da guerra. Ele afirma ser um agricultor, mas os fiscais desconfiam que ele esteja mentindo. Durante um interrogatório, ele terá de provar que não deve ser deportado.


Ficha Técnica
Tempos de Paz
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Bosco Brasil
Elenco: Tony Ramos, Dan Stulbach, Daniel Filho, Louise Cardoso
Duração: 80 minutos


Do palco para a película
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O filme Tempos de Paz é a adaptação cinematográfica da peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz e a estratégia escolhida foi em manter os elementos que fizeram sucesso nos palcos. Como um dos atrativos é o duelo entre atores, não houve mudança nos intérpretes dos dois personagens principais.

Tony Ramos (Se Eu Fosse Você 2) se sai melhor nesse quesito, por ter adaptado seu estilo de atuação para a câmera. Dan Stulbach infelizmente não se sai tão bem, exagerando nos trejeitos de seu papel a todo o momento. Os abusos dele acabam prejudicando o clímax final e não permite a verificação de nuances que o cinema exige.

De forma geral, o filme consegue mostrar sua personalidade, mesmo sendo bem fácil deduzir como era a dinâmica do texto no teatro. A fita também respeita e explora a origem do roteiro, com momentos teatrais bem dosados e oportunos. Com essa saída inteligente, o público que normalmente frequenta os teatros fica satisfeito e os cinéfilos não torcem o nariz.

A situação parece simples, mas há muitas leituras posséveis para Tempos de Paz. Assisti-lo poderá ser muito proveitoso para alunos de matérias variadas. Além de obviamente ajudar na aula de História e em estudos de Teatro, discussões em Linguística (por causa do amor de Clausewistz pelo idoma português), Sociologia e a questïão da imigração, e Filosofia, já que a tortura e os horrores e motivações da guerra é um dos temas.

Em um ano em que o cinema nacional está de vento em popa por causa de várias comédias de apelo popular, é muito bom apreciar um drama que consegue ter valor enquanto linguagem cinematográfica e que é acessível ao grande público.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Arraste-me para o Inferno





Sinopse: Christine negou um empréstimo bancário para uma idosa, o que a levou a entregar sua casa. A mulher lança uma maldição sobre Christine, que se vê perseguida por um demônio que recolherá sua alma em três dias.


Ficha Técnica
Arraste-me para o Inferno (Drag Me to Hell)
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Sam Raimi, Ivan Raimi
Elenco: Alison Lohman, Justin Long, Lorna Raver, Dileep Rao
Duração: 99 minutos


Terror de raiz
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Os fãs de terror têm o que comemorar com a volta do diretor Sam Raimi para o gênero. Desde 2000, com O Dom da Premonição, Sam estava ocupado demais com a trilogia do Homem-Aranha e afastou-se dos sustos e espíritos malignos. Sua fama nesse meio nasceu na década de 1980 com A Morte do Demônio e para relembrar seu início de carreira o logotipo da Universal Pictures e a forma de apresentação dos créditos iniciais de Arraste-me para o Inferno (Drag Me to Hell) remetem a essa época.

Depois de tanto tempo sem se envolver com suspense e terror, Raimi mostra-se muito em forma e os sustos são abundantes. Outra reação garantida nas salas de cinema será o riso, já que o roteiro não se contém para exagerar nas situações nojentas que a protagonista se submeterá em sua desesperada jornada e para criar cenas que não se levam a sério.

A história é bem montada e criativa, trazendo elementos novos na medida exata para o filme não ficar parado ou repetitivo. A recorrente imagem da vilã é explorada ao máximo para criar ódio no público e, ao mesmo tempo, tornar-se mais uma oportunidade para a comédia.

Mesmo tendo à disposição a beleza de Alison Lohman (Coisas que Perdemos pelo Caminho), o diretor não apela para cenas eróticas, como muitos outros realizadores do gênero tendem a decair. Assim, o que poderia ser apenas um filme para garotos não ofende as moças que se aventurarem a assisti-lo.

Quem realmente gosta de terror à moda antiga não pode perder Arraste-me para o Inferno.

Bruno







Sinopse: O extravagante repórter homossexual austríaco quer levar seu show e ser famoso nos Estados Unidos.


Ficha Técnica
Bruno (Brüno)
Direção: Larry Charles
Roteiro: Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Mazer, Jeff Schaffer
Elenco: Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten, Clifford Bañagale
Duração: 81 minutos


Mantendo o nível do humor
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Para quem gostou de Borat, a boa notícia sobre o filme Bruno (Brüno) é que o mesmo tipo de humor é explorado pelo versátil comediante Sasha Baron Cohen. Dessa vez o alvo de suas piadas é o preconceito dos estadunidense, seja ele racial ou homofóbico.

Portanto, é possível esperar muitos momentos repletos de vergonha alheia e uma ousadia inacreditável. As cenas são tão fortes que em vários países do mundo a estreia teve problemas e o longa teve de ser remontado para poder ser exibido no circuito de cinema. Na ocasião do lançamento do DVD, pode-se esperar com grande certeza que haverá disponível no mercado uma versão sem cortes, ainda mais forte.

O que agradava na linguagem de sua empreitada anterior era a infalibilidade de gênero. Explicando esse palavrão: em toda a cena o filme parecia exatamente com um documentário, dos créditos iniciais aos finais. Bruno, apesar da narração feita pelo protagonista, foge um pouco dessa fórmula e acaba sendo apenas mais uma ficção, perdendo o interessante diferencial de outrora.

O objetivo de suas piadas, felizmente, continua o mesmo. Cohen monta situações para denunciar muito problemas na sociedade e no modo de vida dos estadunidenses. O problema é que depois de terminadas as filmagens muitas pessoas que participaram disseram que suas cenas foram ensaiadas e que aquelas circunstâncias absurdas são na verdade apenas uma obra da imaginação do roteiro. Com esses fatos, a denúncia perde força.

Considerando tudo isso, Bruno é altamente recomendável para quem está interessado apenas no humor que Sasha Baron Cohen já se mostrou capaz de oferecer.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Contador de Histórias





Sinopse: A história verídica de Roberto Carlos, hoje um dos maiores contadores de história do mundo. Ele era um menino de rua que recebeu a ajuda de uma pedagoga francesa.


Ficha Técnica
O Contador de Histórias
Direção: Luiz Villaça
Roteiro: Mauricio Arruda, José Roberto Torero, Mariana Veríssimo, Luiz Villaça
Elenco: Maria de Medeiros, Marco Antonio Ribeiro, Paulinho Mendes, Cleiton Santos
Duração: 100 minutos


Eu sou francesa e não desisto nunca
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Quem assiste ao trailer de O Contador de Histórias, sabendo um pouco do assunto de que o filme trata, pode achar que muita fantasia será vista na tela. Há uma certa dose de imaginação no enredo – como na ótima participação de Chico Diaz –, mas é bem menos do que seria desejável.

Por outro lado, a carga emotiva que a jornada de Roberto Carlos oferece é muito bem aproveitada na produção. A trilha musical composta por André Abujamra e Marcio Nigro (dupla também responsável por Encarnação do Demônio) é um ingrediente para causar comoção nos espectadores.

Quem não conhece o contexto em que a trama está situada pode achar que Margherit – papel de Maria de Medeiros (Eu Me Chamo Elizabeth) – é uma personagem forçada, mas o que acontece é o contrário. Nos anos 1970, os estudos de Piaget faziam a cabeça da grande maioria dos pedagogos. Margherit é um exemplo de profissional que adota fielmente as condutas dessa linha de raciocínio.

A temática, envolvendo o poder da educação e a recuperação de crianças que são dadas como perdidas, é extremamente positiva e só por isso o longa já se justifica. As pitadas de humor bem dosadas fazem graça com várias situações, desde as ilusões do protagonista, até com o sistema da Febem e outras críticas sociais.

Entretanto, a falha principal de O Contador de Histórias é o excesso de texto, um vício comum na obra do roteirista José Roberto Torero (Como Fazer um Filme de Amor). Em mais de uma oportunidade a narração feita pelo próprio Roberto é redundante e frustrante. Se isso fosse eliminado, o filme – que já é bom – ganharia muito mais.

Moscou





Sinopse: Os ensaios e os exercícios que os atores do Grupo Galpão executam enquanto preparam a peça As Três Irmãs, de Tchekhov.


Ficha Técnica
Moscou
Direção:
Eduardo Coutinho
Roteiro:
Eduardo Coutinho, Anton Chekhov
Elenco:
Enrique Diaz, Grupo Galpão
Duração:
80 minutos


Vou-me embora para Moscou
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Há um princípio básico do teatro chamado quarta parede, que explica como acontece a realização de um espetáculo: a platéia assiste ao que acontece no palco como se uma das paredes – a quarta – fosse transparente. Seguindo esse princípio, a tal parede seria intransponível, mas as peças contemporâneas teimam em quebrá-la a todo o momento, como se fosse um pré-requisito para a ousadia no tablado.

Se o leitor se sente incomodado ou invadido quando os atores abandonam suas posições tradicionais para conversar ou incitar os espectadores, com certeza o filme Moscou não será uma boa pedida para você. Logo no começo, três atrizes apresentam uma das cenas da peça As Três Irmãs olhado diretamente para a câmera, como se quem estivesse sentado na poltrona do cinema fosse um outro personagem.

Por outro lado, se o processo teatral lhe fascina de alguma maneira, o documentário será um deleite. Além das cenas da própria peça, o documentarista Eduardo Coutinho exibe outros eventos que sucedem antes de uma peça chegar ao palco: as reuniões de leitura, os ensaios, os exercícios,...

Depois de Jogo de Cena, Coutinho parece agora ainda mais interessado pelas artes dramáticas. Sem entrevistas ou depoimentos diretos, ele testa os limites do gênero documental e permite que o público participe desse processo junto ao grupo teatral mineiro. Assistindo aos preparativos é possível apreender um pouco da vida dos atores e da jornada do Galpão.

A relação que cada um tem com o teatro; portanto, será muito determinante para estipular como será a reação diante o filme.

domingo, 2 de agosto de 2009

À Deriva





Sinopse: Passado nos anos 1980, o casal Matias e Clarice está em vias de se separar e, durante uma viagem ao litoral, enquanto os ânimos entre os dois se exaltam, a filha mais velha do casal, Filipa, está descobrindo sua vida sexual.


Ficha Técnica
À Deriva
Roteiro e Direção: Heitor Dhalia
Elenco: Vincent Cassel, Débora Bloch, Laura Neiva, Camilla Belle, Cauã Reymond
Duração: 97 minutos


 por Guilherme Kroll Domingues

(Spoilerômetro: )

À Deriva é o mais novo filme de Heitor Dhalia, que dirigiu, anteriormente, Nina e o ótimo O Cheiro do Ralo. O filme chega ao Brasil depois de ser selecionado para a mostra “Um Certo Olhar”, do maior festival de cinema do mundo, o de Cannes.

E o filme tem uma certa ligação com o cinema francês, começando pelo título, cuja sonoridade remete às obras cinematográficas desse país. Além disso, a estrela primeira da produção é o astro Vicent Cassel, conhecido de filmes como Doze Homens e Outro Segredo, Irreversível e Pacto dos Lobos.

Cassel fala protuguês fluentemente e encarna o papel de Matias, pai atencioso e marido machista, cujo casamento com Clarice (Débora Bloch, em grande forma) está indo por água abaixo. No meio disso, os três filhos. O destaque fica para a mais velha, Filipa, que tem de lidar com a destruição de seu lar ao mesmo tempo que se encontra com as primeiras experiências sexuais. O filme todo é narrado pelo ponto de vista da menina, que descobre um caso do pai com a americana Angela, interpretada por outra atriz internacional, Camilla Belle, e isso a afasta do pai.

A narrativa de À Deriva, então, é permeada por metáforas, muitas que justificam o título do longa. Cada um dos acontecimentos, por menor que seja, tem um singificado intrínseco e simbólico, abrilhantado pela ótima fotografia da película.

Mesmo com isso, o grande charme são os personagens e a interação entre eles. Cada uma das situações e comportamentos das pessoas envolvidas na histórias são palpáveis, verrossímeis, reais. De tal maneira que chega ser possível sentir o "cheiro" dos acontecimentos na sala de cinema. As interpretações são excelentes. Vicent Cassel continua sendo um ótimo ator mesmo usando outro idioma. Débora Bloch não fica devendo em nada. Laura Neiva, estreando no papel de Filipa está regular, mas mantém o nível que uma atuação juvenil necessita. Infelizmente, os outros jovens e crianças do filme não conseguem ser tão convincentes.

Outro destaque do filme fica por conta dos figurinos dos anos 1980. Tudo é sutil e nada fica forçado. Talvez a grande crítica que fique para a À Deriva é o fato de o filme ser um tanto moroso e cansativo. A trilha sonora repetitiva contribui para isso, deixando a cerca de 1h30 de filme com uma duração aparente de três horas.