quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha: Nova fase

 por Guilherme Kroll

Spoilerômetro:  (?)


Quando Sam Raimi assinava seu Homem-Aranha em 2002, o cinema estava descobrindo os super-heróis em toda a sua potencialidade de boas histórias. Precedido de muitas produções ruins, e algumas boas como Superman e X-Men, Raimi e sua versão do Cabeça de Teia ajudaram a lançar as bases do que se transformaria num verdadeiro gênero nos próximos dez anos.

De lá pra cá os fãs dos heróis de colante não tiveram do que reclamar: quase todo mundo que importava ganhou filme, alguns bons, outros nem tanto, mas todo verão americano tem projeção de mascarados no cinema.

Então não é errado dizer que apesar de um terceiro filme mais fraco, a trilogia do Homem-Aranha feita por Sam Raimi se tornou um clássico contemporâneo bem acabado que, apesar de desgostar alguns fãs xiitas, resolvia muito bem a história do personagem no cinema. Então, por que retomar a franquia com um reboot apenas dez anos depois do primeiro filme?


A resposta é simples: dinheiro. A Sony precisa continuar lançando filmes do personagem para manter os direitos dele no cinema. E como Sam Raimi, Tobey Maguire e Kirsten Dunst já estavam velhos demais, e sem saco, para retornar, nada melhor do que começar de novo.

Sendo assim, esse novo O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man) sempre foi encarado com muita suspeita pelos fãs e por todo mundo que minimamente gosta de cinema.

A Sony se esforçou pra acabar com a desconfiança. Montou um elenco competente, formado por Andrew Garfield (A Rede Social), com um biotipo bem mais parecido com o do Peter Parker dos quadrinhos, Martin Sheen (O Amor Acontece) como Tio Ben, Sally Field (Brothers and Sisters) como Tia May e a maravilhosa Emma Stone (Histórias Cruzadas) como Gwen Stacy. Para completar contratou o diretor indie hypado Marc Webb, do chatíssimo 500 Dias com Ela (essa é uma opinião do resenhista, que é um chato de galocha, você que é cool achou o filme legal).


Agora peço permissão para mudar para a primeira pessoa. O Homem-Aranha é meu personagem favorito. Quando entrei no cinema tinha tudo isso na cabeça somado a um personagem mítico da minha infância. Temia que não fosse gostar do filme. Enganei-me.

Trata-se de um grande filme sobre heroísmo e sobre relações humanas. Com atuações muito legais, fruto de uma boa direção de atores e uma trama divertida e sem grandes complexidades, o longa entrega tudo o que propõe.

O tema do heroísmo do homem comum, que ficou tão importante na cultura americana pós-11 de setembro, está muito presente na narrativa. Primeiro, Peter Parker de Garfield é mais um defensor dos nerds do que um nerd que apanha na escola, que não hesita em apanhar no lugar dos mais fracos. Já transformado em Homem-Aranha, a população trabalhadora de Nova York se converte em um herói, um importante aliado, que não teme em desafiar a lei para ajudar naquilo que acha certo. Há momento de extrema pieguice, mas que vão levar as lágrimas fãs como este que vos escreve.


Emma Stone, além de uma beleza jeitosa que fazem qualquer um se apaixonar pela sua persona, vai muito bem como Gwen Stacy. Ela, por si só, já valeria o filme. Mas o que mais impressiona é sua caracterização, seus figurinos que parecem saídos diretos do gibi para as telas.

Isso dá um gancho para a inevitável comparação do filme com os quadrinhos. Em alguns sentidos, O Espetacular Homem-Aranha é muito mais fiel às HQs que seus antecessores, em outros, nem tanto. Os produtores retomaram os lançadores de teia e colocaram a ordem certa das namoradas (primeiro Gwen, depois, espera-se, Mary Jane). Entretanto, o filme enfoca muito mais a relação dos pais de Peter, muda a frase do Tio Ben (nada de "grandes poderes trazem grandes responsabilidades"), tira a parte da luta livre, deixando-a como uma grande metáfora e não há grandes menções ao Clarim Diário.

O que nos leva a outra observação do filme. Ao meu ver, na produção comandada por Webb, muda um pouco a essência do personagem ao elevar sua faixa social. O Peter dos quadrinhos é um pé-rapado. Não tem dinheiro pra pagar o aluguel, a escola, sustentar a tia, sair com as garotas etc. Ele é muito bem resolvido com questões paternas, guia a vida baseado no princípio das responsabilidades e se vira pra pagar as contas, como dá. Mas é essa uma de suas maiores preocupações.


No longa de Webb, a família Parker é de uma classe média um pouco mais rica. O drama de Peter é saber como era seu pai, ser independente etc. A questão financeira praticamente não se apresenta. Essa mudança faz sentido em um contexto pensando no público que vai ao cinema, mas não deixa de ser um pouco decepcionante.

De qualquer maneira, ao se colocar na balança, O Espetacular Homem-Aranha tem muito mais méritos e vale a pena ser visto no cinema.


O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man)
Direção: Marc Webb
Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent, Steve Kloves
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Chris Zylka
Duração: 136 minutos
País: EUA

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