segunda-feira, 4 de junho de 2012

Tudo que Deus Criou X Sangue do Meu Sangue: Assuntos familiares

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Famílias podem ser formadas por pessoas de características tão distintas que parecem ser o núcleo de personagens perfeito para a dramaturgia. Com famílias em cena, garante-se a relação entre os personagens, mas também há uma grande liberdade de temas que as tramas paralelas podem abordar.

Tudo que Deus Criou usa os parentes de Miguel Arcanjo (o estreante Paulo Philippe) para falar de alguns assuntos recorrentes no cinema brasileiro e tocar em tópicos quase esquecidos em nossos filmes.

Miguel é um garoto de programa, mas em sua casa não se sabe de sua carreira. A mãe (Maria Gladys, de A Alegria) ficou cega por causa do diabetes e sua aposentadoria garante o sustento de todos. A irmã dele (Guta Stresser, de Vingança) é casada com um homem imprestável (Claudio Jaborandy, de Amor?), que a maltrata e constantemente estupra Miguel.

Tudo que Deus Criou mostra a irregularidade que se permite a um cineasta estreante (toda experiência de André da Costa Pinto foi formada em curtas-metragens). Há diálogos didáticos e cenas que poderiam ser mais econômicas. Por outro lado, o realizador paraibano compensa o público com algumas sequências fenomenais, com enquadramentos inspirados e uma potente direção de atores.

Do outro lado do oceano, o português João Canijo constrói um melodrama com tempero rodrigueano em Sangue do Meu Sangue. O filme explora os desafios de Márcia (Rita Blanco, de Filme do Desassossego) em manter aunidade familiar.

O filho Joca (Rafael Morais, de Como Desenhar um Círculo Perfeito) está envolvido com a criminalidade e a filha Cláudia (Cleia Almeida, de Mistérios de Lisboa) mantém um relacionamento com um homem casado (Marcello Urgeghe, de Cisne), apesar de estar noiva. Ivete (Anabela Moreira, de Mal Nascida), irmã de Márcia, é uma solteirona que planeja uma operação plástica na esperança de derrotar a solidão.

Sangue do Meu Sangue é um grande filme por mostrar todos seus conflitos em camadas sobrepostas. Há diversas cenas em que diálogos distintos são travados no mesmo plano. Por vezes os diferentes grupos de personagens estão em cômodos separados. Em outras oportunidades, as conversas distintas acontecem em planos de ação variados, uma na frente da tela e outra no fundo do cenário.

O som ambiente caótico aumenta a tensão no espectador. Música incidental, ruído de televisão, briga dos vizinhos e outros ruídos se somam a massa sonora e forçam a imersão do espectador nos conflitos apresentados.

Tudo que Deus Criou
Roteiro e Direção: André da Costa Pinto
Elenco: Paulo Philippe, Guta Stresser, Maria Gladys, Paulo Vespúcio, Cláudio Jaborandy, Letícia Spiller
Duração: 105 minutos
País: Brasil

Nota: 7

Sangue do Meu Sangue
Roteiro e Direção: João Canijo
Elenco: Rafael Morais, Rita Blanco, Cleia Almeida, Anabela Moreira, Marcello Urgeghe , Teresa Madruga, Francisco Tavares
Duração: 140 minutos
País: Portugal

Nota: 9

Tudo que Deus Criou e Sangue do Meu Sangue foram vistos no Olhar de Cinema.

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