terça-feira, 26 de junho de 2012

Fausto: No limite do incômodo

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Depois de todas as mensagens de segurança, anúncios publicitários e trailers; na sessão de cinema de Fausto (Faust) a primeira coisa que se vê é o céu. O formato da tela (janela 1.37 : 1, quase em desuso atualmente) e o aspecto climático da imagem já anunciam a proposta do filme: incomodar.

A história do médico (Johannes Zeiler) que faz um pacto com o demônio (Anton Adasinsky) para ter a mulher amada (Isolda Dychauk) é contata com todas as áreas técnicas propositalmente depondo contra o espectador. A direção de Aleksandr Sokurov (A Arca Russa) por vezes usa lentes que deformam a cena, a direção de fotografia restringe a paleta de cores, a reconstrução de época da direção de arte cria ambientes nada confortáveis, a música atropela as cenas, as atuações são descompassadas... A aparente receita desastrosa funciona porque o teor narrativo suporta a proposta.


O único elemento que segura a plateia em seus assentos é a beleza da mocinha. Tendo a alento visual de Margarete, fica-se preso a Fausto, enquanto o filme faz o espectador de saco de pancadas.

Assim como o protagonista passa por diversas provações para ficar ao lado da amada, o público suporta as algúrias planejadas pelo cineasta. A experiência de imersão pelo sofrimento é altamente recomendada para quem está interessado em novas sensações (não necessariamente positivas) dentro da sala de cinema.

Se a busca é por entretenimento puro e simples, daqueles quase terapêuticos, é melhor procurar outra opção. Em Fausto, Sokurov prova que o cinema tem um potencial maior do que a maioria das pessoas espera, mas o filme é uma batalha de nervos de mais de duas horas de duração. Aos sobreviventes dispostos, vale a pena.


Fausto (Faust)
Direção: Aleksandr Sokurov
Roteiro: Aleksandr Sokurov, Marina Koreneva
Elenco: Johannes Zeiler, Anton Adasinsky, Isolda Dychauk, Georg Friedrich
Duração: 134 minutos
País: Rússia

Nota: 8

Fausto foi visto na Mostra de Cinema de São Paulo 2011.

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