segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Versão de Barney: A intensidade de cada linguagem

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Comparar o livro A Versão de Barney (Barney's Version) com sua adaptação cinematográfica, A Minha Versão do Amor, esclarece o tipo de objetividade que é preciso para encontrar os atalhos necessários para transformar um bom livro em um bom filme.

De modo geral, o protagonista do livro é mais ácido do que o personagem defendido por Paul Giamatti (Tudo pelo Poder). Na hora de a literatura ir ao cinema, o foco do roteiro ficou no aspecto mais positivo da personalidade do protagonista: o amor incondicional que Barney nutre por Miriam, sua terceira esposa. Na tela, a musa foi vivida por Rosamund Pike (Educação).

Essa escolha foi acertada para garantir que o público sinta simpatia pelo anti-herói. No livro temos centenas de páginas para criar a empatia, no filme é preciso ser mais imediato.


Outra diferença perceptível entre as duas obras é que nas linhas escritas por Mordecai Richler praticamente todos os personagens são de origem judaica. Para que o filme não fosse rotulado como uma produção de gueto, alguns deles “deixam” de ser judeus. O pintor Leo, interpretado por Thomas Trabacchi, ganha ascendência italiana e até muda de sobrenome. No livro, ele se chama Leo Bichinsky, apesar de não existir qualquer razão narrativa para ter sangue hebreu.

Se a intensidade dos defeitos do protagonista e da atmosfera judaica arriscam tornar o livro em uma obra mais hermética, a maior intensidade cômica alivia e torna a leitura mais agradável. Outro atrativo dessa pseudo-autobiografia são as notas de rodapé, que seriam intervenções corretoras assinadas pelo filho do protagonista.

A Versão de Barney (Barney's Version)
Autor: Mordecai Richler
Tradução: Luciano Vieira Machado
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 571

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