quarta-feira, 13 de abril de 2011

Meta-crítica: A ditadura da ousadia

 por Edu Fernandes


Spoilerômetro
Bruna Surfistinha
O Discurso do Rei
Os Incríveis

Para inaugurar essa seção, destinada a pensar o ofício da crítica de cinema, resolvi discutir um hábito de alguns críticos, que taxam negativamente os filmes por serem caretas. Quando uma produção adota tal postura, escolhe-se seguir fórmulas consagradas pelo gênero ao qual o filme pertence.

Apesar do que parecem pensar alguns críticos, não há qualquer problema nisso. Se não há uma clara tentativa de testar os limites da linguagem, é mais do que esperado que o filme seja careta. A acusação só é válida quando o diretor (ou outra pessoa responsável pela obra) dá declarações que façam com que as expectativas em relação ao filme sejam outras.

Um exemplo dessa crítica que quer sempre achar ousadia está na recepção de Bruna Surfistinha. A história da prostituta que virou celebridade virtual é contada linearmente, com narração da protagonista em alguns pontos, com fortes cenas de sexo que exploram muitos fetiches. Exatamente o que se esperaria da produção. Não há necessidade de ousadia.

Outra vítima foi O Discurso do Rei, que recebeu algumas duras críticas (especialmente de amadores) por sua caretice. A pequena revolta contra a história do rei inglês gago foi causada pela vitória da produção no Oscar. Se a Academia prefere não premiar um filme mais ousado, como A Origem, é a própria Academia que deveria ser alvo de críticas e não o seu vencedor.



Para ilustrar a falta de senso nessa suposta obrigação com a ousadia que alguns críticos parecem procurar, usemos a fala mais genial do filme Os Incríveis (2004). Quando explica seu plano, o vilão Síndrome diz que venderá equipamentos que concederiam a qualquer comprador a possibilidade de ter habilidades sobre-humanas. Desta forma, segundo eles, todos seriam supers.

Depois da explicação é que vem a fala genial, dita quase como um cochicho. O vilão diz: “E aí, ninguém mais vai ser [super]”. É a mesma coisa com os filmes. Se todos os filmes fossem ousados, nenhum seria.

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