quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Porto: A medida da antítese

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Dá-se o nome de antítese quando um discurso aproxima dois termos de ideias opostas, como “fogo gélido” ou “gigante anão”. Por sua natureza, tal figura de linguagem é muito capciosa e seu mal uso pode gerar resultados horrendos. Felizmente, o filme O Porto (Le Havre) consegue empregar muito bem o recurso.

O uso da antítese nesse caso é válido porque o longa aborda a imigração, um tema que é ao mesmo tempo atual e antigo na França, onde se desenvolve sua história. Por séculos, os franceses exploraram terras na África e nas Américas para enriquecer sua nação com os recursos retirados desses locais. Atualmente, muitos habitantes dessas ex-colônias partem para a França em busca de melhores chances de vida, mas encontram uma regulação de imigração cada vez mais restritiva.

O Porto mostra um grupo de imigrantes ilegais que saem da África em um contêiner para chegar a Londres. Entretanto o navio acaba na Normandia, onde os africanos são descobertos e detidos, exceto por Idrissa (o estreante Blondin Miguel). O garoto consegue fugir e encontra Marcel (André Wilms, de Europa Europa), um velho engraxate que decide ajudá-lo.


O personagens principais são um exemplo de uma dupla antitética: um homem velho e de pele branca ao lado de um menino de pele negra. Marcel é casado com a estrangeira Arletty (Kati Outinen, de O Homem sem Passado), o que também evidencia a antítese no tratamento de imigrantes distintos. Ela, de pele branca, é exaltada como uma mulher maravilhosa, enquanto os negros são apenas ladrões de empregos.

O próprio vilão é antitético. O policial Monet (Jean-Pierre Darroussin, de Conversas com Meu Jardineiro) tem nome de pintor, apesar de seu trabalho não ser nada artístico. De cara amarrada e roupas escuras, ele está a caça de Idrissa, mas arruma um jeito de dar dicas a Marcel para que consiga protegê-lo.

Finalmente, a direção de Aki Kaurismäki (Luzes na Escuridão) não poderia sair do tom. A trama de O Porto acontece nos dias de hoje, mas o visual e o ritmo do filme parecem antiquados. Planos estáticos e atuações à moda antiga ditam o saudosismo audiovisual da obra.

Com não poderia deixar de ser, O Porto é uma comédia dramática.


O Porto (Le Havre)
Roteiro e Direção: Aki Kaurismäki
Elenco: André Wilms, Kati Outinen, Jean-Pierre Darroussin, Blondin Miguel, Elina Salo, Evelyne Didi, Quoc Dung Nguyen
Duração: 93 minutos
País: Finlândia, França, Alemanha

Nota: 7

Para ver outro olhar sobre a questão da imigração na França, confira Bem-Vindo (2009).


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