terça-feira, 11 de outubro de 2011

Entre Segredos e Mentiras: Liberdade de expressão e coragem


 por Edu Fernandes 

Spoilerômetro: (?)


Tradicionalmente o cinema procura contar histórias que os espectadores querem ver. O filme Entre Segredos e Mentiras (All Good Things) narra os acontecimentos reais que fizeram um bilionário ser considerado inocente de assassinato, mesmo quando muitas provas apontavam no sentido contrário.

Essa trama, com potencial de indignação, não é algo que muitas pessoas querem ver na tela. Por essa razão, o roteiro se concentra no lado psicológico do caso. O resultado é um thriller pungente.

O filme deve muito de suas qualidades ao empenho dos atores Ryan Gosling (Amor a Toda Prova) e Kirsten Dunst (Melancolia), que conseguem carregar essa história pesada. A trilha composta por Rob Simonsen (O Amor Pede Passagem) também favorece o cenário.

Outro elemento que impressiona no roteiro é sua coragem. Na vida real, como no filme, o personagem escapou das acusações mais graves, mas o roteiro não deixa muitas dúvidas de quem é o verdadeiro culpado. O nome dos personagens foi alterado, mas não requer muito esforço para que o leitor encontre na internet a descrição dos fatos.

Infelizmente, tal coragem de escancarar escândalos verdadeiros não é vista no Brasil. Em Cazuza – O Tempo não Para (2004), todos os casos homossexuais do cantor são com figuras anônimas. Outras celebridades que tiveram envolvimento sexual com Cazuza foram poupadas. Famosos que forneciam drogas para ele não são citados pelo roteiro.


Outro exemplo dessa extrema temeridade está na minissérie Maysa (2009). Durante os capítulos, não é relatado com clareza que a cantora roubou o marido de Nara Leão.

É nesse ponto em que precisamos tomar uma decisão. Vamos continuar protegento pessoas ricas e famosas do embaraçamento causado por suas próprias atitudes? Ou vamos optar por ser mais fiéis aos fatos, mesmo que seja por insinuações?

Por enquanto, escolhemos a primeira opção. Entre outras coisas, essa postura corrobora outros acontecimentos, como a proibição da venda da biografia não-autorizada do cantor Roberto Carlos. O ruim mesmo é perceber que, em um país que até hoje não puniu os torturadores da ditadura, esse comportamento faz sentido.

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