domingo, 15 de maio de 2011
No Olho da Rua: Metalinguagem tem limite
por Edu Fernandes
Spoilerômetro: •
O filme No Olho da Rua, que estreou no Rio de Janeiro e em São Paulo na última sexta-feira (13), perpetua alguns vícios do cinema brasileiro. Além do trailer pavoroso e de uma história descolada do contexto atual, o tema deste texto é uma terceira teimosia tupiniquim: a inserção de um personagem cineasta (que por vezes é um cinéfilo ou roteirista) na história do filme.
Em No Oho da Rua, o fatídico papel foi incumbido a Leandro Firmino da Hora (Cidade de Deus) e é o personagem mais divertido do filme. O problema é que o fato de ele ser aspirante a cineasta é totalmente ao enredo.
Leandro interpreta Algodão, um carioca radicado em São Paulo que estudou cinema. Ele quer registrar as amarguras vividas por Oton (Murilo Rosa). O protagonista é um metalúrgico que perdeu o emprego.
Todas as funções dramáticas de Algodão poderiam ser desempenhadas sem que ele necessariamente fosse um cineasta. Tal excesso fica evidenciado especialmente quando se percebe que a ideia de registrar as penúrias de Oton é “esquecida” pelo roteiro conforme o filme avança. Algodão é o alívio cômico de No Olho da Rua, a voz da favela e o companheiro de aventuras do protagonista. E só.
Mas qual o problema de ele ser um cineasta? Pois bem, poucas pessoas comuns conhecem um cineasta (isso vale também para quadrinista). No Brasil, o cinema (e os quadrinhos) é uma área de interesse bem limitado junto à população. Quando se coloca constantemente um cineasta (ou quadrinista) no roteiro de um filme (ou HQ), o cinema torna-se mais umbilical, fechado em si mesmo e assistido apenas pelas mesmas pessoas de sempre.
Se a classe do cinema (realizadores, críticos, cinéfilos,...) quisermos que o nosso amor pela sétima arte seja praticado por mais pessoas, precisamos tornar nosso cinema mais acessível. Esse vício – partilhado por Podecrer! e Os Desafinados (foto), em exemplos atuais – precisa ser controlado. A metalinguagem (elementos de um filme dentro de um filme), quando bem usada, dá bons resultados. Nesse sentido, vale a pena conferir Saneamento Básico.
Para finalizar, pensemos como essa questão se apresenta em áreas culturais mais bem sucedidas no quesito popularidade. Quantas telenovelas trazem um novelista como um de seus personagens?
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Eaí Edu, beleza?
ResponderExcluirGostei dessa crítica... Achei curioso porque faz relação com que um professor falou recentemente numa aula. Ele disse que alunos de cinema, ou pessoas que acabaram a sair da faculdade, tendem a escrever coisas com personagens cinéfilos, o que não necessariamente ajuda a narrativa do filme.
Parabéns pelo blog, muito bom como sempre =)
Valeu, Gui
ResponderExcluirVocê sabe que também sou fã do seu trabalho!