por Edu Fernandes
Spoilerômetro: • (?)
A ditadura militar é um dos temas favoritos dos filmes nacionais. Outros países sul-americanos também foram agraciados com regimes totalitários e torturadores na mesma época, sempre com o financiamento estadunidense. Assim como aqui, o cinema de tais países não deixa a questão morrer.
Na década de 70 foi a vez do Chile perder a democracia e outras liberdades. Dois filmes recentes vindos de lá mostram esse cenário sobre dois pontos de vista distintos.
Post Mortem acompanha Mario (Alfredo Castro, que já tem experiência com o diretor Pablo Larraín em Tony Manero), um trabalhado do necrotério. Como esses golpes só podem ser executados a custa de muito sangue, o protagonista é uma testemunha dos bastidores da tomada do poder.
A cada dia, mais e mais corpos chegam para serem autopsiados e Mario tem uma noção da real dimensão dos acontecimentos. Fora do trabalho, seu contato com o panorama político se dá por sua vizinha, com quem tem um relacionamento amoroso. A casa dela é invadida e Nancy (Antonia Zegers) precisa se manter escondida para sobreviver.
Provavelmente a melhor cena de Post Mortem é a da autopsia do ex-presidente chileno Salvador Allende. Enquanto o médico analisa os ferimentos no cadáver e Mario faz anotações, um grande grupo de militares assiste.
Oficialmente Salvador se matou, mas não há como ter certeza do que aconteceu de verdade em casos como esse. O filme Dawson Ilha 10 (Dawson Isla 10) afirma com mais veemência que a versão oficial é duvidosa.
O longa conta a saga de um grupo de prisioneiros políticos na Ilha Dawson, usada como campo de concentração depois do golpe militar. Como quase todos ali eram membros ativos do governo deposto, Allende é retratado como um herói e um mártir.
Cada prisioneiro, ao chegar no local, perde sua identidade. Eles recebem o nome da cabana onde dormem e um número. Por essa razão, o preso Ilha 10 deveria ser o personagem principal, mas não é exatamente isso o que acontece. Muitos outros presos têm peso igual ao de Ilha 10 na história. Com isso, o filme perde o foco narrativo, o que pode dispersar o espectador.
No entanto, em tempos em que uma parcela estúpida da sociedade elogia regimes totalitários e defende o fim das liberdades individuais, é importante termos uma produção constante de filmes que mostram a dura realidade dessas épocas tristes.
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