quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Besouro





Sinopse: Bahia, 1929. A escravidão acabou, mas o preconceito racial ainda exite na sociedade. Besouro é um capoeirista determinado a vingar a morte de seu mestre e para isso conta com a ajuda mística dos orixás.


Ficha Técnica
Besouro
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Roteiro: João Daniel Tikhomiroff, Patrícia Andrade
Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jessica Barbosa, Flavio Rocha
Duração: 120 minutos
 
 
Desafios vencidos
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
O cinema brasileiro tem tido um crescimento sensível com o passar dos anos, mas alguns desafios ainda estão no caminho dos nossos filmes. Besouro consegue superar alguns desses obstáculos de forma sublime e só por isso já seria um ganho, mas ainda há outras qualidades no longa.

O primeiro desafio é a criação de um super-herói brasileiro sem que a história fique forçada – tal dificuldade também reside nos quadrinhos. Por lutar contra injustiças sociais e ter seus poderes associados aos orixás, Besouro é uma saída para adaptar a realidade do país ao enredo de super-herói. Com isso, o problema do cinema de gênero também é solucionado. Não podemos ficar marcados como o país que só faz filme de tiro e favela se quisermos ter relevância na produção audiovisual mundial.

Todo mundo que já teve aula de História com a ajuda de vídeos educativos sabe que normalmente o que deveria ser divertido acaba, na melhor das hipóteses, sendo uma experiência sonolenta. A boa nova para os estudantes é que Besouro pode ser uma opção divertida para os alunos aprenderem um pouco sobre a história dos negros, que sofriam preconceito mesmo depois da Abolição e, infelizmente, até hoje.

Tudo isso é muito legal, mas o que conta é a qualidade técnica dessa aventura. As cenas de luta são bem coreografadas e as câmeras, posicionadas de forma que parece estarmos diante de uma grandiosa produção de algum país que já tenha tradição em filmes de luta. A razão de tal competência foi a contratação de profissionais estrangeiros, com know-how apropriado, para ajudar na pancadaria e no uso de cabos para suspender o capoeirista voador.

Quem gosta de assistir a todos as produções de super-heróis que invadem o circuito de cinema todo ano não pode perder a chance de ver Besouro. Trata-se de um gênero que já tem uma legião de fãs, mas com elementos nacionais que só abrilhantam a fita.

Coco antes de Chanel

por Carla Bitelli

Sinopse: Cinebiografia de Gabrielle Bonheur Chanel, estilista francesa que revolucionou a moda do início do século XX, criadora da marca Chanel.


Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel)
Roteiro e Direção: Anne Fontaine
Elenco: Audrey Tautou, Alessandro Nivola, Benoît Poelvoorde
Duração: 105 minutos


E depois?

Biografias são sempre complicadas e os realizadores (seja um livro ou um filme) podem cometer vários pequenos erros que comprometem a obra. Um deles é, por exemplo, impregnar a biografia de fanatismo pela obra do biografado. Outro é recortar demais um período de vida. Um terceiro é reduzir fatos e torná-los causais. Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel) tem esses dois últimos.

O início mostra a dura vida de Gabrielle e sua irmã num internato. (Aqui faço uma nota: a legenda insiste em chamar de orfanato, mas a biografia da artista prova que o pai deixou as filhas no internato após a morte da mãe delas.) A seguir, as irmãs tentam buscar uma vida digna como artistas, mas não são bem-sucedidas. O interessante deste trecho é descobrir como Gabrielle se tornou Coco.

Quando se vê sozinha, Coco decide se mudar: vai até a casa de um comerciante que conhecera, onde passa a morar e a conhecer a alta sociedade francesa. Nessa etapa, Coco se apaixona pelo inglês Arthur Boyle. Seu romance, no entanto, tem final triste.

O problema da obra é reduzir à genialidade de Coco a uma rebeldia injustificada. A narrativa leva o espectador a crer que sua sobriedade na moda (o uso de calças e de preto) é antes um capricho que uma contestação da posição da mulher na época. Ainda, há uma supervalorização do amor entre Coco e Boyle, como se fosse essa a única motivação dela para criar sua linha que se tornaria uma das mais famosas e influentes do mundo. Como em Amor e Inocência, cinebiografia de Jane Austen, é preciso ver o filme com uma certa reserva, sem tomá-lo como uma reprodução fiel da verdade.

Audrey Tatou é carismática e interpreta Coco excelentemente. O envelhecimento da personagem (mais amadurecimento) é retratado menos com maquiagem e mais com atuação.

O ponto alto da obra é a trilha musical, assinada por Alexandre Desplat (Julie & Julia). Ela é marcada e combina perfeitamente com o filme.

Por fim, o grande problema de Coco antes de Chanel é justificado pelo título: ao restringir a biografia até o momento antes da marca Chanel, não mostra o trabalho de Coco na criação da marca, que certamente é algo que os entusiastas pela estilista procuram.

Mesmo assim, o filme é imperdível. Um retrato de uma mulher além de seu tempo, que revolucionou a moda e, com isso, o papel da mulher na sociedade.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

This Is It





Sinopse: Antes de sua morte, Michael Jackson estava se preparando para apresentações que deveriam realavancar sua carreira. O documentário mostra os ensaios para o show que ele faria em Londres.



Ficha Técnica
This Is It
Direção: Kenny Ortega
Roteiro: -documentário-
Elenco: Michael Jackson
Duração: 112 minutos



Vida longa ao rei!
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O documentário This Is It é uma tentativa de remontar, usando imagens dos ensaios, como seriam as apresentações em Londres. Para isso, as canções são executadas do começo ao fim com a banda tocando e Michael cantando, para a alegria dos amantes de boa música pop.

Para os fãs que nunca poderão usar os ingressos do show, o filme serve como prêmio de consolação. No entanto, esse prêmio de consolação foi construído graças a grandiosa criatividade de Michael Jackson. Como a morte dele aconteceu poucos dias antes do primeiro concerto, toda a produção estava bem adiantada e a reconstituição consegue transmitir uma bela ideia do que aconteceria naquele palco.

Nas coreografias e atrações programadas, Michael mostra que não tem reservas em tocar em clássicos, tornando-os novos sem perder a qualidade do original. O objetivo do show era fazer os que estavam assistindo dizer "uau" praticamente o tempo todo, com inovações surpreendentes. Nesse item não estão apenas as luzes e pirotecnia de praxe, mas vídeos e outras novidades estonteantes.

Pelos breves depoimentos da banda e equipe que permeiam as canções, é possível perceber a extensão da devoção que todos nutrem pelo Rei do Pop. Em outros momentos, em que Jackson apega-se a detalhes para que os arranjos fiquem exatamente do seu agrado, são expostos o perfeccionismo e a sensibilidade desse artista.

Mesmo com quase duas horas de duração, a carreira de MJ é longa e muitas canções ficam de fora. Seriam necessárias mais horas para que todas as peças importantes do repertório fossem contempladas. Por isso, não vale reclamar que faltou aquela música, a seleção da playlist abriga vários sucessos

Depois de terminada a sessão os fãs sentirão um misto de alegria e tristeza. O sentimento positivo pelo reencontro com o ídolo fica mesclado pela triste constatação que esse mestre do entretenimento teria muito mais para oferecer.

sábado, 24 de outubro de 2009

A Todo Volume








Sinopse: Três gerações de guitarristas (Led Zeppelin, U2 e White Stripes) se reúnem para falar sobre guitarras.


Ficha Técnica
A Todo Volume (It Might Get Loud)
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro: -documentário-
Elenco: Jimmy Page, The Edge, Jack White
Duração: 100 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

A Todo Volume (It Might Get Loud) é um documentário sobre rock, estilos, influências, processos criativos e muito barulho. Muito som. Para ter vontade de sair do cinema e ir direto colocar o mp3 player ou pôr o som do carro ou de casa pra tocar.

O premiado diretor Davis Guggenheim (Oscar por Uma Verdade Inconveniente) reúne três grandes músicos de diferentes gerações para uma conversa sobre seus instrumentos de trabalho/diversão/paixão, a guitarra. O encontro é apenas um pretexto para repassar a carreira de cada um, suas relações com suas bandas e o que cada artista trouxe de novo para o mundo do rock. Com direito aos três tocando músicas uns dos outros.

Das décadas de 60 e 70, Jimmy Page (The Yardbirds e Led Zeppelin), conta que quando garoto, chegava a carregar seu violão para a escola para tocar durante o recreio. Aos 64 anos, ainda com jeito de garoto, comenta contentemente seu vinis em uma sala empanturrada de CDs e LPs.

Dos anos 80 e 90, The Edge (U2) mostra todo seu encantamento pelos aparatos eletrônicos e as sintetizações que eles causam no som da guitarra. Belo exemplo disso ocorre quando ele toca o riff de "Elavation" com e sem os efeitos do pedal.

Finalmente, um inseguro e observador Jack White (The Raconteurs e White Stripes) parece se sentir perdido ao lado de dois artistas que colocaram seu nome na história do rock. Sua relação com os instrumentos é o oposto da de The Edge, preferindo os sons puros e a experimentação não-eletrônica.

As horas e horas ouvindo música e produzindo som ao longo da juventude, resultaram no acúmulo de inspiração aos três, que só poderia reverter em criatividade e subsequente sucesso. E o mais interessante é ver que esse sucesso veio, justamente, porque cada um quis, como todo jovem rebelde, produzir algo diferente da geração anterior.

A contraposição de estilos e de personalidades fica evidente em momentos como os depoimentos de cada um sobre sua primeira guitarra. Enquanto Jack White ganhou uma guitarra velha pelo serviço de frete que prestou a seu irmão, Jimmy Page e The Edge compraram as suas.

Ao longo do filme, os suportes utilizados pelo diretor para ilustrar os diferentes momentos das carreiras também tornam patentes as diferenças sociais pré-fama. Fotos ajudam a contar a história de The Edge, enquanto animações e reconstituições completam a de Jack White. Jimmy Page é o único que teve recursos para ter filmagens da época.

Não podiam faltar cenas memoráveis de início de carreira, como um “James” Page, ainda adolescente, em um programa de TV, dizendo que queria ser biólogo ou uma performance do U2, um tanto cômica, à la Rolling Stones (com direito a Bono Vox de roupas justinhas e requebrando no estilo Mick Jagger).

Para muita gente, o rock e a guitarra ainda são apenas barulho. Este recorte das carreiras desses três caras mostra que é isso mesmo que eles querem fazer. Barulho. E fazem muito bem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tyson









Sinopse: Documentário que relata a vida pessoal e a carreira de Mike Tyson, ex-campeão de boxe.


Ficha Técnica
Tyson
Roteiro e Direção: James Toback
Elenco: Mike Tyson
Duração: 90 minutos


Retrato de uma fera
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Mike Tyson é uma das celebridades mais polêmicas das últimas décadas, com as acusações de estupro e seu comportamento em combates aparecendo nas manchetes da imprensa. O documentário Tyson aborda todas as questões imagináveis em que ele esteve envolvido, dentro e fora do ringue.

Para tal missão, uma consistente pesquisa de imagens de arquivo foi desempenhada. Fotos da infância do pugilista, quanto ele era gordinho e era importunado por valentões; seus treinamentos na juventude; a escalada para a unificação dos cinturões dos pesos pesados; entrevistas concedidas para a televisão;... tudo está presente no filme.

A história de vida de Mike é contada por ele mesmo, em ordem cronológica. Para não ficar monótono, de tempos em tempos há boas digressões sobre como o atleta vê o mundo. A forma de tratar as mulheres, o desejo que sente por elas, sua concentração antes de uma luta, a importância de seu primeiro treinador. Com essas pequenas divagações – por vezes acompanhadas de lágrimas – consegue-se ter uma visão mais clara do funcionamento da mente do protagonista.

O objetivo de Tyson é mostrar como o próprio Mike se enxerga. Por essa razão, ele é o único depoente, além de assinar como produtor executivo. Para ilustrar a confusão que pode ser interpretar o raciocínio e as atitudes de um ser humano, a edição coloca vários quadros na tela e até sobrepõe o discurso de diferentes momentos.

Por não se focar totalmente nos altos e baixos da carreira do boxeador, o documentário consegue conquistar uma plateia mais abrangente. Mesmo quem não tem muito interesse por esportes de combate pode aproveitar esse filme humano.

Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo






Sinopse: Geólogo viaja pelo sertão nordestino a trabalho enquanto divaga sobre seu relacionamento com a ex-esposa.


Ficha Técnica
Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo
Direção: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz
Roteiro: Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, Eduardo Bernardes
Elenco: Irandhir Santos
Duração: 75 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

 Fazer um vídeo longo apenas com off é complicado. A falta de uma pessoa que conduza a história requer um roteiro bem amarrado e muito bem casado com as imagens.

No caso de Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo, as imagens são uma colcha de retalhos. Captadas por meio de vários suportes (câmera de vídeo digital, super 8, 35mm e até máquina fotográfica), elas vão ilustrando a história do protagonista que cruza o sertão. Geólogo, o personagem principal está em viagem de trabalho para analisar o terreno que será cortado pela transposição das águas de um rio. Seu nome é José Renato e tem 35 anos. Mas isso pouco importa, uma vez que não o vemos em nenhum momento do filme. O personagem principal é a viagem em si. Tudo é mostrado apenas a partir do relato de seu trabalho ou do ponto de vista do geólogo.

A profissão do protagonista justifica a viagem. O excesso de dados técnicos a respeito da geologia dos lugares, porém, às vezes incomoda.

Com jeito de documentário, em função do relatório de trabalho, o filme acompanha a travessia solitária e melancólica do geólogo pela paisagem monótona da caatinga. Mergulhado em sentimentos de saudade e de raiva pela ex-esposa, o protagonista torna a viagem cada vez mais entediante e depressiva. A paisagem vazia e parada faz com que ele se pergunte como alguém pode morar ali. Os próprios moradores se questionam isso, como fica latente no “depoimento” de uma prostituta que sonha em se livrar da vida sofrida que leva ali para ter, nas palavras dela, “uma vida-lazer”, que ela acredita que pessoas ricas tenham.

O geólogo se perde na “viagem” (tanto no sentido literal quanto no sentido figurado da palavra). Uma profusão de cenas desfila na tela, desde os encontros sexuais dele até feiras fervilhantes e devoções ao Padim Ciço (padre Cícero) que ele encontra pelo caminho.

Esse ponto de vista particular da narrativa leva a uma imersão no agreste, na viagem pessoal dos dois diretores nordestinos por suas raízes e pela cultura peculiar do semiárido. Este foi o motivo inicial de montar o filme, motivo este que permeia a carreira de Karim Aïnouz (O Céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus).

As imagens do filme foram produzidas ao longo de quase uma década pelos diretores em viagens pelo sertão. O trabalho de amarração a uma história é o ponto forte do filme e lhes rendeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Fotografia no Festival do Rio de 2009.

O roteiro foi reescrito várias vezes para que se chegasse ao tom de narrativa desejado pelos diretores. Em muitos momentos o filme é apenas uma narração, seja do trabalho do geólogo, seja da paisagem, seja das cenas presenciadas. Mas, algumas vezes, nos momentos em que deveriam ser apenas divagações do personagem, análises dele sobre a vida e sua saudade da ex-esposa, o tom do ator continua narrativo.

O filme é quase um média-metragem, mas o tempo, tanto para o protagonista, como para quem assiste, se arrasta. Assim como se arrasta para as pessoas que vivem no sertão.

O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus




Sinopse: Dr. Parnassus é o dono de uma companhia teatral decadente. Conforme o aniversário de 16 anos de sua filha se aproxima, ele teme que tenha de pagar uma dívida diabólica.

Ficha Técnica
O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus)
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Charles McKeown
Elenco: Christopher Plummer, Heath Ledger, Johnny Depp, Colin Farrell, Jude Law, Lily Cole, Tom Waits, Andrew Garfield
Duração: 122 minutos

Show de imagens
 por Edu Fernandes 

(Spoilerômetro: )

O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus) é um grandioso deleite para os olhos, já que o filme aproveita todas as oportunidades que o roteiro oferece para apresentar ousadias visuais. Muitas vezes com computação gráfica, mas em outros momentos recorrendo para os bons e velhos cenários concretos; a identidade visual do projeto está muito alinhada. As outras áreas visuais, além da cenografia, também favorecem a atmosfera onírica do longa. Os figurinos, a maquiagem e a iluminação parecem saídos de outro mundo.

O teor fantástico da história está apoiado em elementos que já fazem parte do imaginário coletivo aliados com uma criatividade inovadora. Isso começa com o próprio espelho que serve de portal para o mundo imaginário, remetendo ao livro Alice no País do Espelho, continuação do País das Maravilhas.

Tudo o que acontece quando os personagens entram no tal mundo imaginário parece ter sido tirado da mente de um artista surrealista, com alegorias e simbolismos profundos – além de bem-vindas alusões a outras obras fantasiosas, como o musical Mary Poppins (1964).

Mesmo com suas qualidades, o que mais gera curiosidade em torno de O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus é o fato de ser o último trabalho de Heath Ledger (O Cavaleiro das Trevas). O que é ainda mais triste é que ele novamente esbanja talento e relembra os cinéfilos por que ele deixa tantas saudades. Felizmente o roteiro foi muito bem reescrito e as entradas dos substitutos de peso não ficaram forçadas.

A fantasia do filme é tão forte que quem se interessa por esse tipo de produção ficará com vontade de assisti-lo novamente para absorver mais conteúdo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bons Costumes





Sinopse: Jovem inglês retorna de viagem pela França para casa da família casado com uma piloto de corridas norte-americana. Instala-se, então, uma batalha de culturas entre a sogra e a nora.


Ficha Técnica
Bons Costumes (Easy Virtue)

Direção: Stephan Elliott
Roteiro: Stephan Elliott, Sheridan Jobbins
Elenco: Jessica Biel, Ben Barnes, Kristin Scott Thomas, Colin Firth
Duração: 97 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

“Maravilhoso!” “Escandaloso!” “Brilhante!” Adjetivos assim são usados desde os anos dourados do cinema por críticos norte-americanos na tentativa de resumir uma obra em uma palavra. Mas Bons Costumes (Easy Virtue), que se passa na década de 1920, pode ser classificado como “maravilhoso” (pelas paisagens e pela reconstituição de época), “escandaloso” (pela batalha entre os costumes) e “brilhante” (pelo roteiro ágil).


Misture a aristocracia conservadora britânica – muito apegada às tradições – das obras de Jane Austen ou de Henry James no contexto de uma comédia romântica. É mais ou menos essa a impressão que se tem no início do filme, apesar de ser esta uma comédia de costumes.

A história se passa um século depois das obras de ambos os escritores, mas retrata uma Grã-Bretanha recém-saída da Era Vitoriana e da Belle Époque e ainda se recuperando da Primeira Guerra Mundial. Neste cenário, o jovem inglês John Whittaker (Ben Barnes, o príncipe Caspian, de As Crônicas de Nárnia), conhece em uma viagem pelo Sul da França, a piloto de carros de corrida Larita Huntington (Jessica Biel, de O Ilusionista). Ela é norte-americana e mais velha que ele. Os dois se apaixonam, intempestivamente se casam e ele a leva para a casa de campo de sua família, no interior da Inglaterra.

O filme logo engata e cedo começa o choque de costumes, de gerações, de culturas. A austeridade e o conservadorismo da sogra ante o comportamento avant-gard de Larita. A tradição contra a inovação. O velho contra o novo. A Inglaterra (o Velho Mundo) contra o os Estados Unidos (o Novo Mundo). A família, parada na soleira do casario para receber os recém-casados, já da o tom dos atritos culturais: uma das irmãs diz que não está a fim de sorrir para o casal, ao que o pai (Colin Firth) arremata “Você é inglesa, querida. Finja.”

A estética procura ser impecável, das belas paisagens das colinas inglesas ao figurino de inverno. Da ótima trilha sonora, com swing e tango, à beleza do casal protagonista.

John é o retrato do bom moço: bonito, rico, bem vestido e de boa família. Espontâneo e imaturo como um garoto, mas atencioso e sedutor com a amada, devotando-lhe canções cantaroladas aqui e ali. Larita é a audácia em pessoa, de seu cabelo às suas roupas provocantes e sua língua afiada; o arquétipo da mulher moderna e madura daqueles tempos. Enquanto a sogra traja saias compridas, Larita usa calças. A sogra aprecia o clássico, o cuidado com as plantas da estufa. Larita, como muitas das mulheres passavam a fazer, aprecia livros, além de música e arte modernas. E, aos poucos, a moça vai introduzindo novas idéias no velho cottage dos Whittaker e gerando o conflito.

Kristin Scott Thomas (Há Tanto Tempo que Te Amo) está ótima no papel da sogra, demonstrando desprezo pela nora mesmo quando nada fala, apenas com gestos ou com olhar cortante. Quando a moça se apresenta à sogra, ela responde com sorriso amarelo: “Oh, você é norte-americana...”. Colin Firth (Marido por Acaso) no papel do pai entediado, mas munido de muito sarcasmo, também se sai muito bem.

Os diálogos francos na família geram boa parte das piadas, ágeis e afiadas. Para o espectador contemporâneo, este é um filme de época, mas, na verdade, o roteiro é uma adaptação da peça homônima de Noël Coward, de 1926, e que já teve uma primeira versão para as telas ainda como filme mudo, dirigida por ninguém menos que Alfred Hitchcock em início de carreira.

A outra parte da graça fica por conta da direção de Stephan Elliot (Priscilla – A Rainha do Deserto), que salpica o filme com jogo de reflexos, metaforizando as aparências, e abusa das interpretações e de cenas rápidas. Como afirma Larita à cadelinha da família quando ela interrompe a intimidade do casal: “Querida, timing é tudo.”

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

por Edu Fernandes


Sinopse: Os Bastardos são um grupo de soldados de origem judaica na Segunda Guerra Mundial. O objetivo deles é matar nazistas, o que eles fazem com requintes de crueldade. 

Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)
Roteiro e Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl
Duração: 153 minutos


Tarantino vai à guerra

Apesar de ter como pano de fundo um evento histórico (a Segunda Guerra Mundial), o realismo de Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) é bem limitado. Portanto, não importa quantos livros de História foram lidos pelo espectador, o final é fantasioso – assim a surpresa é mantida. Mesmo assim, pode-se ver um pouco de autenticidade na presença de figuras históricas e no uso dos idiomas corretos dos personagens.

A guerra é o tema, mas muito do gênero faroeste é explorado pelo filme. O protagonista – em um ótimo trabalho de Brad Pitt (Benjamin Button) – é originário do sul estadunidense, com direito a sotaque marcado. Outra característica do Velho Oeste é a coleção de escalpos e muito do exagero das cenas de tiroteio.

Outro membro do elenco que merece ser congratulado é o austríaco Christoph Waltz em seu primeiro trabalho hollywoodiano – antes disso, ele se envolveu muito com projetos em televisão. Waltz já foi reconhecido por sua atuação nesse filme com uma premiação em Cannes.

A violência é uma constante na carreira do diretor Quentin Tarantino (Kill Bill), mas levando em conta tudo o que já fez, pode-se até considerar que ele pegou leve em Bastardos. Entretanto, não custa lembrar que ainda é uma obra assinada por Tarantino!

O enfoque da campanha de divulgação é o grupo de soldados que dá nome ao filme. Não é possível perceber pelas peças de publicidade que na verdade há várias tramas paralelas, com o encontro de todas apenas na sequência final.

Considerando que A Prova de Morte ainda não estreou oficialmente no Brasil, os cinéfilos daqui estão órfãos de Tarantino desde 2004 – a não ser os sortudos que já viram seu trabalho anterior em alguma mostra especial ou no exterior. Quem pertence ao grupo dos menos favorecidos perceberá que valeu a pena esperar por esse reencontro com o cineasta.

Dude Fato: Brad Pitt e Diane Kruger já contracenaram em Troia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Matadores de Vampiras Lésbicas




Sinopse: Jimmy acaba de ser dispensado por sua namorada. Fletch foi demitido. Esses dois amigos decidem ir para uma localidade isolada para esquecer seus problemas. O problema é que nesse local todas as garotas transformam-se em vampiras lésbicas ao completarem 18 anos.


Ficha Técnica
Matadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers)
Direção: Phil Claydon
Roteiro: Paul Hupfield, Stewart Williams
Elenco: Mathew Horne, James Corden, MyAnna Buring
Duração: 88 minutos


Rindo da fórmula
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O terror é um dos mais amplos gêneros cinematográficos. Existem filmes que testam os limites do espectador ([REC]), outros que exageram propositalmente nas passagens nojentas (Arraste-me para o Inferno) e os que nos fazem rir. Esse último grupo normalmente são produções trash que podem ou não se levar a sério, mas o riso sempre está associado à precariedade dos efeitos.

Matadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers) não pertence a qualquer um desses grupos, já que essencialmente se trata de uma comédia que explora a fórmula do terror para encaixar piadas. Essa estrutura em uma produção britânica remeterá prontamente para outro título igualmente hilário: Todo Mundo Quase Morto.

Tecnicamente, o filme também homenageia o gênero com uma história absurda e com o letreiro usando as clássicas letras sangrentas que estavam na moda em décadas passadas. Uma assinatura visual interessante é a aceleração de trechos de algumas cenas, usada na medida certa para ser marcante sem ser cansativo.

Apesar do título altamente apelativo para os rapazes, as namoradas não precisam ficar bravas de acompanhá-los para as salas de cinema. É obvio que cenas sensuais estão presentes, mas o que ficará marcado são as ótimas piadas inseridas no roteiro. Risadas garantidas para todos que se dispuseram a aceitar a proposta absurda de Matadores de Vampiras Lésbicas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tá Chovendo Hamburguer



Sinopse: Flint Lockwood é um inventor que sonha criar algo que melhore a vida das pessoas. Mas, na cidadezinha pacata em que vive, tem fama por seus inventos desastrosos. Tudo muda quando o prefeito da cidade percebe o potencial das invencionices de Flint para tornar o lugar um polo turístico.


Ficha Técnica
Tá Chovendo Hamburguer (Cloudy with a Chance of Meatballs)
Direção: Phil Lord e Chris Miller
Roteiro: Phil Lord e Chris Miller, baseado na obra de Judi Barrett e Ron Barrett
Elenco: Bill Hader, Anna Faris, James Caan, Bruce Campbell
Duração: 90 minutos


 por Thaíse Costa

(Spoilerômetro: )

Tá Chovendo Hamburguer (Cloudy with a Chance of Meatballs) tem arrecadado boas cifras nas bilheterias norte-americanas. Inspirado no best-seller infantil homônimo de Ron e Judi Barrett, a história faz sucesso há mais de três décadas – refletido na grande aceitação do público nos cinemas. Mas, é claro, não é só isso: sem perder a linha, a nova animação da Columbia/Sony Pictures adota a estratégia de segurança para o sucesso – uma técnica de animação 3D rigorosa aliada a uma narrativa que cumpre seu papel, sem grandes experimentações.

Na história, a grande invenção do jovem Flint é capaz de converter água em comida, e isso resulta em chuva de hamburguer, sorvete, macarronada e o que mais a criatividade der conta de pensar. Ao mesmo tempo em que acredita estar resolvendo o problema da falta de comida na cidade em que vive, Flint percebe que isso pode não ser assim tão bom quanto parece à primeira vista. Com a ajuda da “garota do tempo” Sam, ele tenta reverter o desastre que se forma, graças à ganância de alguns, mas também resultado da própria vaidade do jovem inventor.

Um fator interessante é que o filme trabalha a “moda nerd” em voga. É claro que Flint é um nerd de plantão, com direito a bullying na infância e tudo mais... mas a repórter Sam também tem problemas – é muito inteligente e apaixonada por fenômenos meteorológicos, porém se sente obrigada a manter a aparência padrão de “bonitinha e simpática”. O difícil relacionamento de Flint com o pai também é explorado de maneira simples e bela na fita.

Considerando certo enxugamento de animações para crianças que sigam uma linha mais clássica, sem piadas que só os adultos entendem, talvez aí more a principal razão para o sucesso de Tá Chovendo Hamburguer. Seu tom leve e bem-humorado não deverá decepcionar os pequenos.

Julie & Julia



Sinopse: Julie Powell odeia seu trabalho. Ela decide cozinhar todas as receitas do livro de receitas de Julia Child em um ano e postar a experiência diariamente em um blog. Julia Child vai morar na França por causa do trabalho de seu marido. Lá ela começa um curso de gastronomia.



Ficha Técnica
Julie & Julia
Roteiro e Direção: Nora Ephron
Elenco: Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci, Chris Messina
Duração: 123 minutos



Bon apetit!
por Edu Fernandes


(Spoilerômetro: )


O primeiro conselho a ser dado para quem quiser se deliciar com Julie & Julia é o de fazer uma boa refeição antes de entrar na sala de cinema. Caso contrário, é bem provável que o espectador saia de lá com um apetite descomunal, por causa das vistosas receitas preparada pelas protagonistas. O mesmo acontece com outros filmes em que muitas cenas acontecem na cozinha, como A Garçonete.

O roteiro é a adaptação de dois livros, cada um escrito por uma das personagens. Sinal dos tempos, é a primeira grande produção baseada em um blog – vale lembrar que o nacional Nome Próprio conta as experiências de uma blogueira, mas é um filme pequeno. Adaptando-se com a real estatura de Julia Child (1,85 m), alguns truques foram utilizados: adaptação nos cenários, figurino e ângulos de câmera.

Para viver essas duas mulheres reais, duas atrizes do maior talento foram convocadas. Para Julie, a simpatissíssima Amy Adams; e para Julia, Meryl Streep em uma atuação precisa, chegando quase a ser caricata, mas totalmente convincente.

Apesar de alguns pratos bem pesados serem servidos no decorrer das aventuras gastronômicas dessas adoráveis mulheres, a tônica do filme é levíssima, como claras em neve. Para combinar com o tom, a trilha musical composta por Alexandre Desplat (Benjamin Button) é empolgante e engraçadinha. Ainda nesse mérito, há uma hilária cena ao som de "Psico Killer", canção da banda Talking Heads.

Dude Fato: Antes de Julie & Julia, Meryl Streep já trabalhou em outros filmes com Amy Adams (Dúvida) e Stanley Tucci (O Diabo Veste Prada).