quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bons Costumes





Sinopse: Jovem inglês retorna de viagem pela França para casa da família casado com uma piloto de corridas norte-americana. Instala-se, então, uma batalha de culturas entre a sogra e a nora.


Ficha Técnica
Bons Costumes (Easy Virtue)

Direção: Stephan Elliott
Roteiro: Stephan Elliott, Sheridan Jobbins
Elenco: Jessica Biel, Ben Barnes, Kristin Scott Thomas, Colin Firth
Duração: 97 minutos


 por Marcelo Rafael

(Spoilerômetro: )

“Maravilhoso!” “Escandaloso!” “Brilhante!” Adjetivos assim são usados desde os anos dourados do cinema por críticos norte-americanos na tentativa de resumir uma obra em uma palavra. Mas Bons Costumes (Easy Virtue), que se passa na década de 1920, pode ser classificado como “maravilhoso” (pelas paisagens e pela reconstituição de época), “escandaloso” (pela batalha entre os costumes) e “brilhante” (pelo roteiro ágil).


Misture a aristocracia conservadora britânica – muito apegada às tradições – das obras de Jane Austen ou de Henry James no contexto de uma comédia romântica. É mais ou menos essa a impressão que se tem no início do filme, apesar de ser esta uma comédia de costumes.

A história se passa um século depois das obras de ambos os escritores, mas retrata uma Grã-Bretanha recém-saída da Era Vitoriana e da Belle Époque e ainda se recuperando da Primeira Guerra Mundial. Neste cenário, o jovem inglês John Whittaker (Ben Barnes, o príncipe Caspian, de As Crônicas de Nárnia), conhece em uma viagem pelo Sul da França, a piloto de carros de corrida Larita Huntington (Jessica Biel, de O Ilusionista). Ela é norte-americana e mais velha que ele. Os dois se apaixonam, intempestivamente se casam e ele a leva para a casa de campo de sua família, no interior da Inglaterra.

O filme logo engata e cedo começa o choque de costumes, de gerações, de culturas. A austeridade e o conservadorismo da sogra ante o comportamento avant-gard de Larita. A tradição contra a inovação. O velho contra o novo. A Inglaterra (o Velho Mundo) contra o os Estados Unidos (o Novo Mundo). A família, parada na soleira do casario para receber os recém-casados, já da o tom dos atritos culturais: uma das irmãs diz que não está a fim de sorrir para o casal, ao que o pai (Colin Firth) arremata “Você é inglesa, querida. Finja.”

A estética procura ser impecável, das belas paisagens das colinas inglesas ao figurino de inverno. Da ótima trilha sonora, com swing e tango, à beleza do casal protagonista.

John é o retrato do bom moço: bonito, rico, bem vestido e de boa família. Espontâneo e imaturo como um garoto, mas atencioso e sedutor com a amada, devotando-lhe canções cantaroladas aqui e ali. Larita é a audácia em pessoa, de seu cabelo às suas roupas provocantes e sua língua afiada; o arquétipo da mulher moderna e madura daqueles tempos. Enquanto a sogra traja saias compridas, Larita usa calças. A sogra aprecia o clássico, o cuidado com as plantas da estufa. Larita, como muitas das mulheres passavam a fazer, aprecia livros, além de música e arte modernas. E, aos poucos, a moça vai introduzindo novas idéias no velho cottage dos Whittaker e gerando o conflito.

Kristin Scott Thomas (Há Tanto Tempo que Te Amo) está ótima no papel da sogra, demonstrando desprezo pela nora mesmo quando nada fala, apenas com gestos ou com olhar cortante. Quando a moça se apresenta à sogra, ela responde com sorriso amarelo: “Oh, você é norte-americana...”. Colin Firth (Marido por Acaso) no papel do pai entediado, mas munido de muito sarcasmo, também se sai muito bem.

Os diálogos francos na família geram boa parte das piadas, ágeis e afiadas. Para o espectador contemporâneo, este é um filme de época, mas, na verdade, o roteiro é uma adaptação da peça homônima de Noël Coward, de 1926, e que já teve uma primeira versão para as telas ainda como filme mudo, dirigida por ninguém menos que Alfred Hitchcock em início de carreira.

A outra parte da graça fica por conta da direção de Stephan Elliot (Priscilla – A Rainha do Deserto), que salpica o filme com jogo de reflexos, metaforizando as aparências, e abusa das interpretações e de cenas rápidas. Como afirma Larita à cadelinha da família quando ela interrompe a intimidade do casal: “Querida, timing é tudo.”

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