Sinopse: Documentário que perpassa a História da música brasileira e suas influências nos EUA.
Ficha Técnica
Beyond Ipanema – Ondas Brasileiras na Música Global (Beyond Ipanema – Brazilian Waves in Global Music)Direção: Guto Barra
Roteiro: Guto Barra, Béco Dranoff
Elenco: -documentário-
Duração: 90 minutos
por Marcelo Rafael
(Spoilerômetro: •)
“O quê é que a baiana tem?” já perguntava a portuguesa mais brasileira do século XX, Carmem Miranda. E o que é que o brasileiro tem pra despertar tanta curiosidade e fascinação nos gringos, mesmo com a Amazônia sendo devastada e helicópteros sendo derrubados nas favelas do Rio? Segundo David Byrne, é a cultura e, mais especificamente, a música, que é exportada como um produto de qualidade, assim como o café e o açúcar.
Beyond Ipanema – Ondas Brasileiras na Música Global (Beyond Ipanema – Brazilian Waves in Global Music) é um documentário que traça uma ponte Rio-NY e desenha um panorama da difusão da música nacional em terras internacionais. Desde os balangandãs de Carmem Miranda, que fazia questão de ter falas e algumas músicas em português em seus filmes, até os anos 2000.
Com a Internet e o compartilhamento de vídeo e música cada vez mais acessíveis hoje em dia, fica fácil para bandas de qualquer país ficarem conhecidas em outro lugar. Mas nas décadas passadas, quando Mutantes e Novos Baianos começaram a ganhar destaque no mercado norte-americano, não era tão fácil achar informação ou discografia disponível nos EUA. Ou mesmo aqui no Brasil, como contam entrevistados como David Byrne, Nelson Motta, Ruy Castro, Caetano Veloso, Tom Zé, e Gilberto Gil (inexplicavelmente falando apenas em inglês e pronunciando coisas como “hair” ao invés de “her” e “cowture” ao invés de “culture”).
Passando pela bossa nova, traça-se paralelo deste gênero com o jazz norte-americano. Com a Tropicália, ressalta-se a rebeldia e a contracultura (apesar de não falar palavra sobre a Ditadura) que encantaram os gringos e levaram ao retorno dos Mutantes em 2006. Há ainda Bebel Gilberto, Seu Jorge, Cansei de Ser Sexy e até “escola de samba” no Harlem! E o documentário vai além dos nomes canônicos, enveredando também pelo funk carioca e o forró nas noites nova-iorquinas.
O mix de estilos, o tempo todo ressaltado como característica da cultura nacional (Gil chega a lembrar da antropofagia da Arte Moderna) se dá também nas imagens captadas em super-8, 35mm e digital.
Entre um tópico e outro, surgem mulatas, Carnaval e praias estampando a tela e cristalizando as imagens gravadas na retina e no imaginário coletivo estrangeiro. Isso poderia classificar o filme como “para inglês ver” ou para brasileiro que necessita de reconhecimento externo se valorizar. Mas não há muito como fugir de estereótipos, já pavimentados lá trás por Carmem Miranda.
Prova disso se dá com Adriano Sintra e Lovefoxx, do CSS, afirmando que só perceberam que suas letras falavam de sexo quando a crítica internacional alertou sobre isso. Ou quando os integrantes da banda Garotas Suecas comentam que só passaram a conhecer mesmo música brasileira em Nova York.
É interessante também ver que Bebel Gilberto, famosa pelos seu mix musical, torcia o nariz pra música tecno e eletrônica até conhecer o Towa Tei, ex-integrante da banda Deelite, com quem fez parceria.
O espectador pode sentir falta de nomes como Maria Bethânia e Chico Buarque, que segundo o co-produtor Béco Dranoff, não foram mencionados por não terem tido tanta repercussão nos EUA. Outro fenômeno da música nacional que rodou o mundo, a lambada, liderada pelo Kaoma, também não é abordado. Para Dranoff, o estilo não agradou tanto aos norte-americanos quanto os europeus e asiáticos e por isso também ficou de fora.
No geral, vale assistir. Seja para constatar que o modo como nos veem lá fora é endossado por nós mesmos em alguns pontos, seja para conhecer um pouco mais da trajetória de nossa própria produção musical, solapada, muitas vezes, pela cultura deles, os gringos.
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