sexta-feira, 27 de julho de 2012

Bel Ami: O caminho de Pattinson

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Mesmo com experiência em sets de grandes blockbusters, os atores de A Saga Crepúsculo só conheceram a verdadeira fama depois de participar na série de romances sombrios. Cada membro do trio de protagonistas tenta traçar trilhas profissionais diferentes para descolar sua imagem pessoal dos vampiros e lobisomens.

Robert Pattinson tem o mais estranho dos caminhos. Kristen Stewart (The Runnaways) aposta na pluralidade e mescla grandes produções com filmes independentes. Taylor Lautner (Sem Saída) tenta se firmar como astro de ação. A única coisa que une todos os trabalhos de Pattinson é a predileção por protagonistas odiáveis – até em Crepúsculo, o Team Jacob é maior do que o Team Edward.

Em Bel Ami – O Sedutor (Bel Ami), ele interpreta um jornalista ambicioso do século XIX. Georges Duroy seduz mulheres para avançar na redação do La Vie Françoise e não está preocupado nos efeitos que seus atos renderão na vida dos outros.


A adaptação do romance de Guy de Maupassant mantém-se fiel às características do realismo literário, mas foca-se muito mais na sedução do que na política. Prova disso é que as articulações de tomada de poder na França (aquele país em que todo mundo fala inglês, segundo o filme) ficam bem confusas no roteiro.

Nesse sentido, as cenas de sexo são abundantes. Por outro lado, não se pode esperar muita ousadia nesses momentos em uma produção que quer atrair para as salas de cinema o público juvenil que adora o vampiro pálido. Espero que o filme consiga fazer algum desses fãs se interessar pela literatura que originou o roteiro.

Voltando a carreira de Pattinson. Ele parece que não vai se livrar de personagens odiáveis tão cedo. Em Cosmópolis, seu papel parece transpirar arrogância em um filme com cenas de violência. Falta saber se o galã será capaz de cativar o público no futuro com alguma herói valoroso.


Bel Ami – O Sedutor (Bel Ami)
Direção: Declan Donnellan, Nick Ormerod
Roteiro: Rachel Bennette
Elenco: Robert Pattinson, Uma Thurman, Kristin Scott Thomas, Christina Ricci, Colm Meaney, Philip Glenister, Holliday Grainger
Duração: 102 minutos
País: Reino Unido, França, Itália

Nota: 5

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Batman 3: Nível elevado

 por David Macedo

Spoilerômetro:  (?)


Apesar de ter marcado um dos arcos mais dramáticos nos quadrinhos (ver em Orgiem do vilão, abaixo), Bane foi muito pouco explorado no cinema. Sua única aparição havia sido em Batman e Robin(1997), a execrável segunda investida de Joel Schumacher no universo do Homem Morcego. No filme, Bane é apenas o guarda costas pouco inteligente da Hera Venenosa.

Passados quinze anos de sua aparição desastrosa na telas, Bane volta às telas, dessa vez como principal vilão da terceira e última parte da trilogia dirigida por Christopher Nolan,Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises).

Estamos oito anos depois dos acontecimentos vistos em Batman – O Cavaleiro das Trevas. Harvey Dent (Duas Caras) é um herói e sua morte se tornou um símbolo da justiça e da luta ao crime. Por outro lado, culpado pela morte do promotor, Batman (Christian Bale, de O Vencedor) se tornou um foragido e desde então não foi mais visto.


Comissário Gordon (Gary Oldman, de O Espião que Sabia Demais) é o único que sabe da verdade. Gotham está em paz, mas a mentira o incomoda do mesmo jeito. Tudo isso muda com a chegada de Bane (Tom Hardy, de A Origem) à cidade.

Se o Coringa (Heath Ledger, de O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus) já era uma grande ameaça, Bane se mostra um vilão igualmente perigoso. Inteligente e metódico, ele traz o caos a todos os cantos de Gotham, forçando Bruce Wayne a voltar a ação.

Há dificuldades no retorno. São anos sem atuar, anos sem treino, anos sem vestir o uniforme do Batman e Bane sabe muito bem disso. É nesse momento que vemos um dos maiores desafios enfrentados pelo Homem Morcego até então.


Bem dirigido e bem escrito, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge fecha um dos arcos mais celebrados do cinema. Onde muitos já erraram (vide Homem Aranha 3), Nolan conseguiu acertar em cheio. Fechou todas as pontas soltas (a história iniciada com Ra´s Al Ghul em Batman Begins; as consequências das mortes de Rachel Dawes e Harvey Dent em Batman – O Cavaleiro das Trevas), introduziu novos personagens;e principalmente conseguiu dar um final grandioso, bonito e justo para sua trilogia.

Sobre as novidades no elenco, Joseph Gordon-Levitt (500 Dias com Ela) como Blake e Anne Hathaway (Um Dia) como Selina Kyle estão ótimos. Há ainda Marion Cotillard (Até a Eternidade) como Miranda Tate.


Haverá um quarto filme? Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge deixa um cenário perfeito para uma possível continuação. Porém, com a saída de Nolan da franquia e com a Warner preparando todo campo para um filme da Liga da Justiça, duvido muito. Um reboot é o mais provável nos próximos anos, porém será uma tarefa bastante complicada.

É improvável que Nolan volte ao universo do Batman, mas fica claro ao final da exibição que ele fez um trabalho icônico com o Homem Morcego e que muito dificilmente será superado. Uma história completa, que apesar de seus defeitos, apresenta um início, meio e fim brilhantes.

Origem do vilão

Em meados de 1995, saía no Brasil uma das sagas mais controversas nos quadrinhos do Batman, A Queda do Morcego. Escrita por Doug Moench e Chuck Dixon, ela introduzia o que viria a ser o primeiro vilão a ferir gravemente o Batman: Bane.


Dotado de super força (graças a um sistema de tubos que bombeia uma espécie de droga diretamente para o seu cérebro) e com uma inteligência equivalente a do Morcego, Bane entende que um confronto direto com o Batman não é a melhor escolha. Cansá-lo aos poucos talvez possa ser a melhor estratégia. Bane então resolve destruir as paredes do Asilo Arkham e libertar os mais perigosos criminosos de Gotham.

Batman passa os próximos três meses na recaptura dos fugitivos. Espantalho, Coringa, Ventríloquo, Zsasz, Coringa, Chapeleiro Louco, um a um, todos são recapturados. No entanto, esse esforço acaba por levar o Batman à exaustão. Ao voltar à Batcaverna, Batman encontra Bane o esperando. No confronto Bane termina por deixá-lo paralítico, ao quebrar-lhe a coluna.

Em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Bane foi introduzido de uma forma diferente dos quadrinhos. A força derivada de um composto químico é descartada e boa parte do passado do personagem também foi alterada.


Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine
Duração: 164 minutos
País: EUA, Reino Unido

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aqui É o Meu Lugar: Por baixo da maquiagem

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Ao caminhar pelas ruas de uma grande cidade, é comum encontrar com pessoas que adotam um visual pouco tradicional. Um exemplar desses tipos inusitados é o protagonista de Aqui É o Meu Lugar (This Must Be the Place).

Cheyenne (Sean Penn, de A Árvore de Vida) foi o líder de uma banda do rock de sucesso nos anos 80. Apesar de estar aposentado há muito tempo, ele ainda usa as mesmas roupas e maquiagem da época em que subia nos palcos. O personagem é uma mistura de Robert Smith (The Cure) com Ozzy Osbourne (Black Sabbath).

Normalmente quando se cruza com uma pessoa com figurino diferente não nos perguntamos quem é essa pessoa, quais seus sonhos ou suas fraquezas. Essa é a viagem que o filme oferece.


Cheyenne está isolado na Irlanda, mas deve voltar aos EUA por causa da morte de seu pai. Enquanto retorna a suas origens, o protagonista reencontra a si mesmo e a seus conflitos pessoais.

É nessa receita de personagem forte em uma trama psicológica que Sean Penn encontra espaço para premiar o público com seu talento dramático. Ele caminha pela corda bamba da caricatura a todo momento, sem vacilar.

Enquanto se aprecia o trabalho do ator e a movimentação elegante da câmera de Paolo Sorrentino (Il Divo), a proposta do filme se apresenta. A produção almeja mostrar o que há por baixo da maquiagem de cada um, até dos personagens secundários. Vislumbrar o que está além do visual é uma das maravilhas proporcionadas pelo cinema.


Aqui É o Meu Lugar (This Must Be the Place)
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino, Umberto Contarello
Elenco: Sean Penn, Frances McDormand, Judd Hirsch, Eve Hewson, Kerry Condon
Duração: 118 minutos
País: Itália, França, Irlanda

Nota: 8

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Elles: Fetiches mascarados

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Dizem que entre quatro paredes o ser humano mostra sua verdadeira natureza. Esse é o assunto central de Elles.

O filme desenvolve sua narrativa a partir de três momentos chave. Anne (Juliette Binoche, de Cópia Fiel) escreve um artigo para a revista Elle sobre prostituição enquanto prepara um jantar para o chefe do marido. Entre computador, telefone e panelas; a jornalista relembra as duas entrevistas que fez para compor seu texto.

O que une as entrevistadas Lola (Anaïs Demoustier, de As Neves do Kilimandjaro) e Alicja (Joanna Kulig, de O Rei dos Ladrões) é a prostituição como uma fonte de renda superior a que teriam se trabalhassem em postos mais tradicionais. Lola tem de esconder sua verdadeira ocupação do namorado e a imigrante Alicja faz o mesmo com sua família na Polônia.


Essa questão do que é necessário esconder de pessoas próximas permeia todo o filme e afeta a própria protagonista com seus problemas familiares. Em seus depoimentos, as prostitutas dizem que seus clientes são homens casados, que usam seus serviços para dar vazão a taras e fetiches que não conseguem externar no matrimônio. Ou seja, eles pagam a uma estranha para conseguir exercer seus desejos mais íntimos, ao invés de partilhá-los com a mulher que escolheram para dividir a vida.

As máscaras sociais e segredos vão além da sexualidade e Elles não deixa escapar a complexidade de seu tema. Com muitas pontas propositalmente soltas, o filme pede por uma longa conversa depois de terminada a sessão.


Elles
Direção: Malgorzata Szumowska
Roteiro: Malgorzata Szumowska, Tine Byrckel
Elenco: Juliette Binoche, Anaïs Demoustier, Joanna Kulig, Louis-Do de Lencquesaing, François Civil
Duração: 99 minutos
País: França, Polônia, Alemanha

Nota: 7

Festival de Cinema Latino-Americano

Quando? de 12 a 19 de julho
Onde? São Paulo (Memorial da América Latina, Cinemateca, Cinesesc, Cinusp)
Quanto? Entrada Franca


Filmes avaliados

Augustas*, de Francisco César Filho (83 min., Brasil, 2012)

O Baile dos Três Cochonilhas (El Baile de Tres Cochinillas), de Esteban Arrangoiz (11 min., México, 2011)

Da Origem, de Fábio Baldo (19 min., Brasil, 2011)

De Pernas para o Ar* (Patas Arriba), de Alejandro Garcia Wiedemann (100 min., Colômbia/Venezuela/Brasil, 2011)

Do Lado de Fora, de Matheus Peçanha e Paulo Vinícius Luciano (19 min., Brasil, 2012)

O Ermo (El páramo), de Jaime Osorio Marquez (100 min., Colômbia/Argentina/Espanha, 2011)

O Garoto que Mente (El chico que miente), de Marité Ugas (100 min., Venezuela/Peru/Alemanha, 2010)

Histórias que só Existem quando Lembradas, de Júlia Murat (98 min., Brasil/Argentina/França, 2011)

As Más Intenções (Las malas intenciones), de Rosario Garcia-Montero (110 min., Peru/Argentina/Alemanha, 2011)

O Menino e o Mar (El Niño y el Mar), de Patricia Soledad Asses (18 min., Argentina, 2011)

Um Mundo Secreto* (Un Mundo Secreto), de Gabriel Mariño (87 min., México/Suíça, 2012)

Não Peça a Deus, de Fernando Dalberto (12, min., Brasil, 2012)

A Ponte (El Puente), de Agostina Ravazzola (8 min, Argentina, 2011)

Quando o Céu Desce ao Chão, de Marcos Yoshi (17 min., Brasil, 2012)

Que Viva a Água (Que viva el agua), de Cecilia Kang (15 min., Argentina, 2012)

Rania, de Roberta Marques (85 min., Brasil, 2011)

* Textos publicados no site SaraivaConteudo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Ermo: Terror com discurso

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Antes da sessão de O Ermo (El páramo) no Festival de Cinema Latino-Americano, o diretor Jaime Osorio Marquez subiu ao palco do Memorial da América Latina para apresentar seu trabalho aos presentes. “Os filmes de terror são feitos para gerar uma sensação: o medo”, disse. “Quis fazer nesse filme que o público tivesse uma sensação visceral”.

O objetivo do cineasta foi alcançado com louvor. A fita acompanha um grupo de militares que retoma uma base abandonada. No local, há apenas cadáveres e sangue. Não se sabe ao certo o que causou a morte dos antigos ocupantes do local. Eles podem ter matado uns aos outros, serem vítimas de guerrilheiros rebeldes ou forças sobrenaturais.

O Ermo faz muito bem em não responder totalmente esse mistério. Dessa forma, mantém-se uma atmosfera de tensão e consegue passar um discurso antibelicista. “A guerra não causa emoções, apenas sensações negativas”, disse Marquez.


Muitos temem fantasmas e demônios, mas a guerra é o monstro real responsável pela morte de muitos seres humanos e a dissolução de famílias. O filme trabalha muito bem o desfoque da câmera para causar medo, mas tal opção estética pode ser encarada como parte da mensagem do roteiro. O espectador não consegue enxergar direito as cenas desfocadas da mesma forma como aqueles personagens, cansados de tanto batalhar e testemunhar atrocidades, não conseguem discernir realidade de paranoia.

Sai da sessão de O Ermo feliz de ter visto um bom filme de terror, um gênero marcado por muitos títulos de baixo nível. Todavia, devo confessar que fiquei trêmulo de tensão um bom tempo depois de terminada a projeção.


O Ermo (El páramo)
Direção: Jaime Osorio Marquez
Roteiro: Jaime Osorio Marquez, Diego Vivanco
Elenco: Juan David Restrepo, Andrés Castañeda, Daniela Catz, Mateo Stevel, Alejandro Aguilar, Mauricio Navas, Juan Pablo Barragan, Nelson Camayo, Julio César Valencia, Andres Torres
Duração: 100 minutos
País: Colômbia, Argentina, Espanha

Nota: 8

terça-feira, 17 de julho de 2012

As Más Intenções: Psicologia infantil

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Em muitos aspectos, As Más Intenções (Las malas intenciones) se parece com O Labirinto do Fauno (2006). Em ambos há como protagonista uma menina imaginativa cuja mãe está grávida do padastro. O ambiente social hostil faz as garotas usarem a imaginação como válvula de escape.

As Más Intenções se passa no Peru de 1982, em meio a uma revolta socialista e clima de terrorismo. Cayetana (Fatima Buntinx) não reage muito bem à notícia de que sua mãe (Katerina D'Onofrio) está grávida e se convence de que morrerá quando seu irmão nascer. Movida pelo ciúmes, ela toma atitudes reprováveis, mas consegue garantir a simpatia do público por causa do talento da jovem atriz que a interpreta.


É correto afirmar que Cayetana é uma personagem mais complexa do que Ofelia, apesar de O Labirinto do Fauno ser um filme superior. A mistura de maturidade e inocência de Cayetana gera as melhores cenas e diálogos de As Más Intenções.

Enquanto Ofelia coleciona livros de contos de fada, Cayetana é mais interessada pela história da Améria do Sul. Por essa razão, seus delírios são com personagens históricos no lugar de criaturas mágicas. Por ser mais racional, suas fantasias são mais psicológica e questionadoras.

O filme abraça esse viés psicológico de sua protagonista com inteligência. Assim, muitas vezes a passagem entre cenas é abrupta e tem-se a impressão de que o foco narrativo se perdeu. No entanto, tal qual a fluidez do raciocínio humano, logo são construídas pontes entre elementos aparentemente desconexos e o filme avança em um ritmo único.


As Más Intenções (Las malas intenciones)
Roteiro e Direção: Rosario Garcia-Montero
Elenco: Fatima Buntinx, Katerina D'Onofrio, Melchor Gorrochátegui, Kani Hart, Jean-Paul Strauss, Paul Vega
Duração: 110 minutos
País: Peru, Argentina, Alemanha

Nota: 7

As Más Intenções foi visto no Festival Latino 2012.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Garoto que Mente: Ética e ambiente

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Há alguns tipos de comportamento que todos aprendem como errados desde a infância. A mentira é uma dessas atitudes que as crianças são desaconselhadas a tomar. O Garoto que Mente (El chico que miente) consegue mostrar que algumas situações extremas obrigam os jovens a fazer a coisa errada.

Um menino (Iker Fernández) viaja sozinho pelo interior da Venezuela. A todo momento, ele reinventa sua história de vida. Suas mentiras não são graves e é a forma como o protagonista encontrou para sobreviver. Há 10 anos um deslizamento de terra acabou com sua família, mas ele adapta algumas circunstâncias do conto de maneira a comover seu interlocutor.

A cronologia do filme é fragmentada, contando um pouco do passado e um pouco do presente do menino. Dessa forma descobre-se aos poucos o quanto de verdade há em seu discurso. O público é também enganado pelas mentiras.


O objetivo de O Garoto que Mente é mostrar a realidade da periferia venezuelana. Com uma latente crítica social, o filme traça paralelos e entre a situação sócio-econômica e a cultura do país. Por essa razão, a fé é tema de muitas de suas cenas.

Os encontros travados pelo protagonista em seu caminho servem para apresentar novos elementos que compõem um quadro mais complexo da periferia da Venezuela. Trata-se de um belo exemplo de narrativa que justifica sua existência além do drama.

A maioria das contravenções que se pode ver em O Garoto que Mente acontecem por causa da negligência das autoridades. Quem está mais errado: o poco que toma atitudes erradas por desespero ou um governo ausente?


O Garoto que Mente (El chico que miente)
Direção: Marité Ugas
Roteiro: Mariana Rondón, Marité Ugas
Elenco: Iker Fernández, Francisco Denis, María Fernanda Ferro
Duração: 100 minutos
País: Venezuela, Peru, Alemanha

Nota: 7

O Garoto que Mente foi visto no Festival Latino 2012.

Festival Latino: Escolas de cinema

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)

Acompanhe a cobertura completa do Festival de Cinema Latino-Americano aqui.

Que Viva a Água

O curta consegue lidar bem com a questão existencial que está em seu cerne. Uma professora descobre ter uma doença terminal, mas vai ao trabalho normalmente. Lá, uma colega está deprimida porque uma celebridade está no hospital. Com andamento na medida certa, o filme não força nas comparações.

Que Viva a Água (Que viva el agua)
Direção: Cecilia Kang
Roteiro: Virginia Roffo
Elenco: ?
Duração: 15 minutos
País: Argentina

Nota: 6


A Ponte

A impressão que fica é que foco da animação está em mostrar sua técnica antes de contar a história sobre um casal de vizinhos. Eles se comunicam pelas janelas de seu apartamento até que algo proíbe a conversa. Cada plano é pensado para dar chance para que o talento dos animadores seja apresentado.

A Ponte (El Puente)
Roteiro e Direção: Agostina Ravazzola
Elenco: -animação-
Duração: 8 minutos
País: Argentina

Nota: 4


Do Lado de Fora

O garoto Plínio ganha um boneco que se transforma em um menino. O teor fantástico não é suficiente para que o público acredite que o protagonista mora com sua avó. A atriz que aparentemente a interpreta é jovem demais para o papel. Se ela for a empregada e avó está fora de cena, o roteiro foi falho ao não deixar isso claro.

Roteiro e Direção: Matheus Peçanha, Paulo Vinícius Luciano
Elenco: Paulo Henrique de Oliveira, Emmanuel Corrêa e Castro, Andréa do Valle
Duração: 19 minutos
País: Brasil

Nota: 5

O Menino e o Mar

A história de uma garoto que foge de casa para conhecer o mar mistura ternura com assuntos sérios. Por outro lado, nada justifica um ritmo tão arrastado para o filme. As animações nos créditos e a trilha musical são pontos elogiáveis.

O Menino e o Mar (El Niño y el Mar)
Direção: Patricia Soledad Asses
Roteiro: ?
Elenco: ?
Duração: 18 minutos
País: Argentina

Nota: 4


Não Peça a Deus

O thriller de ação tem seus méritos na direção de câmera. Infelizmente o trabalho de edição de som traz falhas primárias. O enredo é sobre um homem misterioso que exerce poder sobre outras pessoas, por meio da violência. Os atores têm momentos irregulares, mas há um toque de mistério na história que mantém o espectador interessado.

Roteiro e Direção: Fernando Dalberto
Elenco: Esio Magalhães, Alexandre Caetano, Verônica Fabrini, Eduardo Osorio, Gustavo Valezi
Duração: 12 minutos
País: Brasil

Nota: 5


Da Origem

Mais uma vez o experimentalismo fica a frente da narrativa, mas infelizmente não há competência técnica suficiente para validar a empreitada. O curta sobre o cotidiano de homens pré-históricos não convence no aspecto visual, principalmente no figurino e na maquiagem que parecem saídos dos palcos do teatro.

Roteiro e Direção: Fábio Baldo
Elenco: Fernando Galdino, Will Santana, Clayton Marques, Daniel Torres, Cícero Torres, Renato Izepp
Duração: 19 minutos
País: Brasil

Nota: 3

Da Origem foi visto no Festival Lume 2012.


Quando o Céu Desce ao Chão

A produção prima em mostrar a rotina urbana de Sofia, uma cozinheira aspirante a atriz. Ela está prestes a ir morar com o namorado, mas surge confusão em sua cabeça. A direção tem grande potencial, mas há sinais de prepotência – o curta é em preto e branco sem qualquer justificativa que não seja afetação, por exemplo. Nas mãos de um produtor de pulso firme, o futuro promete.

Direção: Marcos Yoshi
Roteiro: Marcos Yoshi, Tom Butcher
Elenco: Sofia Botelho, Gabriel Bodstein, Rafael Losso, Adão Filho
Duração: 17 minutos
País: Brasil

Nota: 7

O Baile de Três Cochonilhas

O filme mexicano mantém o equilíbrio entre uma proposta estética que dá espaço para o talento sem se esquecer de apresentar uma premissa interessantes. É necessário algum tempo para entender o enredo e a narrativa não é entregue de forma didática. O público é convidado a usar sua inteligência.

O Baile de Três Cochonilhas (El Baile de Tres Cochinillas)
Roteiro e Direção: Esteban Arrangoiz
Elenco: ?
Duração: 11 minutos
País: México

Nota: 8

domingo, 15 de julho de 2012

Além da Liberdade: Para americano ver

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


A globalização na indústria cinematográfica mundial é um fenômeno cada vez mais intenso, com profissionais de diferentes origens trabalhando juntos. Além da Liberdade (The Lady) é um exemplo dessa colaboração entre países.

O filme é a cinebiografia de Aung San Suu Kyi, líder revolucionária da Birmânia. Para interpretá-la foi escalada a malaia Michelle Yeoh (Missão Babilônia), que entrega um trabalho inspirado. Quem também está elogiável é seu parceiro de cena David Thewlis (Cavalo de Guerra) no papel do marido inglês de Suu.

Por outro lado, a falta de esforço da equipe de maquiagem em deixar mais evidente a passagem dos anos na pele dos personagens dificulta a autenticidade da obra. Alguns cabelos brancos e rugas cairiam bem quando Suu está mais velha.


Em algumas cenas do longa, a protagonista fala a língua local, mas prioriza-se o uso do idioma inglês, mesmo quando os personagens contracenando são todos birmaneses. Assim, Suu conversa com seus familiares em inglês e causa momentos que parte do público achará estranho. A confusão linguística é um dos indícios de que o filme foi produzindo para agradar o público estadunidense, avesso à leitura de legendas.

Outra pista é a escolha do francês Luc Besson para dirigir a fita. O cineasta está entre os europeus que mais consegue se comunicar com o gosto da plateia dos Estados Unidos. Ele já produziu sucessos de bilheteria estrelados por astros de Hollywood, como Busca Implacável e Dupla Implacável, além de ter dirigido Arthur e os Minimoys, uma animação infantil com grandes nomes entre os dubladores.

Besson não mede esforços para alcançar altos níveis de emotividade nas cenas do longa – quando o tema é liberdade, os estadunidenses apreciam um exagero lacrimoso. A dose da emoção pode até passar do limite para alguns espectadores; porém, se Além da Liberdade fizer mais pessoas pensarem na situação desumana do povo da Birmânia, os exageros merecem perdão.


Além da Liberdade (The Lady)
Direção: Luc Besson
Roteiro: Rebecca Frayn
Elenco: Michelle Yeoh, David Thewlis, Jonathan Raggett, Jonathan Woodhouse, Susan Wooldridge, Benedict Wong
Duração: 132 minutos
País: França, Reino Unido

Nota: 7


sábado, 14 de julho de 2012

Chernobyl X Armadinha: Vilões desfocados

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Uma das formas de se conseguir criar uma franquia no gênero de terror ou suspense é com vilões interessantes. Duas tentativas recentes nesse sentido gastam muita energia com os mocinhos e têm suas possíveis sequências arriscadas.

Oren Peli ganhou fama depois de criar Atividade Paranornal, um fenômeno entre as produções de found footage (imagens encontradas, como A Bruxa de Blair). Agora o roteirista arrisca-se em um tipo de terror mais tradicional em Chernobyl (Chernobyl Diaries) – o filme até começa com uma montagem de vídeos gravados como se a câmera fosse operada por um amador. De forma geral, o que se vê é uma câmera nervosa, mas que não faz parte das cenas.


Na franquia Atividade Paranormal finge-se o registro histórico de uma família assombrada. Em Chernobyl, a premissa parte de um elemento real: décadas depois do acidente nuclear, grupo de turistas são permitidos a visitar a região onde moravam os trabalhadores da usina de Chernobyl. O filme acompanha um desses grupos.

O problema do roteiro é que há muito espaço para os protagonistas e seus conflitos pessoais. O mistério que eles encontrarão em sua viagem é explicado muito superficialmente. Com as mortes que acontecem no grupo, sobra pouco para ligar com uma possível sequência. E não dá para fazer um prólogo com os mesmos personagens, como foi feito em Atividade Paranormal.


O mesmo mal assola Armadilha (ATM). Logo durante a apresentação dos créditos iniciais, percebe-se que o vilão planeja algo com muito cuidado, usando plantas baixas de um caixa eletrônico. Quando a ação do filme finalmente se passa dentro do cenário do plano maligno, pouco se descobre do vilão.

O roteiro prefere caracterizar o trio de colegas de trabalho que ficam presos no caixa eletrônico durante uma madrugada fria. Se um deles resolver sair do local, será atacado por um homem forte e sinistro que usa de muita violência para matar suas vítimas.

Nos créditos finais é sugerido que planos semelhantes serão (ou foram) executados em outras locações, como minimercados. Nesse ponto o título que a produção ganhou no Brasil é inteligente. Por outro lado, como pouco se sabe das motivações do vilão, fica difícil imaginar uma sequência interessante.

Chernobyl (Chernobyl Diaries)
Direção: Bradley Parker
Roteiro: Oren Peli, Carey Van Dyke, Shane Van Dyke
Elenco: Ingrid Bolsø Berdal, Dimitri Diatchenko, Olivia Taylor Dudley, Devin Kelley, Jesse McCartney, Nathan Phillips, Jonathan Sadowski
Duração: 86 minutos
País: EUA

Nota: 5



Armadilha (ATM)
Direção: David Brooks
Roteiro: Chris Sparling
Elenco: Alice Eve, Josh Peck, Brian Geraghty
Duração: 90 minutos
País: EUA, Canadá

Nota: 3

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bem Amadas: Lembranças francesas

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:  (?)


Enquanto se assiste a Bem Amadas (Les bien-aimés), experimenta-se uma mistura de novidade com pequenas lembranças do passado. E não porque a história do filme acompanhe uma mãe e uma filha desde meados dos anos 60 até os dias de hoje. Os motivos são outros.

Por ser um filme de Christophe Honoré, o ar blasé melancólico permeia todas as cenas e personagens. Por outro lado, o diretor comanda uma trama mais acessível do que Em Paris (2006), por exemplo. Outra novidade é que Bem Amadas é um musical, com canções blasés e nada animadas, é claro.

O primeiro número musical é cantado por Ludivine Sagnier. A atriz já tinha feito tal façanha em 8 Mulheres (2002), no qual protagoniza a primeira coreografia. No filme mais recente, ela atua em francês e tcheco e soma outro idioma para sua carreira – ela já atuou em inglês em outros filmes, como O Dublê do Diabo.

Em Bem Amadas, Ludivine é Madeleine, uma mulher um tanto impulsiva que não consegue fazer seu coração escapar de Jaromil (Rasha Bukvic, de Coco Chanel e Igor Stravinsky), um médico tcheco. Quando são mais velhos, o casal é vivido por Catherine Deneuve (Um Conto de Natal) e Milos Forman (Tenha Fé).

Coincidentemente, Ludovine e Catherine interpretam mãe e filha em 8 Mulheres. Na vida real, Deneuve é mãe de Chiara Mastroianni (Americano), que também faz o papel de sua filha em Bem Amadas. Ela é Véra, uma professora que se apaixona por Henderson (Água para Elefantes), um músico americano. A homossexualidade dele é um obstáculo para o amor.


Chiara atuou em um filme anterior de Honoré, Não, Minha Filha, Você não Irá Dançar (2009). Outro ator que é figura repitida nas fitas do cineasta é Louis Garrel. Como em A Bela Junie, o galã blasé interpreta novamente um professor.

Entre os déjà vus e as novidades de Bem Amadas, o filme termina sem coesão. Se fosse optado por uma trilogia, com a história contata do ponto de vista de um personagem diferente em cada parte; talvez a sensação de unidade narrativa ficasse mais forte. Um típico caso de dividir para conquistar.

Bem Amadas (Les bien-aimés)
Roteiro e Direção: Christophe Honoré
Elenco: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Ludivine Sagnier, Louis Garrel, Milos Forman , Paul Schneider, Radivoje Bukvic
Duração: 139 minutos
País: França, Reino Unido, República Tcheca

Nota: 6