domingo, 29 de maio de 2011

Dia-a-Dia do Pornô: O retrato de uma indústria “maldita”


De 26 a 29 de maio, o centro cultural Matilha Cultural (SP), recebeu as sessões de cinema no 1º Pop Porn Brasil, evento que procura discutir as várias facetas da pornografia.

Dentro da programação do evento, que segue com suas atividades em outros locais até 2 de junho, há um festival de cinema, com documentários e ficções, curtas e longas metragens , nacionais e estrangeiros.

Um desses filmes é o documentário Dia-a-Dia do Pornô (9to5: Days in Porn), que faz um amplo retrato da indústria do cinema pornográfico dos Estados Unidos. Para concluir sua missão, o longa traz depoimentos de atores e atrizes, diretores, produtores, agentes de talentos e até profissionais da área de saúde que dão suporte aos atores.

Com a variedade de personagens, a produção consegue tocar em diversos assuntos: como e por que os atores se envolvem nesse tipo de trabalho, as intenções dos realizadores, as premiações do setor, a preocupação com a saúde,...

A amplitude de temas é realmente é o maior mérito do documentário. Por outro lado, quando se tenta envolver sentimentos no caldeirão, o resultado não é igualmente bem-sucedido.

O possível embate entre a vida pessoal e profissional é certamente algo que deve ser discutido em um documentário sobre profissionais da indústria de filmes pornográficos. O problema é a forma como isso é posto, com uma manipulação da realidade acima do aceitável em filmes do gênero.


Dia-a-Dia do Pornô explora abusivamente da trilha musical para ditar as emoções que seus personagens estariam sentindo. O exemplo mais claro desse abuso está nos momentos em que algumas atrizes estariam tristes. A edição usa imagens em que elas estão pensando sabe se lá o que e coloca uma trilha musical emotiva para criar a ilusão de que ela esteja triste.

Quando se percebe essa manipulação emocionais em um documentário, a obra perde um pouco de sua verdade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Esperando para Fumar: Em defesa de um tema polêmico


 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:

Ao contrário do que se espera de reportagens, os documentários não têm a cobrança de imparcialidade. O vídeo Esperando para Fumar (Waiting to Inhale: Marijuana, Medicine and the Law), exibido no último final de semana na Matilha Cultural (São Paulo), é um claro exemplo de documentário que defende seu ponto de vista.

A produção dirigida por Jed Riffe retrata os desafios dos pacientes que usam a maconha para fins medicinais nos Estados Unidos. Esperando para Fumar claramente defende a legalização da erva, ao menos para usos terapêuticos.

Com imagens de arquivo e gravações realizadas durante quase dez anos, o documentário traça um histórico de como a maconha é vista pela sociedade. O ponto alto está em conseguir contemplar seus assuntos tanto de forma superficial como profunda.


Um exemplo dessa postura está nos benefícios que a maconha traz nos pacientes. A produção mostra os efeitos comumente conhecidos, como relaxamento muscular e aumento do apetite. Por outro lado, também apresenta como o THC (o princípio ativo da canabis) entra no sistema do usuário de forma detalhada.

O documentário estuda algumas das razões por trás da resistência que o uso da maconha tem junto à população. Esperando para Fumar dá voz para pessoas contrária à aplicação da canabis para qualquer fim, entre elas pais que perderam seus filhos para as drogas mais fortes (como a heroína) ou agentes do governo dos Estados Unidos que trabalham no combate ao uso de drogas.

Nesse sentido, o documentário levanta pontos interessantes. Um exemplo: usar uma planta (e não um comprimido) como medicamento é algo muito estranho para a cultura ocidental. No Brasil, esse não parece ser o caso, considerando a popularidade que chás e extratos de ervas encontram por aqui.

Por causa do recorte escolhido pelo documentário, outras razões de resistência ficam de fora, como o lobby feito pela indústria do algodão. A fibra do cânhamo é muito mais resistente e mais barata do que aquela obtida do algodão. Apesar dos efeitos narcóticos da maconha serem menores do que os do álcool, que é uma droga lícita; as indústrias do algodão apoiaram-se nesse argumento para que  a maconha se tornasse uma substância proibida.

Mas isso tem de ser discutido em outro filme. Esperando por Fumar foca-se em seu recorte e fornece argumentos poderosos para quem defende o uso da erva. Portanto, a missão desse tipo de documentário está cumprida.

domingo, 15 de maio de 2011

No Olho da Rua: Metalinguagem tem limite


 por Edu Fernandes

Spoilerômetro:

O filme No Olho da Rua, que estreou no Rio de Janeiro e em São Paulo na última sexta-feira (13), perpetua alguns vícios do cinema brasileiro. Além do trailer pavoroso e de uma história descolada do contexto atual, o tema deste texto é uma terceira teimosia tupiniquim: a inserção de um personagem cineasta (que por vezes é um cinéfilo ou roteirista) na história do filme.

Em No Oho da Rua, o fatídico papel foi incumbido a Leandro Firmino da Hora (Cidade de Deus) e é o personagem mais divertido do filme. O problema é que o fato de ele ser aspirante a cineasta é totalmente ao enredo.

Leandro interpreta Algodão, um carioca radicado em São Paulo que estudou cinema. Ele quer registrar as amarguras vividas por Oton (Murilo Rosa). O protagonista é um metalúrgico que perdeu o emprego.

Todas as funções dramáticas de Algodão poderiam ser desempenhadas sem que ele necessariamente fosse um cineasta. Tal excesso fica evidenciado especialmente quando se percebe que a ideia de registrar as penúrias de Oton é “esquecida” pelo roteiro conforme o filme avança. Algodão é o alívio cômico de No Olho da Rua, a voz da favela e o companheiro de aventuras do protagonista. E só.

Mas qual o problema de ele ser um cineasta? Pois bem, poucas pessoas comuns conhecem um cineasta (isso vale também para quadrinista). No Brasil, o cinema (e os quadrinhos) é uma área de interesse bem limitado junto à população. Quando se coloca constantemente um cineasta (ou quadrinista) no roteiro de um filme (ou HQ), o cinema torna-se mais umbilical, fechado em si mesmo e assistido apenas pelas mesmas pessoas de sempre.


Se a classe do cinema (realizadores, críticos, cinéfilos,...) quisermos que o nosso amor pela sétima arte seja praticado por mais pessoas, precisamos tornar nosso cinema mais acessível. Esse vício – partilhado por Podecrer! e Os Desafinados (foto), em exemplos atuais – precisa ser controlado. A metalinguagem (elementos de um filme dentro de um filme), quando bem usada, dá bons resultados. Nesse sentido, vale a pena conferir Saneamento Básico.

Para finalizar, pensemos como essa questão se apresenta em áreas culturais mais bem sucedidas no quesito popularidade. Quantas telenovelas trazem um novelista como um de seus personagens?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fogo na Bomba: VIPs: Dentro da mente de um criminoso

 por Edu Fernandes

Spoilerômetro
VIPs
Uma Mente Brilhante

A seção Fogo na Bomba é destinada a discutir o final de um filme. Como contar o desfecho de uma história pode ser considerado uma baita sacanagem, nada melhor do que começar com um filme cujo protagonista é uma grande sacana.

VIPs, longa-metragem que recentemente alcançou a marca de 500 mil espectadores, dá uma explicação para o comportamento golpista de Marcelo Nascimento. Tal façanha foi tentada por muitas reportagens sobre o falso dono da Gol no Recifolia tantaram fazer, sem sucesso.

Cabe aqui um parênteses: não sou estudioso de psicologia. Por isso, minhas explicações serão bem superficiais. Pessoas mais entendidas no assunto são convidadas a deixar um comentário (bem educado, é lógico).

Pois bem, alguns artigos defenderam que Marcelo seria um psicopata, uma pessoa incapaz de sentir amor por outra pessoa que não seja ela mesma. Os psicopatas também não conseguem decernir muito bem o certo do errado.

Outras reportagens especulavam que Marcelo seria um mitomaníaco, uma pessoa que tem a necessidade de contar mentiras e criar histórias falsas sobre si mesmo.

O filme estrelado por Wagner Moura segue uma linha diferente das duas citadas acima. A tese de VIPs não se baseia em indícios reais, mas cria uma solução dramática interessante.


No longa, Marcelo teria uma espécie de esquizofrenia, um tanto parecida com a do protagonista de Uma Mente Brilhante. No filme nacional, o anti-herói criou para si uma figura paterna (que lhe é ausente), que seria um piloto. Esse pai é a projeção de seu sonho de voar e escapar da realidade triste em que vive.

Com essa mudança, cria-se simpatia pelo falsário, já que ele não tem culpa. Trata-se de uma pessoa doente, que precisa de ajuda psicológica. Já o mistério em torno da razão que leva o Marcelo Nascimento real a aplicar seus golpes continua sem solução.

Para saber mais sobre o personagem real, aconselho a leitura do livro VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso e aguardar a estreia do documentário homônimo.

O livro é escrito por Mariana Caltabiano e o documentário, que deve estrear em breve, também tem direção dela. Essas duas obras são muito engraçadas e merecem a atenção do público.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

MTV Movie Awards: O que é revelação para vocês?


Hoje saiu a lista de indicados do MTV Movie Awards. A premiação do canal musical é um bom termômetro do que é popular e quais os candidatos a se tornar referência de cultura pop no futuro próximo.

Nesse sentido, as numerosas indicações para Eclipse, A Origem e Harry Potter 7 não chegam a ser uma grande surpresa. O que não dá para entender é a categoria de Estrela Revelação. Dos cinco candidatos apenas dois podem ser considerados verdadeiras revelações.

Os indicados apropriados são Hailee Steinfeld (Bravura Indômita) e Jay Chou (O Besouro Verde). Os outros três já eram conhecidos do público antes de estrelarem os filmes pelos quais concorrem ao troféu.


Antes de A Rede Social, Andrew Garfield já tinha feito participações em Não Me Abandone Jamais, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus e Leões e Cordeiros. Pelo menos pelos dois primeiros títulos ele não poderia mais ser considerado uma revelação.


Chloe Moretz começou sua carreira cedo, aos 7 anos de idade. Agora, aos 14 anos, ela foi indicada por roubar a cena em Kick Ass, mas a MTV deve ter esquecido a atuação dela em (500) Dias com Ela.

Um dos erros mais graves, no entanto, é a nomeação de Olivia Wilde para essa categoria. Ela já teve uma carreira longa em seriados televisivos e é lembrada por muitos como a Treze de House.

Se considerarmos apenas a carreira dela no cinema o erro permanece. Antes de Tron: O Legado, Olivia apareceu em 72 Horas, Ano Um e Turistas, entre outros trabalhos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Água para Elefantes: Esqueceram do Hal Holbrook!


 por Edu Fernandes
Spoilerômetro:

O filme Água para Elefantes tem em si uma grande contradição. O longa busca o glamour do cinema à moda antiga, mas faz questão de minimizar ao máximo a participação do veterano ator Hal Holbrook.

Desde antes da estreia esse clima desrespeitoso em relação a Hal podia ser percebido. Um dos trailers do filme não faz qualquer menção a ele: suas cenas não fazem parte do vídeo e seu nome não é anunciado como um dos pontos fortes do produto.

Até para achar essa foto aí de cima foi difícil! No kit de imprensa que a Fox distribuiu não há qualquer foto dele!

Seu papel é importante demais para que a situação de “esquecimento” seja aceitável. Ele interpreta a versão idosa do personagem principal e sua função seria narrar a história de sua vida no circo, quando se apaixonou pela dona de seu patrão.


Ele até começa a locução, mas sua voz é rapidamente substituída pela de Robert Pattinson, ator que interpreta o protagonista na juventude. Os produtores preferiram focar seus esforço em maximizar a participação do jovem galã do que prestar a merecida homenagem a Holbrook.


Tudo bem que Pattinson tem uma legião de fãs, mas não precisava valorizar seu nome em detrimento de outro ator que até agora mostrou-se muito mais talentoso do que ele. Há pouco tempo atrás Holbrook foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante por Na Natureza Selvagem, enquanto Pattinson coleciona MTV Movie Awards e seus filmes são indicados ao Framboesa de Ouro.

O elenco de Água para Elefantes ainda conta com dois ganhadores do Oscar: Reese Witherspoon (que levou por Johnny e June) e Christoph Waltz (premiado por Bastardos Inglórios).A atriz já entregou trabalhos muito mais inspirados enquanto o ator austríaco é o responsável pela melhor (entre poucas boas) cena do filme.

No final das contas, os produtores fazem um favor a Hal Holbrook com essa postura. Ele não merece ser lembrado por esse filme fraco.

Os Agentes do Destino: Como deixar Philip K. Dick contemporâneo

 por Edu Fernandes

Spolierômetro
Os Agentes do Destino:
O Vidente: penúltimo parágrafo

Desde a década de 80 a obra de Philip K. Dick é transformada em boas fitas futuristas, como O Vingador do Futuro, Minority Report e Blade Runner. De um tempo para cá, houve duas tentativas de transformar um de seus contos em histórias que se passem nos dias de hoje.


Os Agentes do Destino, que estreia no Brasil no dia 13 de maio, conta a história de um político (Matt Damon) que se apaixona por uma bailarina (Emily Blunt). É aí que uma misteriosa organização destinada a garantir que as coisas aconteçam de acordo com um plano entra em cena. Eles informam o tal político que ele não deve mais procurar sua amada.

Outra tentativa de “contemporaneizar” a obra de K. Dick foi realizada em 2007, mas com resultados desastrosos. O Vidente, ao contrário do filme mais recente, é uma produção ruim.

O que pode parecer mais estranho é que há mais semelhanças nas duas fitas, além do autor e da época em que suas histórias se passam. Em ambas, o protagonista é um homem perseguido que fará de tudo para ficar ao lado da amada, mesmo que não a conheça tão bem.


Então, como podem dois filmes tão parecidos terem graus de qualidade tão opostos? O primeiro acerto de Os Agentes do Destino está na escolha de um ator principal mais confiável. Afinal, Matt Damon emplaca muitos sucessos em Hollywood – além de não ter o penteado estranho de Nicolas Cage em O Vidente.

Por outro lado, Cage não estrela como personagem principal em um filme realmente bom desde O Senhor das Armas (2005). Ele teve participações menores em filmes bons (Kick Ass) e protagonizou alguns filmes médios nesse meio tempo.

Outro ponto positivo para o filme mais novo está na narrativa. Sua história é revelada de forma mais interessante, com surpresas constantes. O Vidente tenta guardar uma grande surpresa para o final, mas a sucessão de erros anteriores resultam em risos.


Em tempo: Philip K. Dick morreu em 1982. Portanto, qualquer semelhança entre Os Agentes do Destino e Matrix (1999) é mérito do autor.