sexta-feira, 31 de julho de 2009

Almoço em Agosto




Sinopse: Giovanni é um homem de meia-idade que vive com sua mãe idosa. Ele não pode trabalhar por causa da dedicação que sua genitora lhe demanda e, por isso, está afundando em dívidas. O síndico do prédio onde mora lhe propõe que cuide de outra velhinha por dois dias, em troca ele lhe concederá o perdão de alguns débitos.


Ficha Técnica
Almoço em Agosto (Pranzo di Ferragosto)
Roteiro e Direção: Gianni Di Gregorio
Elenco: Gianni Di Gregorio, Valeria De Franciscis , Marina Cacciotti, Maria Calì, Grazia Cesarini Sforza
Duração: 75 minutos


Ode à terceira idade
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Um dos encantos do cinema está em nos permitir conhecer outras realidades e culturas. Almoço em Agosto (Pranzo di Ferragosto) traz uma dessas oportunidades que não podem ser desperdiçadas por quem gosta ou tem interesse em conhecer a cultura italiana. Além de o protagonista passar o filme inteiro bebendo vinho e cozinhando pratos típicos, ele está preparando o almoço de Ferragosto, um feriado que muitos não conhecem. Tudo surgiu de uma festividade romana pela fertilidade, mas com a adoção do Cristianismo a festa foi convertida em uma celebração que relembra a ascensão de Virgem Maria, comemorada em 15 de agosto.

A inversão de papéis entre pais e filhos que acontece na terceira idade é muito bem retratada pela produção. Sempre se tem a impressão que os idosos podem por vezes comportarem-se como crianças que precisam ser controladas. Comendo o que não deve, retrucando às sugestões das pessoas mais novas e outras travessuras e manhas são mostradas pelo filme de forma leve, sensível e cômica. Entre uma risada e outra, não se surpreenda se bater aquela vontade súbita de visitar a vovó.

Quem acompanha meus textos sobre cinema sabe da minha indisposição com uma certa tendência contemporânea do cinema europeu de produzir filmes que não se focam muito no conflito e preferem fazer o retrato de uma situação, como o recente Horas de Verão. Almoço em Agosto segue essa linha que pejorativamente e deliberadamente apelidei de “filmes sobre nada”.

Fico muito feliz e não tenho medo de afirmar que a fita italiana é a primeira de que eu realmente gosto e até tenho vontade de rever nesse novo gênero. As razões de minha afeição são a grande simpatia que os personagens apresentam e a comicidade leve desse singelo filme.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

por Edu Fernandes

Sinopse: Harry Potter volta à escola de magia Hogwarts para seu sexto ano, semanas após o retorno de Voldemort. Com a ajuda de um livro de poções anotado pelo desconhecido Príncipe Mestiço, Harry conquista um conhecimento importante que revelará um segredo crucial.


Spoilerômetro:

Ficha Técnica:
Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves, baseado na obra de J. K. Rowling
Elenco: Daniel Radcliffe, Michael Gambon, Rupert Grint, Emma Watson, Bonnie Wright, Jim Broadbent, Alan Rickman, Tom Felton e outros
Duração: 153 minutos


Ação adiada

O trabalho de um crítico de cinema é, pelo menos pela minha perspectiva, indicar se cada filme é apropriado para seu público-alvo, ajudando o espectador no momento da escolha do que assistir. Porém, diante de um fenômeno tão grande quanto Harry Potter, o papel desse profissional tem de ser outro. Estou ciente de que nunca poderei falar bem o suficiente para convencer quem não acompanha a série a embarcar no mundo mágico de Hogwarts na sexta aventura. Também sei que não poderei evitar que os fãs do bruxinho corram para os cinemas – claro que não é esse o meu objetivo.

Já que a crítica não terá influência no resultado de bilheterias, minha função neste texto é apenas auxiliar quem já está decidido há meses (graças a uma decisão questionável da Warner) a ver esse filme, seja matando a curiosidade ou apenas apontando para as qualidades e falhas de Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half Blood Prince). O que posso dizer de cara é que dificilmente esse será o filme favorito dos fãs da franquia.

Explicando: quem assistia a embates mágicos cada vez mais intensos pode estranhar a falta de ação desse sexto episódio, mesmo com a volta das partidas de quadribol. O plano dos produtores parece ser deixar os duelos mais fortes para o último título, que será dividido em duas partes.

Se era para não ter ação, o roteiro poderia ter aproveitado para investir na emoção. Infelizmente o filme faz jus à fama dos britânicos e fica frio – com certeza é um dos textos mais engraçados, mas a emoção não é tão forte. Os romances poderiam ser um pouco mais fortes, mas a principal falha é na pouca ênfase nos conflitos internos de Draco – apesar da boa atuação de Tom Felton.

Por outro lado, o roteiro pode ser elogiado por acompanhar o amadurecimento da série. Com muitas revelações (algumas um pouco jogadas de repente), o espectador poderá fazer suposições e discutir as intenções dos personagens, principalmente quem não sabe como vai acabar a saga.

Outro indício do amadurecimento está na paleta de cores dos filmes. Se no começo as produções eram alaranjadas, com o passar do tempo foram ficando com tonalidades mais frias, até chegar à atmosfera azul da quinta aventura. Harry Potter e o Enigma do Príncipe dá mais um passo em direção às trevas e traz sequências cinzentas.

O balanço final é que, mesmo com alguns tropeços, os fãs ficarão contentes e a expectativa pelo final será mantida.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Teta Assustada




 


Sinopse: Fausta tem uma doença transmitida pelo leite materno e evita relacionar-se com outras pessoas. Ela acaba de perder sua mãe e quer que o corpo dela seja enterrado no vilarejo de onde vieram.





Ficha Técnica
A Teta Assustada (La teta asustada)
Roteiro e Direção: Claudia Llosa
Elenco: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solís
Duração: 94 minutos





Medo cego
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A produção peruana A Teta Assustada (La teta asustada) foi o grande vencedor da última edição do Festival de Berlim. As qualidades que a fizeram merecedora de uma premiação tão importante não serão suficientes para agradar ao público acostumado com filmes mais acessíveis.

O tema do roteiro é medo e solidão. A protagonista é uma mulher extremamente amedrontada que não consegue manter um relacionamento com outra pessoa. Por isso, todo momento em que o espectador começa a se habituar com a convivência de Fausta com algum personagem (seu tio, sua patroa, o jardineiro), ela debanda e volta a ficar sozinha. Ela é, portanto, uma heroína sem carisma.

Outro ponto de afastamento criado pelo filme são as passagens em que Fausta ou sua mãe cantam em um idioma local. A impressão que dá que esse costume estranho é apenas um traço cultural daquele povo, mas a total falta de ritmo e métrica não pode ser considerada uma tentativa de conquistar os fãs de musicais.

Conhecer a cultura peruana, tão próximos de nosso país, porém tão distantes do nosso cotidiano, é com certeza o ponto mais interessante desse filme. Para quem só consegue pensar nos incas e em Machu Picchu quando se fala de Peru, A Teta Assustada é uma lição social. Para os cinéfilos de plantão, além de uma abordagem diferenciada de seus temas, o filme oferece imagens e situações excêntricas, como o próprio cartaz sugere.