terça-feira, 30 de junho de 2009

A Era do Gelo 3





Sinopse: Numa missão para resgatar Sid, a turma aventura-se por um misterioso mundo subterrâneo. Lá, eles se deparam com dinossauros, lutam contra estranhas plantas assassinas e conhecem Buck, uma agitada doninha de um olho só.


Ficha Técnica
A Era do Gelo 3 (Ice Age: Dawn of the Dinosaurs)
Direção: Carlos Saldanha, Mike Thurmeier
Roteiro: Michael Berg, Peter Ackerman
Elenco: John Leguizamo, Queen Latifah, Denis Leary, Ray Romano
Duração: 94 minutos


Amizade ainda é o foco
 por Bruno Palma

(Spoilerômetro: )

São poucas as sequências de desenhos animados que conseguem manter o mesmo pique do primeiro. O terceiro filme da série A Era do Gelo é um desses raríssimos exemplos. E, para falar a verdade, não me vem nenhum outro à mente no momento.

O foco central continua a ser a amizade, mas, assim como o segundo filme trazia o romance como um tema paralelo, A Era do Gelo 3 (Ice Age: Dawn of the Dinosaurs) também aborda um outro assunto: a família, com mais enfoque no sentimento de paternidade. Essas questões mais sérias são bem dosadas com as piadas, que continuam com a mesma espirituosidade, e sem apelações. Ou seja, dá pra levar a molecada no cinema com a garantia de muita risada, e sem nenhum constrangimento.

A história tem início com o mamute Manny preocupado por estar prestes a se tornar pai, o que faz com que seus dois grandes amigos – a preguiça Sid e o tigre dente de sabre Diego – se sintam excluídos. A confusão começa quando Sid, na intenção de formar sua própria família, rouba ovos de tiranossauro e é capturado pela mãe dos filhotes. A turma toda, incluindo a mamute Ellie e seus dois irmãos gambás, parte em busca de Sid e descobre um mundo subterrâneo habitado por dinossauros gigantescos, uma clara referência a Viagem ao Centro da Terra, clássico de Julio Verne.

Nesse novo território, cortado por rios de lava, bem diferente daquele com o qual os personagens principais estão acostumados, surge ainda um outro animalzinho para fazer parte da trupe: a doninha Buck. Esse novo personagem provoca gostosas gargalhadas com suas maluquices, chegando a lembrar mesmo o Louco, das histórias do Cebolinha, em alguns momentos.

Impossível não falar de Scrat, o esquilinho atrapalhado. Ele continua a aparecer em A Era do Gelo 3, mas dessa vez se encontra dividido entre duas paixões: uma esquilo fêmea e a noz, seu eterno objeto de desejo.

Como já disse anteriormente, o filme tem um bom equilíbrio entre momentos engraçados e de coisa séria, além de um bocado de aventura, que ganha ainda mais intensidade nas salas 3D. Vale lembrar também que os dubladores brasileiros merecem boa parte dos créditos pela qualidade do filme, algo que continua a se repetir quando se trata de animação.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Jean Charles





Sinopse: A história real de Jean Charles de Menezes, brasileiro imigrante ilegal em Londres que foi morto pela polícia em 2005, confundido com um terrorista.


Ficha Técnica
Jean Charles
Direção: Henrique Goldman
Roteiro: Henrique Goldman, Marcelo Starobinas
Elenco: Selton Mello, Vanessa Giácomo, Luis Miranda
Duração: 93 minutos


Fins ajustados pelo meio
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Há três objetivos louváveis em Jean Charles. O primeiro deles é contar a vida desse brasileiro, do qual todos sabemos apenas a morte. Relatando seu jeito de ser e os macetes que ele tinha de bolar para apenas sobreviver na terra estrangeira, o filme escapa de ser um dramalhão barato para ser um retrato do típico imigrante que tenta a sorte em outras paragens.

O segundo compromisso da produção é com a autenticidade, tanto que os roteiristas tiveram acesso aos autos do inquérito para conseguir um alto grau de fidelidade nos pontos-chave da trama. É óbvio que há espaço para a romantização, possibilitando assim que a jornada do eletricista coubesse dentro de um formato mais cinematográfico.

Finalmente, Jean Charles quer servir de alerta para que esse assunto tenha uma resolução satisfatória, já que nenhum dos assassinos sofreu qualquer tipo de punição por seus atos inconsequentes. A denúncia dessa tragédia utiliza-se de muito bom gosto cinematográfico ao não mostrar a face dos policiais, seguindo o exemplo do pintor espanhol Francisco Goya, que também omitiu as feições dos atiradores em Os Fuzilamentos de 3 de maio de 1808 (abaixo).


Na ânsia pela autenticidade máxima, as pessoas que conviveram com Jean Charles foram convidados para reviver seus papéis. Os personagens menores são todos praticamente reatuados pelas pessoas reais. Apesar de conseguir algumas falas e feições com emoções sinceras, algumas atuações soam forçadas e destoam do trabalho dos atores profissionais em cena.

Por aliar boas intenções, qualidade técnica e um boa campanha de divulgação, Jean Charles é um ganho para a cinematografia nacional.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde Andará Dulce Veiga?




Sinopse: Caio acaba de acabar um relacionamento e começa um novo emprego: ele será repórter em um jornal. Sua primeira missão é descobrir onde está Dulce Veiga – uma cantora que fez muito sucesso no passado e desapareceu repentinamente.


Ficha Técnica
Onde Andará Dulce Veiga?
Roteiro e Direção:
Guilherme de Almeida Prado
Elenco:
Carmo Dalla Vecchia, Carolina Dieckmann, Eriberto Leão, Júlia Lemmertz, Oscar Magrini, Nuno Leal Maia, Matilde Mastrangi, Maitê Proença, Cacá Rosset, Christiane Torloni
Duração:
135 minutos


A ousadia corta para os dois lados
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: segundo parágrafo)

O cartaz de Onde Andará Dulce Veiga? não condiz com o conteúdo do filme. Olhando para a figura ao lado, qualquer um poderá supor que se trata de uma comédia (por causa do fundo branco e da menina sorridente no canto superior esquerdo), com um toque de aventura (pelo protagonista com arma em punho no centro). Na verdade a fita é uma mistura de filme noir com musical, algo no mínimo inusitado.

Do noir, a produção nacional herdou a atmosfera de mistério e a narração do protagonista que leva o espectador para dentro da investigação. Como a busca é por uma cantora, há várias canções no decorrer do enredo. A música "Estou tão só" funciona muito bem tanto na versão “original” de Dulce Veiga, quanto na releitura em rock feita pela filha dela. As cenas musicais até que se seguem bem, mas o último momento de cantoria é tão ruim que consegue destruir qualquer simpatia que havia sido conquistada.

O forte do filme é o visual. Desde as primeiras cenas há ousadias na construção da imagem, com direito a grafismos eletrônicos e croma-key. A loucura do texto é o elemento que concede espaço para as bem-vindas experimentações visuais. O mistério envolvente no começo do filme e a falta de coesão para que a surpresa do fim seja aceita lembram as mesmas falhas cometidas por Número 23.

A lição que deve ser aprendida pelo diretor Guilherme de Almeida Prado é convidar um segundo roteirista para escrever uma segunda versão da adaptação do livro. Alguns pequenos ajustes poderiam fazer o filme dar certo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Transformers: A Vingança dos Derrotados

por Edu Fernandes

Sinopse: Os Decepticons continuam sendo uma ameaça à Terra. Autobots os combatem ao redor do globo, ajudando o exército. Quando Sam acha um pedaço da All-Spark, ele precisa voltar a lutar lado a lado com os robôs para evitar a destruição do planeta.


Spoilerômetro:


Ficha Técnica:
Transformers: A Vingança dos Derrotados (Transformers: Revenge of the Fallen)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci, Alex Kurtzman
Elenco: Shia LaBeouf, Megan Fox, Isabel Lucas, Josh Duhamel, Ramon Rodriguez
Duração: 150 minutos


Mais!

A primeira coisa que salta aos olhos de quem entra em contato com o material de divulgação de Transformers: A Vingança dos Derrotados (Transformers: Revenge of the Fallen) é a escolha questionável de título em terras brasileiras. Além de perder o trocadilho do nome original – que não será explicado para evitar spoilers –, a palavra “derrotado” não é tão poética quanto o “fallen” do nome original. Imagine um filme chamado “Revenge of the Losers”!

A palavra de ordem para essa nova aventura com robôs gigantes é mais, quando se compara com a produção anterior. E não foi apenas mais minutos que o filme ganhou. A melhor notícia para os espectadores é a maior quantidade de piadas. As risadas serão muito mais frequentes, aproveitando a veia cômica de Shia LaBeouf (Controle Absoluto).

As curvas de Megan Fox também são um atributo explorado pelas câmeras, para alegria dos marmanjos. A moça teve até de engordar 5 kg antes de começarem as filmagens para que seus dotes físicos ficassem mais aparentes.

Por outro lado, as lutas de contato entre os robôs e as "frases Michael Bay" foram diminuídas. Dessa vez, a ação é muito mais focada em tiroteios e explosões do que em sopapos e as citações memoráveis e patriotas foram quase (pena que ficou no quase) eliminadas.

O que continua o mesmo é a quantidade de propaganda inserida nas cenas. Aparentemente Transformers 2 resolveu explorar na indústria fonográfica um novo filão de publicidade, já que não acho outra explicação para a canção "21 Guns" do Green Day ser executada em três ocasiões diferentes. Parece até novela das oito!

Para quem curtiu o primeiro filme, todas as expectativas serão saciadas ou superadas. Quem teve ressalvas pode até se surpreender positivamente, mas o objetivo do filme continua sendo o público mais jovem. Essa é uma boa razão para incluir alguns robôs que lembrarão a série animada Beast Wars.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Loki – Arnaldo Baptista






Sinopse: Documentário sobre a vida de Arnaldo Baptista. A formação dos Mutantes e as amarguras que o artista sofreu depois do final da banda.


Ficha Técnica
Loki – Arnaldo Baptista
Roteiro e Direção: Paulo Henrique Fontenelle
Elenco: -documentário-
Duração: 83 minutos


"Louco é quem me diz"
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Poucas pessoas ligam prontamente o nome de Arnaldo Baptista à banda Mutantes, mas ele era a cabeça pensante por traz de um dos mais importantes grupos musicais do rock nacional. Em Loki – Arnaldo Baptista, ele é um objeto de estudo mais do que curioso para a produção de um documentário. Sua contribuição musical é inegável, mas seus problemas mentais e o quase esquecimento pelo qual passou tornam sua jornada merecedora de um grande filme.

A estrutura do filme – e da vida – é bem parecida com a que já foi apreciada em Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei. Arnaldo também chegou à crista da onda muito jovem e acabou tombando com consequências arrebatadoras para sua vida pessoal. O documentário não mede palavras para tratar de tudo o que se deseja saber dessa figura: o uso de drogas, os problemas afetivos, as internações, a tentativa de suicídio...

Antes de o leitor achar que se trata de uma desgraça atrás da outra, há espaço para muita música de qualidade e depoimentos de autoridades no assunto. Fãs famosos como Sean Lennon e Kurt Cobain fazem suas declarações de amor musical a Arnaldo – parte de uma ótima pesquisa desempenhada pelos realizadores.

Loki acha uma boa forma de mostrar para o público um pouco de como funciona a cabeça de Arnaldo Baptista. Desde que saiu do coma, ele começou a pintar quadros e, enquanto dá seu depoimento para o filme, pinta um quadro que retrata por símbolos e alegorias muitas passagens de sua vida. Escolhendo muito bem os enquadramentos, acompanha-se a confecção dessa peça enquanto que se revelam as diversas situações discutidas.

Já é sabido que Rita Lee recusa-se a dar declarações acerca de sua passagem por Os Mutantes e ela poderia facilmente comprometer a qualidade do longa. Felizmente ela assumiu uma posição que deve ser cumprimentada: cedeu o direito para que a produção usasse as imagens de arquivo em que ela aparece, mas não quis ser entrevistada. Por mais desejável que fosse ouvir a versão dela para os acontecimentos, ela conseguiu manter-se fiel a si mesma ao mesmo tempo em que não atrapalha os fãs ávidos em assistir ao documentário.

Inimigo Público nº 1 – Instinto de Morte



Sinopse: A história real de Jacques Mesrine que, depois de servir o Exército Francês na Argélia, tornou-se o ladrão mais procurado do país. Também cometeu crimes nos EUA e Canadá.


Ficha Técnica
Inimigo Público nº 1 – Instinto de Morte (L’instinct de mort)
Direção: Jean-François Richet
Roteiro: Abdel Raouf Dafri
Elenco: Vincent Cassel, Cécile De France, Gérard Depardieu, Gilles Lellouche
Duração: 113 minutos


Crime à francesa
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O maior acerto de Inimigo Público nº 1 – Instinto de Morte (L’instinct de mort) é em concentrar-se no personagem principal. A jornada de Jacques Mesrine é contada do ponto de vista do próprio, usando o ângulo menos problemático de ver esses fatos. Dessa forma, as facetas mais conflitantes do ladrão são apresentadas sem que o filme caia em contradição. Para viver esse polêmico ícone do crime foi escalado Vincent Cassel (Senhores do Crime), que consegue transmitir com igual competência seu lado mais humano e sua face mais cruel.

Exceto pela primeira sequência, antes de o título ser anunciado, todo o restante do longa é contado em ordem cronológica. Com isso, a fita não consegue escapar de uma recorrente armadilha de cinebiografias: a fragmentação do que seria uma unidade dramática em uma série de pequenos episódios. Com as mudanças no estilo de vida e na localização geográfica do protagonista, fica ainda mais fácil segmentar as fases do filme.

Como toda produção cujo tema envolve crimes, há diversas cenas de ação retratando várias das aventuras reais de Mesrine, por mais incríveis que elas pareçam. Essas passagens foram muito bem dirigidas e rendem boas emoções.

Finalmente, é preciso que se faça um aviso a todos que forem assistir a Inimigo Público nº 1. Este Instinto de Morte é apenas a primeira parte da cinebiografia do criminoso. Seguindo o exemplo de Kill Bill (2003/2004), depois do último fotograma projetado, ficará um grande intervalo da carreira dele que não é contemplada no filme. Para saber o que acontece nesses anos, será necessário assistir à segunda parte. Antes que os protestos comecem, uma reflexão: a ânsia em saber o destino desse grande larápio é um sintoma da qualidade do thriller.

Paris



Sinopse: Pierre tem um problema grave no coração e espera por um transplante. Para fazer companhia a ele, sua irmã Elise muda-se com os três filhos para o apartamento dele. Roland é um professor universitário que se apaixona por sua aluna. Com medo da rejeição ele envia para ela mensagens anônimas com poemas.


Ficha Técnica
Paris
Roteiro e Direção: Cédric Klapisch
Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris, Fabrice Luchini, Albert Dupontel, François Cluzet
Duração: 130 minutos
 
 
Cidade dos amantes
 por Edu Fernandes
 
(Spoilerômetro: )
 
A capital francesa é conhecida por inspirar romance e o filme Paris aproveita para caçoar desse imaginário coletivo. Nas várias tramas paralelas, podem-se ver diversas oportunidades em que são dados tapas na cara do romantismo. A inversão de valores é muito interessante e dá novos ares para quem está cansado das mesmas histórias de amor no cinema. Por causa disso, nessa produção as pessoas são mais reais e as situações também.

Várias formas de amor são testadas pelas diversas histórias do enredo. Por ouro lado, são tantos conflitos ao mesmo tempo que o quase inevitável acontece: algumas tramas são mais interessantes do que outras e, quando estamos assistindo a uma menos empolgante, queremos que o foco volte-se imediatamente para nossos personagens favoritos. Por se tratar de um filme longo, o roteiro poderia se limitar nas histórias da sinopse acima que ficaria de bom tamanho.

O desfecho dessas tantas jornadas acompanha a autenticidade dos personagens. A maioria acaba não se dando tão bem assim, alguns ficam na neutralidade e outros encontram alguma felicidade. Bem parecido com o que acontece na vida real. Doa a quem doer.

O maior destaque de Paris são os atores. Elogios especiais são necessários para as cenas em que Juliette Binoche (Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada) e Romain Duris (As Aventuras de Molière) contracenam, esbanjando talento dos dois lados. Quem gosta de cinema francês não pode perder.

Dude Fato: O ator Romain Duris nasceu em Paris e faz seu segundo filme com o nome da cidade no título. O outro é Em Paris.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Stella





Sinopse: Aos 11 anos, Stella muda-se para o ginásio, mas não tem amigos em sua nova escola. Nessa prestigiosa instituição ela descobre um novo mundo de experiêcnias.


Ficha Técnica
Stella
Roteiro e Direção: Sylvie Verheyde
Elenco: Léora Barbara, Mélissa Rodriguez, Laëtitia Guerard, Karole Rocher, Benjamin Biolay
Duração: 103 minutos


"In Between Days"
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Uma das razões de sucesso de Divã é conseguir mostrar uma daquelas fases da vida em que a pessoa se encontra entre duas etapas, nesse caso na vida adulta e com a terceira idade à vista. Stella aborda a mesma dificuldade na chamada pré-adolescência – para os meninos é a época em que se ganha muitos conjuntos de caneta e lapiseira na festa de aniversário.

Atualmente, os jovens de 11 e 12 anos são chamados pelo pomposo termo tweens (que vem da palavra "between", “entre” em inglês), mas o filme se passa na década de 70 quando essa rotulação ainda não tinha sido inventada.

O espectador pode levar algum tempo para perceber quando se passa a trama, já que não há letreiro indicativo. Para chegar à data de 1977, é preciso um pouco mais de atenção. As primeiras dicas são dadas pelas vestimentas e pela programação da televisão, mas o maior e mais delicioso indício é a seleção de músicas, que contempla canções francesas, estadunidense e até italiana.

Mesmo com uma protagonista vivendo uma etapa da vida em que todo ser humano expressa todo o seu potencial de ser irritante, a menina Stella é muito cativante, principalmente pela narração feita por ela mesma para dividir suas angústias. Ela passará por muitas situações que renderiam anos de terapia para uma pessoa mais fraca, mas ela mostra sua força e o filme segue mantendo uma incrível leveza.

Quem já viveu algumas das dificuldades dessa jovem heroina, mesmo que apenas testemunhando uma filha ou irmã, identificará muitas das situações. As transformações da puberdade, os primeiros amores, os questionamentos e as mudanças repentinas de humor temperam o roteiro. Stella é uma ótima pedida para se ver um divertido e emocionante retrato de experiências de vida.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Festa da Menina Morta







Sinopse: A história de Santinho, jovem alçado à condição de líder espiritual numa comunidade ribeirinha do Alto Amazonas ao realizar um milagre após o suicídio de sua mãe.


Ficha Técnica
A Festa da Menina Morta
Direção: Matheus Nachtergaele
Roteiro: Matheus Nachtergaele, Hilton Lacerda
Elenco: Jackson Antunes, Juliano Cazarré, Daniel de Oliveira, Dira Paes
Duração: 115 minutos


Perpetuando Vícios
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Um dos maiores méritos de A Festa da Menina Morta está na construção do roteiro. O passado dos personagens é fornecido aos pedaços e fora de ordem principalmente pelos diálogos, deixando a inteligência do público juntar as peças e construir toda a situação. A história se passa em uma pequena cidade no interior do Amazonas; portanto, isolada dos grandes centros urbanos. O cenário concebido é cheio de detalhes e, por isso, ricamente autêntico.

Quem assistir ao começo do trailer poderá contemplar um dos desses detalhes que aumentam a verossimilhança da fictícia comunidade. A canção da menina morta é um tema que consegue ser marcante e verdadeiro, remetendo às variadas crendices do povo brasileiro. Por outro lado, quem assistir ao trailer até o fim pode não ficar tão contente. Além da mensagem não ficar clara, a maior parte da peça utiliza a sequência final do filme, tirando a surpresa.

Infelizmente o trailer fraco não é o único mau hábito do cinema nacional perpetuado em A Festa da Menina Morta: as atuações teatrais de alguns atores é outra característica poluidora que não podemos mais aceitar em nossos filmes. Tal falha só é acentuada pelos bons trabalhos de outros membros do elenco, como Dira Paes (A Grande Família – O Filme) e Daniel de Oliveira (Zuzu Angel).

O tema do filme, com pode se supor pelo título, é a morte. Mesmo assim, a todo o momento chegam cenas ou pequenas imagens que querem reforçar a temática quase à força. É uma insistência tamanha que chega a aborrecer, mas pode agradar quem não quer ver economia na tela.

Cantoras do Rádio







Sinopse: Documentário sobre as divas do rádio brasileiro, cantoras que fizeram muito sucesso em meados do século XX, na chamada Era de Ouro do Rádio.


Ficha Técnica
Cantoras do Rádio
Direção: Gil Barone, Marcos Avellar
Roteiro: Gil Baroni, Monica Rischbieter
Elenco: -documentário-
Duração: 85 minutos


Homenagem
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Uma das áreas mais importante na produção de um documentário é sua pesquisa, um fator de grande influência na qualidade do produto final. Essa regra não foi seguida em Cantoras do Rádio, apesar da iniciativa de homenagear essas cantoras seja louvável.

O problema reside no fato do filme não passar do patamar da homenagem e não poder ser considerado um estudo ou um histórico. Prova disso é que a Rádio Nacional, palco do sucesso dessas cantoras, só é mostrada na segunda metade do filme, em apenas uma cena. Não há se quer uma breve explicação sobre a razão que levou ao fim dos programas de auditório no rádio. Mais imagens de arquivos e principalmente filmes da época também não fariam mal.

Essa produção tem de assumir então a missão de apresentar as canções clássicas ao público mais jovem, que conhece muito pouco (se conhece) dessa passagem mágica da música brasileira. Para cair no gosto moderno, o documentário conta com grafismos coloridos e animados em suas vinhetas e uma competente releitura da música-título com batidas eletrônicas bem casadas.

A tarefa da educação dos novos amantes da música seria mais bem desempenhada por um programa de televisão. Ao assistir a Cantoras do Rádio é até possível imaginar essa série televisiva: com um episódio dedicado a cada cantora, com as divertidas apresentações musicais no palco. A esperança é que a ideia seja aproveitada e haja uma adaptação de meios.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A Partida




Sinopse: Daigo é um violoncelista cuja orquestra foi dissolvida. Desempregado, ele se vê obrigado a voltar a morar no interior, na casa que sua mãe deixou de herança. Chegando lá, ele aceita um emprego inusitado preparando cadáveres para serem colocados no caixão.



Ficha Técnica
A Partida (Okuribito)
Direção: Yôjirô Takita
Roteiro: Kundo Koyama
Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryoko Hirosue
Duração: 130 minutos


Cerimônia e tradição
  por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Quem ler à sinopse acima sem aviso prévio pode chegar a pensar que A Partida (Okuribito) é uma comédia, ainda mais considerando a ocupação que o protagonista irá enfrentar. Até existem piadas em alguns momentos, mas com certeza elas não são predominantes. Tudo muda de figura quando levamos em conta que se trata de uma produção japonesa, um povo que tem cerimônia para tudo – até para tomar chá.

Mostrar exatamente todo o cerimonial que envolve a preparação de um corpo para o funeral é o foco da trama. Há várias ocasiões em que os mesmos gestos e procedimentos são repetidos a cada novo finado. O impressionante é conseguir manter o frescor do filme, com cenas que poderiam ser idênticas e cansativas. Nesse ponto é que entra uma direção e edição competentes.

Quando se pensa nos japoneses, logo se imagina uma pessoa tímida e reservada e A Partida brinca com esse imaginário coletivo. Ao deixar muitas coisas não ditas, apenas insinuada com olhares ou gestos, há uma reafirmação. Por outro lado, os rompantes de lágrimas que os familiares demonstram enquanto o cadáver é preparado acabam contradizendo o estereotipo.

Para entender qual o drama de Daigo e por que ele esconde seu novo ofício da própria esposa, é preciso saber um pouco mais da cultura japonesa. Há séculos que para eles o contato com cadáveres é considerada uma atividade impura. O desafio de Daigo é; portanto, mostrar por sua dedicação que seu trabalho é belo e tão digno quanto qualquer outro.

Acima de tudo, ver A Partida é uma ode à beleza. Aproveitando que o personagem principal é um musico, a trilha é sensível, emocionante e bonita. Associada ao som, vê-se muitas imagens em que as impressionantes paisagens do Japão formam o cenário perfeito para o desenvolver de uma história íntima e sincera.

Caramelo






Sinopse: O filme acompanha cinco mulheres libanesas. Elas se encontram em um salão de beleza e tem os mais variados conflitos femininos.


Ficha Técnica
Caramelo (Sukkar banat)
Direção: Nadine Labaki
Roteiro: Rodney El Haddad, Jihad Hojeily, Nadine Labaki
Elenco: Nadine Labaki, Yasmine Elmasri, Joanna Moukarzel, Gisèle Aouad, Adel Karam
Duração: 95 minutos


Agridoce
 por Edu Fernandes

(Spolierômetro: )

O tema central de Caramelo (Sukkar banat) é a graça e a dor de ser mulher e seu título é bem sugestivo. O doce do caramelo na verdade mascara a dor, já que ele é usado para fazer depilação nas mulheres. Portanto, a todo momento o filme trata essa dualidade de uma forma muito sensível e com cenas inesquecíveis.

As várias figuras femininas – todas bem diferentes entre si, mas muito bonitas – servem para representar a pluralidade de problemas que elas enfrentam. A afirmação da mulher na sociedade, a velhice, o amor são alguns dos assuntos abordados. A produção é franco-libanesa e, por causa do conservadorismo no Oriente Médio, para questões mais delicadas, como o lesbianismo, são usados muito mais simbolismos do que a verdade escancarada – o que acaba combinando com a sensibilidade da obra.

Na parte técnica, merece destaque a direção de fotografia que usa a cor-título de forma muito bonita. As cenas em que é preparado o tal caramelo é de deixar o espectador com água na boca. Do outro lado, a trilha musical é deliciosa e o som também é muito bem desempenhado, com pequenas brincadeiras sonoras que só se somam à leveza do filme.

Mesmo sendo focado nas crises femininas, Caramelo consegue manter-se suave sem cair para o superficial. Depois de assisti-lo, as mulheres sentirão suas emoções expressas na tela e os homens sentirão que entendem um pouquinho mais o poderoso sexo frágil.