segunda-feira, 16 de março de 2009

O Menino da Porteira






Sinopse: Diogo é um peão que leva a boiada da fazenda Ouro Fino até o frigorífico. Quando um grupo de pequenos pecuaristas o contrata, o latifundiário dono da Ouro Fino pressiona Diogo para não aceitar o trabalho.


Ficha Técnica
O Menino da Porteira
Direção: Jeremias Moreira Filho
Roteiro: Jeremias Moreira Filho e Carlos Nascimbeni
Elenco: Rosi Campos, João Pedro Carvalho, Edu Chagas, Daniel, José de Abreu
Duração: 95 minutos


Eu venho lá do sertão
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

Como o próprio título e trailer deixam claros, o filme O Menino da Porteira é baseado na clássica canção sertaneja homônima. O público-alvo principal da produção é exatamente os apreciadores desse tipo de música. A história passa-se na década de 1950, mas a trilha musical tira uma licença poética para utilizar obras que só seriam compostas décadas mais tarde, como “Disparada" e "Índia”. Os créditos iniciais são embalados por “Tocando em Frente”, de Renato Teixeira, e já abre o filme presenteando os ouvidos dos fãs de boa música interiorana.

O roteiro é bem inocente e quem for um pouco mais exigente por realismo pode considerar a narrativa simples demais. Na verdade, é preciso saber que a razão por trás de tal escolha é resgatar o romantismo e a pureza que são relacionados a histórias que se passam nas zonas rurais. Além do enredo simplório, alguns enquadramentos e cenas remeterão o espectador a outro tipo de clássico, dessa vez não musical, mas cinematográfico. O faroeste também serviu de fonte inspiradora e só acrescenta valores positivos ao filme.

As referências que podem ser percebidas não param por aí. A direção de fotografia de Pedro Farkas (Não por Acaso) e a direção de arte tomam emprestadas as paletas de cores de Almeida Júnior formando imagens realmente bonitas.

Um dos primeiros receios que algumas pessoas podem sentir é a atuação do cantor Daniel. Ele passou por laboratórios de atuação e, como resultado, consegue expressar todas as emoções que seu personagem demanda. É óbvio que não é a melhor atuação do cinema nacional, mas com certeza ele não compromete. Tendo por base que ele contracena com o talentoso José de Abreu (Podecrer!) e não destoa, elogios são merecidos a ele – por mostrar o comprometimento ao projeto – e à equipe que o preparou para essa nova experiência.

As previsões para a carreira de O Menino da Porteira tem todas as razões para serem otimistas. É comum que produções de boa qualidade não tenham a performance que merecem nas bilheterias, mas esse não parece ser o caso. A campanha de divulgação bem planejada – desde o cartaz chamativo até a veiculação da canção-título em estações de rádio populares – dará os resultados que o cinema brasileiro precisa, principalmente em um filme que mostre alguns valores nacionais que por vezes parecem esquecidos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Entre os Muros da Escola




Sinopse: François Marin é professor de francês para a 7ª série de uma escola parisiense. Durante o ano letivo, ele terá de enfrentar muitos desafios para ensinar essa turma que tem alunos de origens diversas.


Ficha Técnica
Entre os Muros da Escola (Entre les murs)
Direção: Laurent Cantet
Roteiro: Laurent Cantet, Robin Campillo, François Bégaudeau
Elenco: François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio, Arthur Fogel, Boubacar Toure
Duração: 128 minutos


Educando com as diferenças
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

A pior idade do desenvolvimento de um ser humano é a 7ª série. Nesse fatídico ano, normalmente começa a puberdade e o jovem sente-se no dever de desafiar todas as autoridades. Também é comum nessa faixa etária acessos de completa idiotice, como as gozações a plenos pulmões em salas de cinema. O filme Entre os Muros da Escola (Entre les murs) consegue retratar bem o temperamento intragável desses rebeldes sem causa. A identificação com situações reais será imediata.

O tema central do enredo é a difícil relação entre professor e aluno, nos dois sentidos. A autenticidade do filme se deve a François Bégaudeau, que é o ator principal na adaptação cinematográfica feita por ele mesmo de um livro com relatos de suas experiências pessoais lidando com seus alunos. Tal envolvimento poderia estragar a fita, mas nas mãos do experiente diretor Laurent Cantet o saldo é muito humano e bonito. Também merece elogios a dramaturgia de François, que desapega-se do ego e constrói um protagonista com falhas, para mostrar bem várias falhas na relação.

O roteiro propõe-se a abrir diálogos, mas não tem a pretensão de apontar soluções para essa situação que não acontece só na França. Educadores brasileiros perceberão que os obstáculos a serem vencidos por François não são tão distantes do que acontece nas escolas públicas tupiniquins. A opção por não fechar a conversa é muito acertada, dada a globalidade da questão. Com isso, Entre os Muros da Escola vai contra seu próprio título, já que as discussões por ele provocadas infiltrarão outros recintos.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Rio Congelado





Sinopse: Depois que seu marido foge, Ray tem dificuldades em criar seus dois filhos com o baixo salário que ela ganha em uma loja. Para assegurar o sustento dos garotos, acaba concordando em trazer clandestinamente imigrantes pela fronteira com o Canadá.


Ficha Técnica
Rio Congelado (Frozen River)
Roteiro e Direção: Courtney Hunt
Elenco: Melissa Leo, Misty Upham, Charlie McDermott
Duração: 97 minutos


Queda que as mulheres têm para os tolos
 por Edu Fernandes

(Spoilerômetro: )

O titulo dessa crítica é tirado de uma peça escrita por Machado de Assis e resume o sentimento que se experimentará no começo de Rio Congelado (Frozen River) quando percebemos que a protagonista está em situação difícil por ter casado com um idiota. Para o filme funcionar, o espectador precisa simpatizar com sua heroina e essa aproximação é possível em grande parte graças à atuação de Melissa Leo (As Duas Faces da Lei).

A atriz relativamente desconhecida conquista nossos corações ao deixar transparecer o amor materno e a força de uma mulher batalhadora. A história de uma mãe solteira enfrentado o desafio de manter uma casa pode lembrar a produção nacional Linha de Passe, com a diferença de que na fita estrangeira a mulher acaba caindo na ilegalidade.

O roteiro é competente e desenrola os acontecimentos em uma gradação envolvente. Quando menos se espera, o público ficará sentado na ponta da poltrona com o coração acelerado, torcendo por Ray. Outro fator é que o texto denuncia que a pobreza está presente em todas as sociedades e o desafio da honestidade é uma questão universal.

A melhor notícia em tudo isso é que a direção e o roteiro ficaram a cargo da estreante Courtney Hunt – é ótimo testemunhar o nascimento de um grande talento. Ela utiliza uma câmera documental e nervosa, combinando com a tensão das relações entre os personagens desse pequeno grande filme.